Sobrevivendo escrita por tamiladybug


Capítulo 1
Capítulo 1 - Uma noite que mudou a minha vida


Notas iniciais do capítulo

Espero realmente que gostem. Estou torcendo para isso. :)



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 Já havia anoitecido e eu estava preparando o jantar. Pensava, ao som da panela de pressão, como meu último ano foi horrível. Ele, meu maior pesadelo que se chamava Thomas, ainda não havia chegado em casa e eu me lembrava da minha última noite de liberdade seguida de um ano de tristeza.

Era uma noite de sexta-feira do dia 14 de Agosto. Meu patrão havia pedido que eu ficasse um pouco mais no trabalho, pois ele ainda precisava de minha ajuda. Eu fiquei. Quando fui embora era 19h, estava frio e chovia bastante. Não havia ninguém na rua, a não ser ele que me cumprimentou na semana anterior. Parecia ser um homem simpático, ele era 15 anos mais velho do que eu. Eu tinha 17 anos e ele 32 anos. Vestia roupa social e parecia ser bem gentil. Não me incomodei quando ele havia atravessado a rua para o meu lado, mas ele começou a andar na minha direção, tentei desviar, mas ele me puxou.

- Não grita. – ordenou ele.

- Me larga. – eu disse tentando me soltar de seus braços.

- Fica calada. – disse ele enfiando algo pontudo nas minhas costas, parecia um canivete.

- Socorro. – gritei em vão, não havia pessoas na rua.

- Fica calada. – repetiu. Eu senti quando ele fez um pequeno corte em minhas costas. – Se você gritar outra vez eu terei que te machucar e nós dois não queremos isso não é mesmo? – perguntou. Eu concordei. – Boa garota. Vamos para o carro, você não sabe o que teu futuro te reservou. Mas antes... cadê o seu celular?

- Eu não tenho celular. – menti. Eu tinha prendido o celular no sutiã.

- Eu te vi falando no celular semana passada.

- Eu fui assaltada, nesse fim de semana.

- Se eu achar seu celular na sua bolsa você vai se arrepender.

- Tudo bem. – disse. Mesmo que ele achasse no meu sutiã não faria mal, ele disse que “se achasse o celular na bolsa” e ele não estava na bolsa.

- Vamos. Entra ai, e não tente fugir. – mandou ele. Eu obedeci, mas tentaria fugir.

Passou meia hora e meu celular começou a vibrar, minha família já estava me procurando. Eu não podia atender, menti quando disse que havia sido roubada, se atendesse ele poderia me matar. A viagem foi longa, bem longa. Ele dirigiu sem parar. O cansaço falou mais alto e eu dormi por algumas horas. Quando acordei estávamos em uma estrada, não havia muito movimento de carros. Eu tinha que ficar sozinha para ligar para a polícia ou para os meus pais.

- Preciso ir ao banheiro. – informei.

- Não podemos parar. – ele disse friamente.

- Eu PRECISO ir ao banheiro, ou quer que eu faça as minhas necessidades aqui mesmo? – o encarei.

- Tudo bem, vou parar em algum posto. Mas não tente fazer nenhuma gracinha. – me olhou com sorriso nos lábios.

- Não seria louca em tentar. – respondi sorrindo também.

- Muito bem, estou gostando de ver que você é uma garota inteligente. – ele piscou para mim.

Paramos em um posto na estrada. Ele me mandou descer e disse novamente para eu não tentar fazer nenhuma gracinha. Desci com a minha bolsa e decorei bem a placa do carro.

- A chave do banheiro das mulheres, por favor. – ele pediu ao frentista.

- Está aqui. – entregou a chave. O olhei com desespero nos olhos e esperava que ele pudesse ter entendido. – Se o senhor quiser ir ao banheiro também, é só ir, o banheiro dos homens não tem chave.

- Tudo bem, obrigado.

- Por nada senhor.

Caminhamos até um corredor e ele abriu a porta do banheiro para mim.

- Entre e não demore, pois a viagem ainda é longa.

- Está bem. – respondi sorrindo ironicamente. Eu poderia matá-lo se estivesse com aquele canivete dele.

Entrei ao banheiro e retirei meu celular do sutiã. Estava sem bateria. Droga. Por que não tinha carregado o meu celular? Precisava pensar em outra coisa. Coloquei meu celular de volta no sutiã. Remexi na minha bolsa e achei uma agenda e uma caneta. Escrevi meu nome, o número do telefone da minha casa, os números dos celulares dos meus pais e o número da placa do carro. Seguido de um recado: “Fui seqüestrada, por favor, ligue para a polícia e dê essas informações. Obrigada”. Aliviei-me rapidamente e depois achei alguns bandaids na minha bolsa e usando-os colei o recado no lado de dentro da tampa do vaso sanitário. Pensei em escrever outro recado e dar para o frentista. Escrevi para que ele fosse até o banheiro e levantasse a tampa do vaso sanitário. Dei descarga e abaixei a tampa. A minha única esperança era que ele pudesse ver o bilhete que eu havia deixado. Lavei as mãos e sai do banheiro.

- Agora podemos ir. – o informei. – Mas como você disse que a viagem é longa é melhor comprarmos uma garrafa de água e alguma coisa para comermos.

- Pensou bem. – disse ele. Fomos até o caixa e pedimos a água e alguns salgados. Sem que ele percebesse, joguei um papel amassado para o lado de dentro do balcão e o frentista que nos atendeu anteriormente viu e olhou para mim. O seqüestrador, que eu ainda não sabia o nome, estava pagando a conta e sem que ele percebesse, eu olhei para o frentista e apenas mexi os lábios:

- Me ajude, por favor. – pedi. Ele fez um sinal com a cabeça. Ele havia me entendido e ia me ajudar. Pelo menos era o que eu esperava. Ele foi até o bilhete, pegou e desamassou. Pegou a chave do banheiro e falou para uma mulher que parecia ser sua patroa:

- Vou lavar o banheiro, já deve estar imundo.

- Pode ir, mas limpe direitinho. – mandou ela.

- Pode deixar. – ele disse. Olhou mais uma vez para mim e saiu.

O tal seqüestrador terminou de pagar a conta e olhou para mim:

- Vamos? – perguntou.

- Claro. – respondi.

Entramos no carro e eu vi quando o frentista saiu correndo do banheiro para o balcão, ele estava com o meu bilhete nas mãos. Falou alguma coisa para a mulher e já pegou o telefone. Ele estava ligando para a polícia. Eu queria chorar de felicidade, mas o seqüestrador não podia perceber. Voltamos para a estrada e ele começou a prestar atenção na pista.

- Para onde estamos indo? – perguntei.

- Logo, logo você saberá. – respondeu.

- Por que você me seqüestrou? – perguntei e vi sua boca tremendo de raiva.

- Porque sim. Chega de perguntas! – gritou. Ele viu como eu estava assustada e tentou se acalmar. – Eu não quero te machucar docinho. – disse sorrindo e tocando em minha coxa esquerda. – Eu só quero você pra mim. Nada mais. Prometo que te farei muito feliz.

- Mas por que eu?

- Sabe. – continuou. – Você me conquistou com sua simpatia quando respondeu o meu “OI” e eu fiquei encantado com a sua educação.

Ótimo, minha mãe sempre disse para eu não falar com pessoas estranhas, por que eu tinha que ser educada?

- Eu não vou te fazer mal nenhum, só quero você comigo e você será feliz, não vai mais precisar trabalhar. Eu te darei uma vida de princesa.

- E se eu não quiser? E se eu quiser continuar trabalhando? E se eu quiser ter a minha vida de volta em Santos?

- Calma gracinha.  Você não vai se arrepender em me obedecer, vai adorar viver comigo. – disse ele. Em seu olhar só havia desejo e maldade.

- Você não perguntou se era isso que eu queria quando me seqüestrou.

- Depois de um tempo você se acostuma e nunca mais vai querer ir embora.

Já havia passado horas desde que saímos do posto, já havia clareado. Será que haviam conseguido falar com a polícia? Era tudo o que eu esperava.

- Que horas são? – perguntei.

- Seis e meia. – respondeu.

- Qual é o seu nome?

- Eu não me apresentei ainda não é mesmo? Desculpe-me por isso. – ele disse sorrindo. – Meu nome é Thomas e o seu?

- Mariana. – menti.

- Não minta. Você tem que dizer o nome que está no seu RG, que afinal, logo teremos que providenciar um falso.

- Bianca. – respondi. Não podia mais mentir, ele iria descobrir de qualquer maneira.

- Você dormiu pouco. – observou. – Não quer dormir mais?

- Não. Mas pelo que vi você não dormiu nada.

- Estou à base de café e energético. Se quiser um pouco tem no banco de trás.

- Não, obrigada. – respondi. Bem que seria bom um energético naquela altura, mas vai saber se não era droga ou boa noite cinderela. Seria mais fácil para ele me domar assim. – Mas vou comer um pouco. – completei.

- Eu vou parar daqui a pouco para mudar seu visual e já vou comer também.

- Mudar meu visual? Por quê? – perguntei assustada.

- Já devem estar te procurando. Você tem que ficar diferente caso algum policial nos pare e já vou arrumar um RG falso para você. E seu novo nome vai ser Mariana, como você escolheu.

Passou meia hora e ele parou em uma cidadezinha e me levou a uma casa que parecia mais com um barraco.

- Pinte e corte o cabelo dela Fabiana. Você ta me devendo. – ordenou ele.

- É pra já Thomas. – piscou para ele. – Vamos menina, sente-se aqui. – pediu ela. Eu sentei e fiquei com medo, pois ela poderia me deixar careca caso fizesse algo errado.

- Eu vou mudar o visual também, depois volto, e não tente fugir. – disse ele.

Ela cortou o meu cabelo, que antes era bem comprido e liso, na altura dos ombros. Depois pintou o meu cabelo, que antes era castanho escuro, de ruivo. Assustei-me ao olhar no espelho.

- Ficou muito diferente. – comentei. Realmente estava diferente, mas não estava feio, o corte foi bem feito e a tintura não estava manchada.

- Você está ainda mais linda. – elogiou Thomas sorrindo. Ele tinha acabado de entrar na sala. Também estava diferente, mais bonito. Antes ele tinha o cabelo na altura da nuca, loiro, estilo de surfista, agora estava bem curto, quase careca. Ele trocou a roupa social por roupas esportivas, bermuda e camiseta regata. – Coloque esse vestido e depois vou tirar uma foto sua, para colocar no novo RG.

- Ok. – peguei o vestido e fui trocar de roupa. O vestido era bonito. Não era curto, um pouco abaixo do joelho e combinava com as sandálias que estava usando.

- Uau. – disse Fabiana. – Você está linda, parece uma mulher.

- Obrigada. – disse séria. Era a única coisa que eu podia dizer.

- Vamos tirar a foto, fica aqui nessa parede branca. – pediu. Eu continuei séria e ele bateu a foto. – Pronto, agora assina aqui com esse nome. – assinei. – Agora fica aqui com a Fabiana que eu já volto. – ele saiu da sala.

Ele voltou depois de uma hora. Entregou-me meu RG com o nome de Mariana e com 19 anos. Agradeceu, se despediu de Fabiana e fomos para o carro.

- Espera ai, que carro é esse? – perguntei. Não era mais o mesmo carro, não era mais a mesma placa que eu havia dado para o frentista, ele era mais esperto do que eu.

- Eu troquei, esse é mais bonito. Vai saber se alguém te reconheceu com aquele outro carro. – disse ele. Mas era mentira, eu sei que ele havia percebido que eu tinha dado pistas para o frentista, ele era mais esperto do que eu imaginava.

Entramos no carro e seguimos viagem, eu estava cansada e resolvi dormi, não ia ter como eu fugir mesmo. Quando acordei eu estava em uma cama e ele estava dormindo ao meu lado. Pensei que aquela seria uma ótima chance para fugir, mas procurei a chave do quarto e não achei em lugar nenhum. Dias se passaram e eu resolvi entrar no jogo dele, fingir que estava gostando dele. A casa em que estávamos era dele. Uma casa grande e bem aconchegante. Ele encontrou o meu celular, mas eu havia tirado o chip e guardado em segurança. Ele havia tentado deitar-se comigo duas vezes, mas eu disse que era menor de idade e que se ele tentasse me agarrar a força iria ser preso por pedofilia. Ele dizia que no meu novo RG eu era maior de idade, mas me respeitou e disse que iria esperar eu completar 18 anos. Meu aniversário era em Fevereiro, eu não queria ficar tanto tempo com ele.

Meses se passaram e ele resolveu me tirar de casa e dizer onde nós estávamos. Gramado, Rio Grande do Sul. Como poderia ser tão longe? Ele não deveria ter coração mesmo, seria quase impossível para fugir. Era Dezembro e de noite ele me levou para conhecer a cidade. Gramado era uma cidade linda, havia luzes para todos os lados. Voltamos para casa logo.

Chegou o dia do meu aniversário. Eu faria 18 anos, mas pelo RG falso, faria 20 anos. Ele me obrigou a deitar-se com ele. Eu não tive outra escolha, tinha que ganhar a confiança dele para começar a sair de casa. Pensei em bater com força na cabeça dele com uma frigideira, mas não tive coragem, ele só ficaria ainda mais irritado. Essa coisa de bater na cabeça da pessoa e ela desmaiar, só acontece em novela. Aquela noite que ele me obrigou a deitar com ele, foi a pior noite da minha vida. Naquela hora eu não sentia só ódio dele, sentia nojo também. Sempre o obrigava a usar camisinha, pois eu não queria ter um filho da pessoa que eu mais odiava, e não queria pegar nenhuma doença daquele verme.

Agora, depois de um ano e depois de ter dado tudo o que ele queria, ele passou a confiar em mim e me deixou sair sozinha, ir até o mercado, essas coisas. Meu cabelo havia crescido, estava no meio das costas, só as pontas estava ruivo. Lágrimas caiam de meus olhos ao me lembrar de tudo que eu passei, da minha família que já deve ter perdido as esperanças de me encontrar viva e dos meus amigos. Escutei um barulho na porta e olhei. Thomas havia chegado carregando um embrulho.

- Olá minha princesa. Que cheiro gostoso. – disse ele ao chegar na cozinha e me beijar. – Trouxe uma coisa para você, presente de um ano que estamos juntos e felizes.

- Obrigada. – fingi um sorriso. Abri o embrulho e era um lindo vestido. – É muito lindo. Adorei.

- Eu sabia que você iria gostar. O jantar já está pronto?

- Quase, daqui a cinco minutos eu coloco na mesa.

- Ótimo, vou me trocar. – ele saiu e voltou quando eu estava preparando a mesa. – Como foi o seu dia querida?

- Foi bom. Fui até o mercado comprar as coisas para a janta e voltei para casa. – disse me sentando à mesa. Lembrei-me do rapaz que me fitava no mercado. – Assisti a um filme e vim preparar o jantar. – completei. – E você?

- Consegui que uma banda fechasse com uma gravadora. Eles são bons, nos renderão muito dinheiro. – disse ele animado. Ele era empresário de bandas e tinha uma boa herança de família.

Enfim terminamos o jantar e fomos para a cama. Ele não quis dormir, queria mais. Eu estava triste, mas tinha que fazer o que ele pedia, afinal, restava pouco para que ele tivesse 100% de confiança em mim. Eu ia fugir, ainda não sabia como, mas eu ia descobrir.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem. Deixem reviews. Qualquer sugestão é bem-vinda.



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