Ex escrita por Nyuu D


Capítulo 1
único




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– Ele me batia.

– Tá reclamando de quê? – Grimmjow jogou as costas para trás na grande poltrona estofada de couro, fazendo uma expressão de tédio diante das acusações da futura ex-mulher. – Você bem que gostava.

Mariko bateu as mãos com força na mesa oval de reunião. – Cale a boca, idiota!

– Por favor, Mariko. – A advogada ruiva de Mariko colocou a mão na frente dela, impedindo-a de voar no pescoço de Grimmjow. – Senhor Kuchiki, eu e a minha cliente estamos pensando seriamente na possibilidade de um acordo. Será que podemos discutir iss—

– Não quero acordo nenhum, Byakuya.

Byakuya soltou um ruído de incômodo com a forma íntima com a qual Grimmjow referia-se a ele. Embora se conhecessem da faculdade, e tudo mais, Kuchiki ficava incomodado com aquele tom descontraído. Tudo bem Kori referir-se a Mariko pelo primeiro nome, já que eram claramente amigas, mas eles não. Nunca foram, na verdade. Aliás, eles já foram mais do que amigos. Mas, amizade mesmo, nunca.

– Com licença. – Byakuya fez um sinal com a cabeça e curvou-se para o lado, a fim de falar no ouvido de Grimmjow. – Um acordo é a melhor opção pra você, nessas circunstâncias. Você devia pelo menos ouvir.

O jovem economista revirou os olhos e baforou, num som de irritação. Depois, concordou.

– O que vocês querem? – Perguntou o Kuchiki num tom polido e paciente.

Kori pegou algumas páginas do processo e revirou-as cuidadosamente, procurando o que Mariko havia garantido que era dela por direito. Eram muitas coisas. Coisas demais, na opinião de Grimmjow, que se irritou muito enquanto a mulher começava a tagarelar sobre todas as coisas que ela queria arrancar dele. Mal podia acreditar que Mariko era cara de pau o bastante para pedir tantas coisas.

Byakuya estava ouvindo tudo atentamente, fazendo anotações, e Grimmjow baixou os olhos para ele, reparando que ele assentia algumas vezes, mostrando que estava prestando atenção.

Depois, lembrou de quando eles estavam numa festa de formatura de algum amigo em comum. E, depois de umas doses de vodka e um pouco de tempo sozinhos, Byakuya e Grimmjow se entenderam muito bem. Não de todas as formas possíveis, porque uma conversa entre os dois era impraticável. Entretanto, se davam muito bem em outras coisas. E foi só isso que os manteve conectados até que se formassem e tomassem rumos diferentes em suas vidas.

E quando aquele problemão chamado Mariko Nakayama apareceu na vida de Grimmjow após um casamento de dois anos e meio, o rapaz decidiu que Byakuya era a melhor alternativa para ele. Depois de um pouco de pesquisa, descobriu que ele era especialista em casos de divórcio.

Kori ainda tagarelava sobre tudo o que Mariko queria. E Grimmjow sentiu uma nostalgia intensa ao olhar para o perfil aristocrático e sério de Byakuya, trajando aquele terno alinhado com gravata verde-musgo. Havia vários anos que os dois não se viam, nem conversavam, nem se tocavam. E Byakuya havia crescido de um jeito muito atraente.

Grimmjow ficou pensando que o Kuchiki sempre foi muito discreto e controlado, e pegou-se perguntando o que ele faria se fosse assediado ali no meio da reunião.

Talvez não fosse uma boa ideia, mas ele podia pelo menos se divertir um pouco.

Grimmjow empertigou-se na poltrona de couro e apoiou os antebraços na mesa por um instante, antes de levar a mão esquerda para baixo da mesa, apoiando a mão no próprio joelho. Um tempinho depois, quando Byakuya começou a falar, ele deslizou a mão sorrateiramente, dedilhando o ar para encontrar a perna do Kuchiki.

– Meu cliente exige que a casa da praia seja somente dele – Byakuya falava, olhando os lembretes de Grimmjow sobre seus bens materiais. – Pelo que consta no processo, a casa foi paga por ele, somente.

– Mas a minha cliente garante que ela ajudou a construir parte dos bens que foram vendidos a fim de quitar a casa da praia. – Kori ergueu a sobrancelha de forma ácida. Byakuya estreitou os olhos.

– Acredito que todos os outros bens que a sua cliente vai garantir para ela serão suficientes para—

Ele parou de falar quando sentiu os dedos de Grimmjow roçarem sua coxa. Assim que o rapaz achou o que procurava, ele agarrou-se à carne da perna de Byakuya com força, cravando as pontas dos dedos e fazendo o advogado sobressaltar-se na poltrona.

– Tudo bem, senhor Kuchiki?

– Sim. – Byakuya pigarreou e mexeu na gravata. Pensou em tirar aquela mão dali, mas seria óbvio demais, e esse tipo de coisa era totalmente inadequada na frente dos inimigos em júri. – Me desculpe. – Ele respirou fundo e soltou o ar, sentindo a mão de Grimmjow afrouxar, mas permanecer pousada nas coxas. – Como eu estava dizendo, acho que ela poderá conseguir uma nova casa com todo o dinheiro que vai receber no processo.

– E os honorários da minha advogada, acha que vão sair de onde? – Mariko ralhou, e Kori pediu para ela não falar algo que a deixaria na saia justa, embora aquilo fosse totalmente inofensivo.

– Sabe Mariko, você devia parar de ser tão insuportável com esse negócio da casa da praia – Grimmjow apertou a mão de novo, mas foi sem querer. Ele havia ficado irritado. Byakuya projetou o corpo para frente e ajeitou-se na poltrona, desconfortável. – Afinal, você nem gosta tanto de lá. Sempre reclamava quando eu queria ir.

Byakuya baixou as duas mãos e agarrou a de Grimmjow com força, tentando afastá-lo da forma mais discreta possível. Mariko fuzilava o outro rapaz com os olhos. – Claro, você ia lá ficar olhando aquelas safadas. Se eu fosse com você, e você olhasse só pra mim, não ia reclamar.

– Então quer fazer o que com aquela casa?

– Enfiar no seu—

– Mariko. – Kori interrompeu. Grimmjow estava quase arrancando a perna de Byakuya fora. O Kuchiki mexeu o quadril um pouco mais, incomodado de um jeito diferente dessa vez. Não podia ser reflexo de suas memórias com aquele cara, podia? Porque lembrava muito bem de suas loucuras da faculdade. E isso ficava tão fora do contexto que deixava Byakuya maluco naquelas circunstâncias.

– Continuando – ele disse com a voz descontrolada. Pigarreou de novo, pondo as mãos sobre os papéis, diante do olhar crítico das duas mulheres à sua frente. – Quanto à coleção de discos de vinil—

– A minha cliente pagou por mais da metade deles. Muitos foram presentes de datas comemorativas, e outras ocasiões em que ela achou válido presentear o marido. Estou errada, senhor Jaegerjaquez?

– Não. – Grimmjow disse sem titubear, e Byakuya olhou para ele sem entender. Ele devia mentir agora, não era ótimo com isso? – Pode ficar com aquelas tralhas, são inúteis.

– Você ficava todo empolgado quando eu dava pra você!

– É, depois de um tempo ficou chato. – Ele resmungou, reforçando o duplo sentido.

– Ora seu—

– Por favor, vocês dois. – Byakuya disse num tom autoritário e sério, aborrecido com a infantilidade de ambos. Pareciam duas crianças brigando por causa dos lápis de cor.

– Senhor Kuchiki, eu posso dar uma olhada nos papéis das exigências do seu cliente?

– Fique à vontade – ele retirou a folha da pilha e entregou na mão da advogada ruiva, que se curvou sobre a mesa e chamou a atenção de Mariko para que olhasse também. A loira estava com o rosto todo vermelho, bufando de raiva. E Grimmjow parecia não ligar muito, ou até mesmo divertir-se com o aborrecimento dela.

Grimmjow ficou olhando um tempo enquanto Byakuya readquiria sua compostura. Entretanto, isso se tornou humanamente impossível quando a mão do economista voltou à vida, já que havia ficado parada até então. Ele escorregou os dedos lascivamente pela coxa de Byakuya, aproximando-se da virilha. O Kuchiki fechou as pernas e prendeu a mão de Grimmjow entre elas, fazendo-o sorrir.

– Pare com isso. – Resmungou o advogado. – Agora. Pare com isso.

– Isso o quê? – Grimmjow sussurrou para ele, baixando de leve a cabeça e sustentando um olhar devorador, intimidando Byakuya. – Você não parece se incomodar.

– Essa não é a melhor hora para suas brincadeirinhas. – Chamou a atenção. Grimmjow mexeu os dedos entre as pernas de Byakuya, apertando a virilha dele com força. Mesmo com a mão presa, ele ainda conseguia mexê-la sem muitos problemas. Só tirá-la dali seria impossível sem que elas percebessem. – Grimmjow.

– Você sempre teve essa cara de santo, mas quando eu te pegava em público ficava todo excitado. Fala pra mim. – Grimmjow deu um sorriso divertido, achando tudo cômico. Byakuya trincou os dentes, sentindo as reações naturais do corpo aflorarem num arrepio, subindo sua espinha, até eriçar os pêlos do pescoço.

– Se não parar agora, vou largar o caso.

– Não vai, não. Acabo com a tua raça.

Byakuya respirou fundo, tentando manter a calma e a sanidade. – Aí sim você perde tudo pra sua esposa.

– Senhores – a voz de Kori irrompeu na sala, fazendo os dois virarem a cabeça simultaneamente para olhá-la. – O que estão fazendo?

– Nada. – Byakuya respondeu imediatamente. – O meu cliente estava conversando comigo sobre a casa da praia. Ele pensou em cedê-la à sua cliente.

– Como é?! – Grimmjow arregalou os olhos, puto, tirando a mão de Byakuya e olhando para ele com raiva. – Quando eu disse isso?!

– Agora mesmo. Ou será que me enganei? – Byakuya virou-se inexpressivo na direção da advogada ruiva, que estreitou os olhos verdes. – Ele pode ter dito que jamais vai ceder.

– Claro que não! – Esbravejou o economista, enfurecido. – A casa da praia é minha!

– Gostaria que levassem isso a sério, senhores. – A mulher disse com rigidez, irritando-se. – Não quero mal-entendidos. Se isso for parar no tribunal de verdade, garanto que o senhor Jaegerjaquez vai sair de lá sem as calças. E a casa da praia.

– Acho que isso não vai ser necessário – Byakuya disse pacientemente, ignorando a afronta contra sua capacidade profissional. – Ao invés da casa da praia, a senhorita Nakayama poderia ficar com o carro. O meu cliente não exige muita coisa dessa separação. Ele só quer mesmo a casa da praia.

– Não vou abrir mão daquela casa, Mariko. – Grimmjow ameaçou, apontando o dedo para ela. – Você vai arrancar minhas calças antes de tirar aquela casa de mim, fui eu quem pagou por ela, pare de inventar desculpas.

– Foi arrancando suas calças que eu te convenci a comprar aquela casa, o caminho já tá meio andado.

– Acho que devemos encerrar por hoje – Byakuya falou com uma voz firme, embora sem mostrar-se exaltado. Apenas parecia um professor dando uma lição de moral a duas criancinhas. – Os senhores estão evidentemente totalmente sem condições de manter uma conversa civilizada, sem provocações baratas e desnecessárias. São dois adultos, deveriam resolver isso como tal.

– Também acho, olhar pra cara dela tá me deixando louco. – Grimmjow pôs as mãos na mesa de madeira e empurrou, fazendo a cadeira ir para trás. – Podemos continuar isso na semana que vem. Vou reforçar o fato de que quero aquela casa de qualquer jeito nesse processo.

– Está de acordo, senhorita Nakayama?

– Tanto faz. Vou reforçar o fato de que aquilo pertence a mim, também. – Mariko imitou o gesto do marido e levantou-se como um furacão. Kori e Byakuya levantaram em seguida, fazendo um sinal educado um para o outro em despedida. A advogada ruiva rapidamente enfiou tudo na pasta e seguiu a loira, que saiu batendo o salto com violência no chão, praguejando para a amiga enquanto empurrava a porta para ir ao corredor.

Grimmjow e Byakuya ficaram sozinhos na sala. Byakuya recolheu suas coisas, sacudindo a cabeça de forma negativa. – Perder a cabeça só faz você perder mais dinheiro.

O economista ficou olhando para as costas do Kuchiki enquanto afrouxava a gravata sufocante no pescoço. Estavam no escritório onde Byakuya trabalhava, então não havia necessidade de se apressar. O advogado terminou de organizar os papéis, colocando o que Kori havia pedido no seu devido lugar no processo. Assim que ele fechou a pasta, Grimmjow apertou seu corpo contra o dele na mesa, batendo as mãos na superfície envernizada, fazendo Byakuya se curvar.

– O que deu em você? – O Kuchiki reclamou, tentando livrar-se dele. Grimmjow roçava os lábios em seu pescoço, aspirando o cheiro de shampoo dos cabelos negros. – Me deixa em paz.

– Te ver atuando assim me deixou excitado, sei lá. – Sussurrou ele próximo do ouvido do outro. Uma das mãos saiu da mesa e postou-se entre a gravata e a camisa do Kuchiki, alisando-lhe o peito por cima do tecido. Byakuya baixou os olhos cinza e segurou a mão dele com força, afastando. – Não seja rígido, ninguém vai chegar.

– É a sala de reunião do escritório, saia de perto de mim.

– Então, fora dela, posso ficar perto? – Grimmjow passou a língua nas concavidades da orelha do Kuchiki, fazendo-o encolher os ombros, procurando mantê-lo longe daquela área sensível.

– Não vamos discutir isso agora. Você deveria pensar no seu futuro monetário ao invés disso.

– Posso pensar nisso depois, agora queria levar você pra dar uma volta.

Byakuya suspirou, sentindo que sua paciência realmente era tolerante demais com um brutamontes como aquele. Ficou se perguntando o que o levou a envolver-se com ele sexualmente por tanto tempo. Talvez fosse uma válvula de escape. Apenas para relaxar as tensões da estressante faculdade de direito. Sentiu-se estranho com esse pensamento. Não lembrava quando foi sua transição de adolescente impertinente para um jovem adulto responsável e sério.

Mas também, não queria mudar.

– Afaste-se. – Byakuya disse, e Grimmjow acabou fazendo o que ele pediu, percebendo que não chegaria a lugar nenhum com aquilo. O Kuchiki pegou a pasta e deu a volta na mesa, sendo seguido pelo seu cliente. Sentia-se alterado pelo toque rude dele, mas nada que não pudesse ser superado. – Você e sua mulher fazem um casal ótimo, não deviam se separar.

– Quero distância daquela bruxa doente. – Grimmjow afirmou com convicção. – Mas quero ficar perto de você. Rola?

– Nem pensar. – Byakuya agitou a cabeça. – Vamos discutir agora o que você vai fazer para convencê-la a desistir da casa da praia.

– Depois eu te levo pra minha casa.

O Kuchiki respirou, mantendo a compostura com perfeição.

– Já falei para discutirmos isso depois, Grimmjow.


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