Uma Noite de Terror escrita por raffafonseca


Capítulo 5
ESPÍRITOS




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/122629/chapter/5

As nuvens escuras e pesadas, no céu, enfim, começaram a se unir e, agora, encobrindo a lua, começava a chover. Inicialmente, uma leve garoa. Em seguida, porém, a chuva foi engrossando de tal modo que os canteiros dos jardins, no espaço de eventos, começavam a ficar inundados. Juntamente com a forte chuva, um vento frio começava a circular por ali, deixando o clima de Halloween ainda mais sombrio e envolvente.

Para completar esse clima obscuro, como se não bastasse, Pennywise estava mesmo seguindo as ordens de Freddy Krueger e já estava diante dos cabos de energia.

- Vamos ver... – disse o palhaço retirando uma faca de dentro da roupa. – Aqui! – e dizendo isso, ele acabara de cortar os cabos que forneciam energia ao local.

Instantaneamente cessara toda a energia do espaço de eventos, dos jardins externos e da casinha (depósito) onde estavam algumas dolls. O impacto do fim da energia foi tremendamente brusco: as luzes da festa haviam apagado; o contagiante som, parado; e a única luz que iluminava o velho porão onde as dolls e Kyle estavam, também havia sido apagada, fazendo com que a situação em que estavam só piorasse.

Ashley e Melody, que continuavam no salão, na pista de dança, gritaram junto à multidão, desesperadas.

- Acalmem-se, pessoal! – gritava a, quase inaudível, voz de Robin em meio aos gritos e falações das pessoas. – Os técnicos já foram verificar o problema.

Enquanto isso, em meio à forte chuva e à escuridão, Nicole era arrastada por Damien, nos jardins. A morena estava em choque com Damien a puxando pelo braço, não conseguia pensar em mais nada. Nicole ainda não acreditava que, ao descer as escadas que levavam aos jardins, tinha visto os corpos ensangüentados do casal morto por Damien.

De repente, Nicole sentiu algo a puxar, juntamente com Damien, para um canto ainda mais escuro do jardim. O canto, que era somente iluminado pela luz da lua, estava vazio. Nicole ficou impressionada, mas também assustada com a velocidade do que, ou de quem, a tinha puxado. Damien não estava entendendo nada do que estava acontecendo. Ele estava assustado pela primeira vez na sua vida. Os dois ouviram sons de arbustos se mexendo, mas quando se viraram, não viram nada além do escuro jardim.

- Ma-mas o que está acontecendo aqui? - dizia Damien com certa dificuldade, estava realmente nervoso – Quem é você?

- Fique quieto! – A voz era calma e doce, mas ao mesmo tempo firme. Quem os puxou para aquele lugar estava escondido na escuridão e nem Nicole nem Damien conseguiam identificar quem era.

Nicole não sabia o motivo, mas ao ouvir a voz, se sentiu um pouco mais aliviada. Damien largou o braço de Nicole e agora procurava saber quem estava por trás daquilo, quem estava desafiando o filho do senhor das trevas.

- Acho melhor você tomar cuidado com o jeito que fala comigo, você sabe com quem está falando? Sim, eu sou o filho do demônio! – dizendo isso, Damien soltou uma risada diabólica. Nicole percebeu que aquele alívio que havia sentido, tinha ido embora, e o pavor voltava a tomar conta do seu coração.

Nicole e Damien ouviram uma mansa risada vinda de trás dos arbustos. Uma garota de olhos verdes, pele clara, cabelos lisos e loiros e com um olhar penetrante ia andando em direção a eles. Estava vestida com um incrível vestido branco e com asas de anjo. Ela parou na frente de Damien e se abaixou. O sorriso que ela tinha em seus lábios sumiu e, agora, olhava séria para o garoto. Um olhar tão penetrante que deixou Damien confuso e irritado.

- Você acha que eu não sei com quem eu estou lidando, Damien? – e dizendo isso, a bonita jovem se levantou e foi ao encontro de Nicole. – Não tenha medo, Nicole, não vim aqui para te machucar e muito menos para machucar as suas amigas. Muito pelo contrário, vim para ajudar vocês, juntamente com o Miguel.

- Mas... – balbuciou Nicole, insegura. – Como... como você...? – Nicole não conseguia fazer a pergunta, pois estava muito nervosa. Ela queria saber como aquela garota sabia seu nome e sabia que suas amigas precisavam de ajuda. Como ela sabia sobre Miguel?

- Vá, querida! – disse a jovem. – Tente encontrar suas amigas no salão e... Cuidado, pois estamos sem energia, agora!

- Mas... – Nicole ainda estava insegura. Damien observava a conversa das duas. O garoto estava parado, sem ação.

- Vá! Não perca mais tempo! – adiantou-se a loura. – A propósito, me chamo Dianna.

Nicole continuava sem entender, mas obedeceu à estranha moça e correu pelos escuros jardins, tentando achar a escada para subir de volta ao grande salão.

No salão principal, muitos convidados continuavam correndo, desesperados, enquanto outros tentavam manter a calma.

- Tem um homem morto aqui! – gritou uma voz feminina vinda dos andares de cima. A moça vinha chorando. O corpo do rapaz vestido de vampiro, que foi morto por Jason, havia sido encontrado.

- Chamem a polícia! – gritou uma outra voz conhecida. Era Robin.

Em meio à terrível escuridão, Ashley e Melody não soltavam o braço uma da outra.

- Fique comigo, Mel! Não me solte! – pediu a loura.

- Não vou soltar. – disse Melody, nervosa.

Ashley ligava o celular pra ver se, com a luz da tela, conseguia iluminar um pouco o ambiente.

Muitas pessoas faziam o mesmo, de forma que, o que se encontrava ali era uma extensa escuridão, iluminada apenas por algumas telinhas de celulares. Por fim, luzes mais fortes surgiram, na direção de onde ficava a cozinha. Alguns garçons saíram de lá com lanternas nas mãos e distribuindo algumas para as pessoas.

- Encontramos essa caixa de lanternas na cozinha. – dizia um dos garçons.

Assim que passaram por Ashley e Melody, uma lanterna lhes foi entregue.

- Que sorte! – exclamou Ashley, baixinho, ligando a lanterna, enquanto a outra mão não desgrudava do braço de Melody.

Aproveitando a escuridão, Freddy e Jason haviam matado mais algumas pessoas, apenas por diversão. Muitos cadáveres já se encontravam em meio ao espaço de eventos.

- Ai! O que é isso aqui? – disse Ashley assim que seu pé bateu em algo relativamente fofo.

Quando Melody mirou a lanterna na direção onde a amiga indicara, as duas viram o que não desejariam ver: o corpo ensangüentado de Miguel Cuarón, o amigo mexicano de Robin Antin.

- Aaaaaah! – gritou Ashley, imediatamente.

- O cara tá morto... Caramba! – disse Melody friamente. – Vamos sair daqui, Ash!

E as duas seguiram para um canto onde havia muitas pessoas.

- O que é que a gente faz agora? – sussurrava Ashley para Melody.

- Não sei... – disse a baby doll nervosa. – Se pelo menos as meninas estivessem aqui, já teríamos ido embora para casa.

Antes que Ashley pudesse responder, um intenso clarão iluminou o salão repleto de pessoas correndo para todos os lados. Foi um forte relâmpago.

Um ronco de trovão, logo em seguida, fez o barulho de pessoas gritando, no salão, intensificar ainda mais.

- Pra melhorar... Está um forte temporal lá fora. – resmungou Melody. – Como é que vamos achar a Nic?

- Meninas! – gritou a voz de Nicole, que acabava de avistar as amigas. A doll estava completamente encharcada. Seu longo vestido negro, fantasia de bruxa, estava totalmente molhado, assim como seus cabelos.

As três se abraçaram na hora.

- Nic! Onde é que você... – começou Ashley, nervosa.

- Como você se livrou daquele menino? – perguntava Melody ao mesmo tempo.

- Vocês não vão acreditar... – dizia Nicole segurando, firme, as mãos das amigas.

- Conta logo! – disse Melody, nervosa.

- O Damien estava me puxando lá pelo jardim, quando de repente ficou tudo escuro. – começou Nicole.

- Pois é... – concordou Melody. – Alguém deles deve ter cortado a energia.

- Ou pode simplesmente ter acontecido um blackout. Olha só esse temporal... – disse Ashley, pensativa.

- Não... Com certeza isso foi obra daquele palhaço sinistro. – arriscou Melody.

- Sim... – continuou Nicole. – E então, eu e ele fomos empurrados, do nada, para um canto do jardim. Quando fomos nos dar conta, tinha uma moça loura bem bonita, vestida de anjo e... – Nicole fechou os olhos para se lembrar bem da face de Dianna. – Ela disse que se chamava Dianna e...

- Dianna? – disseram Ashley e Melody, juntas.

- É... – continuou Nicole. – E o mais estranho é que ela sabia meu nome, sabia sobre vocês e... – Nicole parou para tomar fôlego – Sabia sobre o Miguel.

- O Miguel? – exclamaram as outras duas, juntas, outra vez.

- É... Ela disse que tinha vindo ajudar a gente... Junto com o Miguel. – completou Nicole.

- Caramba! – disse Ashley, séria. – Me arrepiei agora.

- Então... Será que essa tal de Dianna também é um espírito?

- Mas a gente nem sabe se o Miguel é um espírito também... – disse Nicole, pensativa.

- Bom, isso a gente vê depois. – disse Melody, decidida. – Temos que procurar a Kim e... A Jessica e o Kyle também estão por aí.

- Nossa! É mesmo... – disse Ashley, pensativa.

Um pouco distante dali, em meio à escuridão, Lewis estava perdido no meio de tanta gente. Ele estava arrependido de ter saído de perto das dolls.

- Lewis... – dizia uma voz máscula e suave ao ouvido dele. – Lewis... Procure as meninas. Ajude-as. – dizia a voz angelical.

Lewis sacudiu a cabeça, como se acabasse de despertar de um cochilo. O que teria sido aquilo? Ouvira realmente aquela voz?

De longe, Miguel observava Lewis, satisfeito. O bom espírito ainda continuava ajudando as dolls.

- Meninas! – dizia Lewis, segurando seu celular para tentar ter alguma luz em mãos. – Aqui!

- Lewis! – disse Nicole abraçando o namorado e, em seguida, beijando-o.

- Eu... – dizia ele pondo a mão na cabeça. – Preciso ajudar vocês.

- Como?! – exclamou Melody, surpresa.

- É... Nem eu sei por que eu disse isso, mas... – Lewis fez uma pausa. – Preciso ajudar vocês.

- Lewis, a Kim foi capturada pelo Pennywise! – disse Ashley, aflita. – Temos que encontrá-la.

- Pennywise?! – Lewis franziu a testa. – Aquele palhaço do filme?

As dolls confirmaram que sim.

Antes que Lewis pudesse rir da suposta piada, mais uma vez a voz de Kyle invadiu a sua cabeça e lhe disse:

- Acredite nelas, Lewis. Elas dizem a verdade. Ajude-as!

- Mais uma pessoa morta, aqui! – gritava a voz de um homem, nervoso, numa direção oposta a que as dolls e Lewis estavam.

- Mo-morta? Que horror! – disse Lewis nervoso. – O que está acontecendo nesse lugar?

Ashley, Melody e Nicole resumiram, mais uma vez, toda a história para Lewis.

- Meu Deus! – disse ele, assim que as dolls contaram tudo. – Então... Temos que achar a Kim imediatamente. Não podemos ficar aqui parados. Vamos!

- Mas está chovendo muito forte lá fora. – disse Ashley, tristonha.

- Ash, não temos outra opção e nem temos guarda-chuva. – disse Nicole, séria.

- Temos que procurar a Kim, a Jessi e o Kyle. – disse Melody. – E sabemos que eles não estão aqui no prédio e sim, pelos jardins.

- Temos que ir lá fora. – disse Lewis, decidido. – Mel, me passa essa lanterna. Eu vou na frente e vocês, venham logo atrás de mim.

Os quatro saíram em direção à parte externa ao salão e lá, viram que o céu estava num tom cinza-claro levemente avermelhado.

- Nossa! – dizia Ashley enxugando o rosto molhado, embora não adiantasse. – O céu está quase branco.

- É por causa da chuva... – disse Nicole, séria. – Nunca vi um temporal tão forte!

- Mas não é só por causa da chuva... – disse Lewis checando o relógio, molhado. – Vejam, já são quase quatro da manhã.

- Mentira! – exclamou Melody. – Sério?

- Seriíssimo! – disse Lewis.

- Não sei como o tempo passou tão rápido. – disse Melody, incrédula.

- Foi tanta coisa que já aconteceu essa noite que nem vimos as horas passando. – disse Nicole, séria. – Já tá quase amanhecendo...

- Amanhecendo... – repetiu Ashley, pensativa. – Amanhecendo... – tornou a repetir. – Gente, já tá quase amanhecendo! – disse Ashley quase gritando.

- Sim, e daí? – disse Nicole, nervosa.

- E daí que temos que correr! – disse a loura, assustada.

Ninguém entendia o comentário de Ashley.

- Quando o Damien pegou você, Nic... – começou Ashley. – Ele disse que teria que correr para convencer o Lewis a adotar ele, pois só teria até o amanhecer...

As dolls continuavam confusas.

- Claro! – concluiu Ashley, sozinha. – Hoje é Halloween, quer dizer... Ontem, já que estamos na madrugada.

- Então...? – disse Melody, confusa.

- Então assim que o dia amanhecer de verdade, todos os espíritos do Halloween irão desaparecer, inclusive essas criaturas todas: o Pennywise, o Damien, a Samara...

- Será que só eles três estão atrás de nós? – perguntou Nicole, pensativa.

- Por enquanto, só vimos esses. – disse Melody.

Mal as dolls sabiam, mas o rapaz com a suposta fantasia de Freddy Krueger que elas tinham visto, mais cedo, no primeiro andar do prédio, era o próprio Freddy.

- Chega de conversa! Vamos logo! – disse Lewis, sério, com a lanterna na mão. – Vamos descendo por aqui. – e ele indicou as escuras escadarias, agora, molhadas pela chuva.

- Cuidado com os degraus! – alertou Ashley. – Podem estar escorregadios...

- E estão mesmo! – disse Nicole, lembrando-se de que quase escorregara quando subira as escadas, assim que conseguiu escapar de Damien. A partir dessa lembrança, a visão do casal morto e ensangüentado nas escadas, veio à mente de Nicole. – Ah não!

- O que foi, Nic? – perguntaram Ashley e Lewis, juntos.

- Eu... – disse ela gelando de nervoso. – Quando eu subi as escadas, voltando do jardim... Vi... – e Nicole colocou a mão na boca. Era como se uma ânsia de vômito tomasse conta dela. Estava enojada com o que tinha visto. – Dois corpos na escada...

- Calma, amor. – disse Lewis a abraçando forte.

Um relâmpago acendeu o céu, na hora. Ashley gritou.

- Aai! Eu detesto temporais! – resmungou a loura.

- Vamos, meninas! – disse Lewis. – Temos que descer as escadas.

- Mas... – Nicole hesitou. Não queria ter que ver aquela cena terrível outra vez.

- Vamos, Nic... Eu prometo que a gente passa rápido e você nem vai ter tempo de ver... – disse Lewis tentando animar a doll.

A morena deu um longo suspiro e, pensando em Jessica, Kyle e Kimberly, concordou com a cabeça.

Os quatro sentiam a necessidade de descer com bastante cautela as escadas, pois, como dito, estavam bastante escorregadios os degraus. Ao se aproximarem do casal ensangüentado, Lewis mirou a lanterna em outra direção, para que não ficasse tão evidente.

- Não olhe, Nic. – disse ele, sério. – Vamos.

E eles continuaram a descer as escadas e, logo, chegaram aos jardins. A chuva não dava trégua e continuava a cair.

- Vamos pegar uma pneumonia assim... – disse Ashley, encharcada.

- Tô com muito frio... – gemeu Melody batendo os dentes.

- Para onde vamos? Eu realmente não faço ideia... – disse Lewis, confuso.

- Bom, o Damien estava me levando naquela direção. – apontou Nicole para um lado.

- Então vamos para lá. – disse Lewis, sério.

Foi então que Nicole parou e pensou: onde será que Damien estaria?

Assim que Nicole havia fugido do garoto, Dianna havia enchido Damien de uma luz branca e poderosa. A luz incomodou tanto o garoto que ele havia desmaiado em meio aos escuros jardins.

- Vamos por aqui então. – disse Lewis. – Opa! O que é isso?

Sem saber, Lewis havia acabado de pisar no braço fino e magrelo de Damien, ainda desacordado no chão, completamente encharcado e sujo de terra.

- Pobre garoto! – disse Lewis se agachando, enquanto mantinha a lanterna junto ao rosto dele. – Será que está vivo?

- Lewis, nãão! – gritou Nicole.

- É ele! – disse Melody, nervosa.

- Quem? – dizia Lewis sem entender, já tocando o braço de Damien.

- Damien! – exclamaram as três dolls, juntas.

Ao pronunciarem o nome do garoto, instantaneamente ele abriu os olhos e se deparou com Lewis bem junto a ele. Era o que Damien queria.

- Pai... – gemeu Damien ainda tonto.

- Corre, Lewis! – gritou Nicole. – Vamos!

Os quatro correram na direção que levava à casinha onde as outras dolls e Kyle estavam, na companhia de Chucky, Tiffany e Samara.

Mas havia sido o suficiente para Damien. Ao ver Lewis, o menino parecia ter recuperado sua força e conseguiu se levantar na hora. Em segundos, seu fiel cão de guarda estava posto ao seu lado.

Os dois partiram na direção das dolls.

Enquanto isso, Freddy e Jason continuavam com os assassinatos em série. Já haviam matado alguns garçons, alguns convidados e a DJ da festa.

No, agora, escuro porão, a situação era pior para Jessica, Kimberly e Kyle. Os três estavam amarrados e Chucky, Tiffany e Samara comemoravam. Samara comemorava a sua nova mãe, Kimberly. Chucky e Tiffany comemoravam seus novos corpos, que teriam em breve.

- Eu vou adorar esse corpinho... Tenho certeza. – dizia Tiffany passando as mãos nas pernas de Jessica, agora, amordaçada, assim como os outros dois.

- Espero que eu fique realmente bem no corpo desse cara. – resmungou Chucky.

- Ah, querido! Você fica lindo de qualquer jeito. – e a boneca deu uma risada aguda e diabólica.

- Então vamos começar o ritual! – disse Chucky retirando de dentro do bolso da sua calça, um medalhão antigo.

Ele se posicionou diante de Kyle, tocando sua perna. Tiffany fez o mesmo, segurando o braço de Jessica.

Chucky começou a pronunciar palavras estranhas que pareciam ser de língua francesa misturado com outro idioma. Ao fim de algumas palavras, ele repetia:

- Dê-me o poder, eu imploro!

Mais relâmpagos cortaram o céu e os trovões ficaram cada vez mais intensos.

Chucky recomeçava a recitar as palavras estranhas quando foi interrompido pelos gritos de Lewis e das outras dolls.

- Kimberly? Kimberly? – gritava Ashley. – Você tá aí?

- Jessica? – gritava Nicole. – Kyle?

- Kim? – gritava Lewis, ainda no andar de cima da pequena casa.

Eles ainda não haviam avistado a escada que levava ao porão.

- Droga! – resmungou Chuky. – Tiff, temos visita!

Kimberly, Jessica e Kyle, amordaçados e amarrados, se mexiam tentando se soltar.

- Parece que tem um porão aqui. – disse Lewis, com uma voz baixa.

Um ronco de trovoada rompeu o silêncio dali.

- Vamos descer. – disse Lewis, seguro de si.

- Ficou doido?! – exclamou Ashley, insegura.

- Não devemos descer aí... – disse Nicole franzindo a testa.

- Mas precisamos checar se realmente não eles não estão aí. – disse Lewis cheio de certeza.

- Ai, ai... Tudo bem então. – disse Melody, apesar de não ter concordado totalmente.

Mal os quatro desceram as escadas, com um forte relâmpago, na hora, puderam ver Jessica, Kimberly e Kyle amarrados, no centro do porão.

- Jessi! Kim! – exclamou Nicole que apressou os passos ao descer as escadas. Chucky, que estava escondido num canto da escada, botou a perna para Nicole cair. A morena não tinha como ver e, terminou tropeçando na perna do boneco. Nicole rolou escada a baixo.

- Nicole! – exclamou Lewis enquanto Chucky soltava uma risadinha macabra.

Assim que Lewis desceu as escadas, seguido por Ashley e Melody, encontrou Nicole desacordada no chão.

- Nicky! Acorda! – dizia Lewis dando leves tapinhas no rosto da morena.

- Olá, Lewis! – dizia a voz aguda de Tiffany, logo atrás dele.

Lewis arregalou os olhos ao ver a boneca de aspecto sinistro falando com ele. Lewis não estava armado, não tinha nada para se defender. Apenas segurava a lanterna ainda nas suas mãos.

De fato, todas as dolls estavam, agora, encurraladas no porão, ainda mais que Damien e seu cão negro acabavam de chegar na casinha e se encaminhavam para descer ao porão.

Um pouco distante dali, no grande salão, Freddy, Jason e Pennywise conversavam a respeito das dolls.

- Vamos pra lá! – disse Freddy, sério. – Já está perto do amanhecer do dia.

- Vamos. – concordou o palhaço, desaparecendo no ar.

- Vamos, Jason. – disse Freddy para o outro.

Enquanto eles passavam pelas pessoas do salão, tiveram que manter a paciência e a calma para não matar mais ninguém, mas era difícil.

- Uau! Fantasias perfeitas! – exclamou um gordo homem que aparentava ter uns trinta anos.

- Obrigado! – exclamou Freddy, sem piedade, enfiando suas garras no pescoço do homem.

No porão, Ashley e Melody tremiam de nervoso. Como se já não bastasse saber que Samara, Damien e Pennywise estavam atrás delas, elas agora sabiam que Chucky e Tiffany também estavam ali e que, assim como os outros, eram realmente de verdade.

Pennywise acabava de aparecer no meio do porão escuro.

- Boa noite! – disse o palhaço, irônico.

- Nic, acorda... – dizia Lewis derramando algumas lágrimas no rosto da morena.

- Chega de melação! – disse Chucky ,rindo.

- O que importa é que ele está aqui. – disse Tiffany, animada. – O Damien vai ficar muito feliz.

Ashley e Melody estavam ao pé da escada. Não tinham como sair dali nem como desamarrar Jessica e os outros, pois Samara vigiava.

- Vamos prender eles também. – adiantou-se Chucky.

- Isso, querido! – concordou Tiffany.

- Não! – disse Lewis se levantando do chão. – Não cheguem perto!

- Hum... Homem rebelde... Adoro! – exclamou Tiffany rindo.

- Fica quieto aí, cara! – disse Chucky causando um pequeno corte na perna de Lewis.

Dentro de instantes, Ashley, Lewis e Melody estavam amarrados e amordaçados, junto a Kyle, Kimberly e Jessica. Nicole continuava desmaiada no chão. Logo mais, Damien adentrou o porão, seguido pelo cão negro, e estampou um grande sorriso no rosto ao ver Lewis ali. Freddy e Jason chegaram logo depois.

- Nossa! Esse porão já tem gente demais! – resmungou Tiffany.

- Concordo! – disse Freddy, animado. – Devíamos dar fim em alguém... Ou em vários...

- Shh! Freddy! Trate de se comportar! – reprimiu-o Tiffany.

- Então... O que fazemos agora? – perguntou Pennywise, ansioso. – Posso ficar com as minhas meninas? – e dizendo isso, ele andou na direção de Ashley e Melody, amarradas.

- Claro que sim. – disse Freddy, orgulhoso.

- Mamãe... – disse Samara no mesmo tom de voz estranho de sempre.

- Sim, Samara! Pode levar sua mãe quando quiser. – disse Freddy, sério.

- E nós... Faremos o ritual agora. – disse Chucky. – Precisamos desses corpos antes que amanheça.

- Eu sei. – disse Freddy. – E, aliás, temos que ajudar ao Damien a selar o pacto de sangue com Lewis.

- Certo. – concordou Chucky. – Antes, farei o meu ritual.

Damien fez uma expressão terrível, mas concordou.

Freddy aproveitou que Nicole estava desmaiada, dormindo, e se preparou para usar um de seus mais perigosos poderes: entrar nos sonhos das pessoas e os tornar seus piores pesadelos.

Nicole estava, em seu sonho, num lindo campo florido. O sol inundava seu rosto e uma sensação de alegria invadia seu peito. Pássaros, borboletas, esquilos e outros animais dali a rondavam como se ela fosse a rainha do lugar. De repente, porém, todo o ambiente parecia ter sido sugado como se, ali, houvesse um ralo de pia gigante. Todo o sol havia ido embora, o bonito campo e os animais também haviam sumido. Nicole estava, agora, numa deserta rua. A cidade parecia ser Nova Iorque, mas ela não tinha certeza. A cor do céu indicava que já passavam das dez horas da noite. Um frio cortante invadia-lhe o corpo. Nicole continuava fantasiada de bruxa, enquanto andava pela rua. Nem carros, nem pessoas, nada havia ali. Nicole foi andando até que adentrou uma rua estreita e sem saída.

- Que lugar é esse? – disse a morena para si mesma.

- Olá! – disse uma estranha voz atrás de Nicole.

Ao se virar, a morena se deparou com Freddy, já mostrando suas garras afiadas para ela.

- Ah não... – gemeu Nicole, baixinho. – Isso é só um sonho, Nic... É só um sonho ruim...

- Eu não teria tanta certeza, queridinha... – disse Freddy dando uma alta gargalhada. Nesse momento, seu corpo foi derretendo e tomando a forma de uma cobra, a qual a cabeça continuava a mesma (com o rosto de Freddy).

Então, o Freddy-cobra começou a rastejar pelo chão em direção à Nicole, que gritava sem parar. Freddy, sem piedade, mordeu a perna da doll, o que causou um ferimento bastante doloroso.

- Aaah! – Nicole gemia de dor. – Isso é só um sonho... Por que eu sinto tanta dor?

- Não é só um sonho, querida... – disse Freddy, agora, deixando a forma de cobra de lado e tornando a tomar sua forma humana.

Nicole estava sentada no chão. Com tanta dor que sentia, nem conseguia se levantar. Sua perna direita estava gravemente ferida.

- Agora você vai realmente conhecer a hora do pesadelo! – disse Freddy dando uma gargalhada que ecoou pelas ruas desertas dali.

Enquanto Freddy se preparava para empunhar suas garras na direção de Nicole, uma forte luz tomou conta daquele local.

Nicole e Freddy tiveram que fechar os olhos diante da ofuscante luz que se instalou ali.

Ao abrir os olhos, Nicole viu bem a quem pertencia a poderosa luz.

- Dianna?! – exclamou a morena, confusa.

- Olá, Nicole! – disse a bonita moça vestida de anjo. – Vim ajudá-la a sair daqui.

- Sair? Mas... – Nicole estava bastante confusa. – Isso é só um sonho e... – ela se beliscava enquanto falava, com o intuito de acordar.

- Querida, isso não é só um sonho. – disse Dianna, preocupada.

- É exatamente o que eu venho tentando dizer a ela. – disse Freddy irritado com a presença de Dianna. – E, aliás, quem você pensa que é para estragar o meu pesadelo?

Dianna não respondeu, porém, estendeu o braço esquerdo para Freddy e uma rajada de luz atingiu o homem em cheio, fazendo-o cair a alguns metros dali.

- Venha, Nicole. – disse Dianna estendendo a mão para a doll. – Vou tirar você daqui.

- Certo. – disse Nicole, sentindo-se muito mais calma com a presença de Dianna.

- Apenas feche os olhos, bem forte... – disse Dianna, séria. Nicole a obedeceu. – E abra-os quando eu mandar, está bem?

- Sim. – concordou Nicole, ainda de olhos fechados.

Dianna verificou se Freddy ainda continuava desacordado e, após isso, tornou a segurar a mão de Nicole e disse:

- Agora!

Nicole acordou, no chão, do porão. Sentia muita dor na perna direita. Agora, lembrava-se do pesadelo e acabava de perceber que o que vivenciou, ali, fora completamente real. Havia aberto os olhos, embora parecesse que ainda estivesse com eles fechados, pois a escuridão tomava conta da sua vista. Após mais alguns segundos, Nicole lembrou-se então que havia tropeçado nas escadas e caído no chão. Ela só ouvia as vozes das criaturas que se encontravam, ali, no porão.

- O que houve com o Freddy? – perguntava Tiffany, sem entender. – Ele está demorando...

- Deixa ele pra lá. – adiantou-se Chucky. – Ele deve estar massacrando a Nicole no pesadelo dela. – todos os outros riram. – Agora, Tiff, vamos nos preparar para fazer o ritual.

Nicole começou a se rastejar em meio à escuridão. Não conseguia sequer engatinhar, pois a perna ferida incomodava bastante. Ela, então, se posicionou diante de Ashley, que continuava amarrada e amordaçada (assim como as outras dolls, Kyle e Lewis). Se Ashley não estivesse amordaçada, certamente soltaria um grito de susto/surpresa ao ver Nicole ali, ao seu lado. Mesmo com pouquíssima luz, ali (graças à lanterna, que Tiffany segurava, agora), Ashley conseguiu entender a expressão de Nicole: a morena pediu silêncio, embora não houvesse como Ashley fazer barulho naquela hora. Nicole, mesmo com a dificuldade de enxergar na escuridão, conseguiu ir folgando os nós das cordas que amarravam Ashley na cadeira. Dentro de segundos, Ashley estava solta, mas continuou fingindo estar amarrada à cadeira. Logo após isso, Nicole conseguiu, também, desamarrar as cordas que prendiam Kyle à cadeira.

Quando Nicole já pretendia desamarrar as cordas de Jessica, porém, foi pega por Pennywise.

- Ora, ora, ora! Vejam quem despertou do seu sono profundo! – disse palhaço mostrando os dentes afiados para Nicole. – Onde está o Freddy?

- Eu... Não sei. – disse Nicole, nervosa.

- Mentira! – adiantou-se Tiffany, chegando mais perto de Nicole e pondo a lanterna bem no rosto da morena. – Conte a verdade, sua idiotinha!

- Eu... Eu não sei. – tornou a dizer Nicole.

Após uns segundos, porém, o corpo de Freddy Krueger apareceu ao lado de Nicole.

- Freddy! – exclamou Tiffany, assustada, correndo para ver o outro. – O que houve com você?

- O que fizeram com ele? – perguntou Pennywise, confuso.

Freddy estava caído no chão e parecia bastante ferido.

- Elas... – murmurou Freddy, com bastante dificuldade. – Elas não estão sozinhas... Elas estão tendo ajuda...

- Ajuda? – espantou-se Chucky. – De quem?

Mas já era tarde. Freddy parecia ter morrido e seu corpo ficou completamente imóvel.

- Ele morreu? – perguntou Damien parecendo preocupado.

- Claro que não... Quer dizer, por hora, sim. – adiantou-se Pennywise. – Mas, Freddy voltará à vida no próximo Halloween. Todos nós sempre voltamos...

Nicole sentiu um arrepio ao ouvir aquilo.

- Não podemos perder mais tempo! – adiantou-se Chucky. – Tenho que fazer o ritual e o Damien também precisa fazer o pacto de sangue com Lewis.

Nicole assustou-se ao ouvir o boneco falando tal coisa.

- Vamos logo, Tiffany, venha! – disse Chucky, furioso.

E o boneco, segurando o medalhão e tocando a perna de Kyle, começou a proferir as palavras de língua estranha. Tiffany falava as mesmas palavras, tocando Jessica.

Kyle olhou para Ashley, que mesmo no escuro, tinha captado a mensagem: Kyle iria tentar impedir aquilo.

- Dê-me o poder, eu imploro! – gritou Chucky, em seguida.

Mais e mais relâmpagos, seguidos por trovões.

- Sai pra lá! – gritou Kyle, já desamarrado, chutando Chucky à distância.

Imediatamente Samara, Damien, Pennywise, Tiffany e Jason se posicionaram diante de Kyle.

- Como foi que ele se soltou? – murmurou Tiffany.

- Só pode ter sido... – balbuciou o palhaço – Ela! – e ele apontou para Nicole, que ficou mais nervosa ainda.

- Peguem-na! – ordenou Chucky, se levantando do chão.

Mas antes que Jason pudesse chegar perto de Nicole, Ashley estendeu a perna para que Jason tropeçasse e foi isso o que aconteceu.

- Ora, ora, ora... Ela também está solta! – gritou Tiffany. Pennywise desapareceu no ar.

- Fique quietinha, querida, e eu prometo que você não vai sentir dor quando morrer.  – disse Pennywise, já aparecendo ao lado de Ashley e falando bem em seu ouvido. Ashley engoliu em seco.

- Amarrem-nos outra vez. – ordenou Chucky para que os outros amarrassem Kyle e Ashley. – E esta aqui... – disse ele olhando para Nicole. – Pode deixar que eu mesmo amarrarei.

Kyle bem que tentou lutar contra, mas não tinha mais sua faca. A faca estava relativamente próxima a ele, mas com a escuridão, ele não pôde procurá-la.

Agora, todos estavam amarrados e, desta vez, para não perder mais tempo, as criaturas decidiram realizar imediatamente tanto o pacto de sangue entre Lewis e Damien quanto o ritual envolvendo Chucky, Tiffany, Kyle e Jessica.

- Vamos! – começou Chucky, ansioso. – O dia está quase amanhecendo!

De fato, a escuridão que envolvia o porão começava, inclusive, a ficar mais suave.

- Droga! Temos que ser rápidos! – disse Tiffany, olhando bem pela janelinha do porão e notando que o céu começava a ficar ainda mais claro. A chuva começava a cessar, embora ainda não tivesse parado totalmente de cair.

De um lado do porão, Chucky e Tiffany começavam a recitar as palavras para que o ritual da troca de corpos funcionasse. Do outro lado do porão, Damien segurava o braço de Lewis e com a ajuda de Pennywise, cortou o braço do namorado de Nicole. Depois disso, Damien fez um corte em seu próprio braço e já ia fazer com que o seu sangue pingasse no corte do braço de Lewis. O pacto entre futuros pai e filho seria selado.

Uma forte luz tomou conta de todo o porão. Era como se a energia tivesse voltado à todo o espaço de eventos (incluindo os jardins e aquela casinha onde estavam), mas isso era impossível de acontecer, já que os cabos de energia geral tinham sido cortados por Pennywise.

A luz foi ficando mais fraca, porém, continuou ali. Ao se darem conta, as dolls, Kyle e Lewis notaram que estavam, ali, bem diante deles, Miguel e Dianna. Olhando bem, agora, todos perceberam que aquelas duas estranhas figuras que lhes tinham aparecido durante a noite não eram seres humanos, mas sim, espíritos.

- Deixem-nos em paz! – ordenou Miguel e, em seguida, fazendo um gesto com as mãos, que arremessou Damien e Pennywise para longe de Lewis. O cão negro também fora jogado a distância.

- Parem! – ordenou Dianna, também fazendo com que Chucky e Tiffany fossem arremessados contra a parede, bem distante de Kyle e Jessica.

O bem e o mal estavam, agora, reunidos naquele porão.

- Vocês já foram longe demais! – disse a calma voz de Miguel. – E, agora, não adianta mais. O dia, graças a Deus, já está amanhecendo.

- E todos vocês irão desaparecer... – completou Dianna.

- Desapareceremos sim, mas só até o próximo Halloween chegar, querida. Depois, voltaremos!– retrucou Tiffany massageando a cabeça, assim que levantou do chão.

Os sinos de uma igreja, perto daquele local onde estavam, começaram a fazer barulho, indicando que eram cinco horas da manhã. Da única janelinha que havia no porão, os primeiros fios de luz da manhã começavam a entrar.

- Oh, droga! – disse Pennywise olhando para o seu próprio corpo. Seu corpo começou a ficar transparente.

- Mamãe... – Samara fez uma cara triste olhando para Kimberly. A estranha menina também começava a desaparecer no ar.

Todos os outros também entraram no mesmo processo, incluindo Freddy, já caído no chão. Os corpos foram enfraquecendo até que todas as sete criaturas e o cão negro desapareceram no ar.

Em seguida, como mágica, as cordas e mordaças que prendiam as dolls, Kyle e Lewis, se afrouxaram.

- Estão livres! – disse Miguel sorrindo.

- Como... Como vocês...? – balbuciou Melody, nervosa.

- Sabíamos que vocês iriam correr perigo e por isso, viemos ajudar. – adiantou-se Dianna.

Miguel e Dianna deram as mãos e sorriram um para o outro. Não vestiam mais as fantasias com asas de anjos. Agora, vestiam apenas túnicas brancas que brilhavam de uma forma indescritível. Era como se uma luz divina os contornasse.

- Muito... Muito obrigada por nos ajudarem. – disse Nicole mais calma.

- E não se preocupem! No próximo Halloween, continuaremos vigiando vocês. – disse Miguel, sério.

- Mas quem são vocês? – perguntou Lewis, curioso, olhando para o seu braço, ainda, sangrando.

- A resposta para essa pergunta está bem mais perto de vocês do que imaginam. – responderam Dianna e Miguel ao mesmo tempo.

Depois disso, eles desaparecem no ar.

Alguns segundos de silêncio se instalaram no porão. A chuva, lá fora, havia cessado e, por incrível que pareça, um bonito sol começava a nascer.

- Eu... – dizia Jessica pondo a mão na cabeça. – Eu não acredito no que aconteceu.

- A sensação que eu tenho é a de que acabei de acordar de um sonho. – disse Melody.

- Ou de um pesadelo. – completou Nicole, lembrando-se de Freddy. Nicole ainda sentia a forte dor da mordida em sua perna.

- Mas tudo o que aconteceu aqui foi bem real. – disse Lewis olhando o braço machucado.

- Mas, gente... Ninguém vai acreditar quando contarmos. – disse Kimberly sentindo uma dor de cabeça muito chata.

- E quem disse que vamos contar a alguém? – adiantou-se Kyle, sério. – O que aconteceu nessa noite de Halloween ficará apenas entre a gente. Ninguém mais precisa saber.

- Concordo. – disse Melody, pensativa.

- De acordo. – disseram Nicole e Ashley, juntas.

- Combinadíssimo! – exclamou Jessica.

- Certo. – disse Kimberly, séria.

- Ok. – disse, por fim, Lewis.

E os sete começaram a subir as escadas que levariam ao andar de cima da casinha. Ao subir quase metade dos degraus, Melody se deu conta de que havia esquecido sua cestinha (que fazia parte da fantasia) no porão.

- Ih! Me esperem aqui! Volto já! – disse a baby doll voltando a descer as escadas e indo até o porão, já um pouco mais claro. – Cadê minha cestinha?

Com a ajuda da lanterna que Tiffany havia largado no chão, ainda ligada, Melody procurou sua cestinha e a encontrou. A cesta estava num canto escuro do porão. Assim que pegou a cesta, Melody viu que havia algo embaixo dela. Algo retangular e enrolado num pano branco coberto de poeiras e teias de aranha.

- Que será isso? – disse a doll para si mesma, curiosa.

- Vamos, Mel! – gritou Ashley do andar de cima. – Temos que levar a Nic e o Lewis ao hospital. Eles precisam de curativos aqui.

- Já vou! – gritou a baby doll, já desenrolando o pano velho e vendo que se tratava de uma moldura, um porta-retrato antigo.

Ao limpar o vidro que protegia a foto, Melody sentiu um arrepio percorrendo-lhe a espinha: a foto mostrava Miguel e Dianna, abraçados, em meio a um bonito jardim.

Melody subiu as escadas rapidamente e trazia consigo a cestinha e o retrato que acabara de encontrar.

- Que é isso, Mel? – perguntou Jessica ao ver que a baby doll trazia consigo um porta-retrato.

- Vejam só isso! – disse Melody, intrigada.

Melody estendeu a foto para que todos vissem.

- Meu Deus! – exclamou Nicole, assustada. – São mesmo eles!

- É... Só não sabemos exatamente quem eles são. – disse Melody, frustrada.

Os sete continuaram andando para fora da casa, atravessando os jardins e antes de subirem as escadas, puderam ouvir os sons das sirenes de ambulâncias e polícias. Os corpos do casal que estava, antes, no meio da escadaria que levava ao pátio principal, não estavam mais ali, embora as marcas de sangue continuassem. Como Nicole não tinha condições de subir as escadas, Kyle e Ashley a apoiaram para que ela conseguisse subir, ainda mancando.

- Já retiraram os corpos... – comentou Melody, baixinho.

- Graças a Deus. – disse Nicole, aliviada, por não ter que presenciar aquela cena outra vez.

Quando terminaram de subir as escadas e, enfim, chegaram ao pátio principal, viram Robin, com uma toalha nos ombros. Ela também estava encharcada por causa da chuva que havia caído antes.

- Meninas! Lewis! Kyle! Graças a Deus! – gritou Robin chorando de alívio e emoção ao rever os amigos e o primo. – Fiquei tão preocupada quando soube que vocês estavam desaparecidos.

- Onde vocês estavam? – perguntou um homem sério e alto que veio logo atrás de Robin. – Detetive Stevens. – disse ele estendendo a mão para que Lewis o cumprimentasse.

- Nós estivemos escondidos ali embaixo... – disse Jessica, nervosa.

- No porão daquela casinha. – completou Melody.

- Que sorte a de vocês. – disse o detetive. – Aquele lugar era pra estar completamente desativado.

- Nos escondemos lá quando vimos a confusão. – mentiu Nicole.

- Fizeram bem, meus queridos. – disse Robin, aliviada. – Eu... Estou muito chocada com tudo o que aconteceu. Alguns convidados relataram que tinha alguns bandidos vestidos com fantasias de Freddy Kruger e Jason e que...

- Quinze mortes. – disse o detetive, seco.

- Santo Deus! – exclamou Kyle. – Que horror!

- Ainda estamos terminando as buscas por mais corpos. – disse o detetive, sério.

- Precisamos de uma ambulância. – adiantou-se Jessica. – A Nic e o Lewis estão feridos.

- Como foi isso? – perguntou Robin, intrigada.

- Eles... – adiantou-se Kimberly, pensando numa boa desculpa. – Escorregaram na escada, na hora da chuva e... Caíram.

- Oh! Pobrezinhos... – disse Robin levando a mão à boca. – Aqui, por favor! – disse Robin dando sinal para que os enfermeiros da ambulância viessem acudir.

Enquanto Nicole e Lewis eram atendidos na própria ambulância, ainda estacionada no local; Melody e Kyle conversavam mais intimamente e juravam se encontrar no dia seguinte para um jantar a dois; Kimberly fazia companhia a Nicole e Lewis, na ambulância; e Jessica e Ashley andavam pelo local, observando tudo.

Muitos convidados com suas roupas sujas e/ou rasgadas, maquiagens borradas, cabelos bagunçados... Todos pareciam bastante assustados com o suposto ataque dos bandidos fantasiados de Freddy e Jason.

- E o pior de tudo é que nunca saberão a verdade... – disse Ashley, pensativa.

- Pois é... Mas é melhor assim. – completou Jessica.

Foi então que Jessica parou para olhar a fantasia da amiga.

- Oh, Ash! – e Jessica fez uma cara triste. – Suas asinhas estão quebradas!

Ashley olhou para a fantasia: rasgada em alguns locais; as asas de fada, quebradas; a varinha, ela nem sabia onde estava. A loura riu, em seguida.

- Pelo menos, estamos vivas! – disse Ashley, sorrindo, e abraçando Jessica.

- Com certeza, amiga! – disse Jessica, aliviada.

As duas andavam pelos terrenos do espaço de eventos, até que chegaram perto da entrada principal, onde um monumento em forma de pilar estava próximo à porta.  O sol, ainda fraco, iluminava o local. Ninguém iria imaginar que faria sol pela manhã, se levasse em conta o terrível temporal que havia tido na madrugada.

- Engraçado... – disse Jessica cruzando os braços. – Não me lembro disso aqui ontem à noite.

- Ah! Eu lembro... Só não parei pra ver o que era. – disse Ashley, rindo.

Foi então que as amigas pararam para ler o que dizia no monumento.

“Monumento em homenagem ao casal Miguel e Dianna Hodge, primeiros moradores deste local e, pais do fundador deste espaço dedicado a eventos.”

Ashley e Jessica ficaram boquiabertas e se entreolharam.

Na ambulância, o detetive conversava, agora, com Lewis, Nicole e Kimberly.

- Como eu disse, vocês tiveram mesmo muita sorte e, por sinal, mandarei verificar o porquê de aquela casa estar aberta. – disse o detetive de uma só vez.

- Mas então... O que tem aquela casinha? – perguntou Kimberly, curiosa.

- Quem morava ali? – perguntou Nicole, meio que já sabendo a resposta.

- Miguel e Dianna Hodge eram bastante ricos e, há muito tempo, compraram esse terreno. – começou o detetive. – Naquele tempo em que as pessoas compravam grandes terrenos para plantar e criar gado. Eles construíram um casarão maravilhosamente lindo, mas hoje, a única parte disso tudo que restou é aquela casinha, que era uma parte anexa ao casarão.

- Sim... – dizia Nicole, ainda sem entender onde o detetive queria chegar.

- Eles tiveram apenas um único filho e, logo após isso, começaram a enfrentar uma crise no país, o que terminou os deixando pobres, pois não conseguiam mais lucro com as vendas. Tiveram que demitir todos os empregados e, depois disso, a mãe de Dianna passou a morar com o casal para que os ajudasse a cuidar do filho – continuou o detetive.

Kimberly estava altamente confusa.

- O pior de tudo, porém, aconteceu depois. – continuou o detetive. – Numa chuvosa noite de Halloween, misteriosamente, alguém entrou na casa e matou o casal.

- Matou? Por que? – indagou Lewis, curioso.

- Anos depois, descobrimos que se tratava de um ex-empregado do casal, mas... Isso não vem ao caso. – continuou o detetive. – A mãe de Dianna e o filho foram poupados da morte. Seu filho, Julian, cresceu e se tornou um homem rico e  poderoso, mas sempre humilde e generoso.

- E...? – disse Nicole, curiosa.

- Ele quis criar esse espaço de eventos aqui, mas para nunca deixar morrer a memória dos pais, impediu que derrubassem todo o casarão, deixando apenas aquela partezinha, a casa onde vocês estavam. – disse o detetive, por fim, coçando os olhos.

- O senhor está chorando? – perguntou Kimberly, sem entender.

- Não, não... – mentiu o detetive.

- É... Vejo que o senhor sabe muito sobre a história desse lugar. – disse Lewis, rindo.

- Pois é... – disse o detetive, pensativo. – Julian Hodge era meu avô.

Nicole, Lewis e Kimberly ficaram surpresos ao saber que aquele detetive era bisneto de Dianna e Miguel. Se eles pudessem contar ao detetive que os espíritos dos seus bisavós tinham os ajudado...

E o sol parecia voltar a ficar escondido entre as nuvens. Uma chuva fraquinha e tímida começava a cair, mas nada comparado ao terrível temporal que havia tido durante a madrugada do Halloween.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quero agradecer a você que acompanhou essa história e, principalmente a duas pessoas muito especiais que me incentivaram a fazer essa fic e contribuiram com ideias e opiniões: Amanda e Sandrine. Muito obrigado mesmo! Amo vocês!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Uma Noite de Terror" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.