Winter escrita por Deh Cullen


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oi, meus bebês *-* Mais uma one o/



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/123918/chapter/1

O inverno cobre minha cabeça,

mas uma eterna primavera vive em meu coração.

(Vitor Hugo)


As ruas estavam cobertas por diversas camadas de gelo, e, mesmo assim, havia várias pessoas do lado de fora, caminhando às pressas, pela noite fria de Paris. As ruas estavam enfeitadas, era véspera de Ano Novo, e onde se ia havia pessoas sorrindo, cantando, esperando pelo próximo ano, desejando que ele fosse melhor do que dois mil e dez fora.

De uma casa, simples, porém confortável, sentada na janela de seu quarto, Isabella Swan estava envolvida em um manto quente. Na sua mão direita havia uma taça de seu vinho favorito, Merlot. Ela não estava nas ruas, não estava vestida para uma festa, não havia ninguém com ela e nenhum som tocava no interior de sua casa.

Estava tudo no mais completo silêncio.

O silêncio não a incomodava, entretanto. Isabella, na verdade, gostava bem dele; acalmava-a, fazia-a pensar, pensar em algo que queria e não queria esquecer.

Edward Cullen.

Somente o nome, o nome dele, era capaz de provocar coisas que ela nunca tinha sentido com ninguém e que – ela sabia, embora tentasse negar – nunca conseguiria sentir. O famoso calafrio que tomava conta de si, o coração acelerado e apertado, as lágrimas querendo vir, e tantas, mas tantas lembranças que chegava a ser doloroso.

Na verdade, era doloroso.

E inútil lamuriar-se.

E ela sabia disso.

The gray ceiling on the earth

Well it's lasted for a while

O cinza cobrindo a terra

Bem, durou por um tempo

Mas como não se lembrar? Como não se lembrar que foi no inverno que eles se conheceram e se apaixonaram perdidamente? Como não se lembrar das noites longas, dos toques, dos beijos, das carícias, das promessas e juras de amor?

Entretanto, tudo fora em vão.

Respirando fundo, Isabella bebeu o resto do conteúdo da taça e levantou, livrando-se da manta. Imediatamente um calafrio percorreu seu corpo coberto apenas por um camisão, mas ela não se importou. Já estava gripada e com febre. O que poderia acontecer de pior? Talvez fosse melhor ter um pneumonia e torcer para morrer, porque nada parecia suficiente para fazê-la se esquecer da dor.

Ela mudara de cidade e depois, quando descobrira que mudar de cidade não fora suficiente, mudara de país. Só que percebera que era inútil, pois, inconscientemente, ela fora parar no país que, certa vez, Edward dissera que amara, e pretendia ir morar lá futuramente.

Só que ela sabia que ele não estava morando ali, e, se estivesse, nada mudaria.

Porque ele não queria mais nada com ela.

Ele terminara com Bella.

Ele partira de Nova York.

Ele deixara o amor, as lembranças, as promessas, tudo para trás.

Ele deixara Bella.

Take my thoughts for what they're worth

I've been acting like a child

Pegue meus pensamentos pelo o que eles valem

Eu tenho agido como uma criança

E ela não podia fazer nada com relação a isso. Porque sempre soube que nunca seria suficiente para alguém como Edward.

Como alguém como ele – lindo, com aqueles olhos verdes, aqueles cabelos cor-de-bronze desalinhados, aquele corpo esculpido por anjos – poderia olhar para alguém como ela?

Balançando a cabeça, Bella suspirou pesadamente enquanto se dirigia ao som.

Sua casa não era muito grande, mas o suficiente para ela. Havia dois andares. No primeiro havia uma sala, conjunta com a copa, e uma cozinha; o segundo continha apenas dois quartos e um banheiro. Um dos quartos Bella usava para ela dormir, e, no outro, havia seus diversos livros, seus projetos, suas pinturas, e o piano.

O piano.

Sempre que se levantava e ia até aquele quarto, Bella se lembrava de Edward ao olhar para o piano. Talvez seja uma blasfêmia dizer isso, já que ela sempre se lembrava dele – em cada lugar que ia, cada lugar que olhava e tocava –, mas o piano era especial.

Porque foi seguindo o som do piano que Isabella Swan viu Edward Cullen pela primeira vez.

Bella se lembrava bem daquele dia – na verdade, se lembrava tudo relacionado a ele.

Ela tinha quatorze anos e foi acompanhar a amiga até um estúdio musical. Kare, sua amiga, começou a conversar com um professor, e Bella, distraída, decidiu andar pelo local.

Até que ele ouviu uma música.

Your opinion, what is that?

It's just a different point of view

Sua opinião, o que é isso?

É apenas um diferente ponto de vista

Ela se lembrava perfeitamente de ter pensado em como alguém poderia tocar Beethoven tão bem.  E de seguir até o local.

E foi ali que ela o viu pela primeira vez.

Ela se lembrava de ter sorriso ao ver um jovem tocando tão excelentemente bem e ter ficado encantada pela maneira que seus dedos percorriam as teclas, como se ele fosse um profissional. Lembrava-se também de ficar ali, parada feito uma boba, até que o jovem parou de tocar e lhe chamou a atenção.

Ela se lembrava de ter corado, ter pedido desculpas e ter lhe dito que ele tocava muito bem. Lembrava-se de ele sorrindo, agradecido, e se apresentando.

Naquele dia, ela se encantou por seus olhos verdes e seu charmoso sorriso torto.

Agora, aos vinte e quatro anos, ela se encontrava em Paris, sozinha, com um oceano separando-a de sua família.

Outro tremor a atingiu e ela sentiu-se mais febril e tonta do que nunca. Colocando a taça vazia na cômoda do seu quarto, Bella se dirigiu até o único banheiro da casa.

O banho que ela tomou foi longo e um pouco frio. Depois que saiu, Bella colocou uma calça de moletom e uma camiseta e se dirigiu até a cozinha, disposta a tomar uma coisa que poderia abaixar sua febre.

Tossindo, ela voltou ao segundo andar e decidiu pintar.

Whatever, what else can I do?

I said I'm sorry, yeah, I'm sorry

O que mais, o que mais posso fazer?

Eu disse sinto muito, yeah, sinto muito

Pintar era algo que Bella amava fazer, tanto que se formou em Artes Plásticas, além de Literatura Inglesa. Ela estava escrevendo um livro, mas tinha travado no final. Então, como a editora lhe dera muito espaço, estava pintando.

E pintando Edward.

Na verdade, os olhos de Edward. A primeira coisa que a fascinou assim que o viu.

Porque todo mundo pensava que os olhos de Edward eram verdes. E só. Mas Bella sabia que eram um verde-esmeralda e que quando ele sorria, os olhos brilhavam e ficavam mais claro. Havia também o desejo, que transformava os olhos em um verde escuro, com aquele brilho de amor que só Bella conhecia. Havia também a preocupação, a dor, a raiva, o calor. Quando ele estava no claro, quando ele estava no escuro... Bella conhecia todos os tons, do mais escuro ao mais claro.

E ela ainda conseguia imaginar seus olhos em cada uma das situações em sua mente. Mesmo que não visse Edward desde os vinte anos. Foram quatro anos.

Quatro longos anos.

E ela ainda conseguia enxergá-lo perfeitamente em sua mente, seu coração e sua alma.

Naquela pintura havia a mistura de todos os tons. Bella ainda tinha algum trabalho pela frente caso quisesse deixar do jeito que queira, mas ela não estava com pressa.

I said I'm sorry, but what for?

If I hurt you then I hate myself

Eu disse sinto muito, mas para que?

Se eu te machucar então eu me odeio

Não se passou muito tempo desde que havia começado a pintar, quando a dor de garganta, cabeça e corpo pioraram. Sabendo que a febre piorara, Bella seguiu até o quarto, se deitou e dormiu.

Isabella não dormiu bem naquela noite. A noite que, supostamente, ela deveria ter se divertido, já que era virada de ano. Passara os últimos quatro feriados sozinha, tanto o Natal quanto o Ano Novo, porque ela não conseguia comemorar nada.

Porque em cada parte Edward estava lá.

Bella acordou a meia noite, quando os fogos começaram, e custou a dormir novamente. Às duas acordou tendo calafrios e puxou diversas cobertas para si, pouco se importando se isso fosse aumentar a febre.

Tudo o que ela queria era que parasse. Ou viesse uma pneumonia e a matasse de uma vez.

I don't want to hate myself, don't want to hurt you

Why do you choose your pain if you only knew

Eu não quero me odiar, não quero te machucar

Por que você escolheu sua dor, se você sabia

Como os calafrios e as dores não deixavam-na dormir, Bella levantou cedo, tornando a caminhar até o banheiro. Ela passou por seu celular percebendo diversas chamadas não atendias, mas as ignorou. Seus pais entenderiam; quando ela ignorava as ligações era porque não queria falar com ninguém. Eles sabiam que ela ligaria quando estivesse pronta.

Quando saiu do banho, Bella se encontrava cansada, com dor, e mal conseguia manter seus olhos abertos. Vestiu apenas um camisão por cima de suas roupas íntimas e se jogou na cama, fechando os olhos.

Ela não conseguiu dormir, porém. Cinco minutos depois de ter se deitado – sentindo-se mais pesada do que nunca – a campainha tocou. Bella até tentou ignorar, rolando na cama, cobrindo-se, mas nada adiantou.

Resmungando – porque a vida era uma droga, porque o inverno e a vida solitária eram uma merda, porque estava com dor, com febre, e só queria ser deixada em paz – ela seguiu até o andar de baixo, tendo que se apoiar nos corrimões. Bella não medira sua febre, mas estava certa de que passara de 39º.

A campainha tornou a soar mais uma vez e ela suspirou pesadamente, se apoiando no batente da porta.

How much I love you, love you

O quanto eu te amo, te amo

- Droga! – murmurou, colocando a mão na maçaneta. – Olha aqui, você pensa que...

A boca de Bella permaneceu aberta, mas as palavras se perderam. Seu coração batia ainda mais rápido e ela não conseguia respirar, como se seus pulmões tivessem abandonado-a.

Porque parado do lado de fora da sua casa, mais lindo do que um deus, estava ele. Edward Cullen.

Naquele momento todas as memórias de como ele era perfeito sumiram da mente de Bella, dando lugar àquela nova imagem. Porque nenhuma foto ou lembrança seria jus à beleza dele.

Os cabelos estavam mais desalinhados do que nunca, ainda naquele mesmo tom de bronze estranho. Os olhos estavam naquela mistura de tons que ela gostava – o toque final que ela precisava dar a sua pintura – e uma insinuação daquele sorriso estava ali, o sorriso torto que ela tanto amava. Não se podia falar muito de seu corpo, devido ao caso, mas ela pode observar a calça que apertava suas coxas e teve certeza de que ele melhorara.

E muito.

I won't be your winter

And i won't be anyone's excuse to cry

Bem, eu não serei o seu inverno

E eu não serei a desculpa para alguém chorar

Enquanto ela continua ali, a mesma. Os cabelos bagunçados, o camisão, o rosto vermelho, e os calafrios e a dor incomodando-a.

- Bella... – A voz dele a tirou de seus devaneios, e ela fechou os olhos.

Estou com tanta febre que já estou até delirando.

A voz dele estava tão mais perfeita, mais rouca... Mas tinha o mesmo tom de antigamente, o tom suave, o tom único dele.

- Bella... – Ela tornou a balançar a cabeça, ainda de olhos fechados, disposta a acabar com o delírio. Não podia criar esperanças. – Você está bem?

O calafrio veio mais forte dessa vez, assim como a tontura. Porém, antes que pudesse cair, um dos braços fortes de Edward a pegaram, enquanto que, com a mão livre, ele tocou sua testa gentilmente.

E percebeu que ela estava queimando.

And we can be forgiven

And I will be here

E nós podemos ser perdoados

E eu estarei aqui

- Por Deus! – E lá estavam; os olhos. Aquele ar de preocupação... E só de pensar que ele estava preocupado com ela... – Meu amor... Você está queimando.

Com delicadeza, Edward carregou Bella em seus braços, e fechou a porta com facilidade.

Bella sentia-se tão mole, tão cansada. Ela só queria dormir, queria morrer logo, mas Edward estava ali. Com ela.

- Eu vou cuidar de você, meu amor. Eu prometo. – Edward sussurrou ao mesmo tempo que começava a percorrer a casa, procurando pelo banheiro.

- Não vai – murmurou Bella, seus olhos turvos fitavam Edward. – Você me deixou, me abandonou. Me deixa morrer, Edward. Vai doer menos.

- Bella... – suspirou.

Olhando-a ele decidiu não dizer mais nada, embora lhe doesse o fundo da alma por encontrá-la desse jeito. Tinha tanto a explicar! Só que, primeiro, ele iria cuidar dela. Iria garantir que ela estivesse bem.

Subindo as escadas, Edward descobriu que a porta do meio era o banheiro. Ele entrou nele e encaminhou até a banheira, abrindo a torneira para que enchesse.

- Por quê? – Bella continuava a resmungar, os olhos cada vez mais turvos e o corpo mole. – Eu...

Old picture on the shelf

It's been there for awhile

Frozen image of ourselves

Foto velha na estante

Tem estado lá há um tempo

Uma imagem congelada de nós mesmos

- Shhh, meu amor. – Edward, gentilmente, colocou-a na banheira, sem se importar com o roupão que ela usava. Bella reclamou, murmurando que a água estava fria. – Eu sei, eu sei. Já vai passar, eu prometo.

Ela assentiu, porque, mesmo que tivesse se passado quatro anos, mesmo que muita coisa tivesse acontecido, ela ainda confiava nele.

Ela ainda o amava.

E muito.

Aquela noite foi difícil. Edward permaneceu o tempo todo ao lado de Bella, insistindo para que ela fosse ao médico, mas ela era teimosa.

E não queria ir.

Naquela noite, a febre piorou.

E ela se lembrou de tudo – sem, na verdade, nunca ter realmente esquecido.

O primeiro beijo deles...

Bella estava linda naquele 14 de fevereiro. Era inverno e ela vestida com jeans e casacos. Edward estava ao seu lado, passeando com ela.

Eles tinham se conhecido em dezembro, mas parecia que eles se conheciam há anos. Bella tinha apenas quatorze, Edward tinha dezesseis... Mas parecia que eles já conheciam o verdadeiro sentido da palavra amor.

Nenhum dos dois havia tido namorado, nem beijado.

We were acting like a child

Innocent in a trance

A dance that lasted for awhile

Nós estávamos agindo como uma criança

Inocência em um transe

Uma dança que durou por um tempo

E aconteceu naquele dia.

Foi lindo, perfeito, como tinha de ser.

E foi ainda melhor porque eles não tinham planejado.

O toque leve dos lábios, com eles se conhecendo, adquirindo a primeira experiência. Depois o aprofundamento e o explodir de tantas sensações. As línguas dançando naquela sincronia perfeita, as mãos unidas, os dedos entrelaçados.

Não durou muito.

Mas foi no inverno.

E significou muito.

Porque, naquele dia, naquele frio dia de inverno, naquele frio dia dos namorados, eles admitiram a si mesmos que eram mais que amigos e começaram a namorar.

Voltando ao presente, Bella sentiu um pano em sua testa, mas não demorou a adormecer novamente.

E se lembrar de quando Edward teve que ir para a faculdade.

Ele ainda continuaria em Nova York, mas como era faculdade de medicina, e Bella ainda tinha mais dois anos para estudar no ensino médio, as coisas começaram a ficar difíceis. Eles se viam sempre que podiam, mas era raro, e qualquer razão era motivo para briga.

Ciúmes, atrasos, esquecimentos, cancelamentos...

You read my eyes just like a diary

Oh remember, please remember

Well I'm not a begger, but once more

Lê meus olhos como um diário

Oh, lembre-se, por favor, lembre-se

Bem, eu não sou mendigo, mas mais uma vez

Mas eles seguraram a barra, porque se amavam. E, dois anos depois, lá estava Bella, com duas faculdades, Artes Plásticas e Literatura Inglesa. As coisas continuaram difíceis, mas eles continuam juntos.

Porque no futuro seriam recompensados. Tudo daria certo.

Só que não deu.

Bella tinha vinte anos, quando aconteceu. Eles estavam deitados, nus, haviam acabado de fazer amor. Bella tinha um sorriso no rosto, mas Edward não.

Porque ele sabia que havia sido a despedida.

E fizera de tudo para prolongar o momento.

Beijou cada canto do corpo de Bella, memorizando o gosto, o cheiro, a cor de seu rosto, contorcido em prazer e amor. Amou-a lentamente, levando-os ao auge do prazer. Mas com calma, com amor.

Porque era a última vez.

Quando Bella percebeu que havia algo errado, ela olhou para seu amado e lhe perguntou o que tinha acontecido. E ele lhe disse; não ocultou absolutamente nada.

Mas Bella preferiria que ele tivesse mentido, porque assim, naquele momento, ela não iria se sentir como se tivessem cravado mil facas em seu peito.

If I hurt you then I hate myself

I dont want to hate myself, dont want to hurt you

Why do you choose that pain if only you knew

Se eu te machucar, então eu me odeio

Eu não quero me odiar, não quero te machucar

Por que você escolheu sua dor, se você sabia

Só que fora real. E ela sabia que se lembraria daquelas palavras para sempre. As palavras que tiraram qualquer chance de ser feliz, que destruíram suas barreiras, que esmagou seu peito e sugou-lhe todo o ar. Porque Edward era a sua razão de viver e ele iria embora. Para sempre.

Para a Itália.

- Por quê? – Ela se lembrava de murmurar, enquanto vestia suas roupas mecanicamente.

- Vou para a Itália, Bella. – Ele lhe dissera. – Não vai dar certo, você sabe. Mal superamos a distância das faculdades, quanto mais de um país!

- Você não me ama mais? Você tem outra pessoa?

- Com o tempo iremos superar. – Ele ignorara suas duas únicas perguntas. – Foi só um amor adolescente, está na hora de superar.

Mas ela nunca superou.

Ela saiu de Manhattan, ela se mudou para Seattle. Só que ela descobriu que mudar de cidade não foi o suficiente, porque Edward estava em cada lugar.

Ele estava nas bibliotecas, porque sempre que Bella ficava até tarde, era ele quem levava lanche, era ele quem a levava para casa.

Ele estava nas salas de aula, porque eles tiveram uma palestra juntas e se tocaram em público pela primeira vez.

How much I love you

Que eu te amo

Ele estava nas lojas, porque ele sempre obrigava Bella a sair com ele e a irmã para fazer compras.

Ele estava nas lanchonetes, cafés e restaurantes, porque ele a levava para jantar a cada mês de namoro.

Ele estava nas floriculturas, pelas milhares de flores que Bella ganhava.

Ele estava nas joalherias, pelas joias que, embora Bella implorasse muito para não gastar dinheiro, ele dava.

Ele estava nos parques... Ele estava nos banheiros... Ele estava nos beijos que ela tentou trocar com outro alguém, porque nenhum beijo se comparava ao dele... Ele estava na casa dela, nas fotografias dela, nas cartas dela, na vida dela.

Ele estava nela.

Então, ela mudou de país.

Até perceber que não importava mudar de casa, bairro, cidade, estado, país, porque Edward estava nela e estaria até a hora que ela deixasse esse mundo.

Foram quatro anos difíceis. Cheios de lágrimas, lembranças. E ela odiava o inverno.

Porque foi no inverno que ela conheceu Edward, foi no inverno que eles viraram amigos e depois namorados. Foi no inverno que tiveram a sua primeira vez. E foi no inverno que ele a deixou.

Como ela podia amar uma estação gélida e longa, que a lembrava com mais força que ela tinha um coração partido?

No

I won't be your winter

Não

eu não serei seu inverno

_

Isabella sentia-se cansada, mas bem. Abriu os olhos só para constar que estava em um quarto branco e monitores apitavam freneticamente. Respirando fundo, ela se ajeitou na cama, dando-se conta de que tinha delirado por causa da febre.

Era claro que Edward nunca mais a iria procurar, era óbvio que ele, provavelmente, tinha terminado a residência de cardiologia, e agora estava casado, planejando o herdeiro.

Como pôde deixar-se ir tão longe? Como pôde?

Cansada de ficar deitada, Bella jogou as cobertas para longe, sem se importar em pensar em como chegara ali. Ela já estava de pé, tentando arrancar os fios que estavam presos em seu braço, quando a porta abriu.

E Edward entrou.

Ele estava com usando jeans e uma blusa de frio que delineava seu corpo.

E estava ali.

Ele realmente estava ali.

- Bella, por favor, você não pode sair da cama... – murmurou, embora não parecesse muito convicto de que fosse convencê-la.

- Você não é ninguém para me dizer o que fazer, Cullen! – rosnou, procurando por suas roupas.

- Bella... – Ele passou a mão nos cabelos, deixando-os ainda mais desalinhados. – Eu sei que lhe devo muitas explicações, mas vai ter que ficar para depois. Você teve um princípio de pneumonia, precisa descansar.

And I won't be anyone's excuse to cry

And we can be forgiven

E eu não serei a desculpa para alguém chorar

E Nós podemos ser perdoados

- Se você não tivesse aparecido – sussurrou, tentando conter a dor – eu estaria morta. E, pode ter certeza, seria bem melhor.

- Não... – murmurou, porque ele não conseguia imaginá-la morrendo. Não conseguia imaginar vendo-a em um caixão, sendo enterrada.

- Saia daqui, por favor, Edward – disse firme.

- Mas...

- Saia daqui. – Ela se segurava para não soltar as lágrimas. – E não me procure mais. Eu ia dizer ‘me esqueça’, mas você já me esqueceu, não é mesmo? Há quatro anos. Se é que um dia verdadeiramente me amou...

Edward pensou em abrir a boca e dizer alguma coisa, mas ao olhar para Bella, ele assentiu e saiu do quarto.

Isabella mal esperou que ele fechasse a porta para permitir que as lágrimas caíssem.

_

No dia seguinte, Bella retornou para casa, cheia de recomendações e remédios. Só que ela não ligou para nenhum deles. Dirigiu-se até a adega de vinhos e pegou o Merlot.

And I will be here

E eu estarei aqui

Ela decidiu que merecia um banho de banheira, quente e longo. Só que ao pisar no banheiro, lembranças de Edward ali, tentando abaixar sua febre, cuidando dela, atingiram-na e ela simplesmente não agüentou ficar ali muito tempo. Então, ela apenas tomou uma ducha rápida e foi até a cozinha.

Depois de encher a taça, Bella decidiu que queria pintar.

Finalmente, ela estava com inspiração para terminar aquele quadro. E para escrever.

Duas horas depois, Bella tinha terminado o quadro. Ela o deixara secando ali e enviaria para a galeria assim que pudesse.

Não queria lembranças de Edward Cullen.

Era hora de seguir em frente.

Seu livro, Inverno, já tinha o final.

E não seria feliz.

Era a história dela com Edward. Claro que com nomes de outros personagens, mas Bella estava escrevendo-o para tentar aliviar a dor que havia em seu peito.

Sentando-se diante do computador, ela se pôs a escrever.

No

I won't be your winter

Não

eu não serei seu inverno

“... Eu queria poder sentir os lábios nos meus, pelo menos mais uma vez. Aí, sim, eu sabia que iria conseguir em frente.

George foi meu melhor amigo, meu primeiro e único amor. De uma forma ou outra eu sempre iria me lembrar dele, mas isso não significa que eu não seja capaz de ter uma vida. Eu o tiraria de mim. Eu doaria as pinturas, doaria as fotografias, e faria de tudo para doar as lembranças também. Porque eu não queria; eu não queria a dor, eu não queria o sofrimento. Eu não queria me lembrar de cada palavra que foi dita naquela noite fria de inverno.

Inverno.

Por que sempre ele?

Porque, quatro anos depois, justamente no inverno, George tinha que vir me procurar? (...)”

Cansada, Bella fechou os olhos. Iria concluir o final depois.

Descendo as escadas, ela decidiu que merecia uma caminhada, e, sem se importar com seus trajes, abriu a porta de casa e saiu.

Flocos de neve caíam levemente sobre as ruas, mas ela não se importou. Queria mesmo que a pneumonia voltasse. Edward havia partido.

E dessa vez era para sempre.

Se ele ao menos tivesse dito alguma coisa – qualquer coisa – quando Bella o mandara embora.

Seria o seu coração tolo e apaixonado capaz de perdoar Edward?

Sim, seria.

Pela primeira vez, cansada do silêncio, Bella pegou os fones de ouvido, colocou no celular, e se pôs a escutar uma música.

Só que desligou, ao perceber que era Your Winter. Uma das músicas favoritas de Edward.

Sempre Edward.

Até quando ele estaria nas sua lembranças? Até quando ele a faria ter tantas sensações – dor, ódio, sofrimento, amor, carinho, paixão, saudades e tantas outras – e a faria se sentir como uma boba?

- Oh, Edward – sussurrou. – Por que você me deixou? Por que me magoou tanto?

And I won't be anyone's excuse to cry

And we can be forgiven

E eu não serei a desculpa para alguém chorar

E Nós podemos ser perdoados

Ela sussurrou para a noite, para a neve, para o vento, esperando que houvesse uma única palavra, um único sussurro, que fosse capaz de acabar com todo aquele sofrimento.

E, então, veio.

A voz dele.

- Porque eu fui burro. – Surpresa, Bella se virou, e viu Edward ali, um sorriso triste no rosto, os olhos sem vida, opacos, vazios. Olhando para ele, Bella sabia que era como se olhar no espelho e se enxergar do mesmo modo: sem vida. Porque eles eram a vida um do outro, a primavera que aquecia o coração mesmo no inverno. – Porque eu não queria que você ficasse me esperando e deixasse de viver sua vida para me ver uma vez por ano. Viveríamos em briga, Bella, você sabe disso.

- Mas eu tinha que escolher, Edward – argumentou. – Eu tinha o direito de escolher. E eu preferiria te ver uma vez por ano do que nunca.

- Precisávamos amadurecer, meu amor. – Ele se aproximou um pouco, mas parou ainda distante dela. – Eu me arrependi por cada segundo, Bella. Aonde quer que eu fosse eu via você. O modo que sorria, seus olhos castanhos, suas pequenas sardas... Seu amor, carinho, dedicação, paciência... Mas eu sabia que não podia submeter você àquilo. Esperar por mim enquanto eu terminava a faculdade e depois a residência. Por que acha que eu vim agora? Porque eu terminei a minha residência, e, se você ainda me quiser, arrumo um emprego no lugar que você quiser, meu amor. No lugar que você quiser.

And I won't be your winter

E eu não serei seu inverno

- Edward... – Ela sentia seu coração tão acelerado, as borboletas ali... Como se nada tivesse mudado.

Então, Edward correu ao seu encontro e chocou seus lábios nos dela.

E ela entendeu tudo.

Entendeu que o relacionamento dos dois teria terminado bem pior se eles tivessem tentado viver juntos à distância, porque eles não eram maduros o suficiente.

Entendeu que ele fez aquilo porque a amava, e sofreu tanto quanto ela.

Entendeu que ele a amava.

Que eles se amavam, com igual intensidade.

E que se o amor tinha sobrevivido a ausência, ao tempo e a distância, nada seria capaz de acabar com ele.

- Eu te amo tanto – murmurou ele quando os lábios se separaram.

- Eu também.

E eles se beijaram outra e outra vez.

And I won't be anyone's excuse to cry

E eu não serei a desculpa para alguém chorar

- Agora vamos para dentro, futura Sra. Cullen. – Bella riu com o nome que ele lhe dera. – Não quero que fique doente de novo. Vou te dar um banho bem quente agora e te colocar para dormir.

Só que eles não dormiram.

Comemoraram no melhor estilo Edward e Bella.

_

Naquela madrugada, Bella finalizou seu livro. E decidiu não enviar o que pintara para a galeria. Ficaria com tudo.

Porque seu Edward estava de volta.

E o inverno não poderia ser melhor, porque ela agora tinha alguém para lhe esquentar.

E não era um alguém qualquer.

Era Edward.

_

Uma semana depois, Edward descobriu as pinturas – no mesmo dia que pediu Bella em casamento – e leu o livro de Bella.

E se emocionou com o fim.

“... George é minha razão de viver, a minha primavera no meio do inverno. Sem ele, não há vida, não há flores, não há eu, Rebecca. Porque nós somos como um só.

O inverno pode ser longo, gélido e frio. Mas ele é simplesmente maravilhoso quando se tem alguém para te esquentar.”

- Eu te amo. – Bella sussurrou e só assim Edward percebeu que ela o flagrara.

Ele, sorrindo, se virou e puxou-a para seus braços.

- Eu também.

As lembranças sempre estariam lá, assim como em todos os invernos algo iria acontecer. Mas eles se amavam, e estavam juntos.

Só não sabiam que, no próximo inverno, eles iriam descobrir que seriam pais.

And we can be forgiven (Oh I know)

And I will be here

E Nós podemos ser perdoados (Eu sei)

E eu estarei aqui

FIM.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

n/a: Como sempre, para variar um pouco, eu não gostei do fim. Espero que vocês gostem :D One que eu fiz com muito carinho e que chorei, pois é u.u. Minha segunda one do ano, mas não a última. Tenho mais de cinco projetos aqui, haha ‘o’

Enfim, espero que gostem desse surto maluco que tive :D
Queria agradecer a Cappy, porque se não fosse por ela, sabe-se lá quando essa one iria sair. Obrigada pelos surtos e incentivos, Cappy o/

Kisses, babies.

Deh C.

PS: Quem sabe, futuramente, eu não escreva ones das outras três estaçãoes? Com enredos diferentes, claro :D