Paradoxo escrita por sonvanessa


Capítulo 1
Paradoxo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/123930/chapter/1

Fim da tarde - Colégio Karakura – Período Final




– Estão dispensados.  A professora disse segundos depois que a campainha da escola soou. – Não se esqueçam de trazer o livro de poesias amanhã! Temos uma grande revisão pela frente! – A mulher gritou, apreensiva, esperado que os alunos apressadinhos da série final a escutassem.


Ichigo guardava seus livros calmamente, um após o outro, torcendo para que não amassassem. Ele sabia que de nada adiantaria toda aquela delicadeza, se, durante muitos meses, eles foram simplesmente jogados dentro de sua pasta. No auge de seus dezessete anos, Ichigo tentava encorajar-se a estudar, e, quem sabe, seguir uma boa profissão, mas sentia seus esforços ruírem quando ele pensava que poderia, simplesmente, voltar a ser um shinigami.


Dentro de algumas semanas os estudantes do último ano iriam prestar vestibular para várias faculdades diferentes, e diriam adeus ao ensino médio. O jovem de cabelos alaranjados deixaria o último ano e iria para uma faculdade qualquer. Sabia que seu destino não era aquele, apesar de tentar convencer a si mesmo que seria correto deixar seu passado para trás.


Ichigo fechou o zíper de sua bolsa, apoiou-a em seu ombro e dirigiu-se a saída da sala, logo se misturando aos vários outros estudantes do colégio.


– Kurosaki-Kun! – Inoue gritou, ao fundo do corredor. O ex-shinigami substituto deu alguns passos e parou, esperando ser alcançado pela colega de classe. – Kurosaki-Kun! – Ela gritou novamente, aproximando-se.

– Yo, Inoue. – Ichigo falou, pacientemente, esperado que a ruiva lhe desse alguma razão para tantos gritos em pleno corredor do colégio.

– Hoje eu, Tatsuki-Chan, Ishida-Kun e Sado-Kun nos reuniremos em minha casa para estudar para os grandes exames que vem por aí. Você gostaria de nos acompanhar nos estudos? – Orihime disse, corando ao citar “minha casa”. Ela ficou ansiosa por alguns momentos, até que Ichigo respondeu.

– Desculpe, Inoue. Mas eu me concentro e estudo melhor sozinho, trancado em meu quarto. – Ichigo falou, casualmente. Inoue achou a resposta do garoto um tanto mal-educada, mas ela pareceu não se importar. A menina sorriu, falsa.

– Tudo bem, Kurosaki-Kun! Tudo bem mesmo! Bons estudos, Kurosaki-Kun! Nos vemos amanhã! – Inoue falou, afastando-se e saindo rapidamente da vista do Kurosaki. Ichigo voltou a caminhar, tranqüilo. Sabia que não era preciso mais do que uma desculpa esfarrapada para convencer Inoue.



O final da tarde estava pacífico. O sol, forte e único em um dos cantos do céu, proporcionava um belo brilho alaranjado às construções e às plantas da organizada cidade de Karakura. O astro rei ficava mais baixo a cada minuto que se passava, como se fosse absorvido pela Terra.


Ichigo vinha por uma das ruas próximas de sua casa. O laranja de seus cabelos misturava-se ao tom laranja da cidade. Os passos lentos e compassados coincidiam com as batidas de seu coração. Estava desmotivado. Há muito tempo.


Ele observava o leve vento mexer as folhas das árvores, e sentia seus cabelos bagunçarem.




Até que ele percebeu.




Ichigo parou e respirou rapidamente, algumas vezes. Olhou para sua esquerda e lá viu ela.


Rukia estava ao seu lado, vestindo o uniforme do Colégio Karakura.


– Ru... Rukia? – Ichigo falou, exasperado. – Como você está aqui?

– Estando aqui, seu idiota. – A baixinha respondeu, mal educada. E logo abriu um pequeno e belo sorriso. O jovem de cabelos laranja seguiu o gesto dela. – Você é só um adolescente, Ichigo! E parece estar sofrendo que nem um velho doente!

– Cale a boca, desgraçada! – Ichigo tentou acertar um golpe na cabeça dela, mas logo Rukia desviou. Ele recolheu seu braço e baixou a cabeça. Tudo ficou silencioso. – É difícil.

– Ichigo. – Ela o encarava seriamente, e ele percebeu isso. Ichigo encarou os olhos grandes da shinigami e esperou que ela dissesse tudo o que ele precisava escutar. – Eu disse que estaria te observando. E vi você se sentir incomodado perto de seus amigos. Por que, Ichigo? Você quer tanto defender seus amigos que está disposto a proteger eles de seus próprios sentimentos? – Rukia falou, direta. Rodeios não eram necessários para os dois. – Eu estou neste gigai por isso, Ichigo.

O jovem de cabelos laranja balançou a cabeça, levantando-a logo a seguir. Ele sorriu. – Desculpe por ter te dado tanto trabalho. – Rukia estava no corpo falso por culpa dele. E ele precisou ouvir uma dúzia de palavras de Rukia para que voltasse a ser o bom e velho Ichigo.


–Olha, Ichigo... – Rukia olhou para ele, virou seu olhar para o chão e então, novamente para ele. – Não me peça desculpas. Você devia dizer só “Obrigada”. E deve aprender que até os heróis mais fortes precisam ser salvos. Às vezes salvos deles mesmos.

– Entendo. – Ichigo suspirou. E sorriu. –Agora você virou uma baixinha enxerida, né? Espionando os outros. – Rukia estendeu um braço para acertar o rosto de Ichigo, mas a alguns centímetros de tocá-lo ela desistiu.

– Vou levar na esportiva. Mas é só dessa vez. – Ela sorriu. – Bom, é hora de ir. – Rukia falou.

– Além de tudo é apressada. – Ichigo abaixou a cabeça novamente, agora para voltar a encará-la. – Apareça mais vezes.

– Aparecer mais vezes? – Ela se fez de desentendida. – Eu sempre estive aqui. E sempre vou estar. Ao seu lado. – Ichigo fechou os olhos e se concentrou apenas na voz calma da shinigami. Ele suspirou profundamente, tirando todo o ar triste de dentro de si.




E o mundo voltou a girar.




E Rukia foi embora.




– Obrigado, Rukia. – Ichigo olhou para onde a pequena estava a segundos atrás.





Dia seguinte - Colégio Karakura



– Senhor Kurosaki, poderia, por favor, ler o poema de Camões, na página 20? – A professora de literatura ordenou, sendo logo atendida pelo garoto de cabelos alaranjados.

– Pode deixar, professora. – Ichigo levantou-se perante a classe, com o livro entre as mãos. - Amor é fogo que arde sem se ver... – Ele começou, receoso. - É ferida que dói e não se sente; é um contentamento descontente; é dor que desatina sem doer; é um não querer mais que bem querer; é solitário andar por entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é cuidar que se ganha em se perder; é querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode seu favor, nos corações humanos amizade; se tão contrário a si é o mesmo Amor? Luís de Camões. – Ichigo terminou de ler o poema, sentou-se e buscou recuperar o fôlego pela leitura rápida.




“Amor é fogo que arde sem se ver...”




– Então alunos, qual é a figura de linguagem predominante nesse poema clássico de Camões? – A professora perguntou e ficou observando os alunos, esperando alguma reação. – Kurosaki, você que leu o poema, poderia nos responder? – Ela falou e arqueou uma sombrancelha.

– Paradoxo. – Ichigo respondeu, prontamente.

– Muito bem. – A professora disse.


Ichigo tinha descoberto a razão entre as palavras de Rukia. Ele não precisava enxergar Rukia para saber que ela existia. Ele não precisava enxergar o amor para saber que ele ardia. Ichigo acreditava nisso. E sabia que o amor de Rukia sempre existiria, pois era o mesmo amor que ardia dentro de si.




– Obrigado, Rukia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews? =D