La La Land escrita por leticiaxavier


Capítulo 7
Rockville


Notas iniciais do capítulo

Pessoas, não me matem. Aqui está o sétimo capítulo lindamente pronto. Muitíssimo obrigada pelos reviews, são eles que me fazem gostar de escrever essa fic. Aproveitem!



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Era segunda, então eu acordei cedo. Ainda estava muito chateada por meu pai não ter lembrado o meu aniversário. Era meu aniversário de dezoito anos, poxa! Meu pai podia ter esquecido tudo, menos isso! Eu não queria presente nem nada (não posso negar que o meu carro já foi um presente pra valer durante os próximos vinte anos), só queria que ele ligasse!

Assim que levantei, me arrumei e fui levar o lixo para fora. Quando abri a porta, vi um homem parado na calçada. Ele estava ao lado de uma van estacionada ali perto e segurava uma prancheta onde olhava toda hora, depois olhava para a casa e depois voltava a olhar a prancheta. O observei durante alguns poucos segundos, deixei o lixo no latão e, como achei que não fosse nada importante, virei-me para entrar em casa.

- Com licença, moça. – falou ele avançando em direção a porta. – Aqui é o número 720?

Olhei para a placa de metal que indicava o número da casa. “Escondidas pela arvorezinha de estimação da titia!”.

- É sim. – observei a roupa do homem e o pacote que ele trazia na mão. – Posso ajudar? – perguntei parecendo uma daquelas vendedoras chatas de loja de departamento.

- Você conhece – ele olhou de novo na prancheta. – Letícia Xavier?

- Sou eu mesma! – me surpreendi.

- Ótimo. – ele me entregou o embrulho que carregava e me estendeu a prancheta. – Assina aqui. – ele indicou um espaço em branco no papel e me deu uma caneta.

O homem falava meio afobado e impaciente. Dei uma olhada no papel que ele pediu para assinar. O homem suspirou. “Preciso saber o que eu estou assinando, oras” deu vontade de gritar para ele. No cabeçalho, o logo da FedEx. Um pouco abaixo, o nome do remetente: Alberto Xavier, meu pai. Abri um sorriso enorme e tratei de assinar logo o tal papel. O homem pegou a prancheta, deu um sorriso satisfatório e voltou para a van. Entrei em casa com um puta sorriso na cara. Ele não esqueceu do meu aniversário!!!

Me joguei no sofá e abri o embrulho com aquele meu jeito desengonçado, rasgando a embalagem. Não pude evitar uma gargalhada quando vi o conteúdo. A minha sorte é que meus tios já tinham saído para trabalhar e as crianças já tinham ido pra escolinha, então eu não corria o risco de acordar ninguém com minha gargalhada estrondosa. Dentro da caixa em que veio meu presente tinha: o DVD “Zimmer 483” autografado e, acreditem, uma foto do meu pai ao lado do Tokio Hotel!!! Quanta ingenuidade da parte do meu pai me dar uma foto autografada pelo Tokio Hotel!! Se bem que eu não devo pensar assim, né? Ele não sabe de nada, coitado. Havia também uma cartinha escrita a mão. Era a letra do meu pai.

“Filha,

Espero que o presente chegue a tempo. Encontrei os carinhas da banda que você ama em Nova York alguns meses atrás, mas resolvi só te dar esse presente agora porque nem sabia o que te dar no seu aniversário de dezoito anos. Estou quase convicto de que você tem tudo que quer. Mais do que isso, só se você encontrasse com eles. Como eu não posso te dar isso, espero que se contente com o DVD e a foto (apesar de eu estar lá estragando ela hehehe). Por favor, me liga quando receber o presente. Estou morrendo de saudades.

Beijos,

Papai”

Nessa hora deu vontade de ligar para o Bill, mas achei melhor ligar para o meu pai primeiro. Estava me sentindo culpada por achar que ele havia esquecido meu aniversário. Peguei o telefone e me estiquei no sofá. Ele atendeu depois do terceiro toque.

- Pelo visto, as coisas saíram meio fora dos planos, então, feliz aniversário! – ele começou logo que atendeu.

- Eu pensei que você tinha esquecido! – falei envergonhada.

Ele riu e começou a me explicar que pretendia que o presente chegasse até antes do meu aniversário e contou como foi conhecer o Tokio Hotel e como ele fez para conseguir o autógrafo tudo mais.

- E eu não entendia muito bem aquele inglês daqueles caras com o sotaque alemão. E você sabe que eu já sou meio ruim em outros idiomas. – ele contava empolgado enquanto eu ria do modo sensacionalista que ele narrava suas desventuras em Nova York.

- Ai, Deus. – eu exclamei. – Sem querer cortar seu barato, tenho uma coisa para contar... – falei eu receosa. Queria compartilhar com alguém que eu conhecia o Tokio Hotel, ou melhor, o Bill e o Tom. – Eu também conheci eles.

- Sério filha? Onde?

- Num café, há algumas semanas.

- Pegou autógrafo?

- Aham. – eu assenti com vontade de contar tudo. Guardar segredo as vezes é bem difícil.

- Que legal! – pude imaginá-lo sorrindo do outro lado da linha. – Agora eu vou desligar porque tenho que trabalhar. E feliz aniversário atrasado de novo. Espero que você tenha gostado do presente.

- E muito! – afirmei com uma empolgação fingida. Sem querer subestimar o presente, mas qual era a graça de um autógrafo do Tokio Hotel quando você já conhece o Tokio Hotel?

- Então tchau, filhinha. – então ele desligou.

Voltei para o sofá e fiquei contemplando o meu presente. Bom, se o Bill e o resto da banda autografaram o DVD pro meu pai significa que eles o conheciam. Que legal, meu novo melhor amigo famoso conhecia meu pai. Pena que eu não tive coragem o suficiente para contar toda a história por meu pai. Fiquei durante muito tempo pensando em ligar pro Bill, mas ele provavelmente estaria dormindo então resolvi arrumar a casa e outras coisas antes de encher o saco dele.

Fui para a cozinha carregando a foto do meu paizinho. Preparei um cappuccino e algumas torradas com geléia. Sentei na mesa e deixei a foto ao meu lado. Era uma manhã de segunda-feira quente e ensolarada, até porque parece que nunca chove na Califórnia. A cozinha estava tão silenciosa e me parecia muito triste tomar café daquele jeito então peguei meu celular e liguei pra Bia. Ela atendeu com uma voz sonolenta mas me prometeu que apareceria em casa em meia hora. Terminei meu café, lavei a louça e logo depois a Bia chegou. Ela me fez contar toda a história desde o dia do café até o convite para abrir shows do Tokio Hotel nos EUA e me interrompia toda hora com comentários como ”Nossa, que sorte você tem!” ou “Queria estar no seu lugar!” enquanto eu tentava mostrar o quão normais eles eram. Por fim, ela não estava mais chateada comigo mas me fez jurar de pés juntos que eu a apresentaria a eles.

Estávamos no meu quarto, conversando e ouvindo música. Bia estava mexendo nas minhas coisas como sempre. Ela adorava ficar vendo meus livros, CDs e roupas que na maioria das vezes ficavam jogados pelos quatro cantos do quarto. Eu estava sentada de pernas cruzadas em cima da cama respondendo as perguntas que ela fazia sobre o Bill e o Tom, tipo “Ele é cheiroso?”, ”O sorriso dele é tão bonito quanto nas fotos?” e “Ele tem muito sotaque?”.

- Desde quando você tem essa camiseta? – ela perguntou pegando uma camiseta preta do Tokio de dentro do meu guarda-roupa. – Dá pra mim? – ela fez carinha de cachorro pidão.

- Não mesmo! Essa é a minha favorita. – respondi meio indignada.

E aquela era mesmo minha camiseta favorita e mesmo assim eu nem usava muito. Antes mesmo que eu pudesse me levantar da cama para arrancar a camiseta da mão dela, ela a vestiu e saiu correndo pelo quarto.

- Me devolve isso aqui! – gritei tentando levantar da cama. Enrosquei meu pé no lençol e acabei caindo no chão. – Te odeio Bia!

- Se você quiser sua camiseta de volta... – ela foi saindo do quarto. – vai ter que vim buscar!

Me levantei e fui atrás dela. Gente, ela estava com minha camiseta favorita!!!

- Volta aqui, eu te dou uma mais bonita! – prometi.

Bia abriu as portas de vidro da sala que davam para a área dos fundos onde havia uma mesinha branca com seis cadeiras, a churrasqueira, a piscininha de plástico das crianças e vários bagulho normais que se tem nos fundos de casa. Ela parou do lado da torneira ligada a mangueira. Com uma mão ela ameaçava a girar a torneira. Com a outra ela segurava a ponta da mangueira e apontava pra mim.

- Vai em frente que eu não tenho medo de água. – gritei. Só sei que eu precisava da minha camiseta de volta.

Avancei em direção a ela e a louca realmente jogou água em mim mas não o suficiente que me fizesse desistir da minha camiseta.

- Dá aqui! – falei pulando em cima dela e a derrubando no gramado.

- Não, eu quero pra mim. – ela tentava se desvencilhar de mim.

- Vai ficar querendo. – tentei puxar a camiseta. – Essa é minha!

- Mas ela é linda!

- Problema seu! – ela me segurou no gramado tentou sair mas eu peguei a mangueira aberta do meu lado e joguei água nela. Droga, molhei a camiseta também.

Bia caiu do meu lado, na grama molhada.

- Golpe baixo! – ela gritou para mim.

Olhei para ela deitada na grama. Lamentei pela minha camiseta toda suja, molhada e esgarçada de tanto que eu tentei puxar.

- Tá me devendo um camiseta, sua vaca! – dei-lhe um soquinho no braço.

Bia se levantou, tirou a camiseta e jogou em cima de mim.

- Pode ficar pra você. Não quero mais.

- Só não levanto pra te matar porque eu tô muito cansada, se não... – falei estalando os dedo numa tentativa de parecer ameaçadora. – Baixinha, você estaria perdida.

- Eu sei que não. – ela sentou do meu lado. – Você não teria coragem de bater nem em alguém  que você odeia que será algum como eu, que você ama e admira tanto.

Ouvi passos no corredor lateral que ligava o quintal da frente e a área dos fundos. O portãozinho de ferro que separava essas duas partes da casa rangeu.

- Ai caralho. – Bia praticamente sussurrou.  – É ladrão?

- Cala a boca! – falei fazendo sinal para que ela cumprisse a ordem e fiquei prestando atenção nos passos.

- Letícia? Tudo bem aí? – uma voz perguntou.

Então uma silhueta alta e magra, dona da voz e dos barulhos de passos no corredor, apareceu na área dos fundos. Era o Bill.

- Caralho! – Bia gritou.

Nem deu tempo de pensar no que estava acontecendo. Só vi a Bia pulando em cima do Bill e gritando feito uma louca. Ele me olhava sem compreender muito bem então resolvi ajuda-lo. Puxei a Bia para longe dele enquanto ele se recompunha.

- Gente, o Bill tá aqui! O Bill tá aqui! – ela gritava.

Bill me olhava com a mesma cara desnorteada então eu tampei a boca dela com mão.

- Shhh, não é pra vizinhança toda saber! – falei em eu ouvido.

- Tá me solta. Prometo que não vou dar ataque! – então eu percebi que ela havia se acalmado. Se bem que não dá pra botar fé em promessa de fã histérica, mas mesmo assim eu a soltei. – Jesus, você tá na minha frente e eu estou descabelada e molhada. Eu tô no fundo do poço. Ou melhor, no fundo do Tartaro! – ela falou pro Bill e saiu correndo pra dentro de casa. – Já volto pessoas do meu coração! Não sai daí Bill.

Balancei a cabeça negativamente, esperando que Bill perdoe a pobre alma de uma fã histérica e deslumbrada. Ele simplesmente começou a rir.

- Sinto muito pela Bia. – eu falei, sentando-me em uma das cadeira brancas de metal que ficavam em volta da mesa branca também de metal. – Senta aí! – apontei a cadeira ao meu lado. – Desculpa minhas condições lamentáveis. Acho que agora você nem vai mais querer me dar um abraço de “feliz aniversário”.

- Ela até que tem muita consideração por mim. Foi até se arrumar! – ele brincou. – Mas fora de brincadeira, eu te trouxe um presente.

- Não brinca. – eu disse.

Ele acendeu um cigarro e deu uma olhada no cenário de destruição. A grama estava virando um lamaçal e tinha uma parte que estava meio falhada por causa da nossa “lutinha”. Minha camiseta estava jogada perto da mangueira.

- Vocês estavam brincando de “strip-third war”? – ele perguntou quando viu a camiseta jogada no chão. Deu mais uma tragada no cigarro.

- Ehr... – pensei em como explicar que eu estava tentando arrancar a camiseta da minha amiga de um jeito que não ficasse bobo ou pervertido demais. – Você disse que tinha um presente né? – mudei de assunto.

- Ah claro! – ele tirou um embrulho do bolso da calça e me entregou. – Feliz aniversário!

Peguei e dei um abraço nele do jeito que pude, considerando que estávamos sentados e eu estava molhada e que não queria sujá-lo. Abri o embrulho. Era um par de brincos em forma de cereja. Eu raramente mudo de brincos. Só uso no primeiro furo uma pedrinha vermelha e no segundo uma pedrinha rosa, mas aqueles de cerejinha eram tão lindos que eu tinha certeza que os usaria.

- E o seu pai? – ele perguntou querendo saber se ele havia lembrado.

Contei a história do DVD autografado na tentativa de que ele se lembrasse do meu pai, mas foi inútil porque ele já deve ter autografado milhões de CDs/DVDs/fotos pra se lembrar de uma em específico.

- Ah, pelo menos você já sabe que conhece meu pai!

- E pelo menos você já sabe que ele se lembrou do seu aniversário! – ele exclamou apagando o cigarro na grama com a ponta da bota que usava.

Escutamos passos destrambelhados na escada da sala.

- Voltei pessoas lindas! – disse Bia passando pelas portas de correr de vidro.

Ela tinha levado bem a sério a história de se arrumar pra conhecer o Bill. Estava usando um vestidinho de alcinha verde e florido, havia feito um penteado pomposo no cabelo e estava bem maquiada. Maquiada de mais para um tarde ensolarada no quintal com sua melhor amiga, eu diria. E ainda por cima, usando meu vestido!

Bill, sempre muito educado, levantou-se e a cumprimentou com um abraço. Cheguei a pensar que a garota fosse desmaiar naquele momento.

- Você é a Bia, né? – ele perguntou sorrindo.

Bia parecia ter esquecido até o próprio nome. Ela simplesmente confirmava com a cabeça enquanto sorria bobamente. Eu a entendo. Qualquer garota que não estivesse acostumada se sentia anestesiada com aquele sorriso.

- Galera, vocês querem entrar? – eu perguntei cortando o clima. – Tem bolo e refrigerante de ontem na geladeira.

- Opa, eu vou! – falou o Bill se soltando da Bia.

Bia ainda estava lá parada meio bobona, olhando nós dois entrando. Voltei para a área e a puxei pelo braço.

- Me belisca. – ela me pediu enquanto eu a carregava para dentro. – Ele é mesmo real? – ela sussurrou no meu ouvido.

- Acredite: ele é. – respondi em voz alta. Até Bill escutou de lá da porta da cozinha.

Alguns dias depois

- Tem certeza que você deu o endereço certo? – perguntou Luke preocupado.

Estávamos Luke, Sam e eu na casa deles. Estava marcado para hoje nossa grande apresentação no Rockville, um barzinho muito bacana no centro de Los Angeles onde sempre tinha apresentações de bandas undergrounds como nós e até umas mais famosinhas. Luke estava impaciente por que Bill e Tom ficaram de nos encontrar às dez horas da amanhã e já havia passado mais de meia hora do horário combinado e eles ainda não tinham aparecido. Luke ficava andando de um lado para o outro da casa, procurando algo para se distrair, o que estava me deixando muito irritada.

- Quer fazer o favor de sentar essa sua maldita bunda no sofá e parar quieto? – perguntei jogando-lhe uma latinha de coca vazia.

- Ah, tá bom! – ele se sentou do meu lado. – Sentei, sentei. – ele virou-se para mim. – Tá mais calma agora?

- Não vou nem responder!

- Mas você tem certeza de que deu o endereço certo? – dessa vez quem perguntou foi o Sam, meio distraído porque quase não conseguia desgrudar os olhos da televisão.

- Vocês dois são um saco! – eu falei me levantando.

- Vai aonde? – perguntou Luke.

- Pra bem longe de vocês dois!

Antes que eu pudesse sair da sala, Luke me puxou pelo braço e eu caí em cima dele que acabou caindo no chão. Ele começou a me fazer cócegas. A campainha tocou.

- Podexá que eu atendo. – gritou Sam para nós dois jogados no chão. – Olha quem chegou!!

Então Bill e Tom entraram logo atrás de Sam. Que lindo, tem visita e eu estou deitada no chão com o Luke em cima de mim!

- Caraca, acho que chegamos numa péssima hora! – falou o Tom malicioso vendo a cena.

Luke ficou levemente envergonhado e saiu de cima de mim. Levantou-se e estendeu a mão para me ajudar a levantar.

- Não é nada disso que vocês estão pensando! – eu falei séria para os dois. – Mas vamos logo as apresentações: aquele idiota magrelo que estava em cima de mim é o Luke, o baterista; e o loiro é o Sam, o “do talento”. – virei-me para Luke e Sam. – Como vocês já sabem quem eles são, dispensam apresentações, sim?

Peguei minha bolsa no sofá e fui para o banheiro, dar uns retoques na maquiagem, ou seja, passar mais rímel. Antes de fechar a porta ainda escutei Luke dizer:

- Acreditem, ela é sempre muito educada desse jeito!

Enquanto procurava o rímel preto na minha inseparável bolsa xadrez, repassava mentalmente as músicas do “grande show” desta noite. Um arrepio percorreu meu corpo. E se eu esquecer algum acorde? E se der vontade de ir no banheiro? E se eu ficar bêbada antes do show? E se Luke ou Sam esquecerem alguma parte da música? Seria um verdadeiro show de horrores. Nessa horas, penso que tenho que simplesmente confiar em mim mesma para que as coisas saiam bem no final. Será nossa grande chance, uma oportunidade única que praticamente caiu no meu colo e não posso desperdiça-la.

- Ô Cinderela! Vai ficar aí por muito tempo? – Luke bateu na porta me fazendo sair do transe, ou melhor, da paranoia. – Eu gostaria de tirar água do joelho antes da gente ir.

Pude escutar risadas ao fundo. Por que o Luke não pode ser mais discreto em relação a esse tipo de coisa. Ele estava me fazendo passar vergonha na frente dos meus amigos famosos. Tão rápido quanto pude, retoquei o rímel e saí do banheiro. Luke estava apoiado no batente.

- Até que enfim! – ele mal esperou que eu saísse e já entrou e fechou a porta.

Quando cheguei na sala, os três estavam sentados no sofá conversando. Parecia que estavam se dando muito bem. O que pode ser mais legal do que dois grupos distintos de amizade se integrando? Só faltava a Bia ali, mas não há nada que a impeça de aparecer no show mais tarde. Ouvi um estalo atrás de mim e a porta do banheiro se abriu.

- Simbora, povo!! – gritou Luke bem animado.

Pegamos os instrumentos. Ou melhor, eu e Sam pegamos porque a única coisa que o Luke precisava levar são suas baquetas. Fomos até a porta do elevador. Eu carregando meu baixo que não é lá dos mais confortáveis para se segurar num elevador.

- Quer ajuda? – perguntou Bill para mim enquanto esperávamos o elevador.

- Até que enfim um gentil cavalheiro resolveu ajudar a dama aqui, né? – falei zombeteira entregando meu baixo para o Bill.

Ficamos os cinco parados na frente do elevador até que a luz se acendeu no nosso andar e as portas. Entramos.

- Já imaginou se o elevador quebra? – falou Luke enquanto batucava nas paredes metálicas do elevador com suas baquetas.

- Dá pra parar de falar besteira? – reclamou Sam.

- Seu amigo é sempre assim? – perguntou Tom apontando pro Luke. – Meio avoado...

- Acredite ou não: ele é! – respondi, e dessa vez eu não estava sendo sarcástica.

Descemos até o estacionamento, no subsolo. Na vaga para visitantes, lado a lado estava o carro do Bill e o meu. Caminhei até o meu segurando o baixo.

- Quem quiser ir comigo entra logo no carro! – falei, deitando confortavelmente meu querido baixo no banco traseiro.

- Nós dois vamos! – falou Luke, referindo-se a ele e Sam.

- Não mesmo. Só cabe um!

- E o banco traseiro? – perguntou Sam, tipo assim, meio indignado.

- Não sei quanto a sua guitarra, mas meu baixo não nasceu pra ficar chacoalhando em porta-malas!

Bill ria da situação, provavelmente desse meu estranho jeito de falar do meu baixo como se fosse gente. Luke balançava a cabeça negativamente e suspirava uns “tsc...tsc”. Sam providenciava uma carona.

- Posso ir com vocês? – ele perguntou a Tom e Bill de um jeito tão fofo que me fez até me arrepender do meu egoísmo, mas mesmo assim não cedi.

- Pode sim. – respondeu Tom dirigindo-se a Luke e Sam. – Eu vou com você. – falou para mim.

- Bom, tudo bem! – respondi já entrando no carro.

Tom entrou e fomos o caminho inteiro conversando. Até que enfim surgiu uma oportunidade para conversar melhor com ele. A única vez que nos vimos e conversamos foi no dia do ensaio para a SPIN. O Tom é um cara divertido e é até meio constrangedor confessar que eu dirigia o carro na maior brisa pensando “Olha só, o Tom tá dentro do meu carro!” imaginando que os outros motoristas e pedestres podiam ver o interior do veículo, mas aí lembrei que os vidros eram filmados e estavam fechados! Durante a conversa, às vezes ele falava algo extremamente malicioso e me dava uma olhada sacana e era realmente encantador quando ele sorria e mexia no piercing. Eu tentava mexer no meu da mesma maneira adorável, mas acabava não dando muito certo então achei melhor deixar pra lá.

O Rockville não é muito grande. É como se tivessem tentado colocar uma casa de shows dentro de um barzinho. Apesar disso, era um lugar bem legal. Já tinha ido lá algumas poucas vezes para ver um showzinho ou outro mas nunca para fazer um show. O ambiente era meio escuro, para dar aquela atmosfera mais dark e sedutora característica de todo barzinho de Los Angeles. Logo que se entrava, dava de cara com o bar onde garçons serviam meia dúzia de loirinhas. Virando a esquerda depois do bar havia os sanitários. Lá na frente, o palco bem iluminado e, logo atrás deste, o backstage onde eu e o resto da banda afinávamos nossos instrumentos e curtíamos aquele intenso frio na barriga que antecede todo grande (ou trágico) acontecimento enquanto Bill fumava feito um louco. Parecia que era ele quem ia se apresentar para gente importante pela primeira vez.

Faltava apenas dez minutos para começar o show. Segundo Bill, os responsáveis por decidir se a gente ia ou não pra turnê já estavam bem acomodados no mezanino. Logo depois que terminamos a passagem de som durante a tarde e tomamos alguns drinks, voltamos para nossas casas para nos prepararmos para a grande noite. Cheguei em casa, tomei um banho gelado pra relaxar e coloquei minha roupa de grandes ocasiões: calça de couro preta, all star vermelho de cano médio e uma camiseta largona de banda. The Clash, para ser mais específica. Fiz uma maquiagem simples, porém estilosa, com lápis de olho roxo minha tão querida dupla curvex e rímel. E coloquei os brincos que o Bill me deu de presnete de aniversário, claro. Voltei para o Rockville e cá estou eu, suando frio que nem um louco e com uma imensa vontade de me trancar no banheiro e só sair de lá quando alguém me comunicar que o público tinha cansado de esperar a baixista e tinha ido embora.

- Bill, eu não sei se consigo fazer isso! – eu disse. Minha mão suava e deixava a palheta escorregadia.

Bill ficava toda hora abrindo a cortina que escondia o backstage e informando que o local estava enchendo, o que me deixava mais nervosa.

- Por favor, não desiste agora. – Bill me chacoalhou segurando-me pelos ombros.

Olhei para Sam e Luke pensativos, se segurando em suas cadeiras. Pareciam empolgados e ao mesmo tempo preocupados.

- Eu confio tanto em você! – ele me olhou nos olhos e abriu um sorrisinho, como se tentasse dizer que ia ficar tudo bem. – Você não disse que já fez isso antes?

- Sim, mas nós tocamos para meia dúzia de bêbados numa pocilga lá perto de casa.

- Eu confio em você! – repetiu ele.

- E agora, a banda da noite: Cliperton! – anunciou o anfitrião do Rockville.

Quando me dei conta, estava sendo empurrada pelo Sam para o palco. O público olhava curioso para nós três meio intimidados no palco, iluminados pelos holofotes, esperando alguma ação de nossa parte. Luke apenas olhou para mim por de trás do seu chimbal. Sam, posicionado de frente para o microfone, virou-se para mim e balançou a cabeça afirmativamente. Era o sinal para começar. Comecei a tocar a primeira música da setlist.

- Essa música se chama “Remember When”. – anunciou Sam às expressões inquisidoras do público

Um acorde. Outro acorde. Uma tomada de fôlego. Sam começa a cantar. Luke entra com sua bateria harmonizando a linha de baixo com os acordes da guitarra.

Naquela noite, como sempre, tocamos e colocamos todos nossos sentimentos nas canções. Sete músicas depois e então os aplausos sinceros do público e nós três nos abraçando no palco e chorando loucamente de emoção. Agora restava saber se os tais executivos da gravadora iam querer a gente na turnê. Corremos até o backstage onde Bill e Tom nos olhavam apreensivos. Tom havia chegado um pouco mais tarde, quando o show já havia começado.

- Então, que tal? – perguntou Luke todo empolgado. Depois do nervosismo do show, Luke estava mais descontraído.

- Bom, temos a resposta... – anunciou Bill taciturno, o que fez com que nossos sorrisos murchassem na hora, pressentindo uma má notícia. – e... – ele continuava soturno. – Vocês estão dentro! – gritou ele finalmente.

Nós cinco começamos a nos abraçar e pular lá atrás. Gritamos, choramos e agradecemos a qualquer que seja a entidade divina que nos proporcionou esse momento.

- Então, vamos sair pra comemorar? – perguntou Tom.

Poucos minutos depois, estávamos num outro bar não muito longe do Rockville. Sentamos ao redor de uma mesa redonda, rodeada por uma banco com estofado de couro vermelho, como aquelas de lanchonete dos anos 50. Fiquei prensada entre o Tom e Sam.

- Hey! – chamei a atenção dos gêmeos quando Tom pediu bebidas alcoólicas no bar. – Só vocês dois são maiores de idade!

- Não esquenta! – Tom falou. – Vocês tão com a gente. – ele apontou para ele mesmo e pro Bill da maneira mais presunçosa possível.

Viu? Ter amigos mais velhos e famosos tem sempre um lado bom. Um lado muito bom, aliás.

- De qualquer maneira, não vou beber. Quero só Coca. – declarei. – Ah, já ia esquecendo de perguntar: onde estavam os tals “executivos”?

Bill tomou um gole de um drink azul e tomou fôlego para falar.

- Foram embora na quinta música. – ele tomou mais um gole. – Não interprete mal, mas eles tinham que ir. De qualquer jeito, vocês tão dentro e é isso que importa!

- Um brinde a Cliperton e ao Tokio Hotel. – gritou Luke levantando sua garrafa de Heineken, visivelmente alterado pelo efeito do álcool.

Brindamos com ele. Ficamos no bar até as duas da madrugada e u praticamente tive que dar carona para meus amiguinhos bebuns, considerando que eu era a única pessoa responsável que não havia ingerido uma gota sequer da álcool (tirando os drinks pós-passagem de som, hehe, que já haviam sido absorvidos pelo organismo então não contavam mais). Quando voltei para casa, mus tios e as crianças já estavam dormindo e eu estava com um puta sorriso na cara imaginando as loucuras que aconteceriam dali pra frente.


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Notas finais do capítulo

Bom, como que não sou compositora nem nada (do contrário vocês podem ter a mais absoluta certeza de que eu estaria ganhando rios de dinheiro), pra poder deixar a fic mais realista (cof cof) eu vou usar músicas de outros artistas como se fossem da Cliperton,ok? Então vocês podem clicar no link (no caso, o nome da música) para escutá-la. Essa que eu usei no capítulo é "Remember When" do The Parlotones.Dúvidas? Sugestões? Críticas construtivas? Reviews u.u



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