Livre como um passarinho: Sirius nunca entenderia aquela expressão.

As pessoas a usavam quando queriam dizer que estavam livres de tudo e de todo mundo, que dependiam só delas mesmas, como se um pássaro fosse o animal mais livre em que conseguissem pensar.

Para Sirius, aquilo não fazia o menor sentido.

Diferente da maioria das pessoas, Sirius considerava o pássaro o animal mais pateticamente preso que já tinha pisado na Terra: Sempre dependente das estações do ano, sempre tendo que se deslocar para outro lugar para fugir do frio, não podendo baixar a guarda por um segundo sob o risco de ser atacado por predadores. E isso sem contar as gaiolas.

Para ele, isso não era liberdade: Era uma fuga constante.

Talvez por isso tenha optado pelo cão quando foi escolher sua forma animaga, pensou levando a garrafa de Uísque de fogo aos lábios. O cão sim era um animal livre.

O cachorro doméstico nunca tinha que se preocupar com nada além de atender suas necessidades e abanar o rabo de vez em quando, para ganhar carinho. Um cão não tinha que fugir de predadores, acompanhar as estações para não morrer de frio e não vivia sob o risco de viver dentro de uma gaiola.

Mas talvez combinasse mais com um pássaro, raciocinou: Se não estava fugindo de sua família, era de bruxos das trevas, de professores no corredor, de garotas infelizes, de garotas felizes, de quase tudo.

Até do clima ele fugia, uma vez que a neve sempre trazia o feriado de natal e o sol sempre trazia as férias de verão. Quanto à gaiola, ora, Sirius sempre viveu em uma. Uma gaiola de ouro, sim, mas sempre uma gaiola.

Mas o lado bom de combinar com um pássaro, pensou, era o bando: O bando que Sirius tinha escolhido para ele o acompanharia aonde quer que ele fosse, independente de clima, predadores ou gaiolas.

E por isso, todo o resto valia à pena.