Procura-se Uma Babá escrita por Kel Costa


Capítulo 8
Capítulo 8




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Estava sentada na cama esfregando os cabelos molhados porque nunca gostei de dormir com eles ainda úmidos. Tinha saído da piscina logo depois que a loira aguada chegara, mas acabei fazendo outras coisas para aproveitar o tempo livre e deixei para lavar o cabelo de noite. Imaginava que a noite seria longa, pois os últimos acontecimentos que envolviam meu patrão não iam embora da minha mente de jeito nenhum. Até tentei assistir um filme com bastante ação e perseguição de carros para ver se conseguia pensar em outra coisa, mas não adiantou muito. Tinha piorado. Agora imaginava eu e Edward Cullen dentro de algum carro possante e turbinado, bem no estilo de Velozes e Furiosos, fugindo em alta velocidade da polícia, que queria nos prender por fazer sexo ao em pleno sinal.

Ainda podia ouvir as risadas estridentes que Rosalie dava lá na piscina. Não estavam mais dentro d’água, mas meu patrão pediu que Abigail levasse petiscos e coquetéis para eles lá fora antes de se retirar para o quarto. Pelo menos, apesar de saber que Abigail não parecia ir muito com a minha cara, eu sabia que ela tampouco gostava de Rosalie. Mais um gritinho chegou aos meus ouvidos e eu suspirei, largando meus cabelos de uma vez por todas e levantando da cama.

Não ia agüentar ficar ouvindo a felicidade de Rosalie e também nem estava tão tarde ainda, o relógio acabara de marcar 21hs. Era minha folga e eu tinha passado o dia todo dentro daquela casa, remoendo meu ciúme e inveja. Tudo bem que eu o achava a coisa mais linda que papai do céu colocou aqui na Terra, mas eu ainda tinha amor próprio. Ou pelo menos achava ter.

— Que se dane, vou sair para pegar todos! — falei encarando o espelho bem série e então comecei a rir.

Escovei os cabelos, passei um batom e pensei a quem eu estava tentando enganar. Ultimamente nem resfriado eu pegava. Abri a porta do quarto e antes de chegar à escada, uma mão segurou meu pulso. Era Sofia.

— Vai aonde?
— Vou dar uma volta pelo quarteirão, Sof. Volto mais tarde, mas espero que você já esteja dormindo até lá.
— Posso ir? — ela colocou os braços para trás do corpo e fiz uma cara irresistível, crente que eu me entregaria facilmente.
— Não pode não. Primeiro porque já está muito tarde para você ainda estar acordada e segundo que preciso de um tempinho para mim.

Não sei se ela entendia o que eu queria dizer com esse lance de tempo, mas fiz beiço e me acompanhou até a sala. Sofia era uma criança maligna, arquitetava as coisas em sua mente minúscula de menina e quase era possível ver os dois chifrinhos brilhando em sua cabeça. Ela me puxou na direção da parte externa, lá para a piscina, onde o casal estava.

— O que você vai fazer, Sofia? — tentei puxar minha mão, mas ela tinha cravado em minha pele seus dedinhos com unhas que estavam crescendo.

Ao passarmos pela porta de vidro que separava a sala de visitas da área externa, percebi que interrompemos um momento de pegação total. Edward estava quase deitado sobre Rosalie e levantou num susto tão grande que não conseguiu parar a tempo de cair de costas na piscina.

— Sofia! E Bella! — a loira má sentou rapidamente na espreguiçadeira, ajeitando os cabelos e a parte de cima do biquíni que estava um pouco tora.
— Sofia! — meu patrão agora saía da piscina com cara de poucos amigos. — Por que não está dormindo? — e me olhou. Eu lá tenho culpa?

Antes que a criança pudesse responder alguma coisa mais sem noção do que toda aquela situação, eu tampei-lhe a boca com força e dei um sorriso amarelo para ele. Evitava encarar Rosalie, pois sabia que ela devia achar que eu fiz de propósito.

— Bem, eu estava só saindo, você sabe, ia aproveitar o restante do dia... Mas Sofia me interceptou e me arrastou até aqui.

— Você ia sair? — ele franziu a testa. — Essa hora? Para onde? — acho que assim que terminou as perguntas, se arrependeu, pois deu uma olhada para Rosalie e abaixou os olhos. — É sua folga, claro. Tinha esquecido.
— Sim...

Essa era a hora que Sofia deveria voltar a falar e explicar aquele vexame. Por que afinal ela tinha me levado até lá? Para que eu passasse vergonha? Para que Edward ficasse com raiva de mim por interromper o namoro? Ou para que eu entrasse de vez na lista negra de Rosalie? Eu não sabia o que ela queria de mim, mas sabia o que deveria fazer.

— Eu vou colocá-la para dormir e aí depois eu saio.
— Não precisa, deixe que eu faço isso e vá aproveitar sua noite. — ele a pegou no colo e a criança enroscou-se nele imediatamente. Nunca quis tanto voltar a ser criança. — Rose, eu já volto.

Saí do caminho para ele passar, mas a mão de Sofia novamente agarrou a minha e mais uma vez criou uma situação constrangedora. Edward sorriu e fez sinal com a cabeça para que eu fosse junto. Nem me dei ao trabalho de ver a cara que a loira fez. Deveria ser, no mínimo, aterrorizante.

Quando ele a colocou na cama, ela soltou minha mão e eu tratei de me distanciar antes que fosse agarrada novamente – pela pessoa errada. Meu patrão sentou na beira do colchão e alisou os cabelos da menina.

— Eu realmente não sei como ela se apegou tanto a você e em tão pouco tempo. — olhou-me e sorriu. — Sofia sempre foi bastante exigente com outras babás.
— Fico feliz que ela não tenha tentado me enxotar daqui.

Ela nos olhava, já com cara de sono, mas com certeza prestando muita atenção em tudo. Eu não entendia como ela conseguia ficar sem falar. Se fosse eu, do jeito que sou impulsiva, já teria estragado a brincadeira há tempos.

— Hum, eu acho que já vou... então...
— Sim, claro. — Edward levantou e andou até a porta comigo. — Ficarei aqui com ela até que durma. Obrigado, Bella.
— De nada.

Passei pela porta e já ia fechá-la quando ele segurou a maçaneta, me encarando.

— Você tem um encontro?
— Eu? — quase caí na gargalhada. — Não.
— E vai sair sozinha? De noite? — eu adorava quando a sua sobrancelha ficava arqueada, do jeitinho que estava agora.
— Vou só caminhar, pegar um pouco de ar... — tentar tirar você da cabeça, era o que deveria ter dito.
— Tome cuidado então.

Ele disse olhando tão intensamente dentro de meus olhos, que eu não conseguia me mover, completamente hipnotizada por ele. Será que ele estava pensando em me beijar? Ou eu estava com alguma coisa estranha na cara? Então ele rapidamente desviou o olhar e começou a fechar a porta. Fui obrigada a me mover também, mas acabei desistindo de sair e fui para meu quarto. Depois de um olhar daqueles, nem se eu caminhasse até o Canadá eu conseguiria tirá-lo da cabeça.

Meu domingo foi uma total negação. Quando acordei fui avisada por Abigail que Edward tinha saído cedinho com Sofia – e Rosalie – sem dizer que horas voltaria. Aquilo provavelmente tinha o dedo da loira no meio, pelo fato de não terem me chamado. Até imaginei Sofia batendo o pé, querendo me acordar e Rosalie implorando a Edward para fazerem um passeio apenas em família. Humpf, como se ela fosse membro dessa família. Percebi também que não tinha visto a loira ir embora na noite anterior. Teria ela dormido na casa? Se isso tivesse acontecido, então Edward deveria mesmo estar caidinho por ela.

Passei o domingo todo me arrastando de cômodo em cômodo. Procurava o que fazer, mas só tinha vontade mesmo de ficar brincando de adivinhar a hora que eles chegariam.

Confesso que até na internet eu entrei, para pesquisar possíveis lugares onde se poderia levar uma criança em pleno domingo. Quando foi por volta das 18hs, depois que eu já tinha assistido a toda a programação da Warner Channel, ouvi o barulho lá na sala. Rosalie estava junto, eu soube pela voz de taquara rachada dela e, portanto, resolvi continuar no quarto e deixar para lá. Se não sentiram minha falta até então, não tinha motivo para eu aparecer.

Na segunda, quando estava sozinha com Sofia na mesa do café, ela finalmente me contou tudo. Tinham ido ao clube do qual Rosalie é sócia e ficaram por lá até a hora do almoço. Depois de almoçarem, a loira deu a brilhante idéia de levarem Sofia num parque de diversões – e isso, claro, enfeitiçou a criança. Ficaram lá até quase de noite e Sofia não lembra de mais nada porque acabou dormindo no carro de volta para casa.

— Ela fica sendo boazinha comigo. — falou de cara fechada.
— Ela quer te conquistar, para conquistar ainda mais o seu pai.
— Eu não gosto dela, gosto de você!
— Eu também gosto de você, Sof... Mas isso não quer dizer nada. — olhei para o relógio, percebendo que mais uma vez teríamos que correr para chegar no horário da escola. — Que tal uma corridinha?

Ela revirou os olhos, mas eu sabia que não se importava. Ela foi se divertindo pelo caminho, pulando cada vez que passávamos por uma árvore para tentar alcançar algum galho mais baixo. Nem se importou também de chegar suada e esbaforida no colégio, justamente no momento em que o sinal tocava. Nos despedimos e eu continuei ali, recuperando o fôlego para refazer o caminho.

— Bom dia!

Ele devia estar me perseguindo. Não tinha explicação mais coerente do que essa. Bem, tirando o fato dele ser professor do colégio. Era o tal de Jacob de novo, me olhando com cara de cachorro faminto que finge ser o dono do pedaço, mas não passa de um vira-lata.

— Oi.
— Como foi o final de semana?
— Normal.

Ele abriu um sorriso mostrando seus dentes extremamente brancos e perfeitinhos. Estava achando graça de que exatamente?

— Ok, sei que não começamos muito bem, mas que tal mudarmos isso?
— Não começamos muito bem? — o encarei. — Nós nem sequer começamos.
— Então vamos começar... Um jantar seria ótimo, não acha?

Oh Deus, ele estava me cantando! E me chamando para jantar ainda por cima. Jantar! No Brasil o cara me chamaria para algum barzinho... Olhei torto para ele.

— Seria ótimo se me desse uma resposta antes que me demitissem por atraso. — ele riu. De novo.
— Hum...

Achei que não pudesse ser tão ruim assim. Eu não tinha o menor interesse nele, mas sabia que precisava sair um pouco de casa e jantar não seria tão ruim, não é? Poderia me arrumar – coisa que não faço há tempos – e talvez até deixar meu patrão com ciúmes...

— Ok.

Arranquei uma folha de papel que ele segurava e estiquei a mão esperando por uma caneta, que veio rapidamente. Anotei meu telefone e devolvi o papel. Não poderia ser tão ruim, poderia?

...

A semana inteira tinha passado sem maiores emoções. Eu só interagia o necessário com Edward, pois ele estava chegando super tarde do trabalho quase todos os dias. Sofia ficava triste na hora do jantar por não ter o pai por perto, mas ele sempre ligava para me avisar que iria demorar e, portanto, não deveríamos esperar por ele. Ele passou a semana toda chegando em casa depois que a filha já estava dormindo. Claro que no fundo eu também sabia que um pouco desses atrasos tinha algo a ver com Rosalie, mas não podia me meter no assunto.

Também não encontrei mais com o professor de dentes brancos porque me esforcei para levar Sofia bem antes do horário, já que ia pegar mal a menina só chegar correndo e vermelha em sala de aula. Ela não merecia ser vítima de bullying no futuro. No entanto, na sexta-feira houve um imprevisto. Quando cheguei em seu quarto para levá-la para tomar café da manhã, Sofia estava de cara fechada e braços cruzados, sentada na cama de pijama ainda.

— Bom dia! — sorri largamente, mas ela continuou com a carranca. — O que foi? Por que ainda está assim?
— Não vou para a escola.
— Claro que vai!
— Não vou não! — e se jogou de costas na cama.

Eu não posso criticá-la. Fazia de tudo para faltar aula de vez em quando, uma vez cheguei a inventar que estava tendo um surto de piolho na minha turma e a mentira teria sido um sucesso se minha mãe não tivesse ido com toda sua fúria falar diretamente com a diretora, para saber como ela permitia a freqüência de alunos com piolhos. É claro que naquele dia, ela só de sacanagem me passou pente fino com um produto que fedia horrores nos cabelos umas 5 vezes, dizendo que assim eu aprenderia a não mentir e nunca mais a faria passar vergonha. Só digo uma coisa: até hoje não posso nem olhar para um pente. Só uso escova.

— Infelizmente, Sofia, você não pode faltar só por querer. — puxei seu braço fino e a levantei na força. — O que foi que aconteceu para você não querer ir ao colégio? Você se envolveu em alguma briga? Ou fizeram algo contigo?
— Não.
— Então o que é?
— Só volto para a escola se meu pai me levar! — ela bateu pé.
— Seu pai já saiu para trabalhar, querida. Você sabe que se ele pudesse te levaria pessoalmente todos os dias, mas não pode.

Notei que a carranca tinha sumido e dado lugar a um rostinho triste e quase choroso. Eu já tinha entendido. Era lógico que Sofia estava sentindo falta de Edward. Se eu, que era uma simples babá sentia, quem dirá ela!

— Então eu não vou!
— Ah, vai sim!

Não que eu fizesse questão que ela fosse estudar, mas sabia que se permitisse que ela faltasse, poderia ter problemas depois com meu patrão. Uma babá não deve ceder aos encantos de uma criança encantadora, mesmo que essa criança seja Sofia. Ela foi arrastada para o colégio e tenho certeza que Abigail agora achava que eu era parente de Hitler, pela forma como me olhou enjoada enquanto eu puxava Sofia pela rua. Eu andava de costas e de frente para ela, com seus braços para o alto, segurando seus pulsos e puxando, como quem puxa uma carroça. E vou dizer, ela empacava que nem um burro mesmo. Levamos uma eternidade para chegar ao colégio e notei que não tinha mais nenhum aluno na entrada, nem as mães que sempre os levavam. Só tinha eu e Sofia em guerra.

— Por favor, Sof, entre no prédio. — cogitei ajoelhar, mas será que ela me faria pagar esse mico?
— Ele não gosta de mim! — seus cílios estavam molhados pelo choro durante todo o trajeto e as bochechas tinham marcas dos caminhos que as lágrimas fizeram.
— Não diga besteira. Ele te ama, mas é muito ocupado. — ok, eu estava sem cartas na manga. — Olha só, se você entrar e for assistir aula bonitinha, eu prometo que amanhã ele vai passar o dia inteirinho com você, irão em algum lugar bem legal!

— Promete? — os olhos brilharam e ela parou de fungar na mesma hora. Meu celular começou a vibrar no bolso.
— Prometo!
— Você vai também?
— Só vocês dois, eu prometo.
— Não! — percebi que ia voltar a fazer drama, então não pensei duas vezes e levantei as mãos para o alto, me rendendo.
— Ok, ok, prometido. Eu irei também!

E com isso, Sofia sorriu delicadamente e entrou no colégio. Eu já teria que comunicar ao pai dela que ele teria que passar o sábado inteiro na companhia da filha, sem Rosalie e ela ainda queria que eu dissesse que minha presença era obrigatória? Sofia tinha talento para me colocar em saia justa. Tirei o celular que ainda tocava dentro do bolso e atendi sem olhar o número.

— Bom dia, senhorita atrasada. — uma voz masculina que eu não conhecia falou comigo.
— Hum... bom dia?
— Não sabe quem está falando, não é mesmo?
— Deveria saber? — o homem riu.
— Olhe para dentro do prédio.

Olhei na direção indicada e precisei estreitar os olhos e forçar a vista. O sol deixava o interior do colégio muito mais escuro e não dava para enxergar muita coisa lá dentro. No entanto, uma figura conhecida apareceu na entrada e acenou para mim. Ah, o professor. Quem mais seria?

— Esqueci que você tinha meu número.
— Percebi. — ele deu mais um risinho. — Então, podemos ir jantar amanhã?

Ah, tinha esquecido o lance do jantar, ainda mais depois de todo esse problema com Sofia. Ele ficou ali em pé, me olhando de longe e eu me perguntava se não era muito mais prático vir até aqui fora e falar pessoalmente. Não estava mais com a menor disposição de sair com ele, mas algo me levava a crer que se eu negasse ele continuaria me convidando até que eu aceitasse.

— Tudo bem pode ser. Que horas e onde?
— Eu a busco em casa às 20hs.
— Certo. Te mando o endereço por mensagem de texto.
— Mas... — sem mas, não dei tempo para ele e desliguei o telefone. Virei de costas e fui embora.

Não pude ir dormir cedo, mesmo depois de ter colocado Sofia na cama. Tinha que esperar Edward chegar em casa para poder avisá-lo sobre a promessa que fiz para a menina. Isso queria dizer que o relógio já ia marcar meia noite quando ouvi os passos na escada e saí do quarto.

— Boa noite, Bella. — meu patrão tinha motivo para ser rico, estava acabado, com o nó da gravata frouxo, os cabelos desgrenhados, a camisa social com os três primeiros botões abertos.
— Boa noite.

Ele passou por mim, dando um sorriso cansado. Carregava um copo com uísque e gelo e ia em direção ao quarto. Uma cena para lá de irresistível que por pouco não me fez perder a calcinha. Por uns segundos até esqueci o que precisava fazer e quando lembrei saí apressada atrás dele.

- Hum, podemos conversar rapidinho? — ele já estava na porta do seu quarto e eu mordi o lábio com medo de que a fechasse na minha cara. — Se não estiver muito cansado, claro.

Ele parou com a porta aberta e me encarou por alguns segundos, balançando o copo e fazendo o gelo se agitar ali dentro. Por fim, escancarou a porta e entrou, gesticulando para que eu o acompanhasse.

Entrei naquele quarto que tinha o cheiro do perfume dele e tentei não deixar o coração acelerar.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou, me dando as costas e mexendo na pasta que acabara de colocar sobre uma poltrona.

— Bem, não é nada demais. — olhei em volta e na falta de outro lugar, sentei bem na beirinha da cama. — É que essa manhã foi bem complicado fazer a Sofia ir ao colégio, sabe? Ela está sentindo falta do pai e como eu não podia simplesmente amarrá-la e colocá-la sentada dentro da sala de aula, eu precisei barganhar.

Ele riu e virou-se para mim, com os olhos quase fechados – ou de sono ou do sorriso sincero, não sei.

— Bella, uma mulher da sua idade se deixando chantagear por uma garotinha?
— Pelo visto você não conhece a filha que tem...
— Certo. E qual foi a barganha afinal?
— Então, como eu estava desesperada e não tinha nenhuma outra idéia, acabei prometendo que vocês... — parei quando ele, tão naturalmente como se estivesse na presença de amigos, tirou a gravata e começou a desabotoar a camisa. — ... vocês vão...
— Nós vamos...?

Ele deve ter percebido meu olhar de esfomeada para seus músculos porque se afastou, caminhando até o closet até sumir do alcance de minha visão.

— Bella?
— Hum, sim. Eu prometi que vocês dois iriam passar o sábado todo juntos.
— Claro, sempre passamos, não?
— Bem, juntos de juntos mesmo, tipo, só vocês dois. E fora de casa!

Meu patrão retornou devidamente coberto com uma camiseta preta e velha que parecia andar sozinha, mas que o deixava ainda mais gostoso. Era minha perdição mesmo, não havia mais cura para mim.

— E em troca disso tudo ela foi apenas assistir aula? Você deveria ter pedido muito mais, Bella. — senti que ele evitava rir, tirando uma com a minha cara. — Tudo bem, não vejo problema nisso, eu não tenho nenhum compromisso para amanhã.

— Tem mais um item do acordo... — enrolei uma mecha de cabelo no dedo, tentando fazer charminho para ele. Lembro que Lolita, no filme, vivia enrolando o cabelo nos dedos. — Ela quer que eu vá também.
— Então somos três e não dois. — ele tirou a pasta que estava ocupando a poltrona, colocou-a em cima da mesinha e se esparramou ali enquanto me fitava. — E qual vai ser o programa?

Dei de ombros. Não tinha muito o que pensar, já que estava mais ocupada fantasiando com ele naquela mesma posição enquanto eu me ajoelhava aos seus pés. Sendo que ele era Edward Lewis e eu Vivian Ward. Tudo bem que eu não pareço muito com a Julia Roberts, nem sou garota de programa, mas ele se encaixava bem no papel de magnata.

— Talvez possamos fazer um passeio no shopping, almoçamos fora e depois esticamos no parque que ela adorou semana passada. — ele pensava em voz alta. — Concorda?
— Por mim pode ser qualquer coisa, sério. — levantei para sair daquele quarto antes que saísse alguma besteira de minha boca. Antes de ir embora, no entanto, lembrei de Jacob. — Só preciso estar de volta antes das 20hs.
— Vai sair? — Edward levantou e veio na minha direção. Devia estar querendo me expulsar logo do quarto.
— Vou, finalmente. Tenho um... encontro.

Senti meu rosto ficar quente e me amaldiçoei por estar corando na frente dele. Meu patrão estava sério, provavelmente tentando adivinhar que louco tinha me chamado para sair. 


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