Para onde Vamos? escrita por Janaine


Capítulo 1
Não me abandone...




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Uma tarde de verão calma e linda como deveria ser, não foi.

Tudo começou mal. Os pais discutiam. O bebê chorava e a irmã tentava acalma-lo, mesmo sabendo que não adiantaria nada.

Todos se amavam meses antes, mas esta tarde parecia que o mundo iria desabar.

(irmão narra)

O papai só faltava bater na mamãe por assuntos que não entendíamos.

Minha irmã colocou a chupeta no irmãozinho, mas mesmo assim ele ainda fazia uns barulhos estranhos de criança pequena. Eu fiquei quieto, queria que isso fosse apenas um pesadelo e eu estivesse próximo de acordar, mas se passaram horas e eles ainda discutiam, só que agora estava pior, bem pior.

A cada cinco palavras, três eram xingamentos.

“Do mesmo modo que o amor coroa, ele crucifica”

Não sei bem o porquê de esta frase vir parar em minha cabeça neste momento.

- Quero o divorcio – Disse mamãe assustando a todos, até mesmo o papai.

- Ficará com estas pestes que você chama de filhos – Disse papai apontando para mim.

- Não vou ficar, se você quiser fiquei – Mamãe disse pegando as chaves em cima do pequeno móvel do telefone.

- Não os quero, por mim eles vão para o orfanato – Papai disse olhando fixamente meu irmãozinho.

Não queria ir para o orfanato, iria fazer de tudo para fugir de lá se preciso.

Comecei a chorar com o fato de que poderiam me separar dos meus irmãos.

- Não chore, não vamos para orfanato nenhum. Vamos fugir hoje já que mamãe nem papai estão aqui – Minha irmã disse ainda com nosso irmãozinho no colo.

- Vamos todos juntos, não importa o que aconteça vamos estar juntos – Disse abraçando-a.

Fugimos de casa por volta de 01h30min AM, não havia ninguém nas ruas essa hora, menos chances de nos pegarem.

Andamos até a rodoviária que ficava a uns 9 quilômetros de casa. Pegaríamos o primeiro ônibus que saísse de lá.

E o primeiro era para Berlim, como não ficava muito longe pudemos viajar sem um adulto.

Não sabíamos o que iria acontecer conosco naquela noite fria.

Viveremos até amanhã? Ficaremos juntos? Alguém irá nos achar?

Várias perguntas surgiam em minha mente, mas não as falava.

Como alguém pode viver nas ruas?

Não há comida, proteção, amor.

O dia clareou e continuamos a nossa caminhada a procura de algum lugar para podermos ficar juntos.

Andamos até um bar para comermos alguma coisa com alguns trocados que tínhamos ainda. Não poderíamos comprar muita coisa, apenas pão e água. Mas já iria ajudar a passar algumas horas.

Sentamos em uma das mesas de frente para a pequena TV.

“Crianças somem de Leipzig após briga dos pais, se alguém os vir ligue para o policia. Os pais estão muito preocupados com o estado das crianças”.

Uma das mulheres que estava sentada a algumas mesas de distância nos reconheceu, e gritou:

- São estas as crianças que passaram no noticiário agora. Chamem a policia!

Saímos correndo do bar sem ao menos pagarmos.

Andávamos dentro da floresta para não sermos vistos. Ninguém mais poderia nos ver.

Resolvemos olhar a floresta. Vimos vários animais e avistamos um carro de longe do outro lado de uma velha ponte.

- Vamos até lá, aqui a TV não deve funcionar – Disse minha irmã indo à direção da ponte.

- Cuidado esta ponte é muito velha – Disse querendo fazê-la não ir.

- Venha – Disse ela me puxando pelo braço e com a outra mão segurando meu irmão.

Quando nos aproximamos do final da ponte, as luzes do carro clarearam-se mais, e só nesta hora pudemos perceber que se tratava de um carro de policia. Sabíamos que eles possuíam câmeras dentro dos veículos, então recuamos até mais ou menos o meio da ponte.

- Venham aqui crianças. Os pais de vocês estão muito preocupados com vocês – Disse um dos policias.

A ponte começa a estralar. Comecei a ficar com medo. Alguns pedaços dela começam a cair dentro do fundo de rio.

- Se nossos pais nos pegarem vão nos mandar para orfanatos. Nunca vamos nos rever mais – Disse me aproximando de minha irmã.

- Vocês vão morrer se continuarem ai – Gritou outro policial

- Se é para irmos para o orfanato, preferimos morrer aqui mesmo – Disse dando as mãos para meus irmãos.

Quando terminei de dizer estas palavras a ponte inteira desabou.

Caímos todos dentro do rio, a água estava muito fria e sentia que havia perdido algo. E perdi... Não estava mais de mãos dadas com meus irmãos. Logo avisto o corpo de minha irmã em cima das pedras, imóvel. Gritei por seu nome, mas não fui respondido por ela e sim por um dos policias.

- Meu jovem, ela está sangrando muito e está com vários cortes profundos na cabeça.

- Desculpa meu jovem, sua irmã faleceu. Agora saia destas águas – Gritou outro policial.

Lembro-me de antes de atingir a água fui empurrado. Acho que ela não queria que caísse em cima das rochas.

Comecei então a procurar meu irmão. Não o achava, até que vi seu casaco boiando de bruços na água. Aproximei-me e vi que ele não respirava e também não me respondia. Comecei a ver sombras na água, mas não sabia o que eram. Senti algo bater em uma de minhas pernas.

- Já que o mundo virou as costas para mim, não devo mais existir – Disse sendo puxado pela correnteza.

Algo morde minha perna e sinto grandes dores, mas não há dor maior do que a de ter perdido meus irmãos. Não irei lutar mais. O que tiver que acontecer, acontecerá.

Fui puxado para de baixo d’água e nunca mais voltei.

Agora estou vendo tudo daqui. Meus erros, acertos, o que deveria ter feito. Não me arrependo de nada, pois meus irmãos estão aqui.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ter lido. Se alguém gostar deste estilo de história me avisa que tento escrever mais.



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