Pedido de Natal escrita por EmyBS


Capítulo 1
Pedido de Natal




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Era uma cozinha ampla. Daquelas com uma enorme bancada e uma pequena mesa no centro. Junto à pia onde pratos, talheres e copos se lavavam sozinhos. Havia uma janela aberta, como as típicas das casas de bonecas, que davam para um grande jardim.


No canto direito próximo a porta de entrada, à esquerda da escada e embaixo do candelabro de vaga lumes português, uma mulher numa altura normal, loira com os cabelos longos presos num coque malfeito no alto da cabeça e grandes olhos azuis acinzentados ria preparando alguma massa que possuía uma coloração ora lilás ora alaranjada com pintas verdes.


O aroma do ambiente despertava os sentidos com um toque de alfazema, molho madeira, canela, pizza e pimenta que fazia o nariz coçar levemente.


Lysander torceu o nariz fino, herança do pai, sentado na mesa observando atentamente a maneira delicada da mãe em misturar os ingredientes estranhos. Ele tinha certeza que a maioria deles não combinavam entre si, mas nada parecia impossível para sua mãe e era engraçado vê-la tão compenetrada cantando músicas antigas e velhas rimas dos seus tempos de colégio. Algumas vezes ele se perguntava se a mãe havia mesmo crescido ou tudo não fazia parte de um mundo de ilusão.


Torceu o nariz mais uma vez.


- Saúde. – a voz do irmão ao seu lado o tirou dos pensamentos, então encarou os olhos castanhos acinzentados que combinavam com o nariz pequeno e arredondado, herdado da mãe.


- Eu não espirrei. – reclamou, piscando algumas vezes os grandes olhos azuis esverdeados enquanto Lorcan apenas sorria observando seu nariz empinado torcer mais uma vez – ATCHIM...


Lysander espirrou em cima do irmão balançando-lhe os fios loiros escuros diante do rosto, mas Lorcan não reclamou como seria de se esperar e apenas riu da careta contrariada do outro enquanto arrumava seus cabelos no lugar.


Lorcan sentiu o coração falhar ao ver Lysander fechar os olhos e sorrir docemente enquanto ele acariciava o rosto macio deste. Lysander tinha o mesmo sorriso da mãe com os lábios carnudos que passavam uma sensação de paz e perfeição sem fim.


- Então Ly já vez seu pedido de natal? – a voz doce da mãe fez Lysander recuar e corar levemente enquanto voltava a se apoiar na mesa.


- Já.


- Eu não acredito que você ainda acredita nisso! – Lorcan lançou um olhar incrédulo ao irmão que empinou ainda mais o nariz em desafio.


- Você deveria acreditar também. – Luna disse meigamente colocando a estranha massa numa forma brilhante.


- Isso é coisa de criança!


- Eu não sou criança!


- Mas está parecendo.


- Meninos! – Luna sorriu se virando para os dois filhos.


Eram gêmeos e ao mesmo tempo tão diferentes. Uma mistura perfeita dela e do marido como muitos costumavam comentar. Cada um tinha puxado uma característica de cada um dos pais.


- Não é uma questão de idade e sim de acreditar, não é mesmo mãe?


- Exatamente querido! – Luna piscou voltando sua atenção para uma nova mistura azulada de cheiro agridoce, com um toque de algodão doce.


- Vamos fazer dezessete no próximo ano.


- Eu não tenho culpa se você é descrente. – Lysander deu a língua para o irmão que rolou os olhos sorrindo desistindo de brigar, pois sabia que não conseguiria dobrar o irmão.


- E qual foi o seu pedido? – Lorcan olhou desconfiado para o irmão que corou e balançou a cabeça energicamente.


- Não posso falar.


- Por quê?


- Porque se não, não se realiza! – Lysander falava como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.


- Mas eu sou seu irmão.


- Não posso.


- Gêmeo.


- Não posso. – Lysander murmurou com a voz fraca de tão próximo que estava do irmão, mais alguns milímetros e seus narizes se roçariam num beijo de esquimó.


- Por favor! – Lorcan parecia ter lido os pensamentos do irmão, pois roçou levemente os narizes fazendo o outro entreabrir lentamente a boca enquanto se perdia no castanho acinzentado.


- Se ele contar não vai se realizar, Lorcan – a voz sonhadora da mãe fez o rapaz se afastar ainda encarando os olhos azuis esverdeados que piscavam rapidamente.


- Eu vou me arrumar. – Lysander levantou e se dirigiu a escada.


Lorcan ainda observava por onde o irmão tinha saído quando a mãe mais uma vez o tirou de seus pensamentos.


- Quando você e seu irmão vão arrumar uma namorada?


Lorcan suspirou largando o corpo na cadeira. Mais uma vez esse assunto. Era sempre assim quando um deles se separava do outro. Perguntas sobre relacionamentos.


- Eu soube que o Hugo está namorando. – Luna comentou se equilibrando para abrir um armário alto demais.


- Namorar uma prima não é uma grande coisa. – Lorcan mordeu o lábio cruzando os braços.


- Ah querido, eles formam um belo casal.


- Tão belo quanto tio Harry e tio Draco. – o rapaz murmurou.


Luna parou o que estava fazendo e foi se sentar ao lado do filho.


- O que tem o tio Draco e o tio Harry?


Lorcan desviou os olhos da mãe e apenas deu os ombros sem importância.


- Eles formam um belo casal – Luna acariciava o cabelo castanho claro do filho – Uma pena não terem descoberto antes, assim Gina não teria sofrido tanto.


- E não teríamos Albus, James, Lily e Scorpius. – Lorcan fez uma careta quando a mãe apertou sua bochecha ossuda.


- É verdade meu querido – Luna se levantou – E agora tia Gina está feliz com Blaise, dizem até que em breve vocês terão outro priminho.


Lorcan fez uma careta.


- Eles não são nossos primos.


- De consideração querido. – Luna beijou a cabeça do filho – Vá se arrumar também.


Lorcan subiu as escadas lentamente, parando apenas na porta do banheiro que estava entreaberta. Viu a fumaça colorida que vinha da banheira saindo pela porta e sorriu, abrindo-a discretamente. Entrou ouvindo o suave barulho de água sendo movimentada no canto esquerdo e parou de braços cruzados, observando.


Alheio a presença do irmão, Lysander brincava graciosamente com as espumas de diversos aromas que se formavam. O rapaz amava aquela banheira desde pequeno. O cabelo loiro parecia do mesmo tom que o do irmão molhado. As mãos que buscavam as espumas eram longas e finas como as do irmão. O corpo era magro de quem estava se desenvolvendo rápido demais como o irmão. Ficou de joelhos levantando o corpo magro para fora da banheira atrás de uma bolha particularmente difícil de estourar deixando a água escorrer pelo corpo.


Quando conseguiu finalmente estourar a bolha sentiu o cheiro de capim-limão que lembrava do irmão e fechou os olhos fascinado, quando voltou a abri-los encontrou os olhos castanhos acinzentados de Lorcan a lhe encarar intensamente.


- Eu estou no banho. – reclamou voltando a se sentar no fundo da banheira e corando levemente.


- Nos sempre tomamos banho juntos. – Lorcan sorriu tirando a camiseta e se aproximando da banheira.


- Acho que já passamos da idade disso. – Lysander evitava deliberadamente olhar para o irmão concentrado na espuma que envolvia seu corpo.


- Qual o problema Ly? – Lorcan segurou o queixo do irmão observando os olhos azuis esverdeados escurecerem levemente.


Lysander suspirou deixando a cabeça pender na borda da banheira fechando os olhos.


- Nada.


Manteve os olhos fechados enquanto ouvia o som do cinto ser aberto, a calça ser retirada e jogada no chão. Sentiu a suave ondulação da água quando Lorcan entrou na banheira e se recriminou ao se arrepiar quando a perna do irmão encostou-se à sua.


- A banheira parece menor agora. – Lorcan sorriu observando atentamente as reações do irmão que parecia a cada instante mais tenso.


- Verdade. – Lysander abriu os olhos e engoliu em seco vendo o irmão sumir nas espumas e reaparecer tão perto dele.


- Lembra que eu sempre dava banho em você?


Lorcan não esperou resposta, pegou o sabonete com aroma de salada de frutas e deslizou-o pelo peito do irmão.


Com muito custo Lysander reprimiu um gemido involuntário ao sentir as mãos do irmão percorrerem seu corpo.


Peito, barriga, pernas, costas...


Sentia o corpo em chamas quando segurou o punho do irmão, tomando-lhe o sabonete da mão deste.


- E eu dava banho em você. – sua voz saiu mais rouca do que pretendia, mas isso não importava.


Lorcan tinha o corpo um pouco mais definido que o seu, por fazer parte da equipe de quadribol, e essa pouca diferença parecia muito debaixo dos dedos de Lysander que passava agora por ali repetindo o que o irmão tinha feito em si.


- Você lembra? – Lysander sentiu a mão do irmão percorrer sua coxa segurando-o de maneira firme e não conseguindo segurar o gemido que escapou de seus lábios.


- A porta está aberta. – Lysander mordeu o lábio indeciso enquanto o irmão, com um aceno de varinha, fez a porta fechar discretamente junto com o trinco.


- Não está mais. – Lorcan voltou a massagear o irmão que arfou, mas logo sentiu os dedos longos e trêmulos dele o envolverem também.


Aquilo era loucura. Haviam feito aquilo na última vez que tomaram banho juntos. Quantos anos tinham? Ele não se lembrava ao certo. Foi quando começaram a descobrir o corpo, mas Lorcan tinha certeza que ninguém o envolvia como o irmão e nem gemia como este. Era intenso, era mágico, era absurdamente bom.


Estrangulou o grito ao sentir chegar ao máximo. Deixou o corpo cair na banheira. O coração a mil. Não tinha forças para abrir os olhos. Sabia que dá última vez o irmão havia ficado sem falar com ele por uma semana, mas precisava daquilo.


Precisava ouvir Lysander gemer.


Precisava sentir a pele dele em suas mãos.


Precisava.


Precisava se sentir dessa maneira leve.


Voltou à realidade ao ouvir o barulho da água e abriu os olhos lentamente vendo o irmão se enrolar na toalha branca. Sentiu um aperto no peito. Não podia deixar o irmão ignorá-lo novamente.


- Ly...


Levantou-se também, tentando segurar Lysander ,que recuava, se recusando a encará-lo.


- Ly olha pra mim.


- Me solta...


Seu coração se quebrou ao ver lágrimas nos olhos do irmão. Não acreditava que havia feito o irmão chorar. E para que? Para satisfazer um desejo bobo.


- Ly, olha pra mim...


Os olhos azuis esverdeados brilhavam pelas lágrimas, o rosto levemente corado, a boca aberta pelo choro reprimido. Lorcan se perdeu totalmente na face debilitada e magoada do irmão.


Puxou seu rosto fazendo suas bocas se encontrarem pela primeira vez. Lysander estava com o gosto salgado das lágrimas, mas misturado havia mel. Lysander era doce. Era doce e viciante. Deslizou os dedos pelos cabelos molhados dele com uma das mãos enquanto a outra puxava-o pela cintura sentindo a maciez da toalha que infelizmente envolvia o corpo do irmão. Gemeu ao sentir as mãos dele deslizarem pelo seu peito e se emaranharem nos seus cabelos. Juntou ainda mais os corpos mordiscando o lábio inferior de Lysander que gemeu se segurando em seu ombro e deixando-o ainda mais descontrolado.


Deslizou a boca beijando o rosto do irmão de maneira carinhosa.


- Eu te amo.


Murmurou no ouvido deste sentindo o corpo do outro estremecer.


Lysander o empurrou levemente olhando desconfiado para os olhos castanhos acinzentados do irmão.


- O que disse?


- Eu te amo Ly... – Lorcan segurou firme o rosto do irmão – Te amo como nunca amei ninguém, te desejo como nunca desejei ninguém...


Lysander continuou encarando o irmão sem reação.


- Me perdoe por te amar... – Lorcan sentiu seus próprios olhos se encherem de lágrimas enquanto percorria o pescoço do irmão com os lábios tentando esconder o rosto – Eu não sei o que fazer sem você.


- Lo...


Lysander acariciou ternamente os cabelos úmidos do irmão abraçando-o com força.


- Eu também te amo, Lo.


Lorcan deslizou os lábios até encontrar novamente a boca do irmão. Era um beijo suave, excitante, cheio de desejo e ternura. Eles não sabiam quanto tempo ficaram ali se beijando abraçados no banheiro até ouvirem a conhecida voz distraída da mãe.


- Meninos, já acabaram?


Lysander deu um pulo corando violentamente enquanto Lorcan segurava o riso abraçando o irmão.


- Já vamos sair, mãe.


Lorcan podia sentir o coração disparado do irmão e o abraçou ainda mais forte. Tudo parecia perfeito. Ele tinha Lysander nos seus braços. Eles se amavam.


- Então vai me contar qual o seu pedido de natal?


Lorcan se separou do irmão dando um estalinho nele e indo procurar suas roupas.


- Acho que agora posso contar.


Lysander sorriu vestindo a calça.


- Agora você pode é?


Lorcan ergueu uma sobrancelha antes de vestir a blusa.


- Posso.


- Por quê?


Lysander riu puxando o irmão para mais um beijo que fez o outro se esquecer de tudo.


- Porque ele se realizou.


Lorcan olhou sem entender para o irmão.


- Eu pedi para você me amar como eu te amava.


Lysander sorriu esfregando seus narizes.


- Eu sempre amei Ly... eu sempre te amei...


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