Eu o conhecia desde os quinze anos, sempre andávamos juntos e éramos carne e unha, como costumavam dizer nossos pais. Sempre felizes sempre brincando, sempre um ao lado do outro. Mas um dia... Ela chegou...

E você me esqueceu...

Eu tinha me descoberto apaixonado por você quando eu tinha 16. Depois, quando fiz 18... Descobri que era amor...

Um amor doloroso...

E que eu sabia que você não iria sentir nunca o mesmo...

Eu não poderia ouvir suas palavras rudes. Você nunca aceitou garotos com garotos. O que você iria fazer se eu te contasse que era apaixonado por você?

Provavelmente, enlouqueceria, me daria um tapa e iria jogar na minha cara o quão patético e ridículo eu sou.

E agora, eu com vinte anos e você com vinte e quatro.

Eu ainda sentindo esses sentimentos...

Sinto-me tão idiota...

Não, mas eu nunca serei tão idiota a ponto de te contar tudo...

Lembra-se de quando era meu aniversário de 18 anos e você não apareceu?

Tudo por culpa dela...

Tudo que você falava ou os sorrisos mais lindos, aqueles infantis...

Que só eram direcionados a mim...

Você só conseguia sorrir assim para mim...

Mas logo percebi que você começou a sorrir assim para ela...

Só para ela...

Você ainda sorria para mim...

Mas não como antes. Tudo tão diferente, não com o brilho lindo de antes nos olhos. Porque...

Esse brilho agora ela era quem os recebia.

Você dá um jeito de sempre falar o nome dela, até mesmo falando de algo banal e sem importância. Você fala dela como se fosse o herói da sua história.

Eu queria ser o herói da sua história...

Essas coisas que eu percebo, esses gestos. Eram tão apaixonados e você fazia quase sempre igual para mim.

Irônico não?

Ele agia de modo apaixonado, mas quem era mesmo apaixonado era eu...

Ridículo!

Toda vez que você dizia que adora ela, que ela era tão especial em sua vida.

Eu me derramava em lágrimas quando chegava em casa...

Meu peito dói, dói tanto... Parece que alguém está cortando ele ao meio, tão devagar...

Perturbador...

Agonizante...

Meus soluços eram altos, meu corpo se mexia a cada um e meus olhos ardiam...

Ardiam de tanto que eu choro...

Mas ainda assim, eu não paro...

Não paro de chorar, não paro de me machucar.

De te amar...

Ah, como eu queria não ter te conhecido.

Ter levado uma vida normal. E não fingindo não chorar toda vez que você sorria e dizia o nome dela...

Toda vez que você me magoava...

Lembro-me de quando eu ganhei o premio do show de talentos.

Mas você nem sabia disso...

Por que você não estava lá para ver...

E lá vem ela de novo...

Você sabia que era importante para mim esse premio...

O quão importante era você lá...

Importante o premio de ver você sorrir com o mesmo brilho de antes para mim, quando visse o troféu. Sentisse orgulho...

Mas você não apareceu lá...

Olhei para todos os lugares, para todas as cadeiras...

E eu não achei você...

Mordi meu lábio inferior. Fingindo mais uma vez felicidade, nossos amigos me cumprimentavam...

Mas quem eu queria, não estava lá...

Você estava na casa de uma amiga dela...

A um pedido que a mesma fez, antes desse dia, eu tinha te avisado que era o show de talentos...

Mas você esqueceu...

Enquanto Takanori perguntava onde você estava...

A faca cortando mais uma fez meu coração. Segurando-me para não desabar...

Não ali, com todos eles...

Ninguém sabia. Só as paredes...

Essas que me fazem companhia toda vez que você quebra mais meu coração...

Elas são tão cálidas nessas horas...

Como um abraço de uma mãe...

Naquele dia, você estava na casa da amiga dela...

Transando no banheiro da mesma, com sua namorada!

Achei isso uma grande falta de respeito, mas o que me machucou mais foi o que eu ouvi.

Não, ninguém sabia...

Eu escutei...

Enquanto eu passava por ela. Ouvi ela e as amigas de risinhos, ela contando o que houve no banheiro...

Você não foi no show, só para transar com ela no banheiro?!

Você sabia que isso era importante demais para mim!

Mas mesmo assim, você foi.

Você a ouviu gritando seu nome, enquanto aposto que miava o dela no ouvido da mesma.

Enquanto eu tocava...

Aquela musica que havia feito especialmente para você...

Nesse dia, me deixei desabar na frente de todos...

Todos me viram chorar...

Eu corri, corri para um lugar afastado...

Então...

Enquanto eu corria.

Esbarrei em você...

Você sorriu para mim e perguntou se eu estava bem.

Sorrindo gentil...

Agindo como senão estivesse acontecido nada. Como se você não tivesse esquecido de nada.

Como se não estivesse nem se importado comigo...

E você nem percebeu.

Meu rosto ainda estava molhado pelas lágrimas, mas você nem sequer estranhou!

Continuou com o sorriso...

"- Então, eu quero ver você tocar no Show. Aposto que você vai ganhar!!"

Você disse sorrindo, e eu chorei mais. Então foi quando você percebeu...

"Foi ontem..."

Respondi e você franziu o cenho, ri com desgosto, dizendo que havia lhe avisado. Mas você nem sequer fez questão de tentar se lembrar. Agora, elas desciam e não paravam...

Corri novamente, só que dessa vez...

Para longe de você...

E hoje eu ouvi você dizendo que a amava.

A amava!!

Também disse que estava pensando em pedi-la em casamento.

Sorri e apenas acenei um sim com a cabeça.

Não me atrevi a dizer nada.

Não conseguia dizer nada...

Agora estou eu aqui, encolhido na parede, quase morrendo sem ar...

Ouço a campainha tocar, mas nem sequer me movi.

Ouvi-a tocar novamente.

Olhei para a porta de meu quarto, escutando ela várias vezes.

Suspirei derrotado, levantando-me. Secando a prova das minhas dores.

Olhando-me no espelho, vendo como estou horrível.

Fui me arrastando até a porta, abrindo a mesma.

Dando de cara com você, sorridente...

Você foi logo entrando, sem nem mesmo falar algo.

Eu falar algo...

"- Kou! Estou tão feliz!" Disse sorrindo de orelha a orelha. Sentei-me no sofá. Mas dessa vez...

Estava sério e frio...

Cansei, cansei de fingir!

Você olhou para mim e seu sorriso desapareceu. Mas logo você falava rindo, para eu mudar essa cara e que eu estava horrível. Mas nem mover meus lábios eu conseguia...

Não com você ali...

Na minha frente...

E, eu sei. Eu sei que você irá falar dela...

Isso me machuca, me machuca demais...

Estou quase no meu limite...

"- Kou, lembra de quando eu falei que estava pensando em a pedir em casamento? Pois bem.." Falou. Arregalei os olhos, não acreditando.

Não! Você não pode fazer isso! Não pode falar isso, não desse jeito!

Não para mim!

Mordi o lábio inferior, meu olhos marejados...

Implorando para que você não dissesse isso.

Implorando-me para segurar-me...

"- Eu a pedi em casamento, Kou!" Falou. Uma lágrima solitária caiu, meus lábios tremiam e apertei a minha camisa com a mão.

"- Você está chorando, Kou?" Perguntou.

Não respondi.

Não me atrevi a isso...

Pois sabia que não me agüentaria fingindo de novo, e choraria na sua frente.

"- Ah, Kou! Sei que está feliz, mas não precisa chorar, que drama, cara!" Falou, implicando comigo. Respirei fundo.

Segurando-me.

"Bem, mas isso é bom. Saber que você até chora de felicidade, me deixa feliz. E, cara! Ela aceitou, ACEITOU!! Parece que eu irei explodir de tanta felicidade!!" Mordi fortemente meu lábio inferior.

Tudo em mim tremia, tremia tanto que eu estava quase me sufocando. E depois de algum tempo, você fala:

"- Kou, quero que você toque no meu casamento. Violão, com você cantando. Eu não gosto de piano, você sabe, né? Então, aceita? Você vai tocar quando nós estivermos entrando na igreja!" Falou tão sorridente, tão feliz...

Foi o meu limite...

Não agüento mais...

Chorei, chorei na frente dele.

E fui o idiota que disse que nunca seria! Levantei-me, gritando com você, perguntando o ‘porque’ de você ser tão idiota. Ser tão burro. Por que não percebeu meus sentimentos?

Era o que eu gritei.

E ainda grito, grito tudo isso...

Tudo que tem aqui...

Enquanto você mirava-me com os olhos arregalados.

Gritei tudo que tinha entalado, tudo que eu sofri, o quanto eu chorei.

Gritei até minhas cordas vocais doerem.

Você está tão assustado...

É bom, não é?

Sentir-se assustado, arrependido, desesperado, inseguro...

Triste...

Agora você sente não é? Sente toda a minha ira, todo o desgosto que você me causou.

Mas mesmo assim, eu continuo te amando...

Por que sou patético...

Depois de ir embora da minha casa e eu ficar tão mal, você se casou com ela...

E depois de alguns anos... 

Às vezes encontro você com ela e sua filha.

No parque, sua mulher brincando com a filha enquanto vejo você olhando as cerejeiras...

Naquele parque.

Seu olhar estava tão triste. Então ela se virava e perguntava se você estava bem, você sorriu. Vendo sua filha brincando. Enquanto ela voltava a brincar com a pequena...

Você voltava seu olhar para o lado...

Justo onde eu estava...

Vento...

E vejo as folhas das cerejeiras caírem sobre você...

Você não tirava os olhos de mim...

Nem eu de você...

Mas eu quebrei o contado, virando-me, indo embora desse parque maldito.

Acho que você ainda se lembra de que sempre vínhamos aqui depois do colégio, para fazer o dever e você sempre pegava as respostas de mim.

Nossos melhores momentos...

Ri.

Sinto-me tão imbecil...

Imbecil por ainda continuar a amar você...