Natal dos Pobres escrita por Mito


Capítulo 1
Natal dos Pobres


Notas iniciais do capítulo

Segunda fic, a ideia era fazer algo sobre hipocrisia, mas acho que paz se encaixaria melhor por causa do final.



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É natal...

Passeio pela rua, e as pessoas parecem tão felizes. Passo pelas casas das pessoas, e vejo pela janela toda a família reunida, em volta de uma mesa com muita comida, todos felizes, trocando presentes. As lojas dão promoções, as pessoas compram mais que o normal, como se um presente fosse mostrar o quanto você gosta de seu próximo.

Vez ou outra penso que eu deveria me alegrar com essa data assim como os outros, mas simplesmente não consigo. Minha família é muito pobre, não temos dinheiro para uma ceia dessas ou para passar o dia comprando presentes. Mas esse não é o motivo. Nossa família é enorme e mora toda na mesma casa, somos 19 no total, então ter a família reunida é algo completamente normal. Mas tampouco é por isso.

Eu detesto toda essa hipocrisia. É ótimo ver todos felizes, mas são essas mesmas pessoas felizes e que hoje sorriem para mim que ontem, e provavelmente amanhã, voltarão a me olhar torto por não ter roupas bonitas para vestir, ou por precisar trabalhar debaixo de um semáforo para ajudar a alimentar minha família.

Tampouco gosto dessa ideia de dar presentes para todos nessa data. Sentimentos não podem ser dados em forma de bens materiais. Minha família nunca teve dinheiro para essas coisas, mas nunca precisou. Sei que me amam, com ou sem presente.

Reunir a família apenas no natal é outra coisa que não entendo. Precisa de um motivo assim para se estar junto de quem você gosta? Apenas uma vez por ano? Se você fica tão feliz ao ver seus amigos e familiares, porque não os encontra mais vezes?

Continuo andando pelas ruas. São quase dez horas, logo começarão a abrir seus presentes e teremos 24h de uma paz falsa, uma trégua nos conflitos por um dia para que as pessoas possam ser (ou fingir que são) felizes.

Recordo-me que a alguns anos, minha mãe disse que no natal comemoramos o nascimento de Jesus, um homem que morreu a milhares de anos atrás para nos salvar. Achei uma história linda, e pensei que havia entendido o verdadeiro significado do natal, mas apenas eu devo pensar assim, pois para os outros, não passa de uma data em que você pode gastar dinheiro sem culpa nenhuma. Transformaram uma data tão bonita, o nascimento de uma pessoa que morreu por nós, em um simples dia “gaste o quanto puder”.

Minhas pernas me levaram até um orfanato. Costumava brincar bastante com algumas crianças de lá, mas eles foram embora, provavelmente comemorando o natal em algum lugar. O orfanato está todo iluminado com luzes brancas, mas lá dentro as coisas continuam como sempre foram. Várias crianças pobres se divertindo com o pouco que tem. O natal não é igual para todos.

Meus olhos começam a lacrimejar ao pensar em todas as pessoas que não podem comemorar o natal, pois não tem dinheiro para isso. Deixo uma lágrima escapar acidentalmente, enquanto volto para casa, e as pessoas que veem isso esquecem por um instante da data, e fazem uma cara de nojo, para depois voltarem para o que estavam fazendo com um sorriso no rosto. Como eles sobrevivem com eles mesmos?

No caminho para caso passo por um mendigo, que sempre dormia por ali. Sua lata estava tão vazia quanto  nos outros dias, parece que apenas as pessoas com dinheiro são dignas de ter um natal. Uma criança que passa de bicicleta desce e chuta a latinha com moedas, fazendo o mendigo esbravejar contra ela, e vai embora rindo. Feliz natal para você também, garoto.

Finalmente meus pés me trouxeram de volta para casa. É quase um barraco, de tal modo pequeno para o número de moradores, que alguns estavam deitados do lado de fora. As pessoas que moravam próximas a nós estavam por ali também, conversando e rindo. Não havia troca de presentes, ou luzes coloridas, ou um jantar caprichado. Apenas minha família e meus amigos conversando e rindo, como sempre fazem.

Sorrio para mim mesmo e vou até eles. Não importa a data, ver aquela cena não custa nada e me deixa feliz. Os ricos podem ter quantos bem materiais quiserem, mas nunca terão essa paz que rodeia minha casa agora, a paz dos que tem pouco mas vivem bem com isso. E isso sim, é um presente digno do natal.

Eles têm um dia de natal. Eu tenho um ano inteiro. Sem hipocrisia, sem gastar dinheiro com coisas inúteis. E, apesar de tudo, como todos os anos, me senti muito feliz por estar comemorando outro natal com quem eu gosto.


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Notas finais do capítulo

Confesso que não gostei muito dessa fic, criei ela para participar de um concurso com o tema "natal". Bom, espero que gostem, apesar de tudo.



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