Logo após Ichigo ter acordado de seu sono de dois meses, eu me dirigi até a porta da casa da família Kurosaki. Incrível como aquele lugar conseguia me agradar mais do que qualquer coisa. Uma casa simples, uma família simples, uma vida simples. Será que era aquilo o que eu mais almejava? Parecia que sim, viver ali, mesmo que por alguns meses, passou a ser um sonho. Depois de pensar tanto, viro-me para o garoto de cabelos revoltos que estava parado na minha frente.

- Bem, eu acho que isso é um adeus. - dirijo a palavra

- É o que parece. - responde me encarando com uma feição doce.

Que espécie de olhar era aquele? Por que ele tinha tamanho poder de incentivo e afeto? Ele conseguiu me arrancar um sorriso meio parecido com aquele.

- Idiota, mesmo que você não possa me ver eu poderei ver você. - respondo.

- Grr... Eu não vou gostar nada disso. - fez birra.

Neste momento eu passo a lembrar-me de vários momentos que passei por ali. Como se eu estivesse morrendo, um filme da minha vida estava no ar em minha mente.

FLASHBACK

A tarde estava calma e o sol estava expondo seus últimos raios daquele dia. Caminhávamos na beira daquele rio indo para casa. Ichigo estava com uma expressão séria, a qual me incomodava um pouco. A curiosidade tomava conta de mim e não resisti.

- Ahm, Ichigo. Posso te fazer uma pergunta?

- Se eu puder responder. - disse sem me encarar.

- Você andou meio estranho esses dias. Algo te incomoda?

- Nada. Bem, eu só sinto que...  Bem, como eu posso explicar? - diz parando no meio do caminho.

- Está confuso?

- Não é que... Rukia você... Pretende ir embora algum dia? - pergunta na maior inocência.

- Você estava pensando nisso, Ichigo? - pergunto abrindo um falso sorriso.

- Mas se não quiser responder...

- Pra ser sincera... - interrompo

- Pra ser sincera?

- Eu queria ficar aqui para sempre. - passo a abrir um sorriso bobo e verdadeiro.

Perante tal resposta, Ichigo fica intacto e espontaneamente abre um enorme sorriso que parecia ocupar o rosto inteiro.

- O que foi? - pergunto.

- Não é nada, isso só me deixa mais feliz. Vamos. - pega na minha mão.

Começamos a correr.

- Mas aonde vamos? - pergunto.

Sem responder, Ichigo me leva até a beira do rio e passa a olhar o pôr-do-sol.

- Gosta do que vê? - pergunta.

- Eu amo este lugar. - respondo.

Aquela brisa do rio batia suavente aqueles cabelos alaranjados e chamativos. Aquele olhar determinado e decidido me fazia sentir protegida. Eu havia mesmo respondido aquilo? Será que foi por puro instinto em querer dar uma boa resposta ao seu melhor amigo? Ou meus verdadeiros sentimentos falaram no lugar da minha própria consciência? Aquilo já não importava mais. “O que realmente era importante naquela hora era uzufluir de cada segundo daquele momento.”

FIM DO FLASHBACK

Percebi no olhar daquele garoto que algo em sua frente estava desaparecendo do alcance de sua visão.

- Então, adeus Rukia.

- Adeus Ichigo.

“Se desejos podem se tornar realidade, eu desejo que estas flores floresçam mais uma vez."

Aquele olhar, aquela expressão, aquela dúvida. O destino estava ao meu favor? Eu queria mesmo estar desaparecendo completamente da vida dele? Eu acho que não. Não sei se voltaria a ser feliz como antes. Quando me percebi invisível diante daqueles castanhos penetrantes, resolvi voar alto e entrar no portão sekaimon. Não sei por que, mas Ichigo volta a me encarar de baixo de forma doce, como se ainda pudesse me ver. Ouço a seguinte palavra vinda daquela boca:

- Obrigado. 

Ao ouvir aquilo, sinto uma pontada no coração e passam a escorrer aquelas lágrimas. Eu fui totalmente útil na vida dele? Eu fiz algo a ponto de mudar completamente a mentalidade de uma pessoa? Não sei, mas algo imutável e sem explicação eu sentia por aquela pessoa. Encarei pela última vez aquele rosto durante segundos, os mais longos da minha vida. Naquele momento eu prometi para ele: 

- Eu prometo que farei você feliz.

E o portão se fecha para sempre. Ou não.