A volta ao colégio foi uma festa. Mari foi recebida com aplausos na sala de aula, mas não sabia se aquilo era uma demonstração de afeto ou falsidade. Afinal, não conversava nem com metade dos alunos dali.

     O professor precisou de alguns minutos até conseguir acalmar a turma.

     -Ok, ok, silêncio agora pessoal! Estamos muito felizes com sua volta Tsuyoshi-san. E eu tenho mais uma novidade para vocês: hoje receberemos um novo aluno.

     Rapidamente, o cochicho tomou conta dos alunos.

     -Se vocês ficarem falando eu não poderei mandá-lo entrar. – e de novo o silêncio foi geral. – Muito bem. Pode vir. – disse o professor para alguém do lado de fora.

     Assim que o novo aluno entrou, o coração de Mari deu um giro. De uniforme nem parecia o mesmo, mas era impossível não reconhecê-lo.

     -Pessoal, esse é o Mamoru Hiroshi. A partir de hoje ele estudará conosco. Meninas, acalmem-se, assim vão assustar o garoto. – o professor riu da própria piada. – Seja bem vindo.

     -Obrigado. – respondeu Hiroshi, se dirigindo ao fundo da sala e sendo seguido pelos olhares de todos os alunos.

     Mari ainda não acreditava na surpresa, e sorria com Yuka. O rapaz sentou a três cadeiras de distância, e ela ficou esperando que a olhasse.

     Quando finalmente se virou, Mari riu e acenou para ele. Porém, Hiroshi a encarou com uma sobrancelha erguida, e logo desviou o olhar com raiva.

     -Agora, abram o livro na página 67. Tsuyoshi-san, está se sentindo bem?

     Ela se assustou e, um tanto desconcentrada, acenou.

     O resto da aula foi apenas um eco na mente de Mari, que não parava de pensar na atitude de Hiroshi.

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     O intervalo chegou rápido, e antes que Mari percebesse, Hiroshi já havia saído. Ela se levantou apressada, mas Yuka a segurou pelo pulso.

     -Aonde você vai?

     -Vou falar com ele. Quem ele pensa que é para me tratar assim?

     Procurou por todo o pátio, e nem sinal dele. Em poucos minutos o intervalo iria acabar, e também acabaria o tempo que Mari tinha para conversar com Hiroshi. Já estava subindo para a sala quando um pensamento lhe ocorreu.

     -O terraço! – sussurrou, começando a correr pelas escadas.

     Quase sem fôlego, abriu a porta que a levaria à cobertura. A luz forte da manhã lhe feriu, e precisou acostumar a vista. Quando voltou a enxergar, viu-o encostado à grade de ferro. Sem medo, Mari foi até ele em passos rápidos.

     -Ei! Hiro-chan!

     O rapaz, que ainda não a havia notado, abriu os olhos e ficou encarando.

     -“Hiro-chan”? Desde quando somos tão próximos?

     Até a voz dele parecia ter mudado, estava mais grossa, pesada. Não se deixando abalar, Mari perguntou:

     -Por que está me tratando assim? O que eu te fiz?

     Hiroshi deu uma risada fraca e, ficando em frente dela, falou de braços cruzados:

     -Lembra da última coisa que te disse? Que, se nos reencontrássemos, eu poderia estar diferente? Pois então, esse sou eu de verdade.

     Ouvindo aquilo, Mari fechou os punhos e continuou perguntando:

     -Você esqueceu o que me falou antes? Que os dias que passamos juntos foram importantes para você? Por acaso se esqueceu disso?! – terminou a frase gritando.

     Um pouco surpreso com a mudança de tom da garota, Hiroshi abaixou para ficar na mesma altura dela e sussurrou:

     -Eu me lembro exatamente de quem você é, e das coisas que eu disse. Mas não acredito em nada daquilo. – e no ouvido dela, disse: - aja como se não me conhecesse. Senão você terá problemas.

     E foi em direção à porta do terraço, deixando Mari entregue às lágrimas. Como o sinal começou a tocar avisando o fim do intervalo, a garota não ouviu quando Hiroshi falou:

     -Desculpa por isso...

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