Diz que Me Ama escrita por Sleepless


Capítulo 2
O2




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Eu fiquei muito surpreso pelo convite, mas mesmo assim eu tinha que saber o que ele queria comigo. Talvez só me dar um aviso. Mas também eu não ia ficar parado com a ofensa dele. Peguei o sabonete, o mesmo que ele tinha jogado e joguei em direção a ele, que se abaixou rapidamente. Me deu vontade de rir. Eu vi que ele começou a rir debaixo da janela, mesmo que não desse para ver ele, escutei sua risada. Aquilo me deixou muito feliz, mas eu ainda estava magoado com o lunático. Esperei um tempo e ele apareceu novamente com a mesma cara de antipático de antes. Ficou olhando para mim um bom tempo, parecia que ele estava me encarando e a gente estava em um campeonato de encarar. Bem, eu pisquei primeiro, e ele fechou a cortina. Mas que chato essa garoto, já estava me irritando com isso. Minha mãe bateu na porta do quarto para perguntar se eu queria um lanche. Eu disse que não e que eu iria dar uma saída. Eu tinha que ir para casa daquele garoto mal-educado. Vesti uma roupa, ajeitei meu cabelo e desci as escadas. Quando cheguei em frente a minha porta, veio o mesmo nervosismo de antes. Mas mesmo assim fui direto parar na porta da casa dele. Toquei a campainha. A mãe dele atendeu.

- Olá! Como vai você? Que bom que você aceitou as desculpas do Pedro.

- Eu vou bem. É sim, ele pediu para eu vim aqui. Posso entrar?

- Claro! Fique a vontade, ele está lá em cima, pode subir. – Disse ela apontando a escada.

- Ta certo.

Eu subi as escadas, aquelas mesmas que eu tinha me arrependido antes, nem sabia por que estava lá, devia não ter aceitado as desculpas. Pensava comigo mesmo. Eu não posso estar aqui de novo. Mas eu estava. Bem menos nervoso, estava mais curioso do que assustado, esperando de tudo. Quando eu cheguei em cima, fui direto para o quarto dele que desta vez estava com a porta fechada. Eu pensei em voltar, mas quando eu estava dando a volta ele abriu a porta. Estava banhado, camiseta branca, cabelos ainda bagunçados, os olhos estavam mais vivos, bermuda vermelha, uma pulseira de couro no punho esquerdo e com uma cara estranha, toda sorridente e cheia de mistérios.

- Lunático! Como vai? Que bom ter você em meus aposentos!

- Eu estou bem. E você? – Eu disse, estranhando todo aquele comportamento. Será que ele tinha sido abduzido? Acho que não, não daria tempo. Nesse caso fiquei na minha tentando ver até onde ele iria com esse cinismo.

- O que está esperando? Entra logo! – Disse ele dando espaço para eu entrar sem eu quarto.

- Tudo bem.

Ele ficou me olhando muito esquisito, sempre com um sorriso largo no rosto, e até onde eu o conhecia, ou achava que conhecia isso era motivo para desconfiar. O Pedro Henrique me ofereceu chocolate, pediu para que eu jogasse com ele no Playstation 3 dele. Não parava de sorrir, e quando de vez em quando a mãe dele passava no quarto para ver se estava indo tudo bem, ele tocava meu braço, como se estivesse sendo gentil e amável. Eu não pensei um segundo que aquilo fosse verdade, mas confesso que estava adorando. O problema maior era que eu não sentia muita raiva dele. A minha raiva havia diminuído e nem sei por qual razão. Ele não deixou de sorrir um minuto e quando eu perguntava as coisas ele dizia: Olha lunático, vamos primeiro se divertir. Vindo dele era bem normal. Então a partir de agora vou me referir a ele de outra maneira: O garoto mistério. Nunca havia visto tanto mistério assim em uma pessoa. E quando eu achava que não podia ficar ainda mais misterioso, ele adormeceu. Fala sério! Quem que adormece assim, de repente? E o pior, adormeceu em cima de mim! Ele era bem bonito fisicamente, mas roncava para burro. Tudo bem, até que o ronco dele era simpático. Meu Deus! O que estou dizendo? Porque que eu me importava tanto? Eu fiquei esperando ele acordar, mas ele não acordava, parecia estar em sono profundo. O quarto dele era muito bagunçado, mas pelo menos era agradável. A gente estava encostado na cama dele jogando, quando ele largou o controle e caiu com a cabeça no meu colo. E dormiu. Simplesmente dormiu. Como se já não tivesse bastado o tempo que ele tinha dormido.

Como eu não tinha nada para fazer, continuei jogando com ele no meu colo. De certa forma isso não me incomodava, mas sempre ficava pairando no ar a dúvida. Será que ele estava fingindo? Era mais um doideira dele? Isso não saia da minha cabeça. Mesmo assim eu procurava relaxar e curtir. Joguei um tempão. Até anoitecer. O engraçado é que a mãe dele e nem o pai foram lá no quarto perguntar se eu iria dormir ali. Porque francamente, tinha passado um tempão. Eu acabei ficando entediado. Comecei a dar uma geral no quarto dele. Eu era bastante organizado. Quando fui ver o quarto estava arrumado. E ele continuava dormindo no tapete perto da cama. Quando olhei o relógio tomei um susto. Marcavam 10hs30 da noite. Já era hora de ir para casa. Meus pais já estariam preocupados comigo. Quando fui sair escutei um barulho estranho. Era ele, o garoto mistério falando umas coisas dormindo. Eu me virei para escutar o que ele falava. Quando quase que simultaneamente ele acordou.

- O que aconteceu? – Perguntou ele imediatamente.

- Você adormeceu. Eu já estava indo...

- Lunático! O que você está fazendo aqui ainda? Já era para ter ido embora.

- Desculpe, eu já estava de saída.

- Espera. – Disse ele.

- Que droga você fez no meu quarto?

- O seu quarto. Bem, eu o arrumei. Achei que podia.

- Saí logo daqui lunático. Já fiz minha parte.

- Já estou indo.

Depois que sai da casa dele, logo entendi tudo. Ele estava apenas fazendo todas aquelas gentilezas porque a mãe dele o tinha obrigado. Eu não fiquei muito surpreso, mas bem que eu quase cheguei a acreditar que poderia ter alguma verdade. Voltei a ficar com ódio dele. Quando cheguei em casa, nem quis conversa com ninguém. Subi me joguei na minha cama e fiquei lá. Pensava. Mas que garoto chato! Parece que não gosta de ninguém. Tem raiva do mundo.

Vendo o tempo passar eu pensei em pegar meu binóculo e espionar a janela dele, mas estava muito chateado para isso. Em vez disso, peguei os sabonetes que ainda estavam no chão e guardei. Logo depois adormeci. Acordei com um grito. Olhei logo para janela do vizinho. E lá estava ele, do mesmo jeito, encostado na parede, de cueca, acendendo e apagando a luz, dava até para ver o relógio da cabeceira de cama dele. Marcavam 3hs da madrugada. Dessa vez não pensei duas vezes e resolvi fazer alguma coisa. Peguei um dos sabonetes, escrevi em uma folha: O que está acontecendo? E joguei para a janela dele. Esperei algum tempo e nada aconteceu. Ele continuava do mesmo jeito. Eu já estava ficando cansado de ver aquilo, quando ele se aproximou da janela, tentando ver quem tinha jogado o sabonete, eu imediatamente me abaixei. Não sei por que, mas ele me dava certo medo. Aguardei. Senti uma coisa batendo nas minhas costas, era um sabonete. Se eu não estivesse tão curioso para entender tudo aquilo, eu pensaria. Esse garoto deve ter bastante sabonete. Mas esqueci esse provável pensamento e peguei para ler. Dizia: Lunático! Para de me espionar!

Fiquei com uma vontade enorme de rir. Não sei, o apelido parecia tão dócil para mim. Lunático. Chamado por ele nem parecia ruim. Eu criei coragem e levantei. Ele estava olhando para minha janela. Eu apenas sorri. Ele virou as costas e sorriu também, mas uma vez achando que eu não sabia disso. Em seguida ele apagou a luz e fechou a cortina. Eu fiquei me sentindo melhor depois disso. Sabia que eu tinha o dom de arrancar sorrisos de garotos antipáticos. Comecei a perceber que de alguma maneira eu estava ajudando ele a dormir. Talvez ele tivesse problema de insônia.

No outro dia acordei com uma baita dor de cabeça. Minha mãe me deu um comprimido e levou o almoço na minha cama. Meus amigos vieram para me chamar para brincar, mas eu não pude sair da cama. A gente ficou conversando e depois eles se retiraram. Eu vi o carro da vizinha saindo, mas só vi entrarem no carro, a Márcia e o marido dela. Imaginei que eles tinham ido passar o domingo em alguma praia. E logo em seguida veio a idéia de que Pedro Henrique não tinha ido. Como parecia que eu iria ficar na cama um bom tempo, eu comecei a espionar a janela dele. Não dava para ver nada, isso estava ficando estranho. Eu me sentia obcecado por a vida do garoto mistério. Fiquei tão apreensivo de não ver nada, que vesti uma roupa, esqueci a dor de cabeça e a febre que tinha dado, e fui direto para casa dele. Toquei a campainha umas duas, três vezes e ninguém abria a porta. Já estava achando que tinha me enganado, quando ele abriu a porta. Estava com a cara péssima, parecia que não tinha dormido nada. Estava com a mesma roupa de antes. Fiquei parado esperando ele dizer alguma coisa. Em vez disso ele saiu da frente da porta, deixou-a aberta e subiu. Eu fiquei parado um instante, mas depois entrei, fechei a porta e subi. Entrei no quarto dele, ele estava deitado na cama. Eu não sabia o que fazer, mas estava feliz por estar ali. O ar-condicionado estava ligado. Estava bem frio. O quarto dele para minha felicidade estava arrumado. Parecia que ele tinha deixado do jeito que eu deixei. Fiquei muito contente com isso. Mas a minha febre estava me matando. Eu sentei na borda da cama já que não tinha cadeira. O quarto dele era muito legal tinha uma cama, a TV com o vídeo-game e o som em frente da cama, a porta, uma prateleira em cima do móvel do computador, uma cadeira do computador e a porta que dava para o banheiro.

O garoto mistério estava com os olhos fechados e virados para parede. Parecia tão mal. Que eu me atrevi a tocar nele. Para minha grande surpresa ele estava ardendo em febre, uma grande coincidência. Retendo um pouco minha febre que também estava me incomodando, vasculhei a casa tentando encontrar algum remédio. Entrei no quarto dos pais dele, no gabinete, na cozinha, na sala, no guarda-roupa. E nada. Até que subi de novo, vasculhei de novo o andar e descobri uma caixinha no gabinete. Encontrei o comprimido. O problema era como fazê-lo tomar. Eu tomei um e toquei nele para ver se o acordava. Ele parecia muito fraco mesmo. O jeito era abrir a boca dele e enfiar o comprimido dentro. Virei à cabeça dele. Ele abriu os olhos por um instante e fechou de novo. Pedi para ele abrir a boca, ele abriu. Coloquei o comprimido na boca dele e um pouco de água. Ele engoliu. Continuou virado para parede. Eu coloquei o copo e o restante dos comprimidos na mesa de cabeceira dele. Peguei um lençol que estava perto da cama. Estava bastante frio. E fiquei todo embrulhado só olhando para o quarto. O meu celular tocou. Era minha mãe. Disse para ela onde estava e ela ficou mais despreocupada. Eu estava caindo de sono, o remédio fazia isso. Eu estava querendo deitar na cama dele, mas não achava isso uma boa idéia. O sono estava me perturbando, então resolvi me levantar e ir embora. Foi quando uma mão tocou meu braço. Eu virei para trás e era a mão dele. Ele não disse nada, apenas ficou me olhando e afastou deixando um maior espaço na cama de solteiro dele. Eu entendi, eu poderia ficar pensando porque ele teria feito aquilo, mas acabei deixando para lá e me deitando ao lado dele. Depois disso não vi mais nada.

Acordei com um barulho de talheres. Ele estava comendo encostado na cama. Fiquei com vergonha de estar ali. E continuei com os olhos fechados. Estava só esperando ele me expulsar de lá. Em vez disso ele ficou sentado depois de acabar sua refeição. Sem fazer nada. O quarto estava bem frio, mas era muito aconchegante. Continuei a dormir, já que ele não tinha me expulsado. Depois de um tempo acordei. Ele estava no computador. Olhou para mim, eu não pude mais fingir que estava dormindo, acho que fiquei vermelho de vergonha. Eu esperava tudo dele, menos um sorriso, e dessa vez, sem ser escondido. Eu retribui o sorriso e fui me levantando da cama. Ele fez sinal para que eu não tivesse pressa. O que foi surpreendente. Parecia que já era umas 4hs da tarde, olhei no meu celular, que tirei do bolso, marcavam 4hs30 da tarde. Ao que parecia os pais dele não tinham voltado da praia. E ele parecia bem melhor, eu também. Naquela coisa de silêncio e tudo, eu fique sentado na cama. E ele quebrou o silêncio.

- Como você esta? – perguntou ele da mesa do computador.

- Eu acho que agora estou melhor. E você?

- Eu me sinto ótimo. Você está com fome?

- Bem... Sim. – Disse com vergonha.

- Eu vou fazer um prato para você. Pode jogar vídeo-game se você quiser.

- Obrigado. – Fiquei muito feliz.

Ele saiu do computador e desceu para fazer um prato para mim. Nossa. Eu não sei por que, mas aquilo estava me deixando muito contente. Esse lado dele, eu nunca tinha visto. Será que ele estava querendo me retribuir o favor? Só porque eu dei um remédio para ele. Qualquer um poderia fazer isso. Mas eu que fiz. Engraçado como eu estava cada vez mais envolvido na vida de Pedro Henrique. Ele trouxe o prato, com refrigerante nas duas mãos. Colocou no chão. E voltou para o computador. Eu não falei nada, só comi, porque estava com bastante fome. Estava uma delícia, um frango assado, com fritas, arroz temperado. Gostei muito. Depois que terminei levei para a cozinha. Ele não falou nada, me deixou a vontade. Como se já não fosse o suficiente para me deixar cada vez mais surpreso, ele perguntou se eu iria dormir lá. Eu disse que poderia se fosse um convite. Depois disso esperei o lado ruim dele aflorar de novo, mas felizmente me enganei. Ele disse que sim.

- Você quer uma toalha para tomar banho? – perguntou ele.

- Sim. Mas eu não tenho roupa aqui. Tenho que pegar lá na minha casa.

- Não precisa. Eu te empresto.

- Então ta.

- Pode usar o xampu e sabonete que está no boxe.

- Certo.

Quem era aquele? Certamente não era o Pedro Henrique, nem o garoto mistério, nem o chato, nem o antipático. O mais louco de tudo é que nem me chamar de lunático ele estava me chamando mais, e o pior é que eu sentia falta de ele me chamar assim. Bem que minha mãe às vezes diz que eu sou meio maluco. Vai ver ela está coberta de razão. Eu entrei no banheiro dele pela primeira vez. Muito desorganizado para variar. Toalha na pia, sabonete no chão do boxe, papel higiênico no chão. Obviamente eu organizei tudo antes de tomar banho. Quando sai do banheiro, a roupa já estava na cama. Eu me vesti, coloquei a toalha no boxe e fiquei sentado na cama.

- Você quer jogar? – perguntou ele.

- Pode ser.

- Deixa eu só desligar o computador.

- Certo.

- Pronto. – Disse ele sentando-se na cama comigo.

- Que jogo você quer jogar?

- Não sei.

- Quer mesmo jogar? – Disse ele.

- Bem. Não muito.

- Na verdade eu também não.

- O que quer fazer? – Perguntou ele colocando os pés sobre a cama.

- Não sei.

- Quer conversar? Só não sou muito bom nisso. – Disse ele.

- Sim.

- Sobre o que?

- Você morava onde?

- Eu morava em Londres.

- Londres?

- Sim. Meus pais se conheceram lá. Fui criado lá desde os cinco anos.

- Seu pai é britânico?

- Sim. A gente morou um tempo em São Paulo. Depois viemos para cá.

- Você sabe falar bem inglês então.

- Sim.

- Eu pensei...

- Me desculpe. – Interrompeu Pedro Henrique.

- Que nada. Já esqueci.

- É que às vezes sou detestável.

- Eu percebi.

- Desculpa pelo lunático.

- Não. Até que gostei, hahaha.

- Então ta. Lunático!

Nós ficamos conversando durante um tempão. Ele me chamava de lunático, porque eu pedi. Foi muito diferente a sensação. Estar conversando com ele. Ele me contou bastante coisa. Ficamos sentados na cama rindo, isso mesmo, ele não só sorria como também ria de verdade. Eu contei algumas coisas minhas também. O tempo ia passando e a gente lá, conversando. Tudo estava perfeito. Bem... Perfeito demais, para ser verdade. Acordei com minha mãe me chamando para jantar. Quando olhei pra janela dele, tive a infelicidade de descobrir que tudo não havia passado de um sonho. Fiquei muito frustrado. Com muita raiva. E olhando pela janela dele, podia ve-lo na cama escutando música. Eu queria muito que não tivesse sido só um sonho, muito mesmo. Pelo menos ainda tinha o feito sorrir. Isso para mim era tudo. Nem eu entendia por que. Mas recebi outro sabonete na minha janela. E quando vi, fiquei muito feliz. Não tinha sido um sonho, eu ficara um tempão com ele mesmo, mas não dormira lá, fora para minha casa. Porque tinha achado melhor. O bilhete no sabonete dizia: Foi muito bom hoje. O suficiente para eu lembrar que realmente tudo aquilo acontecera. Toda a cor do universo voltou, eu sorria sem parar, não sabia por quê. Embora todas as evidências apontassem para uma coisa, que eu ainda não descobrira.


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