Konohamaru chegou atrasado ao portão do Colégio Satélite. Precisou apertar o passo para conseguir entrar, mas não escapou do olhar reprovador do zelador. Era um velho de cabelo cinzento e olhos pequenos e avermelhados; suas costas curvadas davam a ele uma aparência frágil e cansada. Mas sua expressão sempre séria e sua memória impecável, que lhe permitiam lembrar do nome de todos os alunos, deixavam muitos apreensivos ao encontrá-lo.
Konohamaru era um deles. Tentou um sorriso para descontrair, mas sem efeito. Por isso, decidiu ir direto para a sala de aula.

Na escada que levava para os corredores, viu apenas uma aluna subindo, distraída. Reconheceu o cabelo castanho, liso e comprido, caído pelas costas retas. Brilhava e balançava com leveza. Konohamaru deixou um sorriso escapar-lhe dos lábios, mas conteve-se e venceu rapidamente o espaço que o separava da garota. Agora estava há apenas três degraus dela.

Hanabi era mesmo uma garota bonita, ele tinha que reconhecer. E inteligente o suficiente, para incomodá-lo com suas respostas prontas. Será que algum dia a encontraria despreparada e conseguiria sair vitorioso da discussão? Enfim, Hanabi era bonita e inteligente, de um jeito perturbador. Um verdadeiro desperdício, na opinião dele, que tivesse tão pouca preocução com o próprio caráter. Até a personalidade de Hanabi seria admirável, se ela não fosse tão "filha da mãe".

Konohamaru a olhou, enquanto Hanabi subia a escada. Aquela saia curta, as pernas de fora, a meia e a sapatilha delicada; a blusa azul-claro colada à cintura. Hanabi tinha um corpo que era impossível de ignorar e sabia como usá-lo, fingindo não estar nem aí para os olhares. Parecia uma menina inocente, virgem... O pensamento de Konohamaru se desviou por um momento, explorando uma imagem de Hanabi que até então nunca tinha ousado permitir que sua mente criasse. Era perigoso ver Hanabi daquela maneira.

Hanabi enfim tirou os olhos dos próprios livros e obrigou-se apressar o passo. Já estava atrasada demais. Ao alcançar o fim do primeiro lance de escada e virando-se para começar a subir o segundo lance, que levava para os corredores, percebeu alguém a seguindo, com o olhar perdido. Parou e observou Konohamaru, que levantando os olhos lentamente até seu rosto, sorriu para ela. Aquele sorriso parecia repleto de significados dos quais era provável que não gostaria de adivinhar.

- Bom dia! - Ele cumprimentou, aproximando-se.

- Bom dia. - Hanabi respondeu sem o mesmo ânimo e voltou a subir.

Os dois andaram lado a lado e em silêncio. Konohamaru abaixou a cabeça, pensativo, tentando apagar a imagem de Hanabi de sua mente. Fantasiar com ela estava fora de seus planos. E com certeza ele estava fora dos planos de Hanabi também.

- Chegou atrasada hoje, Hyuuga?

- Não sou a única, não é, Sarutobi?

- Mas para mim isso é normal! Você não. É sempre uma das primeiras a chegar.

- Como sabe, se sempre chega depois?

- As pessoas me dizem. Mas não é difícil imaginar. A melhor aluna da sala tem que dar o exemplo, não é?

- Ah, as pessoas te dizem? - Hanabi o encarou com a desagradável sensação de ser observada.

- É. - Konohamaru deu de ombros. - Que culpa tenho se elas gostam de falar de você? É o preço a pagar por ser a garota mais popular e bonita do Satélite!

Hanabi parou novamente. Estavam no meio do corredor, que levava para a sala deles. Encarou Konohamaru mais uma vez. Sabia que por trás dos elogios, havia muitas provocações, que ele não fazia questão de disfarçar em seu tom de voz.
Quando percebeu que ela tinha ficado para trás, Konohamaru parou e se virou.

- Se quer me falar alguma coisa, fale logo. Mas não me faça perder tempo.

- Tudo bem, Hanabi. Você sabe muito bem o que fez ontem...

- Sei. E se quer saber, não me orgulho. Nem a Matsuri...

- Mas isso não apaga o que fizeram. Nem o que disseram. - Konohamaru colocou as mãos no bolso da calça. Em seu rosto desapareceu qualquer sinal de sorriso. - A Moegi é uma ótima pessoa, que tem muito mais a acrescentar a alguém, do que você e suas amigas. Aqui no Satélite, você pode ser perfeita, Hanabi; ser o centro das atenções e se sentir superior a todos. Mas nada dá a você o direito de falar mal dos outros. Porque isso torna você a pior pessoa do mundo.

Hanabi sustentou o olhar dele. Parecia-lhe percipitado falar apenas com ela, sobre uma culpa que compartilhava com Matsuri. De certa forma, queria que a amiga estivesse lá para ouvir o sermão e ver o desprezo nos olhos de Konohamaru e a seriedade inabalável em seu rosto. Hanabi sentiu-se incapaz de responder. Sabia que qualquer coisa que dissesse, soaria como hipocrisia. Mas não desviou o olhar. Ainda restava-lhe o orgulho e enquanto soubesse usá-lo a seu favor, estaria tudo bem!

- Você já disse o que queria. Agora, eu preciso entrar na sala.

- Você primeiro. - Disse Konohamaru, dando um passo para o lado, deixando-a passar.

No instante em que Hanabi passou por ele, no alto de seu orgulho, Konohamaru a olhou e encontrou com os olhos dela sobre ele. Alguma coisa vacilou dentro de Hanabi enquanto durou aquele olhar.

Dessa vez foi Konohamaru quem ficou para trás com uma nova imagem de Hanabi surgindo em sua mente. O que viu nos olhos dela parecia fragilidade e isso não combinava com a Hanabi arrogante que conhecia. Aquela garota era uma farsa? Mas como saber qual era a verdadeira Hanabi?

- Eu não me orgulho do que fiz... - Ela falou de repente e escondeu o rosto, dando-lhe as costas. - Mas eu não disse nenhuma mentira.

Konohamaru não pensou em discutir. As duas versões de Hanabi, uma que era sólida e estava bem na sua frente, e uma outra que podia ser apenas fruto de sua imaginação, disputavam espaço em sua mente.

Decidiu colocar aquele assunto de lado, por hora. Hanabi estava muito além de sua compreensão.



- Com licença, professor... - Disse Hanabi, entrando na sala de aula e encontrando o professor já em sua mesa e os alunos sentados em duplas.

Registrou rapidamente Inari e Kiumaru juntos em um canto, Saaki e Nagaki em outro, e Yumi com Mizuki perto delas. Matsuri tinha faltado, o que significava que Hanabi teria que ficar com quem sobrasse. Deu uma rápida olhada no fundo da sala e viu Tuy e Katisu também fazendo dupla. Olhando de volta para a porta, perguntou-se se Konohamaru já teria percebido o que aquilo significava.

- Chegaram tarde hoje. - Comentou o professor, totalmente ciente do que acontecia entre aqueles dois alunos e dos riscos que assumia, antes de dizer suas próximas palavras. - Sentem-se juntos e copiem o que está na lousa. Usaremos as próximas três aulas para terminar. Mas comecem logo!

- Que m...

Hanabi ouviu o murmúrio nascer e morrer na garganta de Konohamaru. Fez esforço para não demonstrar tão abertamente no seu rosto a contrariedade de ter que se sentar com ele, principalmente depois de ser alvo de seu sermão manjado. Sentou em uma carteira que sobrava na frente da sala e tratou de separar o material.

Konohamaru sentou ao lado dela e suspirou antes de fazer qualquer coisa. Pegou seu caderno e uma caneta e pôs-se a copiar a lousa. Se ela estava contrariada com aquela súbita parceria, ele não estava melhor.

Pelo menos, ambos estavam felizes por terem se atrasado para a primeira aula, o que significava que teriam pouco tempo tendo que aturar um ao outro.

- Sabe resolver isso? – Hanabi perguntou, percebendo que era melhor tentar ignorar os olhares caídos sobre eles, do que Konohamaru. Enquanto tivesse algo que a distraísse dos outros alunos, talvez fosse mais fácil fingir que não eram o centro das atenções naquele momento.

- Matemática é… A única coisa que faço sem esforço.

- Que surpresa.

Konohamaru a fitou, parando de copiar por um momento.

- É o que acontece quando julgamos alguém sem conhecer.

- Até parece que nunca fez isso. Não fique falando de mim, como se eu fosse só mais uma garota idiota.

- Não. Você é a rainha delas! A rainha das Garotas Satélite! Futilidade e frescura em uma pessoa! É para se orgulhar!

- Colocando nessas palavras, como não me orgulhar? – A voz de Hanabi estava surpreendentemente calma, o que chamou a atenção dos dois. – O que você não gosta em mim, ou nas “Garotas Satélite” como diz, é o que julga saber sobre nós. Você não conhece todas elas, e você não me conhece. Mas nos coloca na mesma posição. Você é aquilo que critica, percebeu?

- Ual! Você é esperta! Por isso é a rainha!

- Você é um idiota.

- Eu nunca disse que não era… - Konohamaru riu. – Nunca tentei passar a imagem de alguém perfeito. E o que tenho para falar de alguém, falo na cara e quando tenho certeza. Não estou te julgando, Hanabi. Estou te dizendo a sensação que me passa. Estou errado? Então me prove.

- Não vou perder meu tempo com você.

- Mas já perdeu tempo pensando em com quem eu saio ou deixo de sair. – Konohamaru retrucou, pouco se importando com os olhares ainda mais curiosos para cima deles.

- Eu não preciso te provar nada…

- Então não prove. E eu fico com o direito de pensar o que quiser de você.

- Hipócrita!

Hanabi finalizou a discussão. Era impossível lidar com ele! E, quanto mais tempo o conhecia, menos gostava dele e mais sérias as discussões ficavam.