Hermione estava sentada no parapeito de uma das janelas do dormitório feminino. Não se sentia disposta para ir à aula naquele dia de inverno – o primeiro em que nevava naquele ano.

Ela adorava o inverno. Era uma estação mágica para ela. A que renovava suas forças e esperanças em Harry e no fim da guerra que mal havia começado. Geralmente era uma época boa.

Mas nesse ano, o inverno veio carregado de dúvidas ao invés de soluções. A castanha nunca teve tanto medo de um sentimento.

 - Por Merlin, como foi que tudo começou?

    UM MÊS ATRÁS...

Hermione andava calmamente pelos corredores vazios de Hogwarts. Era monitora da grifinória com muito orgulho, e adorava as noites tranquilas para se debruçar nas janelas e ver a lua. Em um de seus momentos mais singelos, ouviu alguém sussurrar atrás de si:

 - A lua está realmente bonita hoje, não é Granger?

Hermione reconheceu imediatamente a voz arrastada e corou. Malfoy a tinha descoberto em um momento de total fraqueza. Mas não havia feito nenhuma provocação. Mas era Malfoy, portanto era melhor ficar atenta.

- Sim Malfoy, a lua está maravilhosa. – Draco também era monitor, portanto também poderia estar fora de seu dormitório. Droga, esse detalhe a havia escapado. – Tanto que nem mesmo você consegue estragar essa visão.

Hermione ainda estava debruçada na janela contemplando a lua quando sentiu Draco se aproximar calmamente. A essa altura, a castanha já apertava a varinha firmemente em sua mão direita, caso ele tentasse alguma gracinha.

Mas ao invés das provocações que Hermione esperava, Draco apenas se postou ao seu lado na janela e olhou para seus olhos. Por um momento o castanho deixou-se mergulhar no cinza, de forma que as duas cores pareciam se fundir em uma dança jamais assistida por outros espectadores.



     AGORA...

Hermione pressionou a testa contra o vidro frio da janela. Não podia ter sido assim tão simples. Apenas um olhar a fizera perdoá-lo por todos os insultos. Ah... mas não foi somente um olhar.



      TRÊS SEMANAS ATRÁS...

Fazia uma semana que Hermione não encontrava com Draco. Observava-o de longe, nas horas das refeições, sentado com seus amigos sonserinos. Mas mesmo nas aulas que Grifinória e Sonserina compartilhavam, Draco sumia.

Harry, Rony e Gina perceberam que havia algo errado com a amiga, mas Hermione apenas dizia estar cansada. Ela nunca revelaria que a fonte de toda a sua preocupação era Draco Malfoy.

Naquela noite, Hermione resolveu subir até a torre de astronomia. Sabia que era proibido e odiava desobedecer as regras, mas sentia como se algo mais forte do que ela a puxasse para lá. Ao chegar à sacada da torre, Hermione congelou: Draco estava lá. E estava lindo com os cabelos loiros desgrenhados pelo vento constante e a camisa branca do uniforme com as mangas dobradas apesar do frio cortante que fazia. Hermione nunca havia visto Draco tão perfeito antes.

O garoto notou a presença da castanha antes que ela pudesse sequer inventar alguma desculpa por estar lá parada observando-o.

- Tá olhando o que sangue-ruim? Já sei, percebeu o quanto eu sou perfeito e se apaixonou por mim. Pena que eu não tenho tempo pra ralé.

Ao ouvir essas palavras, Hermione congelou. Tudo bem, era assim que Malfoy geralmente era, então pra que a surpresa? Mas ele foi tão diferente naquela outra noite. Tão mais... Humano.

- Nem nos seus sonhos Malfoy. Eu só... Ah, como se eu te devesse qualquer explicação!

Hermione já seguia para o dormitório pisando duro de raiva quando sentiu alguém a segurando pela cintura.

- Desculpe-me Hermione. – A garota podia sentir o coração acelerado. Draco Malfoy a pediu desculpas e ainda por cima a chamou pelo nome? Só podia ser sua imaginação.  – Não deveria ter falado daquele jeito com você. Mas com essa maldita guerra se aproximando cada vez mais eu acabo perdendo o controle perto de você. Entenda, vai ser melhor pra você se nós não formos amigos.

- E desde quando nós somos amigos Malfoy?

Draco deu um meio sorriso e puxou Hermione para mais perto. Ele sabia que não deveria fazer aquilo, mas não aguentava mais. Precisava dela quase tanto como precisava do ar para respirar. Podia sentí-la tensa em seus braços, provavelmente tentando adivinhar o que se passava por sua cabeça. Finalmente não precisaria mais fingir. Suas mãos agora apertavam levemente a curva bem feita da cintura da castanha enquanto praticamente a colava em seu corpo. Seus narizes quase se tocando, Draco sussurrou:

- Desde o dia em que eu percebi que preferia seu sorriso ao seu desprezo.

Então ele colou seus lábios nos dela. Gelo e fogo nunca se completaram com tanta paixão e desejo como foi naquele beijo sofrido entre dois antigos inimigos.

Quando se separaram, o loiro podia ver a confusão e a felicidade nos olhos da garota sendo logo substituídos por medo e raiva. Hermione se desvencilhou de seu abraço e correu. Draco já esperava por algo assim, mas não pode evitar o sentimento de frustração que sentia agora. Se ela soubesse o que ele fez por ela...



      AGORA...

Uma lágrima solitária escapou dos olhos castanhos. Ela o deixou lá, sozinho. Como ela poderia ter adivinhado? Mas não, ela foi apenas o reflexo de suas próprias ações. Se havia um culpado naquilo tudo, era ela. E apenas ela.

Saiu da janela. A neve que antes lhe proporcionava tanta alegria, agora a estava irritando. Como algo podia ser tão branco e traiçoeiro? A comparação a fez abrir um sorriso triste. Seguiu para o banheiro, precisava de um banho quente antes de descer para o almoço e enfrentar o resto do dia que seria cheio de perguntas sobre ela vindas de Harry, Ron e Gina.