A musica animada tocava nos auto-falantes enlouquecendo toda a multidão. Ninguém parava um segundo sequer. Todas as pessoas presentes dançavam, cada um com seu passo estranhos, beijando, bebendo ou fazendo nada, como eu. Uma musica mais calma começou a tocar - recebendo algumas vaias daqueles mais animadinhos - mais logo foi aceita como todas as musicas que foram tocadas naquele dia. Os casais - apenas os verdadeiramente apaixonados - começaram a dançar mais agarrados, e logos a pista estava novamente cheia de pessoas que estavam ali para curtir.

Eu havia parado ali apenas por acidente, não tinha nada para fazer naquela noite e fora convidada para aquela social. Como não tinha mesmo nada para perder, resolvi vir.

Eu conhecia poucas pessoas naquele lugar. A dona da festa, uma amiga da faculdade de arquitetura, andava de um lado para o outro tentando entreter todos os seus convidados e solucionar os pequenos problemas que sempre há nas festas. Eu estava vestida com um tubinho preto, de um ombro só, uma sandália - da minha mãe - também preta com alguns detalhes em strass e o cabelo natural caindo em cascata em minhas costas. Estava com um drink na mão, encostada na parede e balançando no lugar ao som da musica que me agradava muito.

Estava tão distraída que nem percebi o vulto chegando ao meu lado.

- Nunca havia te visto nas festas de Charisse. - Quase transpassei a parede com o susto que levei. Meu coração acelerou com a adrenalina que correu pelo meu corpo, então demorei um pouco para responder o cara que havia parado ao meu lado.

- Não sou lá muito sociável. - respondi casualmente. O cara parecia ter uns 3 anos a mais que eu, era alto, seus cabelos eram pretos e os olhos de um azul hipnotizante.

- Entendo seu lado.  Sou assim às vezes também. – Olhei-o com curiosidade. Ele não parecia alguém que poderia ficar horas sozinho e achar a melhor coisa do mundo.

- Você não me disse seu nome. – Dei uma bebericada em meu copo e ignorei –quase – completamente a sua ultima declaração.

Ele fez uma cara estranha, talvez não percebendo o que eu havia dito – não o iria culpar, as musicas tocavam realmente altas – mas depois entendimento passou pelos seus olhos e ele lembrou que algum dia alguém havia ensinado-o bons modos.

- Mil desculpas. Meu nome é Jason. – ele disse – E o seu?

- Carla – respondi mais uma vez bebendo do meu copo.

http://www.youtube.com/watch?v=Ou7P0QX25IY

Outra musica começou a tocar. O DJ parecia estar selecionando aquela hora da noite para coisas mais românticas, pois outra musica romântica e calma começou a tocar.

- Gosta deste estilo de musica? – me perguntou Jason.

- Um pouco. – respondi.

- É um bom estilo de musica para se dançar – virei a minha cabeça um pouco espantada com a declaração dele – o que doeu o meu pescoço um bocado.

- Isso é algum tipo de indireta? – Ao contrario da maioria das mulheres eu não perdia tempo com joguinhos, então qualquer um que tentasse “jogar” comigo tinha suas esperanças perdidas desde cedo.

- Não, não é. – ele respondeu e me pareceu estar falando a verdade. – Mas quer dançar comigo?

Mesmo ele descartando a indireta fiquei um pouco impressionada que ele me fizesse aquele convite. E como ficar naquela posição – em pé, encostada na parede gelada com um copo a mão – estava começando a me incomodar, não rejeitei o pedido. Ele me puxou para o meio da multidão e pôs os braços em minha cintura. Coloquei os meus em seu pescoço.

Os nossos movimentos eram calmos e não saiamos muito do lugar. A musica não era longa, então logo ela acabou. O DJ então voltou a tocar musicas mais dançantes. Eu separei-me de Jason e voltei para aonde estava no canto da parede. Ele me seguiu.

- Vejo que não é muito de dançar. – ele disse. Não sei se era impressão minha, mas ele tinha um tom de decepção na voz.

- Como disse anteriormente, sou anti-social às vezes. – respondi.

- Mas isso não é motivo para não dançar. – ele insistiu.

- Não, não é. – assenti. Agora sem a bebida, que havia acabado, eu tinha que olha-lo mais diretamente, o que atiçava a minha timidez.

- Você é um pouco difícil de compreender. – ele disse. Uma frase estranha.

- Eu sou apenas real. – respondi.

Um garçom passou perto de nós oferecendo alguns drinks. Jason pegou um para ele, eu não peguei outro. Tinha que dirigir para casa. Lembrando de que tinha que voltar para casa, eu olhei o relógio. Tinha perdido a hora naquela festa.

O relógio marcava 2:15 da manhã. Eu tinha que ir. Podia não morar mais com meus pais, mas tinha faculdade e trabalho no dia seguinte.

- Desculpe Jason, mas vou ter que ir. – disse virando para ele.

- Mas é tão cedo, fique mais. – ele insistiu.

- Não posso, tenho faculdade e trabalho amanhã. – disse. Fiquei um pouco decepcionada por ter de partir, mas é a vida.

Não esperei que ele me fizesse outro pedido para ficar e fui para a porta. A casa de Charisse era enorme e tinha um jardim maravilhoso. Meu carro estava no fim da rua, não muito longe da casa. Comecei a percorrer o jardim para poder ir para rua quando ouvi alguém gritando meu nome.

- Carla! – Virei-me e vi Jason correndo em minha direção.

Ele nem me deu tempo de perguntar o que estava fazendo e me deu um beijo. Primeiro eu fiquei confusa, achando que ele tinha bebido demais por um dia. Mas depois eu cedi ao beijo, o que era inevitável. Nossas línguas travavam uma dança incompreensível, que só nos conseguíamos acompanhar. A boca dele tinha gosto de menta, o que me deixou mais ávida, acelerando um pouco o ritmo. Não sei por quanto tempo ficamos nos beijamos – segundos? Minutos? Horas? Dias? Eras? – mas tivemos que parar para respirar. Nós dois estávamos arfando ao nos separar.

Ele arredou para trás e assentiu.

- Agora você já pode ir. – Foi o que ele disse. Olhei-o como se estivesse louco. Como assim, ele me beijava e falava que eu podia ir embora. Mesmo confusa, eu fui. Mas a cada metro eu olhava para trás, esperando vê-lo, apenas para ter certeza que ele não fora um sonho.