Os dias se seguiram muito rapidamente para o gosto dos dois.

Apesar de convicta de sua decisão, Bella estava estranhamente desgostosa naquela manhã, devido já ser quinta-feira. Apenas mais um dia e estariam voltando para casa.

Os últimos quatro dias haviam sido espetaculares. Ela nem se sentia mais tão culpada, apesar de responsabilizar a distância da realidade por isso. Sim , porque o que ela vivia, acreditava ela, era um sonho, uma loucura. Apenas quando Jacob ligava ela se sentia mal e tinha uma pequena e rápida crise de consciência. Mas afinal ela havia decidido aproveitar ao máximo, então sufocava o apelo de sua dignidade e corria para os braços fortes, e para a cama, de Edward.

Este, por sua vez, sentia-se desesperado.

As negociações estavam concluídas. Hoje iriam apenas repassar as últimas cláusulas contratuais com o jurídico da L’AUBE e seguiriam para a assinatura e homologação do contrato. Ele não tinha mais que um dia. Que se resumiria à última noite nos braços de Bella.

Durante o período do tal “pacto”, eles se mantiveram discretos e profissionais assim que saíam do quarto de Edward. O quarto de Bella era apenas usado para a mesma trocar de roupa, ou ligar para o noivo. A noite, cúmplice dos amantes, era o momento mágico deles. Jantavam no quarto, conversavam sobre coisas inofensivas, e se amavam o resto da madrugada. Acordavam nos braços um do outro, satisfeitos, começando o dia com carícias delicadas e banhos compartilhados.

Mas agora a realidade batia à porta. Na próxima manhã estariam embarcando para Nova York, de volta para suas vidas.

Bella suspirou com o pensamento. E Edward espelhava seus sentimentos ainda que os desconhecesse.

- Bom dia... – Bella falou, subindo no peito de Edward para lhe beijar os lábios.

- Bom dia, minha menina... – Ele respondeu intenso, segurando-lhe a face entre as mãos – Fica aqui comigo mais um pouco.

Se abraçaram, ambos sentindo a saudade em antecipação.

Edward sabia da posição de Bella. Estava certo de que ela retomaria sua postura fria e distante assim que retornassem à empresa, e que nada mais aconteceria entre eles.

Seu coração perdeu uma batida, angustiado. Apertou-a com um pouco mais de força.

Se ela não fosse noiva, se estivesse livre, ele largaria tudo para ficar com ela. Se divorciaria de Tânia, o mais rápido que fosse possível, e a tomaria para si.

Mas Bella parecia muito decidida em relação à sua vida. Apesar de estar se demonstrando muito envolvida com ele, por certo que amava o noivo, já que não deixava de falar com ele, pelo menos, duas vezes por dia, e aquele acordo inconveniente que propusera dizia tudo.

Cheirou os cabelos negros da mulher que amava com loucura e puxou seu rosto para o seu mais uma vez.

Depois do beijo, olhou-a com ansiedade.

- Eu sei que não quer que eu fale nada do que sinto... Mas... Eu não quero que acabe. Não quero ter que me separar de você mais uma vez.

Bella arrepiou-se com as palavras de Edward. Tocaram-lhe fundo na alma. Ela sentia o mesmo, mas já havia tomado sua decisão, tinha seus compromissos, sua vida, amava Jacob, à sua maneira, e iria se casar com ele. Os preparativos já corriam a toda. Não tinha como voltar atrás. Além do que, Edward era um homem casado. Nunca se divorciaria para ficar com ela. O tempo havia passado, e ele parecia bem envolvido quando estavam juntos, mas Edward era Edward Cullen. Sempre preocupado com sua imagem, sempre vivendo com o foco nas aparências. Ele não a tinha assumido quando viveram sua história de amor. Não faria isso agora que existia muito mais em jogo do que uma simples popularidade de escola.

- Edward... Nós concordamos em deixar tudo de lado enquanto estivéssemos aqui, em Londres. Não vamos enveredar por um assunto que só fará com que nos afastemos. – Bella falou com relutância na voz.

- Por favor... Não seja tão fria. Você sabe a dimensão do que senti por você antes... E tenho certeza que sabe do que sinto agora. Está sendo difícil lidar com isso, Bella. Não dificulte ainda mais as coisas...

- Podemos parar agora, se estiver complicado demais pra você. – Ela o interrompeu tentando se afastar do corpo másculo.

Mas Edward apenas apertou seus braços em volta do corpo feminino.

- Não! – Exclamou desesperado – Eu quero todo tempo que eu tiver pra viver isso.

- Então para de tentar fazer dessa... Aventura, mais do que uma aventura.

- É isso que o que estamos fazendo representa pra você? Somente isso? – Ele perguntou incrédulo.

- Você sabe que sim.

Edward não respondeu. Desviou seu olhar para não admitir a fraqueza diante da moça. Bella definitivamente não era mais a mesma. Estava muito longe da garota meiga e amorosa que fora um dia. E ele se sentia ridiculamente vulnerável diante da indiferença dessa mulher decidida e prática que estava em seus braços agora.

Bella afagou-lhe a face e suspirou.

- Não vamos discutir... Só temos mais esta noite...

Ele fitou os olhos profundamente castanhos, concordando com suas palavras.

Reconhecendo a anuência no olhar de Edward, Bella lhe ofereceu os lábios que foram tragados com volúpia.

Depois de mais uma seção alucinante de sexo, Edward e Bella correram para a última obrigação com o cliente.

Diferentemente dos dias anteriores, não foram tão bem sucedidos em disfarçar os olhares e sorrisos cumplices enquanto resolviam as últimas pendencias. Parecia que a proximidade da separação estava mexendo profundamente com a concentração e noção de ambos.

O dia acabou rapidamente, e depois de despedirem-se de toda a equipe e do senhor Cavendish, seguiram apressados para o hotel.

Ao fecharem a porta do quarto, atracados um no outro já se encaminhando para a cama, o celular de Bella tocou furioso no bolso de seu terninho.

Ambos estacaram. Sabiam quem era.

Edward sentou-se amuado na borda da cama, enquanto Bella seguia para a porta com a intenção de se retirar.

- Oi... – Ela falou baixo, tentando não piorar a tensão instalada imediatamente entre eles.

- Oi amor... – Jacob falou do outro lado – Liguei porque tô ansioso. Tem uma resposta pra mim?

Nesse momento Bella alcançava o corredor e fechava a porta atrás de si.

Edward, seguindo um impulso, levantou-se rapidamente e prostrou-se atrás da porta para tentar ouvir a conversa. Sentia-se indigno fazendo aquilo, mas a curiosidade o cegara a ponto dele não ligar.

- Vamos voltar amanhã... – Bella respondeu à Jacob, pouco à vontade – Acredito que lá pelas oito da noite eu estarei chegando.

- Vou te buscar!

Bella suspirou. Não poderia negar isso a ele, afinal era seu noivo. Mas seu coração comprimiu-se mesmo assim, insatisfeito com o pouco tempo que restava ao lado de quem realmente amava.

- Tudo bem, amor.

- Estou com saudades, linda... Não vejo a hora de te ter em meus braços...

Ela sabia o que aquilo significava, e não podia negar que, quando não estava com a cabeça em Edward, o que raramente acontecia, ela também sentia saudades. Ela sempre sentia-se segura e amada nos braços de Jacob. Ele era carinhoso e cuidadoso, e o sexo com ele sempre fora satisfatório. Mas tinha certeza de que nada mais seria o mesmo depois daquela uma semana nos braços apaixonados e ardorosos de Edward.

- Também sinto saudades, Jake. – Respondeu enfim.

Bella prosseguiu conversando com Jacob, mas naquela frase Edward se desestabilizou e voltou para a cama.

Sua respiração estava presa, um nó em sua garganta.

Ele sabia que ela era noiva, que não tinha intenções de se separar do rapaz, mas ouvi-la dizer que sentia saudades, chama-lo de amor... Aquilo era demais pra ele. Era como esfregar em sua cara tudo que ele perdeu por pura imaturidade. Poderia ser ele no lugar do tal Jacob.

Uma lágrima solitária escorreu por sua face, enquanto ele percebia o quão próximo do fim ele estava. O fim do sonho, da realização tão ansiada de seu desejo mais íntimo. Ter Bella. Ela não seria dele, já era de outro, mas ele se deixou iludir um pouco enquanto a semana passava, ignorando a realidade que dizia que aquilo era temporário, ocasional, e que logo acabaria.

Enterrou o rosto em suas mãos, sufocando um soluço que ameaçou irromper.

Sentia-se tão fraco. Onze anos sem derramar uma lágrima, por qualquer coisa que fosse, e agora estava ali, suprimindo o choro iminente. Não tinha muito que ele pudesse fazer e sabia disso. Mas resignar-se seria impossível. Estava certo de que, ainda depois que ela se casasse, ele não desistiria dela. E isso só causaria mais sofrimento para ele mesmo.

Bella entrou no quarto, espantando-se com a cena.

Apressou os passos e sentou-se ao lado de Edward, que agora já dava livre acesso às lágrimas que banhavam seu rosto escondido pelos dedos longos.

- O que houve Edward? – Bella sussurrou surpresa e condoída.

Ele ergueu o rosto, suspirando, e enxugou as lágrimas com as costas das mãos.

- Você vai me ouvir se eu falar? – Perguntou sem encara-la – Porque toda vez que eu tento você foge do assunto.

Bella sentiu seu coração acelerar em reação à obviedade daquele momento. Ele com certeza falaria do passado, e de seus sentimentos. E isso era o que ela mais temia, pois tinha medo de acreditar nele e ceder ao amor que ela sufocara tão bem durante todo esse tempo.

- Tudo bem... Eu prometo que vou ouvir. Mas não me peça para comentar.

- Certo. Não vou pedir. Só quero que me escute, e não me interrompa.

Bella assentiu e ele limpou a garganta para prosseguir.

- Eu me arrependo do que te fiz Bella... Na verdade, do que deixei de fazer. Eu sinto muito por ter te perdido por uma babaquice adolescente... Eu te amava... De verdade. Como nunca amei ninguém em minha vida...

Ele pausou, tentando organizar os pensamentos, enquanto Bella fechava os olhos para manter as lágrimas dentro deles.

- Eu nunca esqueci você... Mas realmente não sabia por onde começar a procurar, não tinha coragem de ir até a casa de seu pai para conseguir informações... Mas eu nunca consegui deixar de pensar em você, deixar de amar você...

- Você se casou... – Bella murmurou, tentando não parecer que cobrava.

- Por que não tinha esperanças... E porque Tânia esteve sempre ao meu lado. Eu precisava seguir com minha vida, e se não fosse por ela, nem sei o que eu teria feito.

Bella não ouviu o final da frase. Paralisou no nome da esposa de Edward.

- Você se casou com Tânia? – Perguntou com a voz levemente esganiçada – Tânia Denali?

Edward não compreendeu a aparente indignação de Bella. Claro que ela conhecia sua esposa, afinal ela era colega deles na época da escola, na verdade colega dele, e sua amiga de infância. Mas Bella parecia aborrecida com algo mais, não somente com o fato de sua mulher ser alguém com quem ela conviveu.

- Sim – Respondeu inseguro – Tânia, que era minha melhor amiga, que andava com minha turma, que namorava com o John.

- Que era a única que sabia de nós... – Bella completou maliciosamente.

- Eu te falei que ela nada teve com aquilo, Bella... Ela não faria isso.

- Você sempre confiou demais nela... E ela sempre teve muito mais que amizade por você. – Bella disse já se exaltando – Eu falei inúmeras vezes a você, que ela iria fazer alguma coisa para nos separar... E fez. E aí está o resultado! Ela conseguiu o que queria.

- Você está errada. Ela me apoiava, me ajudou várias vezes. Ela sabia o que eu sentia por você, e sempre ficou do meu lado. Ela me ajudou quando você foi embora, quando eu não sabia mais o que fazer, quando estava perdido. Ela estava lá por mim.

- Claro que estava! – Exclamou com ironia – Ela fez tudo por isso. Ela queria você e não mediu esforços.

- Você está equivocada... Por favor, deixe-me terminar...

- Não! Eu não quero mais ouvir. Eu não quero saber. Não importa! Nada vai mudar!

- Bella, por favor...

- Não vai mudar nada, Edward! – Ela gritou, levantando-se furiosa da cama – Ouvir o que você tem a dizer sobre como se sentiu, o que pensou, como superou... E eu? Por acaso se importou, ou mesmo pensou em como eu fiquei? O que sofri e o quanto sofri? – Respirou fundo, tentando se acalmar – Eu não quero mais saber de nada disso. Foi uma loucura ter cedido ao impulso... Nós não deveríamos ter nos deixado levar por sentimentos que nem cabem mais em nossas vidas...

- Me deixe terminar de falar, Bella... Me escute uma única vez. Você não me deu essa chance na época. Eu tenho direito a ela agora. – Edward falou se levantando e pegando seu pulso.

- Não, não tem. E acabamos por aqui. – Bella retrucou enquanto puxava o braço bruscamente.

- O que quer dizer? – Perguntou atormentado.

- Que essa maluquice acabou. Amanhã voltaremos para Nova York e seremos senhor Cullen, superintendente da CULDEN, meu chefe, e senhorita Swan, futura senhora Black, sua subordinada. Nada mais que isso. O que aconteceu acaba aqui e agora, e eu espero que mantenha sua palavra e esqueça tudo que houve.

Ela falou com tamanha impassibilidade que deixou Edward sem fala por alguns segundos, assustado com sua reação.

- Eu nunca seria capaz de esquecer qualquer coisa relacionada a nós dois, Bella. Não faça isso... Pelo menos não agora. – Falou finalmente, contendo a angústia com certa dificuldade.

- Eu já fiz. – Ela falou com frieza, fazendo-o gelar por dentro – E agora com licença, vou voltar pro meu quarto e arrumar minhas coisas.

Bella se encaminhou rapidamente para a porta, mas Edward a impediu prostrando-se diante dela.

- Fique... – Implorou – É nossa última noite...

- Saia da minha frente – Ela sibilou raivosa.

- Bella, não seja infantil... Eu nem entendi o porquê de toda essa reação exagerada, mas...

Ele não terminou a frase. Seu rosto se virou bruscamente para o lado com a bofetada que lhe foi deferida.

- Você também não vai poder entender o porquê desse tapa, mas tenha certeza de que mereceu. – Bella falou enquanto ele a olhava aparvalhado, afagando o local com a mão – Agora saia da minha frente.

Edward deu passagem a ela, aturdido com sua atitude e explicação.

Ficou inerte vendo-a atravessar o corredor e bater a porta de seu quarto com força, para então desabar no chão, indignado e confuso, por ter perdido a última chance de tê-la sem nem saber o motivo, enquanto Bella se jogava na cama, enterrando o rosto no travesseiro e liberando as lágrimas.

Na manhã seguinte mal se falaram. Edward por estar sem coragem de lhe abordar e Bella pela fúria que ainda a tomava com a descoberta.

Seguiram de volta para Nova York em um silêncio perturbador, sem nem se olharem. E ao desembarcarem seguiram caminhos opostos apressadamente, inquietos por um pouco de espaço e alívio daquela tensão.

Mas Edward ainda pôde ver o tal noivo. Observou Bella correr até ele com um sorriso grande no rosto e o abraçar com ansiedade, selando o reencontro com um beijo apaixonado que lhe partiu o coração em milhões de cacos.

Seguiu cabisbaixo em direção à saída, onde era esperado por seu motorista, já sem forças para enfrentar sua esposa que, com toda certeza, ansiava pela sua volta.