Annabeth por outro lado, nem levantou os olhos que eu tanto ansiava por ver me fitando. Percebi que brincava com a comida e tinha os olhos cansados com olheiras aroxeadas. Parecia que estava doente.

E de repente, era hora do primeiro jogo de caça à bandeira. Acho que nem preciso falar que a semana que se seguiu foi completamente fora do normal, certo? Minha popularidade tinha subido de modo incrível e Louise tinha inventado coisas maravilhosas sobre mim, de modo que tive muito à agradecer à ela quando um grupo de garotas veio me perguntar se era verdade que eu sabia fazer certas coisas.

E bom... Eu não tinha parado por aí. Aquela semana inteira, tinha explorado, não apenas os lugares mais escondidos e remotoso do Acampamento, quanto os corpos mais diferenciados de garotas que nunca tinha visto antes. Mas não tenho preferências... Tinha todas exceto uma. Mas quando pensava nisso me obrigava a afastar isso da cabeça, não era saudável.

Annabeth por falar nisso não parecia nada saudável. Desde a festa no Chalé de Dionísio, parecia mais fraca, e um tanto propensa a começar a chorar. Eu estava começando a ficar preocupado. Será que tinha acontecido alguma coisa? Tinha brigado com alguém, se tinha acontecido alguma coisa com seus pais? Sabia que se tentasse falar com ela, não receberia uma resposta muito educada, por isso nem tentava, mas estava realmente preocupado.

Grover ainda não falava comigo, tampouco Nico e Rachel, que eram a nova compania de Annabeth. Queria entender o que tinha acontecido. Queria desesperadamente saber a verdade e ter algumas respostas, mas todas as vezes que pensava nisso, uma tremenda agonia tomava conta de mim, então eu novamente procurava alguém, e reprimia meus sentimentos em bebida e cigarros... Era estranho como me fazia esquecer repentinamente as coisas.

Enfim, tinha ficado na equipe dos Chalés de Hermes, Hefesto, Dionísio, Apolo e Hades. Estava preocupado com o fato de lutar contra Annabeth, já que ela era completamente competitiva. Mas estava mais encucado ainda, em ver Thalia e ela na mesma equipe. Será que iam se difamar? Teria que deixar as coisas acontecerem para saber.

Estava terminando de pôr a armadura, com Travis, Connor e Chris.

- E então, eu tinha certeza de que você ia conseguir, mas ela simplesmente foi embora! - Travis contava como Connor tinha levado o maior fora.

Nós rimos.

- Deve estar tentando se fazer de difícil ou coisa do tipo. Só sei que eu ainda vou pegar aquela garota de jeito. - ele disse.

- Você por acaso sabe o nome dela? - perguntei, já adivinhando a resposta.

- Anna, Lana... Que diferença faz? - ele disse, e rimos mais uma vez.

Caminhamos para a clareira aonde Quíron deixava os times livres para entrar na floresta, um de cada vez. Nossa equipe estava toda formada, conversando táticas de batalha.

Era estranho jogar aquilo novamente quando eu tinha vivido algumas semanas como se não fosse exatamente um semideus... Era quase como voltar a ser eu mesmo. Não que eu não gostasse de tudo aquilo, mas...

Sei lá.

 Annabeth estava com sua equipe. Me xinguei mentalmente por pensar nela novamente. Quanto mais eu tentava esquecer, mais vezes ela vinha até minha cabeça! Thalia discutia com Clarisse alguma coisa, provavelmente querendo saber quem ia ficar na linha de frente. Thalia ficava linda quando estava nervosa...

- Hey, cara, acorda!

Travis estava balançando a mão na minha cara. Percebi que todos olhavam para mim, tentando entender a minha momentânea volta pelo além. Sacudi a cabeça e tentei me concentrar.

- Desculpem, o quê? - perguntei, fazendo-os rir de mim.

- Percy, volta pra terra, ok? A gente precisa de você aqui hoje. - Chris falou, arrancando mais risadas, e eu rolei os olhos impaciente.

- Ok, você, Beckendorf, Travis e Connor vão pela direita. Chris, Jeff, Leo e Lucy, vocês vão pela esquerda. Se encontrarem alguma coisa, usem os rádios. - falou um filho de Hefesto.

Tínhamos tido a ideia dos radinhos dois dias atrás. Os filhos de Hefesto se empenharam, e fizeram rádios o suficiente para todos os líderes da linha de frente. Agora, tínhamos um meio rápido de comunicação.

- Certo capitão. - Travis disse, batendo continencia.

- Vamos arrasar com eles. - Connor completou.

Nós demos uma risada baixa, e fizemos sinal para Quíron, indicando que estavamos prontos. Íamos esconder a nossa bandeira perto do Punho de Zeus. Não muito perto... Mas perto o suficiente para causar um certo medo neles.

Entramos na floresta, prontos para o desafio. Esperamos no lugar, até escutar a sineta de partida, e então, rumar para nossos inimigos.

Eu, Beckendorf, Travis e Connor seguimos pelo caminho combinado, tomando cuidado para não fazer nenhum barulho ao passar pelos galhos e folhas secas caídos pela terra fofa. Eu podia escutar a respiração de cada um dos meus amigos. Tinha tensão e espectativa no ar, mais a cima de tudo; Adrenalina. Meu coração batia forte no peito, e não parávamos de olhar por cima do ombro, nos certificando de que tudo estava bem, e que não tinha ninguém atrás dos arbustos pronto para nos atacar.

De repente, não muito longe de onde estávamos, começamos a escutar vozes femininas cochichando. Olhei para meus amigos, os rostos ansiosos e a audição apurada para escutar mais. Fomos mais para frente, e descobrimos o lago das Ninfas. Era uma bela paisagem, mas as ninfas não gostavam muito de quando as espiavamos tomar banho. Mas ali, ao invéz de encontrarmos lindas mulheres verdes e nuas, estava a bandeira do time adiversário.

Meu coração deu uma cambalhota no peito e eu vibrei. Conseguimos! Mas minha animação durou pouco, muito pouco, quando eu vi que Thalia e Annabeth estavam ali, meio que protegendo a bandeira. Elas estavam ambas sentadas na margem do lago e pareciam conversar entre sussurros. Eu estava maluco para saber o que estavam dizendo. Fui mais para perto, apesar dos protestos dos outros.

- ... Mas como é que eu podia saber de alguma coisa, certo? - Thalia disse, rispidamente.

- Não se faça de sínica Thalia! - Annabeth disse, a voz ficando mais agúda. - Você sabia que estavamos juntos, sabia de tudo! Porque então aceitou isso?! Porque?!

Para o meu horror, percebi que estavam falando de mim. Estavam na verdade discutindo sobre mim. Deuses...

- Eu... Eu... Eu não sei tá legal? Ele veio pra cima de mim, e simplesmente me beijou! Não estava batendo bem da cabeça, nenhum de nós estava batendo bem!!! - Thalia estava praticamente a beira das lágrimas. - Não sabia o que estava fazendo! Eu...

Então, ela ficou imcapaz de continuar, pois grossas lágrimas sairam de seus olhos azuis, fazendo meu peito se contrair.

- Porque... Não me disse antes? - Annabeth perguntou, estupefada.

- Porque você chegou me dizendo coisas horríveis Annabeth. Você me disse coisas que... Que eu não podia perdoar na hora. Quer dizer, você me mandou ir fazer coisas hipoteticamente impossíveis.

Annabeth corou, mas logo se recompoz. Ela se sentou mais para perto de Thalia e passou o braço por seu ombro. Eu ainda não estava entendendo muito bem do que estavam falando, mas fiquei feliz em constatar que estavam fazendo as pazer.

- Eu te devo... Te devo desculpas. - ela disse,como se fosse difícil fazê-lo. - Eu estava muito magoada. Ainda estou. Não pensei direito quando te disse aquelas coisas, estava cega pelo ciúmes. Sua amizade é importante Thalia...

Mas ela não pode continuar porque foi esmagada pelos braços de Thalia, lhe dando um abraço apertado.

Cega pelo ciúmes... Muito magoada... Ainda estou... Aquelas palavras pareciam girar na minha cabeça. Eu sentia que já sabia a resposta daquele enigma, mas que não tinha capacidade o suficiente para resolvê-lo.

- Me desculpe também. - escutei Thalia falar baixinho.

- Não tem problema.

Elas se encararam por algum tempo, parecendo pensar no que dizer.

- Sabe, ele sente sua falta. - Thalia falou. Annabeth apenas arregalou os olhos. - É verdade. Ele sempre te amou Annabeth, não se deixe enganar por toda essa encenação. Você está magoada, mas pode ter certeza de que ele também está. A bebida, e tudo o mais... Ele só faz isso quando não suporta mais ficar magoado. Estou até preocupada com ele.

Opa... Aquelo ali eu consegui entender. Será que estava tão visível que eu não conseguia viver sem ela? Será que era assim tão óbvio o meu desespero por esquecer o que aconteceu? Me senti incomodado pelos outros estarem escutando isso, parecia que era fraco por aquelas palavras.

- Ele não sente minha falta Tha... - Annabeth disse, sacudindo a cabeça. - Senão não teria feito nada do que fez...

- Beijar outra garota, sendo que era solteiro? Me desculpe Annabeth, mas é aí que discordamos. Você deu o fora nele. Não estou defendendo o que fizemos antes, mas aquilo foi diferente. Ele não era mais comprometido com você.

O que fizemos antes? Do que diabos elas estavam falando?! Olhei para os três atrás de mim. Eles também não estavam com cara de quem estava entendendo. O que é que eu tinha feito com a Thalia? Pelos deuses... Eu comecei a ter medo de descobrir.

- Mas ele só beijou você. E vocês estavam bebidos. Tenho certeza de que ele estava muito sóbrio quando... Transou com aquela menina.

Ah... Meus... Deuses.

O que é que eu tinha feito?

Eu tinha beijado Thalia? Bebado? Quando isso tinha acontecido? E como é que eu não me lembrava, como é que ninguém tinha me dito ou descoberto? Será que metade do acampamento achava que eu tinha sido infiél à minha namorada de propósito? E ela.... Ela estava arrependida de ter teminado comigo. Ela estava sofrendo, estava magoada. E Thalia tinha feito tudo aquilo como um modo de vingança por tudo o que Annabeth tinha dito à ela.

Ah meus deuses. Agora, toda a vontade que eu tinha antesde descobrir a verdade tinha ido embora num passe de mágica. Eu simplesmente não queria ter escutado aquilo. Desejei nunca ter escutado aquilo. Eu queria que pudessemos ter apenas atacado e ido embora com a bandeira.

Eu tinha causado tudo aquilo e nem ao menos sabia. Porque ninguém tinha me contado o que aconteceu? Eu teria corrido para Annabeth na mesma hora para me desculpar. E agora, ao saber que era eu que estava causando todas aquelas crises de choro nela, e que era por minha causa que ela estava tão mal... Eu só me lembrava de ter me sentido assim quando Annabeth tinha levado uma facada de Ethan Nakamura.

E parecia que tinha sido eu a levar a facada. Meu coração estava apertado, e doía como nunca. Ele tinha sido, afinal, apunhalado agora. Como Thalia podia ter sido tão fria? Não conseguia entender porque ela não tinha me contado! Não queria falar sobre isso... Então porque não pediu para alguém me contar? Eu precisava ter sabido! Fiquei furioso. Deprimido. Radiante.

Eu não sabia o que estava sentindo.

Me sentei no chão e encostei a cabeça numa árvore. Eu tinha a vaga impressão de que estava com a boca aberta e os olhos fitando o nada, mas não ligava. Tinha acabado de descobrir o porque de a minha vida ter simplesmente virado a de um adolescente inconsequente.

- Cara... - Escutei Chris dizer e colocar a mão no meu ombro.

- Eu beijei Thalia? - perguntei, sussurrando para que não nos ouvissem.

- Pelo que parece... Sim. - Travis disse, sentando-se ao meu lado.

- E como é que ninguém sabia? Porque é que ela não me contou? O que deu nela?

- Não sei. Não sabemos. Mas eu só sei que, como ninguém sabia da briga das duas antes, ninguém sabe que você beijou ela. - Beckendorf completou.

Eu fiquei olhando as folhas muito verdes, aturdido. Não conseguia entender... Não conseguia entender.

- O que fazemos agora? - Connor cochichou. - Vamos pegar a bandeira? Não acho que você esteja pronto pra batalhar...

- Ah, pode apostar que eu estou muito pronto.

A parte da raiva que estava florecendo em mim, dominou tudo o que algum dia tinha sido razão.E então, me levantei bruscamente, e emergi dos arbustos, deixando três garotos pasmos para trás.

E na minha frente, Thalia e Annabeth se levantaram também, chocadas ao me ver ali, mas com expressões de culpa no rosto. Elas sabiam que eu tinha escutado. E agora, sabiam que teriam que me dar uma boa explicação para toda aquela história. Caminhei até ficar na outra margem do lago, e cruzei os braços. Meus olhos iam de Thalia para Annabeth. Era aqui que isso terminava.