Ainda era cedo quando cheguei em casa. Preparei um macarrão instantâneo e comi sem vontade. Para falar a verdade, só comi realmente porque tinha acabado de pegar uma gripe daquelas e não queria ficar mal novamente. Fiquei pensando o resto da tarde que semana que vem Thomas iria viajar, me deixaria sozinha. Mas como eu iria fugir agora sem a ajuda de Guilherme? Eu não tinha dinheiro, não tinha nada, não sabia nem onde era o terminal para pegar um ônibus. Eu poderia pegar uma carona com algum caminhoneiro, mas nunca gostei de caminhões, e como eu saberia que ele estava realmente me levando para o lado certo? Vamos combinar que eu sou péssima em Geografia.

 As horas temem em não passar rápido. Às vezes eu fico bem chateada com a hora, ela sempre voa quando queremos que ela ande lentamente e é muito lenta quando queremos que ela passe logo. Por que ela simplesmente não entra em acordo com a gente, e combina quando é para passar rápido e quando é para demorar. Droga, eu mal entendo os meus próprios pensamentos.

 - Vou assistir a um filme, pra ver se a hora entra em acordo comigo. – falei comigo mesma.

 Havia uma caixa cheia de filme na parte debaixo da cômoda da sala. Eu a peguei e procurei por algum que me interessava. Retirei todos os filmes de dentro da caixa e percebi que o fundo da caixa estava descolado.

 - O que é isso? – perguntei a mim mesma. Puxei a parte descolada e lá havia quatro ou cinco DVDs. Em um deles estava escrito “Nossa nova casa”. Decidi então colocá-lo para assisti. – Vamos ver o que tem aqui.

 - Ainda não abre os olhos amor. – disse uma voz que parecia ser do Thomas, ele estava com a câmera na mão descendo do carro.

 - Ai meu amor, me deixa abrir? – uma voz doce de mulher perguntou.

 - Claro que não, se você abrir agora perde toda a surpresa. – disse Thomas abrindo a porta do carona para que essa mulher saísse. – Vem, mas ainda não abra os olhos. Cuidado com o degrau. – puxou ela até a porta. A porta dessa casa que estou bem agora, que Thomas me trouxe a força. – Espera mais um pouco. – disse pegando a chave para abrir a porta.

 - Posso abrir?

 - Ainda não, só mais um segundo. – disse ele e empurrou a porta. – Pronto, agora pode abrir os olhos, meu amor.

 - Ai meu Deus. – disse a moça quando se deparou com a enorme sala de estar.

 - Surpresa! – disse Thomas. – O que achou da nossa nova casa?

 - É linda! – disse a tal mulher se virando para a câmera.

 - Ai me Deus! – levei um susto e dei pause no vídeo. – O que é isso? Algum tipo de brincadeira? – entrei em desespero. Aquela mulher é muito parecida comigo, parece que é minha irmã! É isso! O Thomas não me seqüestrou só porque ele me achou simpática. E sim porque eu sou quase igual a sua ex-esposa. Mas o que será que aconteceu com ela? Ai meu Deus. Coloquei a mão na boca tampando um grito.

 - O que você está fazendo com esse vídeo? – perguntou Thomas. Dei um grito ao ouvi-lo, não havia percebido a sua chegada.

 - Ai, me desculpe, eu só queria ver um filme, e achei essa gravação, quis olhar. Me desculpe. – disse colocando de volta na caixa. – Eu não ouvi você chegar, você não disse que chegaria tarde hoje? – olhei para ele e ele demonstrava dor em seus olhos.

 - Eu quis te fazer uma surpresa. – mostrou as flores que carregava. – E o show foi cancelado.

 - Ah.

 - Me prometa que nunca vai pegar esses vídeos outra vez. – disse me puxando pelos braços.

 - Você ta me machucando Thomas. – eu disse e olhei em seus olhos que só aparentavam dor. Ele me levantou do tapete com toda a força que usava.

 - Me prometa! – repetiu ele.

 - Ta bom, ta bom, eu prometo. Agora me larga que você está me machucando.

 - Desculpe. – pediu. – Vou tomar banho, guarde tudo isso.

 - Ta bom.

 Enquanto ele subia as escadas fui tirando todos os DVDs do chão e colocando-os dentro da caixa. Será possível que ele só me seqüestrou pra me colocar no lugar de sua ex-esposa? Eu não sou ela e nunca serei! Fui preparar o jantar enquanto ele tomava banho. Essa será uma noite bem longa.