A Estação escrita por LittleFish


Capítulo 1
One-Shot.


Notas iniciais do capítulo

Essa é uma fanfic bem melancólica, talvez com uma pitada de nostalgia, encontros e desencontros.

O objetivo é comparar a vida de uma pessoa com a estação. Mas não só é só isso, também mostra situações corriqueiras e as vezes polêmicas da vida do ser humano: os jovens que casam sem o consentimento dos pais, a viúva com sua filha pequena, a mulher que apanha do marido... Todos querem encontrar seu caminho.

Putz, eu deveria colocar isso na sinopse, HUAHEUHA.

Sem mais, espero que gostem da one!



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Alice suspirou entediada e puxou um livro qualquer que estava em sua bolsa de viajem. Ajeitou-se desconfortável na cadeira. O barulho infernal da estação impedia que ela se concentrasse. Praguejando, fechou o livro e o enfiou de volta em sua bagagem. Quanto mais tempo deveria esperar naquele lugar?

A multidão produzia um barulho ensurdecedor. Passos apressados, gritos, o arrastar de carrinhos, choros... Era apenas um dia comum em uma estação de trem. Aqueles rostos que iam se renovando a cada dia, aquela correria desenfreada... Tudo aquilo era normal. Estranhamente normal.

A mulher não se sentia bem no meio daquela imensidão. Era completamente sufocante. Mesmo que estivesse rodeada de gente, sentia-se só. Sacudiu a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos irritantes. Decidiu então prestar atenção em algo diferente... Talvez aquela sensação terrível desaparecesse, nem que fosse por alguns minutos.

Decidiu então observar os indivíduos que ali estavam. Gente que ela nunca havia visto e que nunca mais voltaria a ver. Ricos, pobres, mulheres, homens, crianças... Todos ali estavam por uma só razão: queriam chegar a algum lugar. Talvez isso fosse a única coisa que todos tinham em comum.

Ela continuou olhando ao redor, observando cada um que ali estava. Necessariamente era uma tarefa difícil, mas valia a pena tentar... Ou melhor: não havia nada melhor para fazer.

Uma criança pequena começou a chorar nos braços da mãe. A mulher a puxou para mais perto de si, tentando consolá-la. Passou as mãos pelos cabelos delicados da menina e murmurou algumas palavras tranqüilizadoras. A pequena continuava com o rosto muito vermelho, mas as lágrimas não caiam mais. Foi então que Alice prestou atenção do diálogo das duas.

– Eu sinto falta dele...

– Sei disso... Nós duas sentimos... Mas temos que seguir em frente, não é verdade? – A mãe disse, mas a mesma não conseguia conter as lágrimas.

Alice franziu a testa. Elas haviam perdido alguém a quem amavam... Talvez o pai da garotinha. Quantas vezes ela mesma já não havia passado por isso? Sentiu uma pontada de compaixão atravessar seu peito, dilacerando-a. Preferiu desviar os olhos daquela cena. Procurou outra para analisar.  A primeira pessoa que apareceu em seu campo de visão foi uma mulher com o rosto marcado. Ela terminou de comprar a passagem e talvez por conhecidência sentou-se ao seu lado.

– Boa tarde – Disse, procurando iniciar uma conversa.

– Boa tarde... – A mulher saudou desanimadamente.

– Para onde está indo? – Alice perguntou.

Ela suspirou. Parecia cansada, perdida e sem esperanças. Mas assentiu discretamente e deu início a sua narrativa.

– Não sei para onde estou indo... Fugi de casa. Meu marido me batia... – Passou a mão em seu rosto ferido.

A ouvinte mordeu o lábio. Será que só ia ouvir histórias tristes naquela estação?

– Isso é terrível! – Constatou – E por que não o denunciou?

– Ele me ameaçou de morte... E ninguém sabia do que acontecia em nossa casa... Até o dia que contei para o meu irmão. Apanhei tanto... – Abraçou a si mesma – E então decidi fugir.

– E para onde você pretende ir...? Não pode sair assim vagando!

– Não tenho idéia mesmo... Mas acho que irei morar com meu irmão, em uma cidadezinha que fica longe daqui. Acho que posso recomeçar a vida! – Havia um brilho em seus olhos.

– Espero mesmo que você consiga – Alice sorriu.

A mulher devolveu-lhe o sorriso, fazendo com que as manchas em seu rosto parecessem até mais fracas.

– Ah, meu trem chegou. Foi ótimo falar com você... – E em seguida levantou-se e saiu.

E nem ao menos sabia o nome daquela mulher. Alice sacudiu a cabeça... Não importava. Provavelmente não a veria de novo.

Se ela pensasse melhor... Sua vida era bem parecida com aquela estação. Tem gente que vinha para ficar, gente que iria partir, que nunca mais veria... Sempre estivera preparada para o adeus... Mas não para a partida. Sentia o coração apertar ao ver um conhecido chegando. Sim. Tudo ali lhe era tão ridiculamente familiar que chegava a ser irritante.

“Diabos que esse trem não chega!” – Pensou impaciente.

Tudo aquilo já estava se tornando entediante para ela. Procurou então mais algum indivíduo para analisar. Talvez assim o tempo passasse mais rápido...

Deparou-se então com o olhar brilhante de um rapaz. Não devia ter mais do que 20 anos. Suas roupas eram terrivelmente desalinhadas e os cabelos eram rebeldes. Havia uma caixinha preta em sua mão... Talvez dentro dela estivesse um anel.

Alice sorriu nostalgicamente...

“Ah, como era bom ser jovem...” - Pensou.

O rapaz veio correndo sentar ao seu lado. Ela ficou se perguntando por que diabos todos sentavam ali. Foi então quando reparou que todos os bancos e cadeiras estavam ocupados, exceto aquele.

– Boa tarde – Ela disse.

– Boa! – Sorriu.

– Por que está tão animado?

– Vou me casar, dona! Nossa, estou tão feliz! – Comentou animado.

– Mas você não é muito novo?

Ele franziu a testa.

– Isso realmente importa? Eu a amo! Vamos nos casar na minha terra natal – Comentou sonhador.

– Por que não aqui? – Estava sendo realmente metida, mas precisava saber dos detalhes para passar o tempo. Afinal, não se veriam novamente. O rapaz pareceu não notar a sua intromissão.

– Os pais dela proíbem a nossa união... Eles são ricos sabe? Muito mesmo. Eu sou pobre... Ganho a vida com a música. Mas ambos acham que sou um vagabundo sem rumo. Não querem “isso” para a filha. Só que ela não liga para a opinião deles. Virá se encontrar comigo aqui e vamos nos casar – Seu olhar faiscava.

– Que bom para vocês... Espero que sejam felizes – Disse.

– Pode deixar... Nós seremos – Sorriu.

Talvez essa seria a única história feliz que iria ouvir naquele lugar...

“Feliz realmente deveria estar entre aspas... Nunca se sabe quando os dois farão uma besteira que poderá tudo... Ou quando esse rapazinho conhecer outras mulheres. É triste, mas é tudo verdade” – Pensou melancolicamente.

– Oh! Ali está ela! – Apontou – Veja senhora! Não é linda?

Uma moça de cabelos pretíssimos e vestes caras estava olhando na direção de ambos. Sorriu para o amado e veio ao seu encontro.

– Boa sorte... – Ela disse sorrindo.

O rapaz assentiu e segurou a mão da futura esposa. Conversando entre si, ambos foram se afastando até que virassem apenas um borrão aos olhos da espectadora.

E assim, mais um saiu de sua vida... Assim como todos os outros. Tudo parecia estar ficando vazio. Todos estavam achando seus próprios caminhos. Só restava ela.

Um apito forte soou. Uma voz estereofônica saiu dos auto-falantes. Seu trem havia chegado. Estava finalmente na hora de partir. Suspirou, tentando deixar todas as histórias e memórias que havia tido naquele lugar

Então Alice deu as costas para a estação e saiu caminhando, sem pressa, tudo ocorreria em seu determinado tempo.

Ela estava finalmente indo encontrar seu caminho.

FIM


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Notas finais do capítulo

Bom, foi isso.
Espero ter agradado a todos. E se você leu, bem que poderia deixar um review... Mesmo que o sistema de cash points e exp. tenha sido encerrado... Ainda significa muito para nós, ficwriters em geral, receber reviews.
Tá, parei com a choradeira, HAUHEUHAUHUEHA.
Gostaram?
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