Romeu finalmente havia conseguido rebocar seu carro e, depois de consertá-lo, estava quase pulando de felicidade. Admito que ele ficava muito sexy sujo de graxa.

- Eu não sabia que você tinha jeito pra mecânica. – Comentei, sentando no capô do seu carro.

- Querida, eu tenho jeito pra tudo. – Ele piscou para mim enquanto limpava suas mãos em um pano e vinha me dar um leve beijo.

- HEY! – Gabe chegou, pulando de alegria. – Agora que você consertou o carro que tal a gente sair pra comemorar?

- Comemorar aonde? – Joanna apareceu do nada de mãos dadas com Rafa.

- Pronto, acabou o clima. – Romeu reclamou.

- Então... – Gabe começou a explicar cautelosamente. – Eu estava pensando que a gente poderia ir a uma... Boate gay.

Romeu e Rafa começaram a gargalhar desesperadamente como se fosse a coisa mais engraçada que eles já tinham ouvido.

- Eu topo. – Joanna respondeu, para desespero de Rafa. – Sempre quis saber como é dentro dessas boates.

- Você ta zoando com a minha cara, né? – Rafa perguntou e ela começou a tentar convencê-lo a ir.

- Ei, o que ta acontecendo? – Helena apareceu. – Por que eu não fui convidada pra reuniãozinha?

- Nós vamos a uma boate gay. – Joanna afirmou.

- Não vamos não! – Rafa e Romeu negaram ao mesmo tempo.

- Mas nós não podemos sair de novo! – Helena reclamou. – A gente tem um trabalho pra fazer! E é pra próxima semana!

Todo mundo revirou os olhos e a deixou falando sozinha.

À noite, nós acabamos indo à boate gay que Gabe tanto queria e Romeu e Rafa não tiravam a expressão emburrada do rosto.

- Ah gente, ponha um sorriso no rosto. – Joanna pediu quando a gente entrava na boate. – Vai ser divertido.

Ao passarmos pela porta, ouvi uma lésbica comentar com seu amigo gay:

- Hm, carne nova no pedaço. E essa carne ta muito bem passada, hein...

Ficamos em frente ao bar e pedimos algumas bebidas enquanto Gabe admirava o lugar.

- Ta gostando do que ta vendo, Gabe? – Helena perguntou.

- Mas é claro. – Ele sorriu.

- E aí, gata. – A lésbica da porta chegou e praticamente passou a mão na bunda de Joanna.

- EI! Larga da minha namorada! – Rafa resmungou, agarrando Joanna como se fosse sua propriedade.

A mulher bufou e saiu de perto da gente.

- Julieta, vem cá. – Romeu me chamou para o lado dele, olhando desconfiadamente para as pessoas que passavam nos observando.

Eu fiz o que ele pediu, estranhando e, quando cheguei lá ele me surpreendeu com um beijo de cinema, me deixando sem fôlego.

- Nossa, esse daí quer provar com todas as suas forças de que é hetero. – Um cara passou falando com seu amigo/namorado, não sei.

- Cara, como você é idiota. – Helena reclamou com Romeu que me abraçava tentando demonstrar que não era gay.

- Helena, cala a boca. – Romeu pediu e olhou para os lados procurando alguma coisa. Depois, lhe entregou uma caipirinha. – Pronto, isso vai servir. Beba à vontade.

Helena olhou para o copo na sua frente e deu de ombros, bebendo tudo de uma vez só.

- Hey. – Um garoto bem bonitinho se aproximou de Gabe. – Meu nome é Tadeu, tudo bem?

- T-Tudo. – Gabe gaguejou, estranhando o fato de alguém ir falar com ele.

Tadeu se vestia de um jeito bem parecido com o Brendon Urie do Panic! At The Disco. Usava uma calça preta meio apertada, sapatos Oxford e um suspensório cinza por cima de sua camisa creme.

- Você... Quer dançar? – Ele perguntou e estendeu a mão para Gabe que, pasmo, afirmou com a cabeça.

Logo, os dois se afastaram para a pista de dança.

- Aê, finalmente ele vai se divertir um pouco. – Joanna disse.

Logo, Joanna, Rafa, Romeu e eu fomos dançar também.

Quando voltamos, encontramos uma Helena totalmente bêbada conversando com uma lésbica que dava em cima dela descaradamente.

- Meu Deus, você é muito engraçada! – Helena exclamou.

- E você é muito linda. – A garota respondeu.

- Helena, nós temos que ir agora. – Romeu se aproximou de sua irmã.

- Mas ela é muito engraçada, Romeu! Deixa eu ficar mais um pouco!!! – Helena pediu.

- Hm... – Romeu fingiu pensar. – Não.

Ele a puxou da cadeira enquanto ela se despedia da garota. Logo depois, Gabe apareceu com um sorriso gigante no rosto.

- Parece que alguém se deu bem... – Comentei.

Ele afirmou com a cabeça e mostrou um número de telefone em um guardanapo.

- E você vai ligar pra ele? – Joanna perguntou enquanto tentava segurar Helena que não se aguentava em pé.

- Claro, né. – Gabe respondeu como se fosse óbvio.

- Só não liga logo quando você chegar em casa porque senão vai parecer que você ta desesperado. Espera um pouco. – Ela sugeriu.

- Mas eu to desesperado, Joanna. – Gabe riu.

Acabamos chegando em casa mais cedo do que esperávamos e ninguém estava com sono.

Fui pegar meu pacote de cookies que eu havia comprado no dia anterior e me deparei com ele pela metade.

- QUEM FOI O MORTO QUE COMEU OS MEUS COOKIES? – Gritei.

- Ahn, eu acho que esse seria eu... – Romeu respondeu, temeroso.

- Eu não acredito nisso... – Reclamei, fazendo massagem nas minhas têmporas para tentar me acalmar.

Ruffles apareceu do nada e começou a pular no meu colo.

- Alguém pode tirar esse cachorro de perto de mim, por favor? Se não, eu vou ter que estrangulá-lo. – Pedi, irritada. Rafa foi correndo afastar Ruffles de perto de mim.

- Mas qual é o problema com os cookies? – Romeu perguntou, confuso.

- Olha, eu posso estar bêbada, mas você continua sendo o burro daqui. – Helena disse, entre soluços. – Como assim qual é o problema com os cookies? A Julieta ama cookies. E ela nunca divide com ninguém.

- E-Eu não sabia disso. – Romeu disse, aparentemente magoado.

- Então, você não sabe quase nada sobre a sua namorada. – Helena afirmou e logo pegou no sono ali mesmo. Joanna e Rafa a levaram para o quarto e depois foram dormir também.

- Ai ai. – Gabe suspirou. – Acho que eu vou dormir também. E tenho certeza que eu vou sonhar com um certo garoto...

Ele saiu da sala praticamente saltitando em direção ao seu quarto.

Eu bufei e me sentei do lado de Romeu enquanto comia os cookies que sobraram.

- Me desculpa, Julieta. – Ele pediu.

- Tudo bem. Você não sabia. – Comi o último cookie que tinha, mas ainda estava com fome. Olhei para o relógio e ainda eram 23h30.

Me levantei e fui até a cozinha, pegando os ingredientes para fazer um brigadeiro de panela.

- Aquilo que a Helena falou me fez pensar... – Romeu comentou, vindo atrás de mim. – Se eu não sei que a sua comida favorita são os cookies, o que mais eu não sei sobre você?

Eu encarei Romeu.

- Quer saber, se você ta tão preocupado com isso, vamos resolver esse problema. Só espera eu acabar de fazer o brigadeiro.

Quando terminei, sentei no chão da cozinha com a panela no colo e chamei Romeu para se sentar na minha frente.

- Vamos fazer um jogo de perguntas e respostas. – Falei. – Você primeiro.

Quando Ruffles viu que eu segurava uma panela, veio correndo da sala para se sentar ao meu lado e tentar comer o que estava lá dentro. Eu fiz carinho nele, mas impedi que ele comesse o brigadeiro.

- Hmm... Cor favorita? – Romeu perguntou.

- Roxo.

- Animal favorito?

- Elefante.

- Hã? Elefante? – Ele estranhou.

- Com licença, o animal é meu e eu escolho o que eu quiser. – Me defendi. – Elefantes são lindos. Olha o Dumbo, por exemplo.

- Ok, né... – Ele pensou em pergunta. – Fruta favorita?

- Uva.

- Filme favorito?

- De Volta Para o Futuro.

- Música?

- The Heart Never Lies do McFly.

- Lugar?

- Londres.

- Ok. Acho que isso é o suficiente. – Ele concluiu. – Sua vez agora.

- Cor. – Pedi na mesma ordem que ele.

- Azul.

- Animal.

- Leão.

- Fruta.

- Maçã.

- Filme.

- A Origem.

- Música.

- Something dos Beatles.

- Lugar.

- Aqui e agora. Com você. – Ele me olhou com aqueles profundos olhos azuis como o mar.

Deixei a panela de lado – para a alegria de Ruffles – e me joguei nos braços de Romeu, lhe dando mil beijos.

- Eu te amo, sabia? – Falei, entre beijos.

Ele ficou sem saber o que falar e simplesmente sorriu.

Ok, ele era inseguro em falar sobre amor com as pessoas. Eu teria que lidar com isso mais tarde.

No dia seguinte, eu tive que ficar até tarde na escola para terminar um trabalho com o grupo que o professor havia escolhido. E, infelizmente, Eduardo estava nele. O que não deixou Romeu muito feliz, é claro. Mas não havia nada que eu pudesse fazer em relação a isso.

Como o pessoal do grupo de Romeu, já havia feito o trabalho inteiro sem sua ajuda, ele não precisou ficar até mais tarde na escola. Mas, ele combinou que iria passar lá para me buscar. Porque, em suas palavras, “essas ruas estão muito perigosas hoje em dia”. Mas, eu fiquei feliz que ele se preocupava com a minha segurança, por isso aceitei.

Na porta da escola, me despedi do meu grupo, mas Eduardo insistiu que precisava falar comigo.

- O que você quer? – Perguntei, quando todos haviam ido embora.

- Julieta, por favor, me escuta. – Ele pediu e respirou fundo. – Eu não posso mais esconder a verdade. E a verdade é que eu não aguento mais não poder te beijar toda vez que te encontro. Eu não aguento mais não poder conversar normalmente contigo. Eu te amo!

- Er... – Fiquei sem palavras. - Me desculpe, Eduardo, mas você sabe que eu e o Romeu estamos em um relacionamento sério agora...

Ele revirou os olhos quando eu falei “Romeu” e ignorou tudo o que eu havia dito.

– Por favor, espero que você me perdoe por isso.

- Isso o quê? – Perguntei. Mas, antes que pudesse me queixar, ele já estava me beijando com uma certa urgência em seus lábios.

Eu não o beijei de volta. Fiz o contrário disso. O empurrei.

Mas, quando olhei a minha volta, vi que alguém nos observava.

Estava escuro, porém, eu conseguia ver quem era aquela pessoa.

Era Romeu.