Foi Uma Boa Vida escrita por Nora Chibi


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

O Hoenheim não está na lista de personagens, por isso eu não coloquei lá em cima o.oTive a idéia pra isso depois que vi o final do anime. Espero que gostem.



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“Imortais também podem errar?”

Hoenheim riu com o pensamento, imaginar que por ser imortal também seria perfeito era tolo e infantil, o tipo de pensamento que o pequenino homúnculo no frasco teria. É claro que podia errar, sabia perfeitamente disso e... Não era mais imortal.

Seu lado humano ainda estava lá, sendo atormentado por todas aquelas vozes das almas que mantinham seu corpo. Bem, não mais. Depois de tanto tempo tendo que conviver com as vozes atormentadas dentro de si — as vozes das almas que alimentavam sua imortalidade — se encontrava mergulhado em seus próprios pensamentos.

Era uma sensação estranha. Por tanto tempo tinha desejado aquilo e, agora que havia conseguido, não sabia o que sentir. Sabia que aquele orgulho no peito era só seu e que causa era a coragem de seus filhos, os filhos que por tanto tempo desejou e que acabou abandonando por causa de sua busca por respostas, por uma solução.

Era uma ironia que o pequenino do frasco tivesse sido um pai mais presente para seus homúnculos do que ele para os filhos do seu sangue.

— O senhor deseja alguma coisa? — a mulher com o carrinho de guloseimas o despertou de seu recém descoberto silêncio.

Ele a fitou e sorriu sem realmente ter um motivo para aquilo.

— Não, obrigado. Estou indo em busca do que preciso. — a mulher sorriu e assentiu sem entender o significado mais profundo daquela frase.

A resposta para tudo sempre esteve em casa. O amor terno de Trisha que era capaz de acalmá-lo e fazê-lo esquecer da dor, os olhares infantis e cheios de admiração de seus filhos. Tudo sempre esteve lá, pena que não tinha conseguido enxergar.

Teve que abdicar de visitar os filhos no hospital, mas se consolava pensando que, pelo menos, havia lutado ao lado deles pela primeira e última vez. Agora tinha que cumprir sua promessa e voltar para Trisha.

O trem parou na estação soltando nuvens fofas de fumaça, e Hoenheim desembarcou, atravessando o caminho para o cemitério sozinho como sempre pensou estar. Bobagem, desde o começo teve pessoas ao seu lado. Fora amparado pelos viajantes de Xing, conhecera pessoas que o admiraram mesmo que não se achasse digno, tinha amizade da velha Rockbell e o amor de sua família, mesmo que Ed detestasse admitir.

Parou por um segundo ao avistar a lápide dela. A sensação de que as pessoas a sua volta viviam muito pouco não era nova, mas, vendo o nome da única mulher que amou em toda uma eternidade gravado no cimento, essa sensação cortou sua alma; a única que tinha no corpo.

Seus joelhos tocaram a grama fofa e seus ombros se encurvaram. Estava tão cansado, tão feliz e tão angustiado que precisava se concentrar para perceber que todas aquelas sensações eram só dele.

Depois de tantos anos lidando com as vozes das almas dentro de seu corpo, aquele sentimento não era apenas estranho, era também um presságio. Cada uma daquelas almas lhe dava vida e o silêncio, de alguma forma, agora o assustava. Depois de tanto tempo amaldiçoando a imortalidade, queria mais tempo. Para ficar com os filhos, para ajudar as pessoas daquele país, para encontrar velhos amigos... Mas tinha que fazer uma escolha, e seu último suspiro seria ao lado dela.

— Estou de volta, Trisha. — riu sozinho ao se lembrar da novidade que tinha para contar. — O Edward me chamou de pai, apesar de ter colocado um “lixo” junto. — riu mais uma vez, tentando fingir que não sabia que não veria mais um nascer de sol. A degradação era rápida e visível, mas poderia se despedir antes de tudo. — Eu pensei que viver muito mais que os outros fosse puro sofrimento. No entanto, eu fui capaz de encontrar você e ter meus filhos. Então comecei achar, do fundo do meu coração, que foi muito bom estar vivo. Foi uma boa vida. Só isso... é o suficiente. Obrigado Trisha. — era isso, poucos segundos e tudo acabaria — Mas... No fim das contas, sinto que não quero morrer. Eu realmente não tenho jeito.

“Edward, Alfhonse... adeus.”

O sol tocou-lhe a face enrugada — sua verdadeira face — e iluminou os lábios riscados num pequeno sorriso. Sem vida. Talvez precisasse de mais tempo, mas era verdade...

Foi uma boa vida.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Mereço reviews? ;D