Hidden escrita por jduarte


Capítulo 43
Encrencada


Notas iniciais do capítulo

mais um! Beijooos,
Ju!



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   Mas que droga...?, pensei. Meu sangue estava azul claro! Azul! AZUL! Como isso é possível? Quero dizer, há muito tempo atrás, tipo, milhões – tá, não tanto – de anos atrás, diziam que o sangue das famílias reais eram azuis, mas isso só por causa da pele translúcida que deixava as veias aparecerem mais que a pele. Mas só por isso! O sangue deles era normal!

   Até onde eu saiba, ou pelo menos sabia, meu sangue era normal!

   Afastei-me do sangue pingado no chão, e tremi de agonia. Isso era impossível!

   Fiquei com aquele grande ponto de interrogação cobrindo minha cara, e foquei os olhos no idiota que havia me machucado.

- Você é paranóico, sabia? – perguntei.

   Caph estalou as amarras atrás de mim, e eu tremi mais uma vez, só que dessa vez, sem querer. A tortura começou quando Shenid ameaçou Bernardo.

- Vocês parecem se gostar muito, não é mesmo? Já se conheciam há muito tempo?

- Nunca o vi na vida! – tentei o convencer, e ao mesmo convencer aos outros de que Bernardo era inocente de qualquer acusação banal.

- Sério? Interessante. Não posso acreditar em você, sinto muito.

- O problema é seu. – rebati a bola de fogo lançada por ele alguns segundos atrás, com um taco de ferro.

   Levantei do chão, fechei as mãos como se estivesse segurando algum tipo de bastão de baseball, e depois as girei como se tivesse acabado de realmente rebater uma bola. De tão realista que foi o barulho ecoou por todo o lugar, e alguns dos guardas olharam para o lugar que eu deveria ter rebatido.

   Sorri debochadamente.

- Um perfeito homerun, não é mesmo? – perguntei.

   Senti alguém chutar a parte de trás de meu joelho, fazendo com que eu voltasse a ajoelhar.

   Shenid não gostou nada da minha piada sem graça, e por isso me mandou calar a boca, em palavras não muito amorosas.

- Você não gosta muito de piadas, não é? Ou será que seu senso de humor virou pó, assim como o cabelo do topo de sua cabeça? Está pensando em virar judeu? – lancei um monte de provocações. Queria que ele se esquecesse de me torturar por várias coisas que eu não fiz.

   Shenid tentou manter a calma, e parecia conseguir.

   1x0 para ele.

- Caph, eu realmente acho que já sabe o que fazer. – disse ao brutamonte que se posicionava atrás de mim, com as amarras de encontro com meus pés.

   Comecei a suar frio e rezar – sim, eu também rezava, muito obrigada – para que tudo acabasse rápido.

- Do jeito que seu organismo reagiu ao Cortizol, você ficará com a sensação de ser humano por alguns minutos. – disse Shenid, se achando o maioral.

   Coitado, nem ligava para mim, a mutante que o mataria. Quero dizer, parte de mim gostaria de ter sua cabeça como prêmio, mas uma pequena parte de meu cérebro dizia: “Ah, dane-se ele! Provavelmente morrerá antes de dizer eureca. Tantos o odeiam que duvido ele viver mais do que alguns meses.”

   Como já era esperado por mim, Caph deu uma estalada só em minhas costas, capaz de mover uma manada de elefantes assustados com o barulho, e o ardor.

- SEU IDIOTA! – gritei me afastando, ou pelo menos tentando.

   Somente pelas nove letras, ele deu mais quatro estaladas em minhas costas. Meus olhos lacrimejaram. E ele estalou incontáveis vezes em minhas costas. Já as sentia queimando, e minhas lágrimas pareciam espessas, salgadas e quentes. Queimavam minha face, e o ardor era insuportável.

   Enquanto eu gritava de dor, ele mais estalava aquela droga em minhas costas, deixando a blusa que eu estava usando, toda rasgada atrás. O que se encostava a minha pele fazia contornos marcados e machucados em minhas costas.

   O que praticamente arrancava minha carne era algo que fazia os machucados arderem. Eu gritava a cada puxão em contato com minha pele. Minhas lágrimas agora, definitivamente, pareciam ser algum tipo de ácido muito forte encostando-se a meus olhos. Seja lá quem fosse o cara que houvesse inventado aquilo que eles colocaram em minha corrente sanguínea, ele tinha que rolar nas chamas ardentes do inferno profundo!

   Eu berrei mais uma vez quando a amarra tocou minhas costas. Caph estalava aquela droga em mim, sem dó alguma. Como ele pode ser tão insensível? Eu não conseguiria nem ao menos fazer uma mosca sofrer, quando mais uma pessoa!

- Vou perguntar mais uma vez: - disse Shenid. Eu quase não o escutava por causa do barulho que estava em minha cabeça. – vocês são, ou não um casal?

   Tossi algumas vezes antes de responder qualquer coisa. Uma frase bem mal criada se passou por minha cabeça, porém nada disse.

- Não. Nós não somos. – respondi finalmente.

   Caph se cansou de jogar as amarras em cima de mim, e então começou a rodada de pontapés e murros. Ele guinava enquanto batia em minhas costas, até me fazer dobrar no chão de dor, e ele começar a chutar meu estômago. Senti o gosto do sangue na boca, e cuspi aquele líquido azul e horrível no chão.

   Meu organismo parecia – literalmente – humano, apesar de que isso parecia ridículo. Eu nunca fora humana. Já nascera como mutante. Meu punho estava muito machucado. Chegava a estar roxo, cheio de hematomas, e inchado. Meus ossos estavam doloridos e meus músculos pareciam se queixar, e gritar pedindo uma cama macia.

   Muitos minutos se passaram até Caph parar de me chutar. Agradeci a Deus por estar viva, mesmo estando praticamente sem a pele das costas. Bernardo olhava para mim com seus olhos lacrimejando de pena e desgosto, mas não havia nenhum motivo aparente pelo qual ele estaria triste.

   Por favor, segure essas lágrimas, você vai nos denunciar, seu idiota!

   Shenid fez algum tipo de sinal com os dedos, e, sem dizer nada, todos – com exceção a Bernardo – saíram da “sala de tortura”. Norbert deu alguns tapinhas consoladores nas costas do irmão, pegou carinhosamente na mão da figura afeminada ao seu lado, e saiu.

  Aldeth veio com uma seringa para cima de mim. Minha respiração ficou falhada, e eu literalmente não sabia o que fazer. Antes que eu pudesse escapar de suas mãos, ele pegou meu braço que ele já havia furado duas vezes, e como se quisesse me machucar, espetou a agulha nos mesmos lugares que antes.

   Sufoquei um palavrão cabeludo no topo da garganta.


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Notas finais do capítulo

continua?