No outro dia ele voltou para a escola, mas algo havia mudado. Quando ele entrou na sala de aula naquele dia era como se estivesse vendo todos ali pela primeira vez, todos pareceram tão diferentes, mas no fundo, ele sabia que quem tinha mudado, na verdade, era ele.

  Na 1ª aula, ele sentou no lugar de sempre, ao lado de uma garota loura e baixinha  com muitas sardas no rosto.

  - Oi – ele disse e ela olhou chocada, com os olhos escuros arregalados a ponto de sair das órbitas. – Seu nome é Sarah, não é? – ele não lembrava, mas torceu para ter acertado.

  - Na verdade – ela hesitou – É Ciara.

  - Hum, então, oi Ciara. – ele corrigiu e riu pra ela.

  - O-oi. – ela ainda estava surpresa, mas seus olhos tinham voltado ao normal. – Frankie, não é?

  - É.

  Os dois se viraram para frente e assistiram a aula de Espanhol em silencio.

  Na outra aula ele sentou ao lado de um rapaz de nome Henry, ele pareceu quase tão chocado quanto Ciara, ao vê-lo  falando e sorrindo, agindo como qualquer outro estudante normal.

  - Não me entenda mal, mas você está falando comigo? – foram com essas palavras que eles começaram o primeiro dialogo da vida deles, pelo menor era o primeiro do qual Frankie se lembrava.

  - Sim. Porque?

  - Tem certeza que não se lembra...

  - Desculpa, mas eu... – Frankie sacudiu a cabeça negativamente.

  - Bom, na festa do halloween... você meio que me deu um soco que quebrou meu nariz... –  Henry disse e o olhou com um misto de rancor e duvida.

  - Desculpa... – Frankie repetiu – mas eu nem sequer me lembro de ter ido a uma festa de halloween.

  Henry riu, para a surpresa de Frankie.

  - Eu devia ter imaginado, você estava tão bêbado que seria surpreendente se lembrasse...

  - Desculpa – Frankie estava se sentindo verdadeiramente envergonhado.

  - Não, tudo bem... – Henry estava sorrindo um pouco agora.

  - Mas porque eu fiz isso mesmo? – Frankie perguntou.

  - Você tentou beijar minha namorada e eu te empurrei e você me deu um soco, mas depois chegou um pessoal e meio que te expulsou e... – Henry parou a frase e olhou para o livro de biologia que estava sobre a mesa.

  - Desculpa. – Frankie olhou para frente e fingiu prestar atenção no que o professor falava,mas ele sentiu-se corando.

  Ele se sentia mal pelo que tinha feito. Não só ignorar a aparentemente frágil Ciara, ou ter tentado beijar uma garota que tinha namorado, ou ter batido no seu parceiro de laboratório, porque ele foi tentar defender a namorada. Mas  ele não gostava nada dos olhares que só agora podia notar que os outros estudantes lhe davam, ele era ignorado por alguns, outros tinham medo dele e alguns mostravam apenas raiva quando olhavam para ele. Ele detestava aquele Frankie ignorante, grosso e que vivia bêbado, não gostava nada do cara que virara...

  O sinal tocou acordando-o dos pensamentos sufocantes e constrangedores que rondavam em sua mente sem parar.

  Durante as próximas aulas da manhã, ele tentou puxar assunto com seus parceiros, mas a garota da aula de cálculo apenas lançou-lhe um olhar carregado de ódio e desprezo e na aula de História Americana ele nem sequer tinha um parceiro.

  Ele foi para o refeitório pensando no que havia feito de ruim para a garota da aula de calculo, mas foi surpreendido por uma voz conhecida o chamando em algum lugar, ele olhou em volta e viu numa das mesas, Henry acenando discretamente para ele. Ele acenou de volta e Hanry fez um sinal com a mão como se o chamasse.

  Frankie pegou seu almoço e foi caminhando, tentando ao máximo ignorar os olhares que tanto o incomodavam agora, até a mesa onde Henry estava sentado, conversando animadamente com um rapaz moreno e alto que Frankie se lembrava de ter visto, ao lado de Henry havia uma garota com cabelos muito escuros e olhos claros que o lembraram Pearl, ela o olhou com um sorrisinho no canto da boca, assustada, Frankie imaginou. Mas ela rapidamente se virou de volta para as outras duas garotas que conversavam com ela.

  - Oi – Frankie falou e todos o olharam.

  - Porque não senta conosco hoje? – O rapaz moreno o olhou confuso e as garotas que estavam conversando com a garota que o lembrava Pearl olharam surpresas, mas Henry e a garota apenas olharam educadamente e Frankie se sentou.

  - Oi – o rapaz moreno falou.

  - Oi – Frankie sorriu para ele e ele pareceu mais confuso.

  - Quer dzer qe você decidiu se converter agora, não e mesmo? Tarde demais colega...

  - Luke – a garota o repreendeu.

  - Qual é Anna. Você não acha que ele...

  - Lucas, não fale assim com ela, ok? – Henry o interrompeu – E eu não vejo nada demais em Frankie sentar-se conosco, ele pediu desculpas e...

  Lucas bufou cortando Frankie e se virou para o outro lado, aparentemente zangado.

  - Não liga pra ele... – uma das garotas, uma ruiva e muito alta, começou.

  - Tudo bem, eu saio...

  - Não tem nenhuma necessidade disso – Henry disse e levou um pedaço de pizza a boca. – Bom, essa é minha namorada Anna. Essa é Katie e essa é Ellie. – Ele apresentou.

  - Prazer. – ele sorriu um pouco e elas sorriram também.

  Em poucos minutos todos estavam conversando animadamente, incluindo Frankie no assunto, mas Lucas, o rapaz moreno se recusava até a olhá-lo.

  Frankie encontrou  Henry na aula de Educação física e o rapaz moreno também, mas ele continuava a olhar feio para Frankie.

  Quando as aulas daquele dia terminaram, Frankie foi para a lanchonete onde lanchava ates de ir para o serviço comunitário, ele se sentia quase bem, o que era um progresso e tanto e então ele notou que essa era a ultima semana de aula antes do feriado de natal e ano novo e conseqüentemente o fim do serviço comunitário.

    Ele lanchou e foi para o serviço, esse era o momento mais triste do seu dia,e também parecia ser a parte que mais se arrastava.

  - E lá vem o franguinho – um dos grandalhões tatuados e carecas anunciou a chegada de Frankie que passou por ele o ignorando. – Olha aqui, moleque, ninguém me ignora assim, ta bom?

  - Você quer que eu te de um abraço, um beijo e te diga “Boa tarde, querido” ? – Frankie zombou e voltou a andar.

  - Frangote metido a besta. – o cara resmungou, mas voltou para seu trabalho, apenas porque o inspetor chegou. Frankie respirou aliviado por sua sorte, num outro dia ele saiu com o nariz sangrando um bocado e nesse dia preferiu nem ir à casa de Pearl, para não preocupá-la.

  Ele pegou uma lata de tinta e começou a pintar o meio-fio. As poucas horas que ele passava lá, se transformavam misteriosamente, em décadas.