-.-

Ainda sonolenta, abri lentamente os orbes, deparando-me com uma intensa luminosidade sobre a face. Soltei um longo bocejo, erguendo os braços a fim de me espreguiçar. Com certo esforço, vi a janela escancarada permitindo que os raios de sol adentrassem livremente o cômodo em que estava. As cortinas içadas para os lados se movimentam com sincronia, embaladas pela suave brisa matinal.

Tateei o travesseiro ao lado para constatar algo que já sei: estou só. Percebi que ele possui o hábito de se levantar cedo, ao contrário de mim. Então quando acordo, estamos somente eu e os lençóis azulados sobre a cama.

Com cuidado desnecessário, observei minuciosamente cada detalhe do quarto em que passara inúmeras noites. Ao meu lado direito, uma mesinha de cabeceira ornamentada por um abajur de porcelana e um porta-retrato de ferro, aparentemente enferrujado. Mais ao fundo do aposento, uma enorme janela de vidro, no momento aberta. Na frente da cama, um grande baú marrom com fivelas bronze. E a esquerda, uma mesa repleta de papéis desordenados e um guarda roupa de cor escura, com uma das portas entreaberta.

-.-

Levantei-me calmamente e fui à direção do banheiro, preciso de um bom banho. (...) Já em baixo do chuveiro, passei o sabonete numa esponja e a esfreguei por todo o corpo, molhando-o em seguida. Com as mãos, formei uma pequena concha e nela despejando um pouco de xampu de cerejeira, o meu preferido, logo o apliquei nos cabelos, massageando bem. Após enxaguar, adicionei uma quantidade generosa de condicionador nas pontas, o deixando ‘agir’ por 10 minutos.

Ao sair do banho, enrolei-me em uma toalha, caminhando até o armário para pegar meu uniforme. No mesmo instante verifiquei as horas: 08h23min... “Kami-sama, estou atrasada!” Tentei me arrumar o mais rápido possível, começando a correr por entre as pessoas. “Estou ficando igual o Kakashi-sensei.” Pensei relembrando do tempo em que ainda era gennin e dos costumeiros atrasos do copy-ninja.

-.-

Há poucos metros do Hospital, concertei minha postura e andei normalmente, ainda respirando ofegante devido a corrida. Na recepção, deparei-me com Meiko - a recepcionista -, e a perguntei se possuia algum paciente. Ela levantou uma das sobrancelhas num gesto irônico, apontando com a caneta para as minhas costas. Olhei para trás temerosa, encontrando uma imensa fila. “É... Hoje vou ter muito trabalho.” Penso um tanto alto, pois logo todos os olhares são direcionados para mim. Envergonhada, dei um sonoro ‘Ohayou’ e me diriji até a sala de atendimento. (...) O tempo vai passando, e os pacientes diminuem aos poucos. Mesmo com muita disposição, o cansaço começa a me abater. Mal tive tempo de almoçar e quando finalmente chegou o término de meu turno, estava acabada.

-.-

Mesmo exausta, peguei minhas coisas e caminhei pelas ruas de Suna, observando as mudanças que ocorreram desde minha última estadia, essas que não foram muitas. A vila cresceu e se desenvolveu, mas continua com o mesmo clima quente e acolhedor de sempre. Crianças brincando despreocupadas, estudantes indo para casa, adultos saindo do trabalho, ninjas por todos os lados realizando missões... Gosto de estar aqui e gosto ainda mais da companhia que tenho. Ao pensar nisso, não pude evitar o tom rubro que inundou minhas bochechas. Imergi nas lembranças dele e nos momentos que tivemos juntos. Um sorriso bobo logo surgiu em meus lábios ao recordar de que aquele homem é meu. Não que tenha me pedido em namoro ou algo parecido, mas sinto que fui a única á tê-lo, da mesma forma que ele foi o único á me ter.

De longe, vi uma praça praticamente vazia, e para lá segui. Resolvi me sentar em um dos bancos, apreciando a bela vista a minha frente. O céu tingido de um alaranjado incrível devido ao pôr-do-sol que se iniciava. Sempre gostei de observar o ‘astro rei’, principalmente à tarde. Nesse instante, recordei-me de Naruto... Sinto tanta saudade do meu melhor amigo e das vezes que vimos o sol se pôr sentados na montanha dos hokages. Quando dei por mim, a lua já tinha surgido, e com ela, vários pontos brilhantes apareceram, tornando aquela imensidão azul-marinha ainda mais encantadora. Resolvi ficar por mais alguns instantes, mas depois de um dia inteiro de trabalho, meu corpo começou a dar sinais de exaustão, obrigando-me à voltar para o apartamento em que estou hospedada.

-.-

Mal chego ao local e já segui para o banheiro. Ansiosa para banhar-me, retirei as roupas num piscar de olhos, repetindo todo o ‘ritual’ feito pela manhã. (...) Ao terminar, vesti um roupão amarelo que estava cuidadosamente dobrado sobre minha cama, começando a pentear os cabelos róseos, novamente longos.

Estava tão entretida cantarolando uma musiquinha qualquer, que não percebi a presença de alguém em meu quarto. Quando notei, mal tive tempo de virar-me, pois logo estava presa entre dois braços fortes. Não fiquei apavorada e muito menos gritei, afinal, sou uma ninja! Concetrei chakra nas mãos, preparei-me para golpear o homem que ainda me segurava, mas paralisei ao sentir uma rouca voz invadir meus ouvidos sem pudor algum.

- Precisa ficar mais atenta Sakura. - Disse num sussurro, fazendo-a arrepiar-se.

- E-eu sei Ga-ara... - Respondeu confusa. “Kuso! Por que sempre fico assim perto dele? Tão vulnerável e frágil...” Pensou sentindo o perfume agridoce que o rapaz emanava.

Tentando manter-me calma, respirei fundo e lentamente saí dos braços em que inúmeras vezes estive. Esmeraldas fitam jades. É sempre assim, fico enfeitiçada com um simples olhar. Dei um passo para trás a fim de aumentar a distância entre nós, mas isso de nada adiantou, pois em segundos meu corpo foi colado ao dele.

- O que há? Fugindo de mim? - Perguntou com um ar provocador, surgindo no canto de seus lábios um imperceptível sorriso.

Antes de responder, pensei em como Gaara mudou. Já sofrera tanto na vida que por muito tempo foi uma pessoa sem sentimentos, fria. Agora, mesmo que para os mais íntimos, se mostrava feliz e afetuoso, esquecendo do ódio que antes corrompia seu coração.

- Não... Só estou cansada. - Falou simplesmente, já segura de suas palavras.

- Acha que irei fazer algo que vai cansá-la? - Indagou com um brilho diferente no olhar. Quem o conhecesse bem, poderia dizer que aquilo era pura malícia.

- M-as, nã-o foi i-sso que eu quis d-izer... - Tentou se explicar num murmúrio, abaixando o rosto extremamente corado. “Como ele diz uma coisa dessas? Eu nunca, eu...” Pensou Sakura sem jeito. Ela não entendeu que aquilo fora uma brincadeira do rapaz, talvez porque fosse muito difícil vê-lo fazer qualquer coisa do gênero.

Recuperando-me um pouco do rubor, senti meu queixo ser erguido num gesto delicado. Poucos instantes nos observando, apreciando o momento, e logo meus lábios foram tomados pelo ruivo de uma forma possessiva, quase urgente. Minhas pernas começaram a tremer, enquanto eu hiperventilava. Céus! Como ele possui tanto poder sobre mim?

Após longos e maravilhosos minutos, meu pulmão pediu desesperadamente por ar e tivemos de nos separar. Saí do beijo com os lábios entreabertos e os orbes ainda fechados, abrindo-os em seguida. De repente, vi o semblante dele se fechar, indicando a mudança repentina de humor. “Será que fiz algo de errado?” Perguntei-me, até que ouvi Gaara pronunciar.

- Não vim aqui somente para isso Sakura, recebi uma carta de Naruto pedindo que você volte para Konoha dentro de dois dias, já que excedeu seu limite de tempo aqui. - Disse ficando cada vez mais sério.

- Entendo... Sabia que em alguma hora isso aconteceria. - Falou conformada, estampando um fraco sorriso nos rosados lábios. - Mas Naruto está certo Gaara, eu só tinha permissão de ficar aqui duas semanas, e já estou há um mês.

- Não. Você não vai voltar! - Exclamou autoritário.

- Mas...

- Sakura, sabe como ninguém que não gosto de falar muito, por isso serei breve. - Percebi que essa pausa foi, exclusivamente, para observar minha reação. - Minhas intenções com você não se resumem em noites juntos e tenho certeza de que já percebeu isso. - Encostou-a na parede do aposento, divertindo-se com a expressão da flor de cerejeira. - Desejo mais do que uma simples aventura... Eu quero me casar.

Depois de ouvir essa declaração, eu não sabia o que fazer. Deveria falar alguma coisa, mas as palavras não saiam! Fiquei muda diante dele e de seus jades penetrantes. Apenas esperei quieta, para ouvir o resto de sua fala.

- Por isso... - Disse enquanto distribuía leves e molhados beijos pelo pescoço da garota. - Você vai morar aqui e será a mulher do Kazekage. Essa é sua vila agora Sakura. - Completou tomando os lábios da moça para um beijo único e especial. Suas línguas dançavam unidas enquanto exploravam curiosas cada centímetro da boca um do outro. As mãos do rapaz passeavam livres e ávidas pelo delicado corpo da kunoichi, já entorpecida de amor. Uma sensação de realização tomou conta de ambos... Completavam-se de corpo e alma.

.

.

.

Acordei cansada, passando uma das mãos nos cabelos rosados, procurando ajeitá-los. Logo abri meus olhos, preguiçosa, tentando fugir dos raios de sol que iluminam todo o cômodo. Ajeitei-me nos lençóis azulados e como sempre, tateei o lugar ao meu lado, verificando. Para a minha grande surpresa, encontrei um forte e delineado corpo repousar despreocupado, enquanto alguns fios da cabeleira ruiva teimam em cair-lhe sobre os verdes orbes, agora fechados. “Oh! Ele ficou.” Pensei radiante. Num rompante de alegria, abaixei-me cautelosamente, sussurrando na orelha do homem que amo a cada dia mais:

- Hoje, somos você e eu banhados pela luz do sol. -

-.-

Owari