Era fim de inverno na cidade de Lima; o ano era 2014. Quem passasse em frente à casa branca coberta por neve, não imaginaria que ali viviam dois jovens, não há muito tempo formados no colégio, e sua filha de quatro anos e meio.

O quartinho rosa era decorado com um único tema: fadas. Tudo era da Tinker Bell e suas amiguinhas, e a pequena Beth usava um vestido rosa e asinhas enquanto corria com sua varinha.

Na cozinha, Quinn preparava o jantar enquanto Puck via TV, aproveitando as férias do trabalho de técnico do ex-colégio.

"Noah, vai ver a Beth, ela tá quieta demais." Pediu a loira, aparecendo de avental. "O assado tá quase pronto já."

O rapaz desligou a TV e subiu ao segundo andar, onde ficavam os dois quartos. Parou à porta da filha, a observando com um sorriso.

"Beth, querida, tudo bem?"

A menina estava sentada em uma mesinha e tinha um bule de chá nas mãos, várias xícaras à frente e um sorrisinho arteiro no rosto.

"Tá, papai!" Respondeu na voz fininha e risonha. O rapaz sorriu e virou pra sair, quando ouviu. "Quer mais chá, Lara?"

Parou e virou-se, encarando a filha. Havia um elefante rosa, uma galinha amarela e um porquinho azul sentados diante dela com xícaras, mas ela não se dirigia a eles. Havia uma minúscula xícara, que poderia ser usada por uma Barbie, mas nada atrás da mesma. E era àquela xícara que a loirinha se dirigia.

"Beth, com quem você tá falando?" A curiosidade foi mais forte que o desejo de observá-la. A menina correu, o puxou pela mão e fechou a porta do quarto.

"Senta aí, papai." Mandou autoritária, sentando ao lado dele na cama.

"Por que fechou a porta?" Disse baixinho, entrando na brincadeira.

"A mamãe não pode ouvir!" Explicando, olhando para a xícara e confirmando com a cabeça. "Papai, você acredita em fadas?"

O ex-badboy olhou a filha com um sorriso bobo no rosto. Claro que fadas não existiam; mas algo ali, naquele momento, no jeitinho de Beth agir com aquilo, fez com que ele desejasse de todo o coração que elas existissem.

"Mas é claro que sim. É claro que fadas existem, meu amor; se não, como as coisas dariam certo?" Ele sorriu, puxando-a para o colo e junto uma fada de pelúcia, que a menina abraçou. "Todo conto de fadas tem uma fada, não é? Por isso o nome! Pois bem, posso te contar outro segredo? Você é a fada do conto do papai e da mamãe."

Os olhinhos brilharam diante daquele segredo sussurrado e os lábios se abriram em um largo sorriso, revelando os dentinhos brancos para o pai, antes de abraçá-lo com força.

"Ouviu, Lara? Eu sou uma fada, como você!" Ela desceu de seu colo e correu até a mesa gritando, apanhando algo que Puck não podia ver na mesa. Correu até o canto do quarto, onde havia papéis e lápis de cera e se pôs a mexer em um desenho já começado.

Puck ficou encarando, paciente e bobo, a filha terminar os rabiscos, enquanto conversava com a “fada”. Quando terminou, correu até ele e estendeu o desenho.

"Essa é a mamãe e esse é você! Essa sou e minha asas, e essa é a Lara."

O desenho parecia ser ele e Quinn com a filha, mas ela adicionará um vestidão à mãe e uma roupa estranha nele. Pusera asas e uma varinha em si mesma e desenhou a fadinha ao lado.

A fadinha era morena, de olhos verdes e usava um vestido lilás.

"Está lindo, meu anjo! Vamos pôr no mural?"

"Sim! Lara, mostra pra ele aonde."

O rapaz engoliu em seco, mas com um golpe de sorte, acertou onde a “fada” indicava. Colocou o alfinete com a filha quicando em seus braços, ainda conversando com a dita fada.

"Agora vamos comer? Vão lavar a mão vocês duas!" Mandou o pai, colocando a criança no chão. Ela disparou para a porta, a abrindo e encontrando a mãe do outro lado. Sorriu para a mais velha, antes de seguir seu caminho rumo ao banheiro.

"Quem diria? O badboy acredita em fadas?" Zombou a loira, se aproximando e o abraçando.

"Tudo pela nossa menininha." Garantiu, dando um selinho na esposa.

"Papai, se eu ganhar um irmãozinho ou irmãzinha, ele ou ela também vai ser fada de vocês?" Beth apareceu na porta arfando, assustando os pais.

"Claro, pode sim." Ele respondeu confuso, vendo o sorriso iluminar o rostinho de novo.

"Viu, Lara, logo você vira fadinha deles também." Ela comemorou, novamente conversando com a dita fada enquanto rumava para as escadas.

"Como a Beth tem a imaginação fértil." Gargalhou o rapaz, ainda admirando. Diante do silêncio de Quinn, ele se virou e encontrou a esposa espantada, encarando a escada. "Amor? Você tá bem?"

Ela se virou para ele sorrindo e puxou algo do bolso do avental. Segurou a mão dele e depositou o objeto na palma aberta, fazendo os olhos dele se arregalarem para o par de sapatinhos brancos.

" Eu to grávida."