Brasil, 29 de maio de 2010

Passar em frente aquela loja era sempre muito estranho, eu ficava com uma vontade louca de entrar e comprar alguma coisa. Mas o quê? Nada que tinha naquele lugar poderia me interessar.

Meu nome é Kaio, eu tenho 15 anos e estou no ensino médio, levo uma vida típica de um garoto da minha idade: escola, casa, cinema com a galera, é basicamente isso o que eu faço. Amanhã é meu aniversário, 16 anos, e minha mãe disse que eu posso escolher  qualquer coisa que eu quiser. Estou pensando em pedir um notebook, ou quem sabe um Nintendo wii, ainda não decidi, só sei que vai ser algo bem legal.

Enquanto Kaio pensava no que iria pedir de presente para a sua mãe ele parou em frente a velha loja do senhor Aguilar, um homem que morava no bairro desde que os pais dele eram pequenos e que nunca havia perdido o sotaque e o jeitão de espanhol. Era esse lugar que deixava o garoto intrigado, afinal o que era tão atraente naquele depósito cheio de quinquilharias da época da Segunda Guerra que ninguém nem conseguia enxergar direito de tão cobertas de poeira que estavam. Além disso, o velho Aguilar não gostava de gente que entrava na loja só pra xeretar, seus amigos já tinham sido expulsos de lá a vassouradas inúmeras vezes, e por mais curiosidade que entrar ali lhe despertasse, não valia a pena apanhar por isso.

____ Ei Kaio! Tá dormindo?

Marina, minha melhor amiga desde que eu consigo me lembrar estava me cutucando, tentando me tirar do transe no qual eu havia entrado, tentando descobrir alguma coisa que eu pudesse comprar só pra poder conhecer o interior da loja.

____ Não Marina, tava só pensando em alguma coisa pra comprar da loja do Seu Aguilar.

____ Ui credo! Quem é que vai querer comprar alguma coisa daí, só tem porcaria!

Nesse instante ouvimos um grande estrondo dentro da loja e eu não pensei duas vezes e entrei, talvez o dono do lugar estivesse machucado, eu precisava ajudar.

É engraçado a quantidade de desculpas que alguém pode inventar simplesmente para fazer uma coisa que está com vontade mais não tem coragem. Na hora do barulho, Kaio nem lembrou que o velho poderia ter se ferido, o primeiro pensamento na sua mente foi: “ Caraca, essa era a chance que eu estava esperando, vou conhecer esse lugar por dentro!”

____ Seu Aguilar? O senhor está bem? Eu ouvi um barulho...

____ Garoto, o que é que você quer aqui? O barulho foi essa porcaria de piano que está quase desmontando, eu vou jogar esse monte de lixo fora.

Quando eu olhei para aquele monte de poeira e madeira desmontando que o seu Aguilar estava chamando de piano tive vontade de rir, afinal de piano aquilo ali não tinha nem a lembrança.

____ Vamos niño, ajuda aqui a jogar isso fora!

Eu não sei porque, não consegui entender, mas fiquei encarando a montanha de madeira e pensando em ficar com ele pra mim. Foi nessa hora que eu decidi o que eu ia pedir à minha mãe de presente de aniversário, eu queria um piano, e não podia ser qualquer um, tinha que ser aquele.

____ Quanto que o Senhor está pedindo por ele?

____ Por isso? Yo estou vendendo por R$ 5.000,00

____ Isso é uma piada? Esse troço não vale nem R$ 1.000,00.

____ Então eu prefiro jogar fora!

“Que velho teimoso!”

____ Então eu dou R$  1.600,00 e nenhum real a mais!

Eu tinha que colocar logo um ponto final naquela negociação. Se o velho não decidisse vender, era problema dele, eu podia pedir qualquer coisa mesmo.

____ Pois bem, se você quer tanto ficar com ele, eu te vendo por R$ 2.000,00 e nenhum centavo a menos.

“Velho sovina!”

____ Tá certo Seu Aguilar, eu compro.

____ Então você pode vir amanhã pegar essa tranqueira, e traga o dinheiro.

O garoto apenas balançou a cabeça e saiu da loja, sem ao menos conseguir entender por que diabos ele tinha feito aquela bobagem. Quer ideia pior do que comprar uma coisa velha, cara e que você nem sabe usar? Pois foi isso que o Kaio fez!