(contado pela Faye)

Olha,de todos os anjos da guarda que poderiam me dar,esse deve ser o mais noob que tinha lá. Eu via aquelas lanças se movimentando e pensava que o Bill devia ter um motivo muito bom para não vir me ajudar.

Eu não conseguia escutar direito o que acontecia lá fora. Acho que minha agonia não estava ajudando em nada.

Então eu ouvi que eles pretendiam sair da caverna. Bem nessa hora,as lanças pararam de vir vagarosamente e vieram com tudo. Cravando na carne de meu ombro,coxa e barriga.

Eu nunca tinha sentido tanta dor na vida. Aquilo parecia me cortar até a alma e o sangue escorreu dos determinados pontos.

Eu chorei. Eu só tinha feito isso ultimamente.

Por que eu era tão fraca? Por que eu não podia ser forte como sempre me falaram que era pra ser?

Flashback on

-Pronto senhora Ramos,aqui está sua menina. Sã e salva. – Dizia a motorista do ônibus escolar com um sorriso para mamãe.

Eu desci as escadinhas do ônibus e corri para abraçar mamãe.

-Obrigada Sharon. – Mamãe agradeceu à motorista e esta deu partida e sumiu na esquina.

-Mãe,as meninas bateram em mim de novo. – Eu chorava e esfregava os olhinhos.

Papai,naquela época,disse que queria que eu tivesse a melhor educação possível. Então ele me colocou numa escola para estrangeiros europeus. Ele queria que eu aprendesse a língua diretamente com os professores gringos e com os alunos de lá. Em troca eu também ajudaria eles a falarem melhor o português.

Acontece que isso nunca deu certo.

Todos de lá eram louros,pálidos e com olhos azuis. Eu era quase tudo isso,só que meus cabelos compridos,eram negros.

-Querida,não ligue para o que aquelas meninas bobas dizem. Você tem que contar para professora.

-Mas a professora sempre fica do lado delas. – Eu choraminguei.

-Você tem que ser forte. Espere até eu juntar um pouco de dinheiro. Eu vou tirar você dessa escola. – Ela me abraçou e acariciou meus cabelos.

-Mas mamãe, o papai disse que quer que eu fique nessa escola de europeus. – Eu disse,inspirando o cheiro de seu doce perfume.

-O que ele quer não importa. O que importa é que você se sinta bem.

-Eu acho que me sinto bem,para uma criança de 7 anos.

-Querida,não importa se você tem 7,17 ou 70. Você tem sempre que se sentir feliz e você não está feliz nessa escola.

-Eu estou sim. – Menti.

-Não,não está. E amanhã mesmo eu vou te tirar dessa escola e te colocar numa mais barata,porém que te trate melhor. Você é linda,delicada,carinhosa. Não tem porque não gostarem de você.

-É,eu acho que sim. – Eu continuava abraçada a ela.

Ela se soltou e olhou nos meus olhos. Suas órbitas claras pareciam avaliar minha alma.

-Seja sempre forte minha pequena. Não importa a situação.

Flashback off

Eu nunca fui forte. Eu nunca fui digna de ter a mãe que eu tenho.

As lágrimas frias escorrem agora pelo meu rosto, e porque?

Por que eu sou uma imbecil fracassada.

A dor parecia já não me atingir mais. Eu só queria sair dali por causa de Bill. Para poder olhar nos olhos dele e falar pelo menos mais uma vez “Eu Te Amo”.

Depois que eu conheci ele,minha vida só fez foi virar de cabeça para baixo. Mas é graças a ele que minha mãe está curada.

Eu vou morrer sangrando e nem vou poder dizer adeus para minha mãe. Eu queria tanto dizer que eu amava também.

Milhares de pensamentos passaram pela minha cabeça,e até mesmo uma carta imaginária:

“Mamãe,eu sei que eu nunca fui uma ótima garota,mas eu te amo tanto. Você me fez feliz mesmo nos momentos em que eu acreditava nunca ter saída. Você iluminava cada uma de minhas manhãs com seu sorriso.

Eu sou feliz só por sua causa.

Eu estou com medo. Eu estou presa dentro de um instrumento de tortura,sangrando. Minha calça já está toda manchada. O sangue já atinge meus sapatos e eu consigo escutar o barulho irritante dele pingando no chão.

Eu estou chorando e cada lágrima desce gelada pelo meu rosto. A dor dilacera minha alma e meu corpo.

Escreva na minha lápide “Garotinha da mamãe” e diga para o papai que eu o perdôo por tudo.

Eu te amo.”

Depois de repassar essas linhas mentalmente,a porta da Dama De Ferro foi aberta e as lanças retiradas da minha carne.

Doeu mais do que elas estivessem ficado apenas paradas. Eu soltei um grito desesperado e olhei para o lado.

Eu passei de leve a mão por minha calça e depois perto de meu lábio inferior. Aquele era o gosto da coisa desejada pelo nefilin. Acho que eu nunca vou entender isso.

Doeu mais do que elas estivessem ficado apenas paradas. Eu soltei um grito desesperado e olhei para o lado.

Virei a cabeça para o lado,vi ele lá.

-Bill. – Tentei pronunciar isso,mas minhas pernas cederam e eu cai no chão.

Eu senti o sangue se espalhando por todos os lados. Meus cabelos sendo manchados e os locais perfurados ardendo de modo insuportável.

Eu queria morrer ali mesmo,pelo menos a dor cessaria.

A voz falava algo,mas eu não conseguia escutar direito. Então dois braços musculosos,que não reconheci,me levantaram do chão e meu corpo inteiro doeu.

Então meu corpo passou para outro par de braço,dessa vez mais magros. Era Bill,eu tinha certeza.

Eu abri levemente os olhos e vi seu semblante preocupado,agonizado e com algo que parecia dor.

Estávamos saindo da caverna de modo lento.

Chovia lá fora.Bill me colocou na entrada da caverna.

Uma dor insuportável tomou conta de meu corpo. Eu não conseguia gritar,eu não conseguia nem ao menos levantar os braços.

Minha consciência vagava para longe de meu corpo.

Então eu vi algo,ou melhor,vi alguém,sentado perto de mim.

-Olá Faye Ramos. Já está pronta para transmutar? – Ele perguntou calmamente.

Quem será ele?

Eu pensei e por mais incrível que pareça,ele respondeu.

-Meu nome é Erick. Sou um dos anjos da morte. Eu fui enviado para te levar para o outro plano. – Ele sorriu. –Espero que você não seja muito teimosa.

Ele era extremamente bonito. Tinha longos cabelos prateados,olhos âmbar,o símbolo triskle na testa. Usava uma túnica branca e um relógio de bolso estava pendurado em seu cinto dourado.

Eu vou realmente morrer?

-Sim. Chegou sua hora,pequena fada.Não se preocupe,Bill ficará bem.- Ele sorriu e se aproximou.

O que irá fazer?

-Te darei o beijo final. O beijo da morte.

Como assim?

Ele encostou de leve seus lábios nos meus,que pareciam estar tão frios quanto os dele. Logo tudo sumiu e a escuridão foi feita.