Dangerous escrita por Lacks_off, Otsu


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. Foi uma coisa bem divertida de se escrever. Tá, tá, eu sou a coautora, mas mesmo assim, foi bem legal 8D

Boa leitura.



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“ With the lights out, it’s less dangerous”

Tocava Nirvana no último volume do meu som, então como ela queria que eu a ouvisse? O caso é que eu ouvia. Eu ouvia a maioria das vezes, mas se eu fingisse que não ouvia, dava menos trabalho.

Portanto, eu ouvi perfeitamente quando ela disse:

- Se troca que vem uma amiga aqui pra jantar.

Eu não respondi, mas me troquei.

- Quem vem aqui? – perguntei quando desci, algum tempo depois.

- Uma amiga minha.

- Quem?

- A Edna. Você não se lembra.

- Vem só? – Se a tal Edna viesse só, não teria problema algum. Iriam ficar as duas farreando até de madrugada, como sempre. Mas é claro que ela não viria só.

- Acho que vai trazer o filho.

- Acha? – revirei os olhos. – Qual a idade e nome?

- Tem dezessete, acho. Não sei, acho que é Ivan ou Vinicius. Não, espera, acho que é Guilherme.

- Tá bom mãe. Que horas eles vêm?

- Daqui à uma hora mais ou menos.

- Você fez comida pra mim? – Não estranhe. É porque eu sou vegetariana, de modo que quando alguém vem pra cá, minha mãe geralmente se esquece de mim.

- Eu fiz uma lasanha quatro queijos.

- Tudo bem, então, quando chegarem você me avisa.

Eu pretendia só dar um oi pra todo mundo, jantar, e fugir pro meu computador, ou, se fosse necessário, pra casa de alguma amiga. Mas minhas intenções mudaram totalmente quando eu vi Natan, tudo a ver com Guilherme, aliás.

Imagine a situação: eu chego na sala pra cumprimentar o povo e me deparo com uma criatura alta, com uma camiseta azul escrita “Come as you are, as you were, as I want you to be”, com um cabelo escuro um pouco cumprido, mas não muito, um pouco abaixo do pescoço, com um físico, pelo menos pelo que deus pra perceber através da camisa, perfeito. Eu pirei. Dei um sorriso maior que o rosto e os cumprimentei.

- Nossa Renata, como você cresceu! – Dizia Edna. Você se lembra de mim?

- Mais ou menos. – É claro que eu não lembrava coisa alguma.

- Então, vamos comer? – Minha mãe me salvou, mas não propositalmente.

Depois de nos servimos, automaticamente as duas amigas começaram a conversar e rir alto. Puxei assunto com Natan, como a boa educada que sou.

- Então, onde você estuda?

Ele saiu de seus devaneios e se virou lentamente pra mim. Como se eu fosse esquisita por falar com ele.

- Na sua escola. - Respondeu grosso.

Nossa, que simpatia. Mesmo que não fosse a intenção ele poderia ter sido menos óbvio quanto a minha mancada. Eu me senti mal depois dessa. Tudo bem, talvez eu nunca tivesse reparado nele, mas isso não dava direito a tamanha grosseria.

- Ah, sério? – ri, disfarçando – Em que série você está?

- Na sua. – Respondeu ainda mais grosso.

Puta que o pariu!

Ou eu sou completamente cega, ou o moleque é transparente! Voto pela primeira opção, porque, pra esse cara ser tão grosso comigo, ele deve ter ficado na minha frente sem eu ter reparado. Mas como eu não reparei em alguém tão bonito? Quer dizer, eu sou um pouco míope, mas eu to sempre usando lente ou óculos...

- Sério mesmo? Que engraçado, eu nunca te vi. Que número da chamada você é?

- O antes do seu. – Disse cansado.

Mano! Puta que o pariu de novo!

Eu desisti completamente da hipótese de ele ser grosso.  Eu era retardada mesmo, só podia ser.

Não tinha como a situação ficar pior. A vontade de bater a cabeça na parede era grande, mas, porra, ele era bonito demais, eu tinha que tentar salvar a conversa.

- Onde você mora? – Mudei de assunto bruscamente.

Ele me olhou cansado de novo.

- A uns dois bairros daqui.
Muito preciso que ele é. Eu realmente estou tentando, poxa. De qualquer maneira, me aliviei por ele não ser meu vizinho, nem nada do tipo. Ele tomou ar, ainda com cara de cansado e continuou.

- Mas acho que vou mudar pra cá...

Fiquei quieta. Alguns segundo se passaram e eu estava quase me escondendo de baixo da mesa quando Edna disse. 

- Ah, é mesmo! Nos mudamos em duas semanas!

- Depois do jantar você podia mostrar a vizinhança pro Natan, né Renata? – Minha mãe se intrometeu.

- Ah, claro! – Sorri amarelo – A gente dá umas voltas.

Natan então passou a me encarar com uma expressão vazia. Eu o encarei de volta por uns dois segundo, mas não agüentei, desviei e voltei a comer.

Até o final do jantar, nem eu, nem ele falamos nada.

Depois da sobremesa, mousse de abacaxi, me levantei e perguntei:

- Quer ir agora?

- Pode ser.

Menino falante, esse... Tudo bem que eu era culpada, mas mesmo assim. Saímos para a rua, já vazia, apesar de ser apenas oito horas. Era uma noite morna, agradável.

- E então, quer saber alguma coisa em especial? Onde fica a padaria, o ponto de ônibus?

- Não.

Argh! Garoto chato!

- Quer saber? Se você não gosta de mim, foda-se. Eu só estou sendo educada com você. Se você não quer fazer nada, senta aí que daqui a pouco a gente volta e eu digo que conhecemos o bairro inteiro. – Ele arregalou os olhos pra mim – E tem mais, se não quer falar comigo, foda-se também.

- Eu quero falar com você. É você que nunca olhou na minha cara.

- Nem vem! Eu nunca vi você na minha vida e você não pode estar na minha sala, eu teria visto se um deus grego estudasse comigo. – Só um meio minuto depois eu percebi o que tinha dito. Tapei a boca e senti meu rosto esquentar. E sabe o que ele fez?

Riu.

E riu muito!
E teria continuado a rir, tenho certeza, se um tiro não tivesse passado de raspão em seu braço.

É, um tiro.

Meu bairro é bem calmo, nada perigoso, eu só tinha visto tiros pela TV, então eu fiquei desesperada e comecei a gritar.  

Para minha surpresa e gritaria, Natan sacou uma arma não-sei-da-onde e atirou de volta. Eu comecei a gritar ainda mais alto.

Ele se virou para mim, me segurou pelo braço e começou a correr.

- Cala a boca!

- Como cala a boca?! Você é um gangster! E eu estou no meio de uma guerra de gangster!

- Que gangster o que! Eu sou o mocinho aqui! – Ele falava comigo, corria e atirava ao mesmo tempo.

- Ah, claro! E como é que eu vou ter certeza?

- Eu acabei de te salvar.

- O q...?

Não terminei porque fui jogada dentro de um carro que tinha acabado de aparecer não-sei-da-onde também.

Eu voltei a gritar e Natan entrou, bateu a porta e disse pro cara que dirigia:

- Corre!

E simplesmente virou pra mim e me beijou. É, me beijou! E ele beijava bem! Mas quando ouvi outro tiro eu me assustei e o empurrei.

- Ai meu Deus, ai meu Deus!

- Calma, se acalma!

- Como se acalma? Quem é você, um homem de preto?

- Eu sou um agente secreto.

- Claro, e eu sou um homem! E, aliás, porque diabos você me beijou? – Perguntei. confusa.

- Pra você parar de gritar, é óbvio – sorriu – E também porque eu quis fazer isso desde o começo do ano.

Tudo começou a girar e ficar preto, só deu tempo de ouvir um vago “Renata?” e eu caí pra trás.

Quando abri os olhos, estava deitada em um sofá branco em uma sala lotada de gente.

- Agente 15, sua namorada acordou.

- Desculpa moço, você tá falando de mim? – Perguntei, me levantando.
O homem sorriu.

- Sim. O agente 15 nunca trouxe nenhuma garota pra cá, imagino que você seja importante.

- Ela não é, mas ia morrer se eu não a trouxesse. – Natan disse, se sentando ao meu lado, com um copo de café nas mãos.

- Ah meu Deus, você tava falando a verdade sobre ser agente!

- Eu nunca menti pra você. – Disse, me entregando o café.

Olhei desesperada pra ele.

- Eu tenho que voltar! Minha mãe!

- Está devidamente acomodada em um hotel, sob ação de um sonífero, junto com a minha, aliás.

- Você drogou minha mãe?

- Não, uns homens a quem pedi fizeram isso. Ou você queria que eu chegasse e dissesse “Vocês correm perigo de vida, me acompanhem?”

- Porque diabos elas corriam perigo de vida?

- Porque o vagabundo que atirou na gente me viu entrar na sua casa. É tudo culpa minha...

Esse é o momento em que eu o conforto, né?

- É tudo sua culpa mesmo! Se você tivesse sido mais educado, não teríamos que “ir dar um passeio”.

- Você me ouviu dizer que ele nos viu entrar na sua casa?

- E daí? Se você tivesse falado comigo na escola, nós teríamos marcado de sair antes, e deixaríamos só as duas jantar lá em casa.

- Trinta e oito.

- Trinta e oito o que?

- Trinta e sete vezes as vezes que eu falei com você e você não respondeu. Sem contar todas as vezes que eu peguei suas coisas que caíam, quando eu te chamava pra responder a chamada, entre outras coisas. E a única vez que você falou comigo foi pra pedir cola de Espanhol.

E então eu me lembrei da criatura. Era um garoto que ficava sempre de capuz na sala, e sentava sempre no fundão, no canto. Não falava com ninguém, só o necessário.
Eu nunca lhe dei mais do que uma olhada.

- Alguém já te ensinou a tirar o capuz e começar a conversar, tipo: “E aí, de que bandas você gosta?”?

Ele ficou me olhando confuso, até que alguém o chamou.

- Prendemos o cara, vocês já estão seguros. – Disse um homem alto, de terno.

- Ah, que ótimo. Vamos embora, Renata.

- Você não pode ir agora 15. Você tem que ir até a base deles, e pegar o chefe. Ou você acha que ele não vai simplesmente mandar outro te matar?

- Quanto tempo?

-Duas horas.

- Beleza, mas quem fica com a Renata?

- Como com quem fica? Eu vou com você!

Todos me olharam com caras de “Que panaca!”

- Você não pode. É perigoso. – Natan disse, quase rindo.

- E daí? Olha, eu sei lutar karatê e sei atirar!

Natan e o homem de terno se entreolharam.

- Para uma missão tão simples, isso bastaria. – Disse o homem de terno.

- O que? Thiago, você tá louco?

- Ah, o que foi Natan? Ela só quer ter uma noite emocionante!

- E a vida dela, não é mais preciosa do que uma noite emocionante? – Fez-se um silêncio constrangedor. Me senti importante por um momento. – E além do mais, ela iria me atrapalhar. – E lá se foi minha confiança.

- Ela pode ficar no carro. – tentou mais uma vez o homem de terno – Ela iria nos atrapalhar aqui também.

Nossa, to vendo que eu sou realmente muito querida aqui.

- Tá, ela fica no carro. Mas eu quero alguém com ela.

- Eu estou livre! – Saiu um garoto do meio da multidão não tão grande assim. Ele aparentava uns 17 anos, era muito bonito. Do tipo loiro fofinho. – Iria ser um prazer – Acrescentou, olhando malicioso pra mim.

- Ah, não! Nem vem! – Natan estava furioso – Ninguém te chamou aqui! Thiago você não vai deixar, né? – Thiago parecia se divertir com a situação, e eu, se não estivesse tão assustada, me divertiria também.

- Bom, não temos mais ninguém... Mesmo se ela ficar aqui, ele iria ser o responsável.

Natan ficou vermelho de raiva e saiu estressado da sala.

O garoto se sentou ao meu lado.

- Prazer, eu sou o Marcelo – sorriu. Ele era mesmo bonito, não tanto quanto Natan, mas quase. Tinha o cabelo curto e arrepiado e olhos azuis escuros. – Você é a Renata, né?

- É...

- Não vai tomar o café? Natan ficou louco pra conseguir ele antes de você acordar. - Me lembrei do café na minha mão, e tomei um gole. Estava ótimo, do jeito que eu gostava... Natan só podia ser um perseguidor. Sorri. Porque isso não me incomodava?

Ele voltou à sala algum tempo depois com três armas e algumas outras coisas.

Ele me ofereceu uma.

Eu fiquei olhando com cara de “Eu sou uma criança, você é louco?”.

- Você não disse que sabia atirar?

- Eu sei. Aprendi na TV.

Ele revirou os olhos.

- Então pega. – Insistiu mesmo assim, irritado.

- Calmo aí, Natan, eu ensino ela. – Disse Marcelo.

Natan deu a ele um olhar assassino e simplesmente colocou a arma nas minhas mãos.

- Vamos logo.

Saímos os três da sala, e descobri que estávamos em um prédio. Entramos no elevador e ele apertou o sub 1.

No estacionamento, fomos em direção ao melhor carro que tinha ali: uma BMW preta.

- Dá pra ser discreto com isso aí?

- Na verdade, se fossemos com um carro mais simples é que iríamos chamar atenção. Esses caras são magnatas. – Natan respondeu, já entrando no banco do motorista.
- Opa, peraí! Como você vai dirigir! Você só tem dezessete!

Os dois me olharam. Natan irritado, Marcelo sorrindo.

- Somos agentes federais, acha que não podemos dirigir? – retrucou Natan – Entra logo.
Entrei no banco de trás e fiquei emburrada. Porque ele ficava irritado o tempo todo?

Chegamos rápido ao local, Natan praticamente voava de tão rápido que dirigia. Ele virou pra mim e disse:

- Não sai do carro. E se o Marcelo tentar alguma coisa atira nele.

 - Opa! Ela quem escolhe se quer alguma coisa ou não. – Sorriu provocante.

- Se você tentar algo, eu acabo com seu bebê. – Natan saiu do carro e ele foi pro banco do motorista rindo.

- Vem pra frente, Renata.

Eu passei pra banco da frente e Marcelo ligou o som.

- Então, o que é o seu bebê?

- Tem certeza de que quer saber? – Riu

 - Não, mas fala mesmo assim.

- Meu carro.

Ri e começamos a conversar sobre carros.

De repente Marcelo baixou o vidro do meu lado e começou a atirar. Me abaixei assustada.

 Natan entrou a mil no carro e Marcelo deu partida o mais rápido que pode. Vi que uns caras tinham entrado em um carro e fugiam.

-CORRE QUE ELES TÃO FUGINDO, DROGA! – Natan gritava.
Começamos a perseguir o carro da frente. O nosso até derrapou, de tão rápido que íamos, mas Marcelo conseguiu manter o controle. E eu, desesperada, não conseguia colocar o cinto de segurança. Natan estava metade pra fora da janela do banco de trás, atirando no carro da frente. Até que finalmente conseguiu acertar um pneu. O carro deles parou e Marcelo estacionou atrás. Eu passei pro banco de trás, só pra ficar longe dos olhares dos caras maus, quando os dois saíram do carro com armas apontadas, e renderam os dois caras que estavam fugindo.

- Caramba... – Eu finalmente consegui dizer quando eles trouxeram os fugitivos pra BMW. Foi aí que eles se lembraram de mim. – Eles vão ficar aqui? – Eu estava com medo, é claro.

- Não, não. Marcelo, vêm pra trás. – Os caras estavam algemados e amordaçados. Mas tinham olhares mortais.

De repente um estômago roncou. O meu. Os quatro me olharam.

- Que foi? – Perguntei envergonhada.

Marcelo falou, lá de trás.

- Quando a gente chegar, eu e você podemos sair pra tomar um lanche, né Renata?
Olhei pra Natan. Ele apertava com força o volante e olhava a estrada.

- Ah, Marcelo... Eu tenho que ir pra casa...

- Que fora... É Natan, essa aí é fiel... – Ele falou brincando, mas com um som de derrota na voz.

Natan nem respondeu.

- Fiel por quê? Meu querido, eu estou solteiríssima, não preciso ser fiel com ninguém.


Houve um silêncio constrangedor, até que um dos caras amordaçados riu, debochando. Marcelo lhe deu um tapa e ele ficou quieto.

Chegamos ao prédio e alguns homens que estavam ali na frente tiraram os caras do carro.

Marcelo continuou onde estava e Natan passou a encará-lo pelo retrovisor.

- Vai sair não?

- Ah, que amor, me expulsando!

Ele finalmente saiu. Ficou mais um silêncio constrangedor, até que meu estômago roncou de novo.

- Vamos comer, vai. – disse Natan. - Mal pude concordar e ele ligou o carro. - Quer ir a algum lugar em especial?

- Eu quero! Quero um lugar com comida, comível de preferência. – Brinquei. Eu tinha quase certeza de que ele iria revirar os olhos, mas ele apenas riu.

- Eu conheço o lugar certo, nesse caso.

- Ah, mas, só pra deixar claro, eu não como carne, tudo bem?

- Eu sei. Eu também não.

- Como você sabe?

- Segredo.- Ele sorriu, todo misterioso.

Mas hein? Era só o que faltava.

-Ah, pode ir falando.

- Não, não!

- Certo! Eu te desafio a contar tudo! Ha! Agora você tem que contar! – brinquei de novo.

- Só se você fizer um desafio também.

- Ok.

- Tá, então, que tal se você fizer um strip com uma fantasia de diabinha?

Depois dessa eu quase que não consigo responder de tão chocada que fiquei. Que lado dele era esse?

- Pode ser como um hipopótamo caolho? – Respondi, ainda meio chocada.

- Pode, sendo um strip...

Eu esperava que ele fosse dizer não, então fiquei pasma de novo.

- Vem cá, desde quando você é pervertido desse jeito? Você não é todo quietinho na sala?

- Ah, agora você se lembrou de mim? – sorriu.

- Lembrei faz algum tempo.

Nós chegamos a uma pizzaria. Eram apenas onze horas ainda, de modo que agora é que as pessoas começavam a chegar.

Nos sentamos o mais afastado de todo mundo que pudemos.

- Isso é ridiculamente estranho. – falei.

- O quê?

- Bom, pra começo de conversa a minha mãe está dopada em um lugar desconhecido.

- Na sua casa, eu já mandei leva - lá de volta.

Levantei a sobrancelha.

- Você é poderoso, hein?

Ele pareceu gostar de ser chamado assim.

- Só um pouco. E então, quando você vai fazer um strip vestida de hipopótamo caolho?

Detalhe, ele falou isso logo quando o garçom veio nos atender. Ele fingiu que não ouviu e prendeu o riso.  Devo ter ficado roxa de vergonha.

- Vamos pedir uma inteira? – Natan disse normalmente.

- Pode ser. De muzzarela.

- Então uma muzzarela inteira por favor, e duas sodas, certo Renata? – Sorriu e piscou pra mim.

Meu, como ele sabe dessas coisas? Acho que nem minhas melhores amigas sabem que eu sou viciada em soda.

- Peça outro desafio pra mim. – Pedi quando o garçom se afastou.

- Certo. Eu te desafio a não sair correndo independente do que eu te disser.
Fiquei assustada. Sério. Mas aceitei mesmo assim.

- Eu entrei naquela escola ano passado. Mas eu não era da sua classe, não se preocupe. – disse quando viu minha cara – De qualquer forma um dia eu tava perto de você e de uma amiga sua e vocês conversavam sobre bandas. Eu estava escutando e comecei a prestar atenção em você. Te achei interessante e, como um bom agente federal secreto, pesquisei um pouco sobre você. E aí eu me apaixonei. Bregamente e simplesmente assim. – Sorriu.

Eu fiquei pasma. Mais uma vez.

- Sério? – Foi a única coisa que consegui dizer.

- Não! – E aí ele começou a rir muito. E sua risada era escandalosa ao máximo.

Me estressei e levantei.

- Vou embora.

- Peraí, eu só tava brincando! – Disse sério. Gente esse garoto é bipolar! – Eu vou falar sério agora.

Me sentei.

- Entrei na escola esse ano mesmo, e eu sempre tive uma queda por você, mas eu tinha vergonha de falar contigo. Só.

Fiquei encarando ele.

- Só?

- Só. Porque, queria mais?

- É... Você aparece do nada na minha casa e é um agente secreto...

- Bom, sobre o jantar eu não sabia nada. Pra falar a verdade eu estava assustado quando vi você, quase tive um infarto.

- Parecia mais era cansado, isso sim.

- Eu tava nervoso. E irritado também, por você nem saber quem eu era, poxa... - falou frustrado.

- Aí, gente, que coisa mais fofa! – Eu me debrucei sobre a mesa e comecei a apertar as bochechas dele. De repente percebi o quão perto nossos rostos estavam.

Me afastei e então percebi o garçom de novo, trazendo a pizza. Ele começou a rir, colocou a pizza na mesa e saiu.

Eu morri de vergonha, de novo, é claro.

Natan ria abertamente.

- De que você tá rindo hein?

- Nada.

- Fala!

- Tava pensando em você vestida de hipopótamo caolho.

- É sério?

- Não. Estava apenas refletindo que não vejo à hora de me mudar.

Fiquei pensando no que ele disse. Tentando decifrá-lo. Ele tinha uma queda por mim afinal de contas, e eu, tinha o que por ele? Um queda também, obviamente, mas só isso?

Comi dois pedaços de pizza enquanto falávamos sobre coisas triviais.

- Vamos? – Perguntou.

- Vamos.

Nos dirigimos a porta, mas quando íamos sair, o garçom apareceu e impediu que passássemos.

Olhei pra rua bem a tempo de ver o carro de Natan explodir. Uma gritaria começou atrás de nós.

- Que porra é essa que não acaba mais? – Gritei assustada.

O garçom saiu correndo pra rua e atirou a bandeja, que criou lâminas em volta, extremamente afiadas, do nada. A lâmina foi direto para um cara que não estava ali segundos antes, e que segurava uma bazuca por sinal, e cortou sua cabeça fora. Ali, na minha frente.

Comecei a me desesperar de verdade.

A bandeja voltou voando pras mãos do garçom.

Ele olhou pra gente, se virou e saiu correndo, ao mesmo tempo em que tirava seu uniforme, mostrando que vestia por baixo uma roupa preta, com um símbolo. Olhando melhor, percebi que era nada mais, nada menos, que um hipopótamo caolho sorrindo. Ele jogou a bandeja no chão, que virou um skate redondo, com um foguete embutido, subiu em cima e sumiu de vista, antes que eu pudesse dizer “Constituição”.

Natan e eu nos entreolhamos.

- Quem era esse?  - Perguntei.

- Não faço a menor ideia.

- Porra, a gente vai ter que volta a pé?

- Acho que sim, né?

Voltamos o caminho todo em silêncio. Eu, digerindo tudo que tinha acontecido. Ele? Só deus e ele mesmo sabem.

Chegando em casa, eu parei na sua frente e ficamos nos olhando, novamente naquele silêncio constrangedor.

E então escutei alguém correndo e gritando palavras indecifráveis.

Mal me viro pra olhar e sou empurrada por um japonês doido, em cima de Natan que me segurou antes que eu desse de cara com o chão. Voltei ao meu lugar de princípio e do nada o japonês apareceu de novo, empurrando Natan em cima de mim dessa vez, e voltando a correr e desaparecer.

Eu fiz o máximo de força para segurá-lo e o coloquei em pé de novo. Já esperávamos o japonês voltar, e de fato ele voltou correndo, só que dessa vez parou de correr e começou a dizer:
- Puta que pariu! Eu já empurrei vocês dois e nada aconteceu. Dá pra beijar logo? – Ele perguntou impaciente.

- Quer ver beijo, é? – Natan perguntou.

- É. – Ele disse calmo, o cenho franzido e expressão, no mínimo, ameaçadora.

- Ok. – Natan respondeu e me puxou pra um beijo que me fez quase pular em cima dele.
Depois de um tempo no afastamos e voltamos a olhar pro japonês, mas não tinha japonês nenhum...

- Eu acho que eu to endoidando, preciso de remédios! – Disse, colocando a mão na testa.

- Esse é o meu efeito sobre você, é? – Sussurrou pra mim, provocativo.

- É claro. – Falei irônica

- Já sabia... – Ele ignorou minha ironia e me puxou pra outro beijo.

O negócio estava ficando bom, sabe? Só que estávamos no meio da rua...

- Então, não vai me convidar pra entrar?

- Você não é um espião? Precisa de convite?

- Eu sou um agente secreto, é diferente! – Disse, me pegando pela cintura e me puxando mais perto.

No final das contas a gente acabou entrando. Com dificuldades, porque não nos largamos um minuto se quer.

O joguei no sofá e sentei no seu colo. Ele começou a passar a mão por debaixo da minha blusa, provocando arrepios. Voltamos a nos beijar.

- Renata, desce que eles estão na porta. –A voz da minha mãe ecoou pelo quarto. Minha mãe? Cadê o Natan?

- Putz, eu estava sonhando! Mas também, não podia ser verdade...

Desci as escadas, meio sonolenta. Entrei na sala pra cumprimentá-los.

- Nossa Renata, como você cresceu!

Fiquei pasma. Natan estava ali, exatamente do jeito que eu sonhara.


Prólogo I:

Duas semanas depois Natan se mudou pra minha rua.
Desde o jantar, havíamos conversado um pouco. Eu ainda estava meio assustada pelo sonho, mas tentava ser sua amiga, já que o resto do sonho não aconteceu, só o começo.

- Oi, tudo bem? Vim ajudar na mudança. – Sorri pra ele.

Ele sorriu de volta e agradeceu.

No fim da tarde, enquanto eu o ajudava a arrumar seu quarto, olhei pela janela e vi uma limusine preta na frente da casa. Com o vidro aberto, o garçom do meu sonho me encarando. Sorriu misterioso, fechou o vidro e a limusine saiu.

- Natan, você por acaso não seria um agente secreto, seria?

Ele me olhou assustado.

- Como você sabe?

 Eu apenas ri e o puxei para um beijei.


Prólogo II:

- Deu certo, chefe? – O japonês perguntou, colocando os óculos escuros e o chapéu.

- Parece que sim. E isso é um bom sinal. As experiências influenciando sonhos estão se tornando um sucesso.

- É. O único problema é que você mostrou o seu rosto pra ela... Vai ter que apagar isso da memória dela também, afinal você é o chefe disso tudo, né?

- Não se preocupa com isso e entra no carro vai. – Sorriu, esperto, e deu um selinho no outro. – Depois a gente resolve.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Não gostaram? Querem nos mandar à merda? Deixe uma review (menos por causa da terceira opção, por favor 8D)! -n

Enfim, qualquer tipo de comentário construtivo é bem aceito. Mas, por favor, comentários construtivos. Nada de nego nos xingando. ê_e

Nos esbarramos por aí o/