Hidden escrita por jduarte


Capítulo 22
Empatada


Notas iniciais do capítulo

Mais um! BÔNUS!



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   Congelei esperando pelo soco, chute, ou qualquer droga que a pessoa fosse fazer comigo. Mas não. A pessoa passou direto por mim, e ficou de costas – literalmente – para mim.

- O. Você. Estava. Pensando? – perguntou novamente pausadamente.

- Eu não fiz nada, tá legal? – respondeu Adam com a voz entrecortada e baixa. Ele massageava a garganta que continha a marca vermelha de meus dedos.

- Mas estava pensando! Você está bem?

   A pessoa se direcionou a mim, mirando em meus olhos, com uma doçura que eu nunca havia visto.

- Sim... O que faz aqui?

- É, o que faz aqui, Bernardo?

- Estava passando por aqui, quando o meu “alarme-de-idiotas-por-perto” apitou. Parece que ele estava certo. – respondeu ele extremamente seco.

- Devia estar apitando por que você estava por pert...

   Adam não conseguiu terminar de falar, pois o punho de Bernardo foi voando para seu rosto. Adam prendeu minha algema na corrente que estava ligada a parede, e partiu para cima de Bernardo.

   Meu coração se apertava a cada soco, e a cada desviada, eu dava um puxão na corrente que prendia meus pulsos.

   Enquanto tentava soltar-me da corrente, Bernardo e Adam gritavam, se socavam, e, às vezes, eles até chegavam a rolar pelo chão. A briga durou até que Bernardo tropeçou em meu “almoço” – leia-se: gosma cinza fedida e nojenta – e jogou na cara de Adam. Tudo ficou em silêncio, e eu fiquei de boca aberta esperando pelo próximo movimento. Fiz um barulho esganiçado tentando puxar a corrente e libertar-me, quando Bernardo olhou para mim, e Adam se jogou em cima dele.

   Por falta de socos, pontapés e murros, agora tínhamos a famosa e maldita guerra de comida. Eles jogavam aquilo na cara um do outro, até que caiu em mim e eu fiquei extremamente irritada.

- Já chega! – berrei exaltada.

   O silêncio se instalou ali, e eu prossegui:

- Vocês têm quantos anos? Dois? Pelo amor de Deus! Eu não estou entendendo o porquê dessa droga de briga! E olha que eu estou aqui desde o começo.

   Bernardo não encarava-me. Pelo contrário. Parecia muito ocupado fuzilando – ou melhor, metralhando – Adam com os olhos. Tenho certeza absoluta de que, se ele estivesse com a arma, daria um tiro no meio da testa de Adam.

- Isso é realmente ridículo. – gritei.

   Adam forçou os ombros para trás, tentando livrar-se das mãos de Bernardo – que eu não havia percebido – que estavam praticamente grudadas em seu casaco de couro, e rasgado. O enchimento branco saia pelos rasgos, e ainda por cima, ele estava com um pouco de sangue de Adam e de Bernardo.

   Adam foi para cima de Bernardo e eu berrei.

- Você é surdo? Eu disse já chega caramba!

   Eles se assustaram, mas recompuseram a postura de machão tão rápido quanto ela desapareceu.

- Você ai – apontei com o queixo para Adam. Ele tremeu. – faça o favor de me soltar desse... – olhei para a corrente. – troço!

- Ok. – Adam disse dando um puxão no casaco, e fazendo Bernardo – que estava calado até agora – soltar a força.

   Enquanto Adam caminhava relutantemente até mim, Bernardo bufou, e andou mais rápido até mim, e, quando passou por Adam, o empurrou passando em sua frente.

- Ela não é um dragão ou um monstro. Não precisa ter medo, panaca. – sussurrou ainda sério.

   Apesar de saber que Bernardo era um doce de pessoa, e que não machucaria nem uma mosca, seu olhar era frio, petrificado... E, ainda por cima, quando veio até mim e tocou na corrente, ele a enrolou nas mãos, e quebrou com um ruído seco.

   Diferente de mim, Adam nem ligou. Eu praticamente tive uma síncope nervosa. Por fora, minha cara estava horrivelmente assustada. A boca aberta, os olhos arregalados, a respiração ofegante e os batimentos cardíacos lá no teto... Já por dentro, eu não estava tão diferente, mas uma coisa se passava em minha cabeça... ou melhor, palavras, e não eram nada bonitas.

   As mãos de Bernardo, não estavam muito machucadas, mas em algumas áreas, ela sangrava um pouco, e estava meio roxa.

   Proferi um palavrão cabeludo em minha mente, e me assustei. Eu não era desse tipo de coisa. Nunca fora e nunca seria.

- Ok. Já soltei. – disse ele saindo. – Adam você vêm comigo. Quero dar uma palavrinha com você. – Bernardo foi grosso quando mencionou Adam no meio do diálogo, e quando Bernardo disse que queria falar com ele, seus punhos se fecharam convulsivamente.

   Abaixei a cabeça meio frustrada com eles. Esperava algo mais, mas parece que eles são imaturos demais para se tocarem que: EU OS QUERO FORA!

- Por favor... quando sair feche a porta. – avisei encolhendo-me em um canto escuro da solitária.

   Adam saiu primeiro, mas não antes de lançar um olhar extremamente maligno para Bernardo.

   Abracei os joelhos, e esperei para que Bernardo saísse.

- Por quê? – perguntei levantando os olhos.

- Porque o que?

- Porque essa briga idiota e sem noção?

   Ele suspirou e sentou-se a minha frente. Bernardo pegou minhas mãos entre as suas, e ficou brincando um pouco com meus dedos. Suas mãos estavam geladas, mas aquecidas ao mesmo tempo. Eram fortes, mas de uma maneira confortável. De uma maneira, que uma mulher gostaria de ter o rosto seguro por elas, a pele acariciada, seus traços sendo riscados em linhas invisíveis pelas costas...

   Bernardo entrelaçou os dedos nos meus e abaixou as mãos em seu joelho.

- Não sei. Só de... de pensar que ele poderia fazer algo com você... – seu rosto começou a ficar vermelho. Não sabia ao certo dizer se era de raiva, ou vergonha, mas sabia que ele estava a ponto de explodir.

- Shh... Ele não ia fazer nada comigo. – o cortei.

- É pode ser, mas dava para ver pelos seus olhos que ele estava pesando os prós e os contras de te beijar. É um babaca! É isso que Adam é! – resmungou exaltado.

- Ele pode ser isso, mas nada, nada mesmo, vai fazer com que eu entenda o que foi aquilo! – disse eu. – Por favor, Bernardo, se não se importa, poderia por favor sair? Eu preciso cumprir o tempo aqui, e você vai se meter em encrenca.

   Bernardo suspirou batendo a cabeça na parede que estava encostado. O baque foi tão alto, que até me assustei dando um pulo para trás. Seus olhos verdes foram encobertos pela pálpebra, e ele entreabriu a boca parecendo cansado. Inesperadamente, Bernardo abriu um sorriso mostrando todos os dentes brancos e retinhos, naquele sorriso perfeito que aparecia com freqüência, mas que raramente víamos.

   Sei que pode parecer ridículo, mas, esse cara sabia sorrir de uma maneira relaxante, debochada e totalmente sexy.

   Ele abriu os olhos e fitou meus olhos ainda segurando minhas mãos entre as suas.

- Ok. Eu já vou indo. – disse beijando minhas mãos, e se inclinando para plantar um singelo beijo em minha testa.

   Fiquei aérea até depois que ele saiu e trancou a porta. Eu acho que o amo, pensei antes de encostar a orelha no chão, e fechei os olhos. Cada vez que piscava ou pensava, Bernardo estava presente. Num gesto parecido, num piscar de olhos, tudo, mas tudo mesmo, eu comparava a ele.

   Se um homem passasse na minha frente sem camisa, eu ofegaria, mas estaria comparando a Bernardo. Até mesmo se um cara, poderia ter os olhos mais bonitos do mundo, mas ainda estaria comparando a Bernardo. Isso era irritante, mas não conseguia evitar. Ele não saía de minha cabeça.


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Notas finais do capítulo

Beijoooooos,
Ju!