– Não seja tão arrogante.

A voz dele era seca e áspera. Ainda assim, eu sentia como morfina em minhas veias cada vez que a escutava. Entre minha visão embaçada pela fumaça, eu enxergava seu rosto de marfim. Ele não mudara nos últimos anos. Eram os mesmos olhos passivos, a boca rígida e os cabelos bagunçados. O que eu sabia era que mesmo com aquela indisciplina em sua aparência, eu o amava, e não podia forjar defeitos em Naruto. Deixei que minhas mãos corressem pelo lençol abarrotado, escorregando até seu tórax. Eu me joguei sobre aquele corpo quente e maciço. Era como abraçar uma escultura grega.

– O arrogante aqui é você. – eu sussurrei em seu ouvido. Senti os pelos de seu corpo se eriçar em contato com minha pele.

Ele abriu um pequeno sorriso, assoprando a fumaça do cigarro contra o vidro da janela. Arranhei suas costas com minhas unhas, ajeitando-me sobre seu colo como uma criança. Era assim que eu me sentia junto a Naruto; um bebê recém-nascido, que redescobria o mundo a cada experiência nova. Alguns dias, eu que acabava por guiá-lo, quando ele estava exausto demais para tomar conta de mim. Mas na maior parte das vezes, era ele que me segurava firme, e eu simplesmente deixava que ele preenchesse meu espírito daquele calor que emanava de seu corpo.

Eu aspirei o cheiro doce de sua pele. Eu deixei que o cheiro dele tomasse conta de cada pedaço de mim. Eu queria Naruto dentro de mim assim como eu sabia estar dentro dele.

– Hinata... – ele balbuciou em meio ao meu abraço.

Ele era imprevisível. Eu simplesmente nunca podia adivinhar o que ele estava prestes a dizer. Ele deixou o cigarro sobre a bancada da fresta da janela, e colocou a mão firme em minha cintura. Eu me encolhi embaixo de seu queixo, deixando que ele mandasse embora todo o frio daquela noite. Aquela cadeira era pequena demais para nós dois, e permiti que ele me arrastasse até a cama ao nosso lado. Nós nos misturamos aos lençóis, apenas nos abraçando por instantes.

– Você... Vai... – ele sussurrava – Me amar... Pra sempre?

“Pra sempre.”

– Você... Promete? Você promete Hinata?

“Eu prometo.”

Eu não escutava mais nenhum som. Eu só ouvia o doce ruído de sua respiração morna. Minhas mãos, minhas pernas, nada me pertencia mais. Tudo era apenas dele, exclusivamente dele, e assim eu queria que fosse por todos os meus dias. Eu enxergava pouco com minha visão embaçada, mas podia ver o brilho incomum de seus olhos marejados, enquanto ele roçava seus lábios por meus ombros.

Eu sentia seus batimentos desritmados; eu sabia que ele me queria tanto quanto eu o queria. E era como se o mundo parasse para nós. Como se os móveis, o chão, a cama e os lençóis desaparecessem ao meu redor, e pra mim existisse apenas Naruto. Apenas Naruto.

Fim