Pergunto-me onde você deve estar agora, Madara.

                Eu continuo andando por aquela mesma rua, sozinho. É a única rua que eu conheço, e quando todos estão dormindo é que eu venho vagar livremente por ela.

                A Avenida dos Sonhos Despedaçados.

                As fracas batidas do meu coração são o único ruído que eu ouço. Minha sombra é a única coisa que me acompanha. Novamente esta noite, eu estou andando sozinho.

                Mais uma tentativa miseralvemente falha de recordar antigas lembranças e sonhos há tempos esquecidos. E de esquecer você.

                É impressionante o modo como você teima em continuar em minha mente. Sua voz, seu toque, seu beijo. Já tentei de todas as maneiras tirar você de meus pensamentos. Você é meu carrasco, meu martírio. E minha salvação.

                Dou uma longa tragada em meu cigarro com o intuito de acalmar-me. É preciso ter paciência, pensar com clareza. Para depois se tomar uma decisão.

                Será difícil encontrar todos os singelos pedaços de meu sonho. Sonho este que nunca existiu. Eu me sinto terrivelmente obrigado a ter um sonho. Afinal, o que seria da humanidade sem sonhos? São os sonhos que guiam as pessoas em frente, dão um propósito a suas vidas e fazem seus corações continuarem batendo dentro do peito.

                Pensando bem, é por sua culpa que não tenho nenhum sonho. Diria eu que foi você que exterminou todas as minhas possibilidades de sonhar. Com seu olhar gélido e suas palavras rudes, você me faz acreditar que o amanhã é algo abominável. E que eu não mereço vivê-lo.

                E é assim que eu continuo vivendo. Farto de ter minhas tentativas de sonhar frustradas pelo medo do amanhã.

                Você consegue sonhar, Madara?

                Tudo o que me resta é continuar a vagar por aqui. Enquanto a cidade dorme e eu sou o único. Eu ando sozinho.

                Com sua voz em minha mente e com o gélido vento acariciando minha face, eu continuarei andando por esta rua vazia. Observando todos os sonhos e ambições de pessoas despedaçadas. Assim como eu.

                Sim, eu costumo ser estranhamente insano.

                Mas eu acredito, meu querido Madara, que você me fará ter um sonho. Então eu poderia finalmente abandonar esta rua e conhecer todas as outras.

                Eu irei esperar por você, Madara. Esperar que você me dê um sonho.

                Enquanto isto não me acontece eu continuarei aqui. Vagando solitariamente pela Avenida dos Sonhos Despedaçados.