“O futuro é uma possibilidade, o passado é uma memória, o único momento de real poder está no agora.” Provérbio Havaiano.

Do lado de fora da pousada, próximo às pranchas de surfe, Konan admirava o paraíso a sua frente. Aquele mar agitado ao longe e o vento que lhe acariciava a face, além daquele sol que se ostentava um brilho intenso esquentando a superfície da água lhe davam uma sensação de deja vu. Não era para menos, pela segunda vez naquele dia presenciava o sol forte da tarde do mesmo dia. Se não fosse tão centrada ficaria perdida por causa do fuso horário. Quantas horas de diferença deviam ser? Encarou o display do celular e constatou pelo seu relógio que eram umas seis e meia no Japão. Dezenove horas de diferença, lá já era terça e ainda estavam na segunda.

— Ainda não mudou as horas no seu celular. – a voz descontraída vinha detrás da jovem exatamente próxima ao seu ouvido. Era Yahiko, estava ali há alguns minutos a observando enquanto ela admirava a paisagem. Envolveu os seus braços na cintura de sua amada e ficara ali junto da mesma.

— Não pretendo mudar. – respondeu após desfazer um pequeno sorriso que havia se formado quando ele lhe abraçara.

— Esta arrependida de ter vindo? – sua voz transparecia a preocupação que havia pela resposta que podia vir.

— Você sabe que eu não queria vim. – respondeu seriamente.

— Se arrepende mesmo vendo essa maravilha à sua frente?

— Eu vim porque você e o Naruto conseguiram convencer o Nagato, mesmo sabendo do estado de saúde dele. O aniversário dele está chegando e eu não queria ficar longe.

— Nagato vai ficar bem, essa viagem só vai ajuda-lo na sua recuperação. Você devia tentar colocar o Nagato pra cima ao invés de encarar essa situação como se ele estivesse morrendo. – soltara-se dela, nervoso.

— Mas ele... – virou-se para direção de seu namorado e assim que o encarou, calou-se. Ele estava irritado com ela. — Você é um sonhador, Yahiko. – sussurrou ao vê-lo partir para dentro da pousada.

Konan decidira ficar por ali. Voltou sua atenção para aquela paisagem que para ela não havia mais encanto algum. Não devia ter ido pra lá. Nem devia ter deixado trazerem o Nagato. Ele não estava bem. Se não fosse pelo Naruto com certeza Nagato não iria aceitar o convite. O que é que aquele garoto tinha que encantava tanto seu melhor amigo? Ele e Yahiko eram muito parecidos, são dois sonhadores. Mas o pior era que o Naruto transparecia uma fé tão grande em seus sonhos que fazia com que aquela aura tão positiva que ele possuía acalentasse os corações de todos ao seu redor.  

— Espero que eu não me arrependa de ter vindo.

...

Dentro da pousada, mais precisamente em um dos quartos de casal, um certo homem de madeixas gris e dono de uma expressão preguiçosa ficara o dia enfurnado naquele cubículo foleando o livro de temática um tanto imprópria para menores. Hatake Kakashi nunca foi muito de sair, sempre fora muito caseiro. Ficou lisonjeado ao ter recebido o convite da sua aluna Ino. E surpreso também. Imaginou que a ideia só podia ter vindo do jovem Uzumaki, e  Sakura também poderia ter dado uma ajudinha na decisão. Só de imaginar aquilo lhe agradara. Era um professor querido não era? Deixou o livro da série Icha Icha de canto e levantou-se. Prometeu para Kushina que ia cuidar das crianças. Ia descer para dar uma olhada neles...

A expressão preguiçosa mudou-se em alguns segundos, ficara surpreso, um pouco assustado e logo depois voltara a sua expressão conhecida. Parecia indiferente por fim. Estava sentado a mesa do café da manhã ouvindo uma mulher que havia dito que se chamava Tsume. Era a dona daquela pousada, sua expressão não parecia nada boa. Não era para menos. Havia preparado um belíssimo banquete ao estilo havaiano para os hospedes. Contara também que preparara uma recepção com jovens dançando Hula e tudo mais. Era uma tradição naquela pousada. Mas tudo foi por água abaixo graças as tais crianças, da qual ele devia estar de olho. Eles haviam saído cedo para ir à praia e até agora não voltaram, foi essa descoberta que causou as mudanças repentinas na face do professor. Eles não lhe contaram que iam sair, Kushina ia lhe matar se soubesse disso. Temia a fúria da ruiva. Sua fúria se comparava com a de uma raposa de nove caudas, arqueou as sobrancelhas estranhando a própria comparação que dera.  

Em seguida, Hana aparecera. Diferente da mãe, a jovem aparentava uma expressão descontraída. Ouvira os mesmos resmungos que Hatake ouvira anteriormente e logo que cessara a jovem Inuzuka sugerira para que às boas vindas pudessem ser feitas no almoço. Tsume um pouco contrariada acabou aceitando a sugestão da filha.

Alguns minutos depois os responsáveis, pela irritação da dona da pousada, apareceram. Naruto estava risonho enquanto Sasuke estava com a cara amarrada, logo atrás vinham Deidara e Itachi que implicava com o irmão mais novo por ter perdido para Naruto uma pequena competição de natação. Mais atrás vinham Sakura e Ino que planejavam sobre o roteiro turístico pela tarde. Logicamente o shopping estava incluído na lista da Yamanaka.

— O que foi Kakashi sensei? – indagou Ino, após Kakashi aparecer a sua frente.

— Se divertiram? – seus olhos pareciam sorrir ao indagar.

— Sim, não é Sakura? – a jovem rosada concordara.

— Que bom, pois estão proibidas de sair essa tarde. Podem avisar aos garotos. – avisou Kakashi com o semblante mais sério enquanto as meninas o encaravam, incrédulas.

— Como assim?

— Saíram sem me avisar, demoraram pra chegar. Estavam na praia, poderia ter acontecido algo.

— Meu irmão e o Itachi estavam lá.

— Eu sou o responsável de vocês, minha cabeça é que está em jogo. – disse já fazendo menção em se retirar.

Sakura não havia entendido nada. Kakashi-sensei não era o tipo de pessoa rígida, ele era muito flexível. Fora até um dos motivos por ela ter pedido pra Ino junto com Naruto que escolhesse o professor como responsável.

— O que deu nele?

— Humpf... Você não ouviu? A cabeça dele está em jogo. Sofreu lavagem cerebral. – explicou a jovem Yamanaka andando em direção a escada.

— Lavagem cerebral? – indagou continuando sem entender.

— Vou ser mais especifica: Tia Kushina.

Agora Sakura entendera. Parece que o professor Kakashi tivera uma torturante conversa com a afetuosa mãe de Naruto.

— Nós o perdemos. – sussurrou aos subir as escadas.

...

Desciam as escadas, maravilhados. Naruto estavam sendo segurado pela prima para que não atacasse de uma vez o banquete que receberam àquela tarde. A mesa estava fabulosa, estava enfeitada com um pano de mesa verde floral que adornava com as variedades de frutas e flores nativas.

— E komo mai, malihinis! – exclamou Tsume, dando boas vindas aos hospedes.

Encantados com a recepção, os hóspedes continuavam a descer as escadas e assim que chegavam ao ultimo degrau, recebiam um colar de flores. Lembravam-se de quando haviam posto os pés no país. Assim que desciam as escadas do avião eles receberam os mesmos colares de flores. Ficaram ali mesmo sabendo que era uma forma de expressar a cordialidade do povo havaiano.

Com os colares envoltos do pescoço os malihinis, como foram chamados, caminharam em direção a mesa onde se sentaram começando assim a refeição da tarde. Tsume já possuía uma expressão mais amena comparada com a que manteve por toda a manhã. Ainda estava chateada por ter que alterar o horário da recepção, mas de certa forma valera a pena. Observou por um momento o encantamento presente naqueles jovens, tinha valido a pena.

— Espero que gostem do banquete havaiano. - a voz descontraída de Hana surgiu no recinto.

E quem não iria gostar? Encararam a mesa encantados com tamanha fartura. A mesa encontrava-se enfeitada com flores e três cestas contendo algumas frutas comuns naquela região como manga, abacaxi e papaia. Mas o que despertara o apetite dos demais a mesa foi o prato principal: camarão havaiano ao curry acompanhado pelo típico arroz havaiano. Todos haviam aprovado a deliciosa refeição, principalmente Naruto que repetira duas vezes e só não comeu mais graças a sua prima Ino que estava parecendo sua mãe dando-lhe sermões. Após o prato principal, foram deliciados com uma sobremesa que poderia dizer que era a cara daquele lugar, lembrando-se dos coqueiros que possuíam na frente, o delicioso haupia, uma espécie de pudim de coco.

Assim que todos se satisfizeram com a refeição que lhes foram postas a mesa, caminharam em direção à sala. Já haviam notado as flores e a faixa que mostrava uns dizeres em havaiano do qual não entendiam, mas agora além dos enfeites, no meio da sala estava a garota de que só o Uzumaki se lembrava. A garota possuía as madeixas longas enfeitadas com leis, uma espécie de coroa de flores, que também enfeitava seus pulsos. O busto estava coberto com uma espécie de top feito de casca de coco, a barriga estava exposta e abaixo vestia o pau – uma saia feita de folhas de tapa; e o kupea, uma argola feita de dentes de cachorro que enfeitava o tornozelo. As meninas a olhavam admiradas e os meninos encantados. Ela estava linda.

— Aloha! 'O … ko'u inoa Hyuuga Hinata. – sua voz despontara suave. Se não estivessem em um lugar tão pequeno talvez ninguém conseguisse a ouvir.

— Desejou boas vindas e disse se chamar Hyuuga Hinata. – traduziu Hana ao observar as expressões confusas dos hospedes.

A pequena Hyuuga apenas assentiu. Ouviu-se uma canção surgir pela sala e assim Hinata começara sua dança. Sua posição era a mesma que fizera nos ensaios. Suas pernas estavam retesadas e seus olhos seguiam os movimentos das mãos. Todos estavam admirados com a dança. Ino mantinha os olhos bastante atentos a cada movimento da Hyuuga, encarou de canto sua amiga que estava sentada ao seu lado. Percebeu que a Haruno estava tão encantada quanto ela, mas sabia que encarava a dançarina com outros olhos. Observava de forma mais técnico, observava a postura, o movimento uniforme dos braços, as pernas encurvadas, encarava os olhos e percebiam que eles nunca encontravam a plateia. Meneou os ombros, pouco desconfortada. A jovem Hyuuga parecia não ligar pra plateia. Sakura era bailarina e não importava a dança sempre encarava a plateia era pra eles que dançavam. Ela havia de encarar a plateia em algum momento...

— Ela é incrível... – sussurrou a jovem Yamanaka.

— Não é tão incrível assim. – quem ouvisse a Haruno acharia que estava com inveja, o que não era verdade.

A música foi ficando mais graciosa e o corpo da Hyuuga acompanhava a melodia. Seus braços finalmente pararam e seus olhos encaravam a plateia, a música havia terminado.

Aqueles olhos... Se os estivessem o encarando seriam os mesmos olhos do qual sonhara. Por um momento ficara em duvida se aquela garota era a mesma que tinha se esbarrado algumas horas atrás. Possuía as mesmas madeixas, a cor dos olhos, mas definitivamente não a mesma expressão. Não até a música ter acabado. Ela parecia um pouco envergonhada e feliz.

Ouviram-se aplausos assim que a musica acabara. Hinata falara algo inaudível diante dos aplausos e Hana se levantara ficando ao seu lado.

— Essa é a dança Hula, tão conhecida em todo o mundo. Quem quiser aprender a Hula ou outro tipo de dança é só falar com a Hyuuga que trabalha em um salão de dança aqui perto.

— Na verdade os professores são Kurenai-sensei e Iruka-sensei, sou apenas uma das alunas. – corrigiu com as maçãs do rosto um tanto vermelhas.

— Ela é uma graça! – exclamou Ino. — Eu já fiz a minha inscrição antes de chegar, a minha e a de Naruto.

— Nanni?

Os dois a fitaram surpresos. Hinata nunca foi de conviver com os malihinis, só quando os mesmos decidiam ter aulas de danças e mesmo assim a maioria eram mulheres. Sendo assim achara que não iria conviver com o jovem Uzumaki, já que os garotos geralmente preferiam ter aulas de surf. E era realmente o que o Naruto pretendia aprender durante sua estadia. Ficara encantado com as pranchas que vira antes mesmo de se esbarrar com a moça a sua frente. Encarou-a novamente, ela estava tão surpresa quanto ele. Aquilo o deixou um pouco intrigado. Entendia sua própria reação, mas não compreendia a dela.

— Qual é a surpresa Naruto? Sabe muito bem que você é um péssimo dançarino. Não quero que faça feio quando dançar valsa comigo.

— Valsa? – indagou Hinata com delicadeza.

— Vocês ensinam valsa lá, não ensinam?

— Sim, todo o tipo de dança.

— Vou fazer dezesseis anos daqui a duas semanas e pretendo dar uma festa de debutante como nos filmes americanos. – justificou-se ao ver a confusão nos olhos da Hyuuga.

A Hyuuga a parabenizou antecipadamente e antes de se retirar encarou mais uma vez o jovem Uzumaki. Era mesmo ele, não havia se enganado. Ele realmente não a conhecia, na verdade nenhum deles ali a conheciam. Nem mesmo ela conhecia os outros, somente o Naruto e também o garoto de madeixas negras e olhos ônix, lembrava-se que ele andava sempre ao lado do loiro.

— Naruto não adianta resmungar, eu já te inscrevi! – exclamou a Yamanaka despertando a Hyuuga de seus devaneios. — Bem Hinata, nos vemos amanhã. – disse ao se retirar junto de Naruto.

 A jovem ficara ali imaginando como seria amanhã quando Naruto aparecer no salão de dança. Seria de novo um sinal? O destino? No fundo esperava que fosse apenas o acaso.