Innocent Lie escrita por Petit Ange


Capítulo 2
00-B: Cinzas de Sonhos (II)


Notas iniciais do capítulo

Prólogo (2/2)



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PROPAGANDA:
Ultimamente andei lendo poucas, porém boas histórias; e eu prometi a mim mesma, depois de tanto tempo, que faria sim propaganda dessas obras ótimas, mesmo porque espalhar coisas bem feitas é o dever de todo o escritor e leitor que se preste (ou deveria ser). Pois bem, cumprindo essa promessa, vamos aos fatos.
~ “Meet me on the Equinox”, por Tay_DS & Kyra_Spring (http://fanfiction.nyah.com.br/historia/117169/Meet_Me_On_The_Equinox). Porque poucas fics conseguiram deixar-me tão concentrada em frente a um computador, me perguntando o que estava acontecendo e, mais importante, por que eu não conseguia parar absolutamente de ler.
~ “Einsamkeit”, por Srta_Syn_FF7 (http://fanfiction.nyah.com.br/historia/106059/Einsamkeit). Hetalia e GermanyxItaly, por si só, já são pérolas; quando combinados em uma história absurdamente bem feita, é como ter o sétimo céu bem ao alcance dos olhos.
~ “Frostnätter”, por Srta_Syn_FF7 & Temari_Sabaku (http://fanfiction.nyah.com.br/historia/120475/Frostnatter). Quando me pergunto se algum dia superarei meu vício por SwedenxFinland e me aparecem obras como essa, eu tenho a certeza que não, jamais vou conseguir. E isso me deixa feliz...
~ “No Espelho”, por Yumesangai (http://fanfiction.nyah.com.br/historia/107134/No_Espelho). A continuação de “Do Outro Lado do Espelho” promete ser tão primorosa quanto sua predecessora. É quase mágico ver como a felicidade de Xion torna-se a nossa própria...
~ “Fly”, por Tay_DS (http://fanfiction.nyah.com.br/historia/77639/Fly). Papavras me faltam para descrever a mistura perfeita de Soriku e drama que é esta história. Só posso dizer que é um efeito universal: Fly rouba sim nossas palavras, nossa respiração e nosso coração.

Para minha dear, que sempre me inspira.
E para Drih, a quem eu ainda devo um presente digno.
Feliz aniversário, querida. (L)

INNOCENT LIE
Petit Ange


And what I dreamed in my last dream was a monochrome vision without end.
~ Corruption Garden (Luka Megurine).

00-B: Cinzas de Sonhos (II).
Como conseguiu sobreviver tanto tempo sozinho antes de nos conhecermos?

Toronto tingia-se até onde os olhos alcançavam de um tom nostálgico de cinza, um cinza-cor-de-esperanças-perdidas que ele conhecia desde a infância. Costumava ver aquele cinza muitas vezes no céu, mesmo quando ele na verdade tinha a cor do anil e do ciano do mar mais puro do sul.

Num gesto automático – como um executivo que realmente saca seu celular como um pistoleiro sacaria o revólver –, ele puxou do bolso o molho de chaves (grande “molho”, verdade seja dita... Chave da sua casa, do armário da faculdade e de uma casa na qual ele não entrava há muito tempo) e encarou o chaveiro que o ornamentava. Uma estrela laranja feita à mão e de histórias.

Ele devia ter dezesseis ou dezessete anos, e ela ainda quinze. Era boa naquilo; ela fazia muitos acessórios adoráveis. Era assim que classificava o chaveiro: “adorável”.

Na verdade, até hoje Terra nunca mais conseguiu pensar ou dizer a palavra “adorável” sem lembrar-se dela na hora.

Originalmente, era para ser um colar. Ela fizera um igual para si; para Terra, pareceu aquelas correntes em forma de coração, que dividem-se pela metade e cada amante fica com um pedaço. Um gesto romântico e besta; mas “adorável”, quando se tratava dela. Mas Terra, na época um adolescente “tolo”, se comparado à hoje (engraçado como sempre somos tolos no passado), ficou com vergonha de usá-lo como colar. Transformou, então, em um chaveiro. Estava ali até hoje, de fato.

Ela sempre foi muito gentil, um apoio que ele valorizou até o último momento. Aquele presente foi só um dos muitos pequenos gestos que ajudaram a “salvá-lo”.

Talvez estivesse ficando velho, lembrando daquele jeito tão melodramaticamente saudoso...

Recordar é viver”, corrigiu-se mentalmente, então. Um sorrisinho irônico brotou nos seus lábios ante o pensamento. Realmente.

Um cheiro de chuva (engraçado – ele realmente sentia o cheiro da chuva. As pessoas não entendiam como isso é possível, mas ele também não entendia como não podiam sentir aquele cheiro tão... Óbvio) passou assoviando com o vento, arrastando a folha esverdeada de alguma árvore próxima.

Ele guardou o chaveiro no bolso de novo e seguiu a trajetória da folha com os olhos azuis, até que uma figura conhecida parou ao seu lado, fazendo-o sorrir.

- Já sei o que vai dizer – ele falou; o tom inundado de uma franca e quase infantil diversão, que não seria normalmente ligada à imagem séria que passava.

A moça suspirou – mas ela também sorria como ele:

- “Às vezes, não sei o que seria de você sem mim” – ela repetiu pela talvez centésima vez, fazendo Terra ter de novo a impressão de que ela era “adorável”.

Aqua, cujos cabelos azuis eram só uma das coisas que faziam seu nome ter um estranho e quase engraçado sentido, estendeu o guarda-chuva para Terra, que assentiu em agradecimento.

- Acho que nós dois já sabemos que você sempre foi mais minha mãe do que namorada ou irmã.

Ela suspirou de novo, numa falsa exasperação:

- Você que sempre me deu trabalho além da conta.

- Realmente... Não posso dizer que fui um companheiro exemplar, não é?

Terra, até experimentar por si próprio, nunca acreditou em histórias de “ex-amantes que continuavam amigos mesmo depois que o relacionamento acabou”. Lera diversos livros com aquele tema (como o bom amante de literatura que era), e até vira alguns filmes também – sem falar em algumas conversas regadas à álcool que ele não ingeria – de casos em que algumas pessoas realmente continuavam amigas, apesar das frustrações de um tempo onde tinham outro sentimento que não amizade.

Para ele e Aqua, houve esse tempo.

A verdade é que eles se conheceram há séculos. E por “séculos”, Terra queria dizer uns cinco ou seis anos. Foi mais ou menos naquela época – ah não, ele já devia ter seus quatorze ou quinze anos, não? – que perdeu os pais; longa história, longo acidente, um só sobrevivente: o filho do casal. Ele.

Queriam colocá-lo em um orfanato. Terra não permitiu-se cair naquele clichê; não queria um orfanato, nem uma casa nova, nem nada. Fez o que considerou uma “manobra arriscada” e, ao mesmo tempo, “a melhor decisão de sua vida”: emancipou-se. Na verdade, “emancipou-se”: simplesmente pegou os restos das economias dos pais falecidos, uma passagem de trem e abandonou sua cidade-natal. Inexplicavelmente (talvez com três ou quatro dedos ou uma mão toda da sorte – talvez até as duas!) conseguiu escapar até os dezoito anos de qualquer problema.

Mas a verdade é que Aqua teve um papel muito importante na sua trajetória ingrata até a maioridade.

Conheceram-se na nova escola; pública, claro. Ele era bolsista. Ela, uma impecável aluna-modelo e presidente do Grêmio Estudantil na época (verdade seja dita, ela ainda seria vice umas duas vezes). Ela era “adorável” desde aquela época, e Terra sentiu no carinho dela o carinho da mãe que perdera e da qual ainda sentia falta. Nunca sentiu-se, de fato, o “namorado” dela (e talvez isso tenha sido a única mancha daquele tempo): a imagem mais forte que tinha de Aqua, mais do que “mulher”, era de “mãe”. E talvez tenha sido isso que fizera a relação deles acabar.

Mas – curioso como as coisas acontecem com quem não acredita nelas – eles continuaram amigos. Tão amigos quanto sempre foram.

Talvez, Aqua também sempre tenha visto mais um “irmão” do que “homem” em Terra; e isso o fazia pensar que Freud era um bastardo por ter exposto ao mundo coisas tão vergonhosas como Complexo de Édipo e derivados.

- Não mesmo – ela sorriu. Sempre sorria quando falavam disso. – Não entendo, como conseguiu sobreviver tanto tempo sozinho antes de nos conhecermos?

Ele deu de ombros, o sorrisinho congelado no rosto.

- Você me mimou demais, Aqua. Eu sabia me virar melhor antes.

- E agora, precisa me ligar para pedir um guarda-chuva...

- Era só uma desculpa, na verdade. Queria vê-la um pouco – expirou. – Estudamos na mesma universidade e, mesmo assim, raramente conseguimos nos ver.

Aqua não agüentou-se, e precisou rir:

- Se você fosse qualquer outra pessoa, Terra, acharia que está me “cantando”.

- Juro que isso sequer passou pela minha cabeça.

A moça acariciou essa mesma cabeça, num gesto rápido e inconsciente; o mesmo gesto que, de fato, mães dispensam sem pensar aos rebentos.

- Eu sei – e sorriu.


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