Gente Grande escrita por dayane


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Texto não baseado na vida real, qualquer semelhança é mera coincidência.



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Gente Grande

Entrevista feita em 5 de janeiro de 2010

Sua vida?

“ Meu nome é Maria do bom Jesus. Sou alagoana e não amo meu corpo.

Meus cabelos, antes cacheados, são ressecados e quebradiços, a tinta negra, de marca barata, que uso para cobrir os fios brancos e o relaxamento, caseiro e mensal, contribui para tal ressecamento.

Tenho cinqüenta anos, pele, antes branca, queimada e manchada pelo sol, tudo graças à época de minha infância banhada pelo trabalho na roça.

Minha profissão é empregada domestica. Ganho quatrocentos reais para cuidar dos meus filhos e de meu cabelo.

Ganhei generosas estrias pelo corpo e não sei se tenho celulite, já que não sei o que é isto.

Tive doze filhos.

Dos doze, cinco estão casados. Uma mora sozinha trabalha e faz faculdade de engenharia, ela é rica e me orgulho disso, mas não peço dinheiro, já tenho minha vida feita. Dois terminaram a escola e trabalham, mas ainda moram comigo. Outra esta jogada pelas ruas em meio as drogas. Três morreram, um de CIDA (HIV), uma no parto complicado e outra fora arrastada por uma correnteza em um dia de enchente.

Meus olhos são amarelados, tudo devido a constante amargura que senti em minha vida.

Meu marido morreu aos quarenta e cinco anos devido ao constante consumo de bebidas e cigarros.

Em vinte anos de casada fui traída cerca de dezessete vezes.

Tenho um aquário vazio e um cachorro vira-lata, seu nome é Bob.

Minha barriga e meus ‘peitos’ são caídos.

Tenho uma verruga no joelho esquerdo.

Odeio televisão e amo o radio.

Não tenho nenhuma saudade dos filhos que perdi e nem compaixão dos que já estão criados, claro, tem a exceção da Joaquina, a da faculdade. Luta muito para ser feliz e não tem medo de arriscar, por isso se um dia ela perdesse tudo, eu estaria aqui para ajudá-la.

Tenho também quatro netos, e não conheço nenhum. Também não faço questão de conhecer.

Não sei ler, nem escrever.

Atualmente moro em São Paulo e adoraria ser a atriz principal de um filme ou uma novela.

Mas minha beleza me impede, e tudo porque fui pobre.

É mais fácil fazer um belo ficar feio, do que um feio ficar belo.

Mesmo com tanta tecnologia.

Meu maior gosto é ver que todos os meus já conseguem viver sozinhos. Aliás, criei os cinco filhos casados, na base da ‘palmadinha’, já a menina da faculdade, criei sobre mimos, já que um merda de uma lei foi posta para funcionar.

Não poderia mais bater em meus filhos, só gritar.

Odeio a forma como penso da vida e Cho linda a forma como as pessoas se preocupam com as outras. As mulheres das novelas e filmes amam seus filhos e criam com amor e carinho.

Realidade que não vivi.

Sou hoje, gente grande, e não tenho tempo de ser tão feliz quanto uma criança.

Essa parte da minha vida eu perdi lá em Alagoas, em meio a seca, a fome, a raiva, em meio ao tratamento rudimentar, ao analfabetismo.

Sem saber o que se passa por lá, as pessoas da cidade grande, as pessoas com educação acham que são apenas contos infantis.

Poucos dos que de lá saem, conseguem sobreviver, e poucos do ficam sobrevivem também.

Ter casa, comida e educação é mais fácil na cidade do que no interior.

Não pense que as novelas contam todas as verdades.

Tem que ir lá para acreditar e entender qual o sentimento que se vive.

Amor só para quem pode.

Meu desejo é ser como as moças das novelas....”

Seu desejo é:” ser tão Gente grande, quanto as moças das novelas”


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