Drama Pessoal escrita por Joker Joji


Capítulo 1
Oh, escolhas...




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Culpo-me pela minha cegueira. Ah, se arrependimento matasse, eu já estaria ardendo em chamas e minhas cinzas seriam jogadas na praia mais longínqua de todas. Sim, eu adoraria esse final. Quem me dera pudesse escolher...

E só agora vejo! Por quê? Por que fui tolo o suficiente para ser iludido pela fama, pelo sucesso, pelo glamour de seguir esse caminho? Mas que burrice de minha parte! Agora o vento bate em minhas faces delineadas ao bel prazer de uma escritora qualquer. E ela esqueceu-se de mencionar o que isso significa para mim – e então isso deixou de ter qualquer significado: é apenas um fenômeno metereológico.

Ela esqueceu-se das metáforas, ela crucificou a Literatura e, portanto, enterrou-me nas trevas. Por favor, não contes a ela isso. Sou sua criatura. Peço-te encarecidamente que perdoe meu ato de traição...

Mesmo que ela haja traído seus princípios antes. A partir do dia em que as palavras “sou uma escritora” escorregou de seus lábios – escorregou, pois duvido muito que algum dia ela tenha pensado nas consequências de suas poderosíssimas palavras –, ela assinou um contrato formal de disciplina. Disciplina em obedecer às regras da liberdade.

Ela o assinou e o assassinou. Como pode existir alguém tão cruel? Como tive o azar de cair justo em suas garras, inocentes, mas capazes de provocar tamanha desgraça?

Oh, maldito dia em que resolvi virar protagonista de romances! Poderiam ter-me avisado que o mercado de trabalho não era lá essas coisas. Ah, se eu soubesse os perigos. Já não sei mais quem sou. Sinto-me ordinário. Heroico – mas que valores são esses os que prego? Serão meus? Não! Não são meus, tampouco são de qualquer alma viva. Nenhum humano acredita verdadeiramente nas baboseiras que minha escritora prega. Nem mesmo ela.

E de minha boca só saem palavras de amor e frases de efeito! Será que uma vida pode ser construída com base em meia dúzia de expressões? A humanidade está enfim reduzida a somente isso? Não posso acreditar. É uma calamidade, uma catástrofe internacional. Oh, tu, por favor, promete-me que não crês verdadeiramente nisso.

A maquiagem, a maquiagem que tanto me causa vertigem. Vinte quilos de maquiagem antes de entrar em cena. O porte, o porte nobre, e os olhares. Ela é exigente demais. Por acaso preciso ser perfeito o tempo todo? Até mesmo os deslizes que cometo: ela é capaz de reparar cada um deles! COMO?! Ela transforma cada ato meu num reflexo de ousadia, coragem e cordialismo!

Oh, estou enlouquecendo.

Bem a minha frente, há um vilão. Fui sortudo dessa vez, é um dos poucos que ainda resiste bravamente à perfeição. Ele possui defeitos físicos aparentes, seus olhos não são azuis e ele é calvo. Seu nome não é em inglês: não é Joseph, Eldric ou Frank. A inveja que sinto não cabe dentro de mim, mesmo estando eu tão vazio. Ele grita o que quer, ele não tem a quem agradar: nem mesmo a escritora pode admirá-lo.

Eu, por outro lado, sou obrigado a ouvir juras de amor por sua parte, e fico a pensar que ela não tem sequer um neurônio para lhe fazer companhia.

Fadado a proteger mocinhas indefesas e estúpidas até minha aposentadoria. Essa é, na verdade, a única vantagem do protagonismo: a aposentadoria começa ao raiar de suas primeiras, singelas rugas. Diz-me, como alguém pode trabalhar com eficiência se em sua mente apenas a folga semanal lhe interessa?

Então tu, tu que me lês sem a permissão de minha senhora. Mantenhas segredo quanto a isso, peço-te uma última vez. E se tu és um escritor... A história é um pouco diferente. Se tu és um escritor, por favor, sê humano ao mesmo tempo. Por favor, tem dó dos próximos personagens que pousarem em tuas mãos. Pensa no estresse que é ser perfeito o tempo todo. Permite-nos falhar, assim como vós.

Permite-nos sonhar e enxergar o mundo com outros olhos! Somos humanos também! Permite-nos observar atentamente a realidade que nos cerca, faz-nos sentir cada gélido alento da chuva e do toque dos objetos. Vê, para que forrar o chão com grama, se não disseres que seu toque é plumoso e traz-nos as memórias mais incríveis das brincadeiras infantis? Não sê negligente. Acaso pensas que somente teu interlocutor possui sentimentos?

E lembra-me de, na próxima estória, tornar-me um pobre bobo que tem a liberdade de viver em paz...


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Notas finais do capítulo

É claro que não quero ofender ninguém com isso aqui. /aham, sei. Foi meramente uma percepção que tive circulando pelo próprio Nyah! e, por que não, pelas minhas próprias histórias.

Agradeço aos que leram :D



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