Albus e Rose acordaram animados aquela manhã - afinal, seria a primeira vez que os garotos estariam indo para Hogsmead. Rose havia combinado de encontrar Scorpius na Dedos de Mel, ela o informara que levaria Albus consigo. Só esqueceu-se de mencionar este pequeno detalhe ao primo. Rose olhou pela janela: brancos flocos de neve caíam de um céu fracamente cinza, crianças do segundo ano aproveitavam o tempo para jogar bolas de neve uma nas outras, guerreando para ver quem melhor desviava das bolas que as encharcavam. Ela foi até seu armário, colocou um sobretudo rosinha claro e suas botas marrons.

  Abriu as janelas e percebeu que uma brisa fria balançava as árvores, resolveu então colocar um cachecol, e optou pelo que sua avó, Molly, havia feito e lhe dado de Natal.

  Desceu as escadas do Dormitório Feminino, e quando chegou à Salão Comunal, deu de cara com Albus jogando uma partida de xadrez bruxo com seu irmão, Hugo.

  -Até que enfim. - o garoto disse. Pensei que você nunca fosse descer.

  -Bom dia pra você também, Albus. Demorei, mas desci. Já podemos ir? Nós ainda temos que tomar café. – a ruiva disse enquanto encaminhavam-se para a porta, os cachos ruivos balançando pelo ar.

  Chegando ao Salão Principal, sentou-se à mesa e rapidamente tomou seu café, afinal, Hogsmead a esperava e ela não podia se atrasar. Albus achou a pressa da prima um tanto quanto questionável, mas preferiu não fazer nenhum comentário a respeito.

  Scorpius, Albus pôde ver, encara a prima de longe, e quando a menina o olhou, ele viu que ambos deram risinhos. Então, Albus e Rose seguiram para os jardins, onde o Profº Neville conferia as permissões dos alunos para ir à Hogsmead. Depois de tudo conferido, os alunos seguiram para a vila. Albus e Rose foram primeiramente à filial da Gemialidades Weasley. Lá, os meninos encontraram James e seus amigos, Noel Frank e Peter van der Peels, além de tio George e o restante de seus primos. Compraram Varinhas-Falsas, Orelhas-Extensíveis, Caramelo Estica-Língua, entre outros logros. Depois, foram a Floreios e Borrões (Rose, como sempre, queria comprar livros e Albus precisava de algumas penas e tinteiros). Quase na hora do almoço, para felicidade de Rose, ela e Albus encaminharam-se à Dedos de Mel.

  Rose, embora completamente acasacada, tremia de excitação. Albus olhou-a de soslaio e encolheu os ombros, pensando provavelmente que ela estaria exagerando, afinal, embora de manhã tivesse nevado, agora o sol esquentava-os com um fraco mormaço. Porém o trincar de dentes da sua prima o fez ficar preocupado, sendo assim ofereceu-lhe o casaco com um resmungo.

  A ruiva recusou o casaco do primo, justificando estar suficientemente agasalhada. Os olhos de Rose percorreram as mesas, assim que ela e Albus adentraram a Rose. Então ela o viu. O loiro estava sentado em uma mesa próxima à janela, encarando os resquícios de neve que havia na rua. Depois de alguns segundos, seus olhos encontraram-se com os de Rose e ambos deram um grande sorriso de satisfação. Por um momento, Rose esqueceu-se completamente que Albus estava ao lado dela olhando-a como se fosse uma louca, do frio e provavelmente de andar, porque a ruiva simplesmente estancou diante da situação. Ficou somente olhando o garoto loiro, quando a voz de Albus a fez voltar para a realidade.

  Embora isso não fosse muito bem o seu desejo, considerando o fato de seu primo estar junto. Não que ela quisesse ficar a sós com Scorpius, ela apenas queria aproveitar a tarde de neve sem brigas e discussões, o que, provavelmente, não ocorreria uma vez que Albus estivesse junto a ela.

  Porém, resolveu dar uma chance ao destino, torcendo para que ele fosse bom o bastante ao ponto de não deixar Albus causar nenhuma confusão.

  Fingindo que tudo estava perfeitamente normal, encaminhou-se para a mesa onde Scorpius a aguardava.

  -Mas, o que você pensa que está fazendo? – disse Albus a puxando pelas vestes, percebendo a intenção da prima ao se aproximar da mesa do garoto. Por que não me avisou? – Albus continuou aumentando o tom de voz. Eu não suporto esse cara, Rose. O que pensou que fosse conseguir trazendo-me aqui? Que nós iríamos virar amiguinhos? Era isso que você pensava?

  Rose ficou estática com tamanho ataque de fúria da parte de Albus. Tudo bem, ela realmente esperava que ele fosse surtar; mas, o garoto havia se alterado totalmente.

  -Albus. – Rose o chamou. É melhor você parar com isso. E parar com isso agora. Será que não vê que está começando a chamar a atenção? Pode olhar, quase todo mundo está olhando pra você. Agora – ela disse, soltando-se do garoto -, se eu fosse você, agiria como uma pessoa normal e iria continuar andando para o destino inicial. – ela conclui olhando para a mesa, onde Scorpius olhava a cena com o cenho franzido.

  A contragosto, Albus seguiu a prima até o "destino inicial". Rose sentou-se em frente ao loiro e Albus ficou ao seu lado. Um silêncio constrangedor pairou no ar durante o que pareciam longos minutos torturantes. Até que por fim Rose decidiu-se por dar um término àquela situação perguntando o que era aquela sacola ao lado de Scorpius.

  -Isso? Ah, não é nada demais. Só alguns doces... E, bem... Também comprei uma coisa para você...

  Os olhinhos de Rose brilharam, e Albus revirou os olhos.

  -O... O que...? - ela tentou perguntar.

  -Ah, não... Não é nada demais, sabe? - ele disse puxando uma pequena caixinha branca, com um laço de fita rosa e entregando a ela.

  Rose segurou a caixa com delicadeza, essa parecia que iria amassar ao simples toque humano. Ficou apreensiva refletindo se deveria ou não abri-la na frente do seu primo, mas a curiosidade falou mais alto que a razão. Puxando o lacinho, abriu a tampinha e deparou-se com um cordão fino de prata na qual se encontrava um pingente de uma corujinha, igualmente prata, ao meio.

  Sua única reação foi deixar o queixo cair, ficando boquiaberta sem ter o que falar. Aquele fora um dos presentes mais bonitos que Rose já ganhara na vida. Era delicado, e de uma simplicidade e inocência que o embelezavam mais ainda. Não era um presente que amigos normalmente dão a amigas.

  -Para mim já chega! – esbravejou Albus, arrancando o cordão das mãos de Rose.Você pensa que eu sou idiota, Rose? Você acha mesmo que eu iria perder meu tempo passando a tarde aqui vendo vocês dois namorarem?

  - Mas, mas... Al, não... Isso é ridículo! É só um presente. Não significa nada. – respondeu Rose tentando alcançar o cordão sem sucesso.

  “Não significa nada. Nada. Não significa nada.”

  As palavras de Rose ficaram ecoando na mente de Scorpius como uma melodia sem fim. Nada. Não significava nada ele ter dado um cordão à ela. Nada.

  "Claro que não era nada. O que você queria, idiota? Ela é só sua amiga. Amiga, Scorpius! E, você não gosta dela. Não mesmo."

  - Ah, então não é nada, não é? Então você não vai se importar se eu fizer isso... – Albus disse jogando o cordão no chão e pisando em cima do mesmo.

  Rose começou a derramar lágrimas, e foi nesse momento que Scorpius despertou do transe e disse:

  - Devolva o cordão dela. AGORA. Ou eu...

  - Ou você o que, Malfoy? – Albus perguntou desafiador.

  - É melhor você não querer saber, Potter.

  - Acha que eu tenho medo, Malfoy? Você realmente acha que não tenho peito para proteger minha prima?

  - Protegê-la de que, exatamente?

  - De gente feito VOCÊ.

  - Defina gente como eu, Potter.

  - Já chega, vocês dois. Eu não aguento mais. Isso é RIDÍCULO. Vocês dois são duas crianças. Eu vou embora. - disse Rose levantando-se em meio as lágrimas.

  -Não. Espera. - disse Scorpius a segurando. Como assim "não significa nada?"

  -Não. Não foi o que eu quis dizer... Você entendeu que eu...

  -Esquece! Você não deve uma explicação para um "nada" como eu. - disse Scorpius cortando-lhe a fala.

  Com um gesto, ele tirou o que sobrara do cordão, apenas o pingente e saiu com um rosto inexpressível.