How can you see into my eyes like open doors

Leading you down into my core

Where I've become so numb

Era meio da tarde, já. Ele estava pensativo, escorado em uma parede da área de treinamentos. Não era algo tão normal assim achar ele “jogado pelos cantos” e refletindo sobre algo, ainda por cima. Ele realmente não fazia esse tipo. Mas não conseguia entender como o ruivo entendia tanto sobre ele, se ele não deixava transparecer seus sentimentos para ninguém! Ou pelo menos, era assim que queria que fossem as coisas. Levantou-se e decidiu pensar dentro dos domínios do próprio quarto.

Uma vez havia perguntado a Lavi como ele fazia isso. Digo, quase adivinhar o que as pessoas pensam só olhando pra elas. Ele apenas sorriu com aquele jeito bobo e respondeu que “os olhos são o espelho da alma”*. Kanda somente revirou os olhos e saiu insatisfeito com a resposta do ‘amigo’.

Without a soul

My spirit's sleeping somewhere cold

Until you find it there and lead it back home

Sempre se sentia meio vazio, como se faltasse algo (ou alguém). Sempre fora um exorcista que não ligava muito para os outros, sempre andara meio afastado das pessoas. Até conhecer seus “melhores amigos”. Sim, entre aspas porque ele nunca iria admitir que tinha amigos, quiçá melhores deles.

Afinal, nunca achou que precisava de amigos. Ele sempre se considerou auto-suficiente e independente de qualquer um. Não iria admitir nunca que estava a pensar e a “encontrar” um desses amigos em especial nos últimos dias. E de uma forma nem tão apropriada, digamos assim.

(Wake me up) Wake me up inside

(I can't wake up) Wake me up inside

(Save me) Call my name and save me from the dark

Levantou a cabeça que pendia para o lado, assustado. Olhou ao redor e percebeu estar sentado em sua cama, encostado na parede. Provavelmente devia ter tirado um cochilo. Respirou fundo e escorou a cabeça na parede, aliviado.

“Foi só um sonho idiota, che.” - O samurai soltou um risinho fraco.

Kanda passou a mão pelos cabelos macios, soltando-os e deixando eles caírem levemente sobre seus ombros, fechando os olhos em seguida. Era um dia quente. Talvez um dos mais quentes daquele verão. Voltou a pensar no ruivo, começando a se irritar por isso. Levantou-se da cama e ficou a olhar para frente. Por que todo o simples e mais aleatório pensamento tinha que acabar no Coelho Idiota?! Sentia seus batimentos se acelerando, sua face ficando mais vermelha.

“Droga de calor!” - Prendeu o longo cabelo novamente e saiu do quarto, resmungando como sempre.

(Wake me up) Bid my blood to run

(I can't wake up) Before I come undone

(Save me) Save me from the nothing I've become

Enquanto andava, pensava no curto sonho que tivera. Não podia dizer que tinha sido um dos mais agradáveis, com certeza. Afinal, sonhos com mortes, sangue e batalhas não eram dos mais felizes. Principalmente se o seu Coelho ruivo aparecia neles.

Acabou passando na frente do quarto que o ruivo dividia com o Bookman. Parou de andar por alguns instantes e fitou a porta do quarto com certo interesse. Por mágica (ou destino, quem sabe) a porta do quarto se abriu de repente e Lavi, que ia saindo, esbarrou em Kanda, que tinha ficado parado diante do quarto, o que fez ambos caírem no chão, Lavi em cima do moreno. Uma situação “um pouco” constrangedora. Se alguém passasse por ali naquele momento, seria muito pior.

- Oe Usagi, saia de cima de mim! - O moreno corou com a proximidade dos corpos.

- Ah, eu não vi você, Yuu-chan, gomen. - O ruivo deu um sorrisinho meio malicioso, mas se levantou e ofereceu a mão para ajudar o samurai.

- Não me chame pelo primeiro nome, Baka! - Kanda aceitou a mão dele, se levantando também.

- O que fazia parado na frete do meu quarto, Yuu-chan? - Seu sorriso só aumentou, enquanto ele conduzia, lentamente, o exorcista pela mão para entrar em seu quarto.

- Tsc, estava só passando, você que é um Coelho Idiota que não olha por onde anda! - O japonês virou a cara, emburrado e corado, sem nem perceber que já se encontrava dentro do quarto do ruivo.

Now that I know what I'm without

You can't just leave me

Breathe into me and make me real

Bring me to life

- Oe Yuu, não é verdade. - Ele fechou a porta do quarto, passando a chave por precaução. Ainda bem que o velho Bookman não tinha uma cópia. Aproximou-se mais do outro, puxando de leve a cabeça dele, e sussurrando na base de seu ouvido. - Eu caí bem aonde eu queria. - Seu sorriso malicioso só aumentou mais.

- Tsc, pare de dizer besteiras, Lavi. - Sentiu a face aquecer com tamanha aproximação dos rostos.

- Não são besteiras, Yuu. - Ainda mantinha seus lábios perto da orelha do outro. - Você sabe que eu te amo. - Deu uma mordida de leve no lóbulo do moreno, que soltou um gemido baixo.

- P-pare, Lavi, não diga isso. - Fechou os olhos e levou as mãos instintivamente para o peito do ruivo, tentando afastá-lo, mas sem fazer real esforço. Parecia mais querer puxá-lo.

- Eu te amo, Yuu. - Ele repetiu, sorrindo de forma doce para Kanda.

(Wake me up) Wake me up inside

(I can't wake up) Wake me up inside

(Save me) Call my name and save me from the dark

Kanda corou mais com a “declaração”, mas não disse nada, pois já sentiu seus lábios irem de encontro com os do ruivo. Lavi pediu passagem com a língua, a qual o moreno cedeu sem relutar. O ruivo empurrou o “amigo” na cama, ficando por cima, enquanto este tirava seu casaco do terceiro uniforme. Lavi levou uma das mãos até o cabelo do outro, desfazendo a fita que o prendia e alisando os fios macios que caiam sobre o colchão.

O japonês só estava tendo problemas com a calça do ruivo que, naquela posição, ficava meio difícil de ser tirada. Resmungou, mas logo sentiu as mãos rápidas do aprendiz de Bookman lhe tirarem o casaco e a calça do uniforme. Gemeu baixo ao sentir uma dessas mãos roçar no seu membro, por cima da cueca, de propósito. Lavi apenas sorriu malicioso como sempre, e decidiu “perder” um pouco mais de tempo naquela região, arrancando vários gemidos do “namorado”. É, já fazia certo tempo que eles tinham esse tipo de “contato”, então Lavi achava que ‘namorado’ era uma palavra adequada para descrever a relação deles.

(Wake me up) Bid my blood to run

(I can't wake up) Before I come undone

(Save me) Save me from the nothing I've become

Bring me to life

(I've been living a lie. There's nothing inside)

Bring me to life

Lavi começou uma trilha de beijos e chupões que ia desde o pescoço do samurai, passando pelo tórax, mamilos, abdômen e parando perto da virilha. Kanda passeava os dedos pelos fios ruivos, depois descendo as mãos e traçando as linhas bem definidas do abdômen do outro.

Sentiu o ruivo tomar-lhe os lábios novamente. Uma nova luta por domínio se travava entre ambas as línguas, cada uma buscando explorar mais a boca da outra. E mais carícias. E gemidos. E beijos. E chupões, gemidos, “brincadeiras”, provocações, palavras sem nexo, súplicas para o ruivo aumentar o ritmo, e mais gemidos. E o ápice finalmente chegara para os dois exorcistas. Desabaram um ao lado do outro, cansados e suados, porém com um sorriso satisfeito desenhado nos rostos. Lavi trouxe o corpo do outro para mais perto do seu, aninhando a cabeça do samurai em seu peito e fazendo carinho em seus cabelos azuis.

- Yuu...

- Hm?

- Aishiteru, Yuu-chan - Ele falou em um tom baixo, mas suficiente para o outro ouvir.

- Aishiteru mo, Baka Usagi. - Permitiu que um sorrisinho de canto de boca surgisse.

E ambos caíram no sono, abraçados.

Frozen inside without your touch without your love, darling

Only you are the life among the dead

Novamente despertara assustado. O mesmo sonho idiota. Olhou ao redor, viu que não estava em seu quarto. Normalizou sua respiração, inclinou-se para trás. Sentiu algo rodeando sua cintura. Apenas suspirou e aconchegou-se novamente no ruivo, que agora também estava acordado.

- O que foi, Yuu? - Pôde ver uma expressão preocupada pela parte de Lavi.

- Nada. - Desviou o olhar para baixo.

- Não minta pra mim, Yuu. - Lavi apertou-o mais contra si, mas sem machucá-lo.

- Foi só um sonho idiota...

- E o que aconteceu nesse “sonho idiota” pra você ficar assim? - Voltou a acariciar o cabelo macio do moreno.

- Só essa guerra que nunca acaba e... - Kanda estava meio chateado, não queria falar sobre aquilo. - Pessoas morrendo. - O ruivo ia falar alguma coisa, mas foi interrompido pelo japonês. - Pessoas importantes morrendo. - Ele se encostou mais no ruivo.

- Pessoas... Importantes? - Não pôde deixar de achar aquela afirmação um tanto quanto estranha. Desde quando seu Yuu achava alguém importante?

- É, você sabe... - Continuou com o olhar baixo, agora com certo rubor na face. Não gostava de admitir que se importava com alguém.

- Na verdade, não achava que você se importava com alguém, Yuu. - Não conseguiu conter um risinho.

- Tsc, você sabe que eu me importo com você, Baka. - Sentiu o rosto se avermelhar mais.

- Você fica tão fofo vermelhinho, Yuu-chaan!~

- Damare*, Baka Usagi!! - Lavi riu divertido da expressão de raiva do moreno e, antes que recebesse um soco por isso, beijou o namorado.

E logo estavam rolando pela cama novamente, prontos para uma segunda rodada. Agora era uma briga constante para ver quem seria o “atacante”. Mas eles não se importavam. O importante é que se amavam e isso já bastava para eles. Claro que uma apimentada na relação sempre caía bem, ainda mais se um dos lados era Lavi e seu jeito pervertido de ser.

All of this time I can't believe I couldn't see

Kept in the dark, but you were there in front of me

I've been sleeping a thousand years it seems

I’ve got to open my eyes to everything

Without a thought, without a voice, without a soul

(Don't let me die here, there must be something wrong)

Bring me to life

Depois, os dois resolveram se levantar e tomar um banho. Mais algumas “brincadeiras maliciosas” entre os dois na banheira, porém coisa rápida. Em seguida, desceram para o jantar e foram sentar-se em uma das mesas do refeitório. Ainda era um pouco cedo pro jantar, então não tinha tanta gente assim no local.

Enquanto Lavi esperava o resto dos amigos para o jantar, o samurai apenas olhava-o fixamente, divagando sobre essa relação que os dois tinham. Era meio estranho pensar que logo ele, uma das pessoas mais mau humoradas e frias da Ordem, fosse se apaixonar pelo ruivo mais chato, insistente, pirracento e lindo do QG. Espera, lindo?! Sacudiu a cabeça ao pensar nisso, um leve rubor tomando-lhe a face.

Era difícil acreditar que estava se apaixonando por Lavi. Conhecia o ruivo chato desde seus dezesseis anos, sempre estava brigando com ele ou querendo fatiá-lo, e só agora tinha dado conta dos seus sentimentos. Ele já não sabia o que era pior: ter se apaixonado por um homem ou ter se apaixonado por um homem chato, pirracento e pervertido como Lavi. Corava cada vez mais com esses pensamentos.

- Pensando em mim, Yuu? - Lavi dirigiu seu olhar ao namorado, sorrindo de forma doce.

- Q-quê?! - Olhou surpreso para o ruivo.

- Você realmente fica um amor assim.~ - O aprendiz de Bookman segurou o rosto do outro com uma das mãos, acariciando-o. - É por isso que eu te amo.

- P-pare, está vindo mais gente! - Ele retirou a mão do outro de seu rosto, desconsertado, ao ver que os amigos cruzavam a porta e já notavam os dois sentados.

O jantar seguiu tranquilo. Todos, ou melhor, quase todos conversavam de forma alegre e divertida, sobre uma variedade infinita de coisas. Ao fim deste, os amigos se separaram, e cada um foi para seu quarto. Kanda resolveu ir até os jardins para pensar mais um pouco.

(Wake me up) Wake me up inside

(I can't wake up) Wake me up inside

(Save me) Call my name and save me from the dark

(Wake me up) Bid my blood to run

(I can't wake up) Before I come undone

(Save me) Save me from the nothing I've become

Agora, sentado em um banco qualquer, refletia sobre o que tinha feito durante a tarde junto com o ruivo. Suspirou. Ainda não era do seu agrado estar se relacionando de forma tão intensa assim com alguém. Preferia ficar sozinho, não envolver outras pessoas em sua vida complicada. Mas as pessoas se aproximavam dele porque queriam, não? Ele sempre mantinha aquela máscara de durão e frio para afastá-las, mas algumas sempre insistiam em adentrar na sua “barreira invisível”.

Sentiu a brisa noturna acariciar seu rosto e fechou os olhos. Era uma sensação boa, relaxava. Sentia um pouco de paz; podia esquecer da guerra e das mortes por alguns minutos. Chegava a ser revigorante, até. Sentiu alguém se aproximar e sentar ao seu lado.

- Achei que já tinha ido dormir, Baka... - Disse, abrindo os olhos e se encostando na pessoa ao seu lado.

- Fui só ver o que o Velho Panda estava fazendo na biblioteca, já que passou a tarde inteira lá. - Sorriu e acariciou o cabelo macio do outro.

- Oe, Usagi...

- Nani?* - Dirigiu o olhar para o japonês.

- Se eu morresse em uma das batalhas...

- Eu não deixaria isso acontecer, nunca. - O ruivo abraçou o outro, seu olhar ficando mais sério.

- Mas e se...

- Já disse que não vai acontecer. - Não falava num tom irritado, apenas queria pôr fim na conversa. - Eu não vou deixar que nada de mal aconteça com você, entendeu?

- T-tá... - Bufou e desviou a face recém corada para o lado, ainda envolvido no abraço.

A expressão do ruivo suavizou-se, e um sorriso sereno pôde ser desenhado em seu rosto. Soltando uma das mãos do abraço, virou o rosto do moreno para si e aproximou bastante ambas as faces, misturando as respirações.

- É melhor entrarmos, está ficando frio. Oyasuminasai*, Yuu-chan. - Ele deu um rápido beijo no outro e se levantou, indo para seu quarto.

- M-matte*, Usagi! - Ele segurou o braço do outro antes que ele pudesse sair.

- Nani?

- A-aishiteru... Baka. - Largou o braço do ruivo, virando o rosto vermelho para o lado.

- Aishiteru mo, Yuu. - Lavi sorriu para o moreno e depois seguiu para seu quarto.

Quando percebeu que o ruivo já tinha ido, Kanda deu um leve risinho. Podia criar essa “barreira” para as pessoas não se aproximarem de si, mas por essas que haviam tido a audácia de ultrapassá-la, ele criara certo respeito e amizade.

“Tsc, olha só pra mim, pareço um idiota pensando desse jeito.” - O sorriso meio fraco aumentou. - “Um idiota apaixonado, isso sim.” - Resolveu ir para o quarto e dormir um pouco também.

Podia agir da forma que quisesse, podia falar as piores coisas para o ruivo, mas sabia que o outro não acreditava em nada disso. Lavi tinha a noção de que as ações do outro eram só “fachada” para as outras pessoas não desconfiarem do caso que os dois mantinham. Ele acabava nem ligando, até achava engraçado. Afinal, o importante não era o que os outros pensavam, mas sim o que os eles sentiam um pelo outro e, como havia dito à Yuu um dia: “Os olhos são o espelho da alma.”. Por isso, o Coelho Idiota conseguia ver através dos frios orbes azuis escuros um sentimento verdadeiro que existia no outro, além do aparente mau humor.

Apenas esse sentimento fazia ele acreditar que valia a pena ser trazido de volta à vida nas horas mais desesperançosas da guerra. Yuu Kanda havia se transformado na sua razão de viver, e era por ele que Lavi estava pensando seriamente em continuar na Ordem mesmo após a guerra e seu dever como aprendiz de Bookman terminassem. Claro que o Bookman nem sonhava com isso.

“E é melhor continuar não sonhando!” - Ele riu baixo, antes de pegar no sono.

Bring me to life

(I've been living a lie. There's nothing inside)

Bring me to life