Atlantis - os Dois Reinos escrita por LadySpohr, Tay_martins


Capítulo 22
Xeque


Notas iniciais do capítulo

Voltando ao Dante... em dois capítulos.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/123227/chapter/22

- Dante -

As pedras são movidas

Cada qual no próprio tempo

Os jogadores, sós, pensam,

Cada ato e movimento,

Cada peça é importante,

E nas eras que se passam

Em terreno alheio avançam

Lemurianos contra atlantis


          Sim, aquele professor me dava arrepios. Mas outra coisa me incomodava. Desde que ele chegou, Elleonor estava inquieta. Seu olhar distante, distraída. Parecia sofrer. E o interesse dele em mim, e nas outras duas. Além das perguntas que fazia. Não há dúvidas. Ele tem algo a ver com Atlântida e os conflitos... Mais que isso... Ele está de alguma forma relacionado à Elli... Era melhor tomar um pouco mais de cuidado... Visto que eu não tinha provas concretas... e não sabia o que ele pretendia.

         Mas pelas reações de Ariana, ela também não parecia gostar nem um pouco dele. Alguns dias seguiram naquela nova situação. Elleonor voltou a se distanciar de mim. E as vezes não conseguia encontrá-la... Será?... Não... é melhor deixar esse pensamento de lado.

         Ela apareceu na minha frente. Eu, sentado num banco, refugiado daquele sol quente. Era horário de almoço. Seu olhar era aflito.

         - Dante... – ela disse, parecia completamente perdida... completamente vulnerável e frágil... – hoje, depois da escola, atrás da capela. Precisamos conversar. – virou as costas e saiu depressa.

         Estranho. De novo isso? Barton... só podia ser por causa dele. Mas, o que ela queria? Assim, tão de repente... Por mais que eu quisesse confiar nela, a situação me levava a desconfiar. Aquilo só poderia ser algum tipo de emboscada. Mas acho que se quiser descobrir alguma coisa, terei de entrar nessa dança. Estou disposto a usar meu poder da pior forma se necessário... a questão é, eu conseguiria? E qual seria a pior forma?

         Um dia já pensei que poderia usar meu poder para mandar nos outros como eu quisesse. Mas naquele dia, em que Ariana entrou em colapso, eu não consegui acalmar as garotas. Talvez meu poder não seja assim ilimitado... Talvez tenha ordens e situações em que ele poderá não funcionar... Devo assumir que contra sentimentos muito fortes... Ou ordens que sejam extremamente contra os ideais do alvo, ou contra a própria vida, meu poder falhará... Além disso, tem outro defeito... A distância... Só posso usá-lo com o toque... Corpo a corpo... Não importa como eu encare isso, pareço ser o mais inútil dos da linhagem de ouro que conheci até agora...

         Mas decidi, não vou ficar dependendo de poderes... Se tem algo em que eu posso confiar, é em mim mesmo. E, preciso descobrir o que está acontecendo... Essa sede por mistérios, por segredos ocultos, essa vontade de conhecer tudo, é maior que eu... Eu, definitivamente, vou aceitar esse desafio...

         Então, a aula se passou. Admito que dessa vez eu dormi um pouco. Afinal, ninguém é de ferro, e fazia algum tempo que eu não praticava meu hobby preferido. Ansiedade? A verdade é que nunca fui ansioso. Sempre acreditei que cada coisa tinha seu tempo, e por mais que me preocupasse, não iria alterar a passagem do tempo, de qualquer forma...

         Seis horas da tarde, fui direto para a capela. Não tinha ninguém lá. Uma hora se passou, começou a escurecer. De trás do muro da capela surgiu Elleonor. Ela não me encarou, estava cabisbaixa, como se fazendo algo contra a própria vontade, sua expressão demonstrava profunda tristeza... Fui até ela.

         - E então, o que você queri... – minha fala ficou pela metade. Por trás dela, surgiu Barton.

         - Ora, ora. Que surpresa?! Vejam se não é nosso amigo Dante. -  estava falando ironicamente.

         - O que é isso Elleonor? O que você tem a ver com ele? – indaguei sério.

         - Desculpe-me - foi apenas o que respondeu, virando a face um pouco para o lado. A expressão sofrida.

         - Oh? Ela não te contou? Quanta falta de cordialidade minha querida. – dirigiu por um momento a palavra à Elli. Seu jeito irônico me irritava. – Sou o tio de Elleonor. Lorde Barton. Mas, creio que você não precise descobrir muita coisa, as vezes, é preferível morrer na ignorância.

         Sabia. Ele tinha algo a ver com Elleonor. Mas ela estava sofrendo. De alguma forma, não era a vontade dela...

         - O que é isso? – respondi – mesmo indo para a morte, prefiro entender a extensão da realidade em que vivi. Já que vou morrer, é melhor que eu entenda a situação em que estava, e o porquê de estar de tal forma. Assim, pelo menos, adquiro um mínimo de conhecimento, e minha vida não foi completamente inútil, discorda?

         Barton gargalhou.

         - Sinceramente garoto. Gostei de você. Creio que em outra circunstancia. Se não tivesse que matá-lo, nos daríamos bem.

         Estendi minha mão direita para ele, sugerindo um cumprimento, um aperto de mão.

         - Sem ressentimentos – respondi – foi um triste golpe do destino.

         Barton estendeu a mão. Isso. Tudo que eu queria. Mas o ato veio seguido de uma constatação.

         - Não me subestime garoto. Você realmente não sabe nada.

         - Então conte-me – falei sem largar a mão. Era mais que uma sugestão. Era uma ordem. Agora ele é quem estava no meu jogo.

         Elleonor olhou aquilo aflita. Não entendi o por que.

         - Tudo bem... – ele disse. Até aí as coisas corriam como o planejado. – Agora você já está começando a me irritar – como? Ele não me obedeceu? – Cada coisa tem seu tempo garoto. E o tempo agora é de crianças irem para cama.

         Levantou a mão esquerda e rapidamente golpeou meu pescoço. Não consegui assimilar os fatos. Na verdade, tudo escureceu sem eu entender. Desmaiei com aquele ato.

         Quando voltei a mim, percebi que estava numa espécie de cripta. Um ambiente perturbador.

         Paredes antigas cheias de paranho, iluminação por velas espalhadas pelo ambiente. Mesas com algum tipo de experimento, inclusive pedras azuis, brilhantes. Nunca tinha visto nada parecido. Algumas armas estavam espalhadas pelo ambiente, penduradas na parede, ou repousando sobre estruturas de madeira específicas para esses objetos. Além disso, alguns caixões estavam ordenados pelo ambiente. Mas eram poucos.

         Não conseguia me mexer. Estava com os membros acorrentados na parede. Uma situação, no mínimo, desagradável, se me permite dizer.

         Elleonor e Barton estavam naquela sala. Ambos armados com uma espada embainhada na cintura. Elleonor parecia distante enquanto Barton aguardava com grande expectativa.

         - É um lugar bem aconchegante – quebrei o silêncio com ironia.

         - Ora, então nosso hospede acordou - Barton tinha um sorriso a face – parece que gostou do seu local de repouso. Dormiu por quase 24 horas.

         Droga! Tanto assim?! Isso explica a dor por todo corpo...

         - Não há mais nada que possa fazer garoto. Em breve, chegaremos ao desfecho dessa história. A linhagem de ouro de Atlântida estará exterminada. E eu cairei nas graças do rei Christopher, O SUPREMO!

         - Cara, você consegue mesmo ser mais arrogante que eu. Realmente acha que vai derrotar todos nós? – perguntei interessado.

         - Háhá – parecia estar divertido – Já jogou xadrez meu querido Dante?

         - Sim... – respondi sem entender onde queria chegar.

         - As regras são simples, mas o jogo é complicado, porque exige extremo conhecimento sobre as peças, e sabedoria de como usá-las. E cada peça tem grande importância. Muitos acham que a rainha é a mais poderosa, pois alcança grandes distâncias, possui muito poder defensivo, bem como ofensivo. Mas não é verdade. Seu ataque pode ser facilmente parado, e pela importância que os outros dão a ela, preferem sacrificar várias outras peças a perdê-la.

         Fez uma pausa, esperando eu assimilar as informações, então continuou.

         - Existem os bispos e as torres. Tão ofensivos quanto a rainha, porém limitados. Costumam, além de para o ataque, serem usados como medida preventiva, sendo colocados previamente em linhas estratégicas para evitar futuros danos, sendo também excelentes na defesa e na previsão e prevenção de jogadas.

         Ele parou um pouco e deu uma risada a mais.

         - Chegamos finalmente no cavalo. Uma peça pouco usada por jogadores iniciantes, por ter poder de ataque e defesa limitados, e uma movimentação difícil de se dominar. No entanto, os cavalos são as peças verdadeiramente mais poderosas, pois ao serem bem posicionadas, seu ataque não pode ser impedido. Só existem dois meios de sobreviver a um cavalo. Fugindo, ou prevendo suas movimentações com antecedência.

         Continuou rindo e se deliciando com aquilo.

         - Pois bem – continuou – essa é sua situação Dante, eu sou o cavalo. – apesar de o momento ser extremamente crítico, juro que eu morri de rir, por dentro, quando ele falou isso. – Agora, vocês não podem me impedir, e você está preso, impossibilitado de fugir. E quando seus amigos vierem, e sei que virão, não terão as armas certas contra mim.

         Barton, um inimigo muito poderoso, ou muito convencido. O que ele quis dizer com tudo isso? Com certeza deveria fazer sentido, mas ainda faltam algumas peças para eu poder entender tudo.

         - Mas, tem mais – ele é do tipo que gosta de falar. Isso é irritante, mas, por outro lado, pode vir a ser útil – Ainda tem uma peça especial que não foi mencionada. O rei. Uma peça de poder limitado e que costuma ser muito subestimada. Seu alcance é mínimo, mas todos lutam por ele. Seu poder de ataque e defesa é pequeno, mas onde ele está, todos o seguem. E se ele cair, o jogo acaba. – fez uma pausa, me olhou com malícia, agora estava sério, esboçou um leve sorriso de vitória – Esse é você Dante.

         Como assim, esse sou eu? Realmente meu poder é muito limitado. Mas ninguém me segue. E se eu morrer aqui tenho certeza que as garotas dariam um jeito de se virar...

         - Acalme-se Dante. Essa será um longa noite. E nenhum de vocês morrerá na ignorância. Além disso, você será o último a morrer, de qualquer forma. Começarei pelas peças sem importância, como um peão. – ao falar isso, mirou Elleonor. Eu o odiei ainda mais depois disso – até chegar na mais importante. O jogo é sempre mais divertido dessa maneira.

         Barton parecia um pouco incomodado com algo.

         - Já que elas estão demorando, vou revelar algo mais. – buscou alguns fatos na memória – Oh, sim. Sua linhagem caro Dante. Creio que ainda não sabes porque és tão importante.

         - Sim, não faço a mínima idéia...

         - Vou resumir bastante. Quando os atlantis estavam a beira do colapso, e seu massacre seria iminente, o rei mandou que alguns deles fugissem de volta a essa dimensão e entre eles, a única herdeira do trono... E meus ancestrais, meu sangue, foram os designados para...como poderia dizer... é, exterminar qualquer remanescente dessa realeza...

         Aquilo entrou como flecha em minha mente e desencadeou vários pensamentos simultâneos. Isso fazia muito sentido e, por outro lado, me desanimava... então eu sou descendente da família real?

         - Acho que não preciso dizer mais nada. Por natureza você é astuto e, creio que já ligou os fatos. Por hora, deixemos estar.

         Fiquei pensando naquilo. Ser da realeza seria um grande fado, uma enorme responsabilidade... e eu não sei se queria isso...

         Olhei para Elleonor. Ela estava extremamente triste e imóvel, como se esperando nada mais da vida além da própria morte. O que Barton fizera a ela? Não sei, só sei que não o perdoaria.

         Então, uma espécie de relógio no pulso de Barton começou a piscar.

         - Finalmente, elas estão chegando – disse animado – como bom anfitrião, estarei lá para recebê-las nessa última noite de sangue.

         Antes de começar a subir as escadas com uma vela nas mãos, ele disse a Elleonor.

         - Não faça nada, apenas fique e aguarde seu destino. Você manchou a honra da própria família a ponto de perder, até mesmo, o direito de falar.

         E então subiu.

         Tentei chamar a atenção de Elli, mas ela estava naquele estado deprimente, e eu não conseguia alcançá-la em seus devaneios. Não conseguia tocá-la, confortá-la, socorrê-la. Nada, além de vê-la sofrer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

As garotas já querem me trucidar porque eu escrevo muito e tenho muitas idéias... e eu me dei a liberdade de querer escrever dois capitulos para poder explicar a cena inteira, sem perguntar para elas...

Mas seria isso, ou um capítulo massivo u.u
E eu prefiro dois capítulos. Além do que... elas não apareceram o dia inteiro... e graças a Aline, eu to um tempão sem postar...

É o mínimo que podem fazer por mim u.u

Nhaahhhh!

Próximo capítulo, "Despertar", aguardem



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Atlantis - os Dois Reinos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.