David escrita por Rapousa


Capítulo 1
[Capítulo 1 - Faz três anos]




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/12377/chapter/1

[Capítulo 1 – Faz três anos]

           Ela abriu os olhos repentinamente. Com o que estivera sonhando mesmo? Olhou para a janela fechada com cortinas a sua frente. Nenhuma luz parecia tentar passar por ela. Que horas seriam? Se virou e seus olhos buscaram o visor luminoso do despertador de cabeceira, eram três horas da madrugada.

           Se sentou sentindo-se desperta. Sonhara com David, ele estava do lado de fora da sua janela, a encarava e parecia extremamente pálido, seus olhos brilhavam estranhamente. Como ele poderia flutuar na sua janela, ela morava no quinto andar... Suspirou exasperada, era só a porcaria de um sonho. Ela sempre tivera sonhos estranhos desde aquele longínquo dia. Só tinha ficado desacostumada, desde que Arthur entrara em sua vida as lembranças foram ficando cada vez mais distantes os sonhos rarearam e agora quase não existiam.

           Relaxando, ela voltou a se deitar, acomodou-se melhor na cama, amanhã seria um dia agitado, iria passear com Arthur.

           Fechou os olhos, porém não sentiu sono. Pensou de novo em Arthur, estava realmente começando a amá-lo. Tentava não comparar o tempo todo Arthur com David. Na verdade, desde que seguira o conselho de sua psicóloga e o deixara se aproximar sua vida tinha melhorado significativamente. Ela não deveria se preocupar, tudo daria certo. Dando um longo bocejo sentiu que vagarosamente retornava a um estado de letargia...

           Abriu os olhos novamente, se sentiu extremamente acordada. Dessa vez o que a despertara? Um barulho contínuo e repetitivo entrou por seus ouvidos, é claro, o despertador. Virando-se preguiçosamente ela desligou o relógio e se sentou, esfregou os olhos e deu um longo bocejo antes de finalmente se levantar espreguiçando. Calçou os chinelos e foi ao banheiro, onde ficou mirando o espelho como se esperasse ver algo diferente do habitual, porém só encontrou a mesma jovem de vinte e poucos anos – ok, vinte e cinco e meio - de sempre, os mesmo cabelos castanhos indecisos entre lisos e ondulados, os mesmo olhos cor de mel, a pele amorenada, o corpo magro, tudo igual. Dando uma leve virada e encarando seu perfil de nariz arrebitado ela não pôde evitar se achar uma mulher até bonita. Rodou os olhos com esse momento de narcisismo e seguiu para o banho que enfim a despertaria de verdade.

           Tomou o café já animada com a perspectiva de encontrar Arthur e fazer algo diferente, estava tão animada que chegou a cantarolar uma música velha e dançava sozinha enquanto arrumava a mesa. Continuou em um estado de espírito tão leve que nem se deu conta da bagunça que fizera por todo o seu quarto na busca da roupa ideal, havia desarrumado metade do armário e só foi notar quanto tropeçou em uma jaqueta jeans. Não que fosse do tipo de mulher que demora horas para se vestir e decidir o que quer, no entanto, ela sempre fora extremamente desorganizada, e só fizera toda aquela confusão porque não sabia onde colocara o vestido azul de flores amarelas que ela tanto gostava e achava típico para um passeio ao ar livre. Só foi encontrá-lo de baixo da cama, e ela preferia não se perguntar como ele havia ido parar lá.

           Quando abotoava o último botão a campainha tocou, tinha que ser Arthur. Ela olhou desesperada para a bagunça na qual transformara o quarto, hesitou por um instante. Obviamente não daria tempo de fazer nada sem deixar o namorado plantado na porta de casa, por isso desistiu de qualquer idéia de deixar o lugar aceitável, calçou os sapatos, pegou a bolsa e correu para a porta.

           - Oi, na hora – disse com um sorriso, levemente esbaforida pela corrida.

           - Sabe, - disse ele com um sorriso – você fica linda quando calça um sapato rosa e outro amarelo.

           - Que? Ah! Péra aí, já volto! -  disse olhando para os pés, e ao constatar o erro voltou correndo para o quarto, ou o pandemônio, como poderia ser nomeado naquele momento.

           No fim da contas acabou indo de tênis, um simples e branco, já que não conseguiu escolher entre rosa e amarelo. Arthur apenas riu, não ousando fazer nenhum comentário, e mesmo assim recebeu um olhar enviesado enquanto a namorada fechava a porta.

           Arthur era um rapaz simpático com seus cabelos castanho claros aloirados, olhos cinzas mais para verde e a pele branca pontuada por esparsas sardas, que não o abandonaram na transição da adolescência para a vida adulta. Ele era filho do diretor da empresa na qual a namorada, Christine trabalhava, os dois eram colegas de trabalho e ao contrário do que se poderia esperar, Arthur era tratado como outro funcionário qualquer, e com o adicional de toda a pressão e até excesso de trabalho que o seu pai acabava por lhe dar. Ele confundia-se tão bem com os outros funcionários que Christine demorou um bom tempo após conhecê-lo para descobrir suas origens.

           Arthur ainda não conhecia a história de David por completo, e se comprometera a não importunar Chris com isso. Contudo, agora que ela percebia o quanto aquele rapaz levemente magrela e carismático se tornara importante em sua vida, decidira que alguns fantasmas do passado poderiam ser desenterrados. Hoje ela contaria mais sobre David do que jamais falara em anos, e dessa vez seria a história toda.

          

           Já passava das quatro da tarde quando eles finalmente resolveram sentar em um banco no coração do bosque da periferia da cidade. Rodeados de árvores, tudo ali dentro parecia escuro, e não fossem pelas pontilhadas aberturas nas copas das árvores permitindo que fachos de luz penetrassem, não poderiam dizer que o sol ainda estava no céu. Chris sempre achou aquele tipo de local confortável e cheio de paz. Para ela era como se o mundo parasse. Não havia lugar melhor para iniciar a história.

           - Arthur, - começou ela – sabe, estou com você há um bom tempo já...

           - Quase seis meses – disse ele mirando pensativo uma árvore próxima. - Quase seis meses, Chris!

           - É, eu sei – ela sorriu de volta para ele e encostou a cabeça em seu ombro. - Sabe, eu tenho me escondido de todo mundo durante alguns bons anos. Mas você é diferente de qualquer outra pessoa que eu já encontrei, você merece saber mais do que ninguém o que aconteceu comigo há três anos, muito antes de eu te conhecer, muito antes de eu encontrar qualquer pessoa com a qual eu conviva atualmente. E não, não tem nada relacionado a um amante mais velho e casado e muito menos a um caso de roubo por uso de drogas - disse ela rodando os olhos com os boatos que haviam percorrido todo o trabalho ao saberem do passado misterioso dela. Arthur apenas riu, preferindo não interrompê-la. - A verdade é muito menos suja e muito mais dolorosa. Mas antes de tudo, uma pergunta. Você acredita em amor? - Christine desencostou-se do namorado e o encarou nos olhos.

           - Se eu não acreditasse – ele se virou para encará-la de volta – não estaria aqui com você.

            Ela sorriu de volta para ele e sentiu-se infinitamente mais confortável para contar tudo que ocorrera.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

N/A: Reviews são amor, eu as adoro e seu dedo não vai cair =P
Dizem até que faz bem para a pele o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "David" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.