Sam olhou para o motel uma última vez, o maldito motel que ele era obrigado a chamar de lar. A porta havia sido fechada na sua cara. Ele podia ouvir coisas sendo chutadas lá dentro, na certa o pai, John Winchester, com raiva.

Ele também estava com muita raiva, raiva do pai. Sam havia dito que iria para a faculdade e o pai disse que se ele fosse não precisaria voltar nunca mais. Que tipo de pai manda um filho embora quando ele diz que vai estudar? Somente na sua família maluca mesmo.

Carry on my wayward son

(Continue meu filho desobediente)

There'll be peace when you are done

(Haverá paz quando você estiver terminado)

Lay your weary head to rest

(Deite sua cabeça cansada para descansar)

Don't you cry no more

(Não chore mais)

Se bem que, para o pai, ele que era o pirado, por não querer seguir naquela vida. Mas quem em sã consciência iria querer ser caçador? Ter pesadelos a noite, mudar sempre de cidade, viver sempre a beira do limite da sanidade. Eles caçavam coisas que a maioria das pessoas desconhecia e isso, mais do que tudo, era maluquice.

Sam se dirigia para o ponto de ônibus. E apesar da raiva pelo pai, pela primeira vez em toda a sua maldita vida, em todos os seus malditos 18 anos, sentia-se livre. E que se danassem as caçadas. Que se danasse a cruzada do pai.

Teria uma vida normal. A partir daquele momento, ele ditaria as regras. Iria se hospedar em qualquer lugar, qualquer motel que achasse bem longe dali. Não dava a mínima, estava por conta própria, depois veria um lugar fixo para morar.

Então, novamente a discussão lhe veio em mente.

Once I rose above the noise and confusion

(Eu me levantei acima do barulho e da confusão)

Just to get a glimpse beyond this illusion

(Para dar uma espiada além desta ilusão)

I was soaring ever higher

(Eu estava voando cada vez mais alto)

But I flew too high

(Mas eu voei muito alto)

Flash Back On

Dean estava ocupado afiando uma faca de caça, enquanto permanecia calado num canto do quarto. John assistia a programação da tv, coisa que raramente fazia. Tinha uma cerveja em mãos, que tomava a goles ponderados. Sam estava sentado na cama de solteiro, que ele dormia, tomando coragem para finalmente poder falar da sua decisão com o pai.

Havia pensado muito antes de fazer qualquer escolha, mas, já estava bem centrado no que queria.

Suas malas já estavam arrumadas, só iria comunicar o pai, dar adeus e prometer que iria sempre ao encontro deles quando pudesse.

Levantou e sentou-se ao lado de John. O mais velho lhe deu um sorriso e Sam sorriu igualmente, para então dizer:

- Pai, eu vou estudar.

- Grande novidade, irmãozinho, sempre soube que tu era um nerd. - Dean disse de onde estava.

John sorriu mais largamente e então disse:

- Boa garoto.

Sam também riu da brincadeira e então repetiu:

- Eu vou estudar, pai. Vou pra faculdade.

O barulho da faca sendo afiada cessou. John tirou o sorriso do rosto e disse:

- Isso é alguma piada, Sam? - O homem de feições rígidas, disse, arqueando as sobrancelhas.

- Não pai, é a minha escolha. Vou pra faculdade.

Após passar o choque, calmamente, John voltou a tomar a cerveja e assistir a tv. Sam achou que o pai concordaria, mas então o mais velho respondeu:

- Você não vai. - John disse simplesmente, como quem decreta uma ordem.

- Como é? - Sam, mal acreditava no que estava ouvindo.

- Tá surdo Sam? Eu disse que você não vai. - John voltou a olhar para o moreno.

Sam estava abobalhado. Então era assim? Mais uma vez, o cabeça dura do John, iria proibi-lo de alguma coisa e obrigá-lo a seguir suas ordens? Isso é o que ele iria ver. Sam levantou e então olhou na direção do pai.

- Eu vou pai, já tomei a minha decisão, estou apenas comunicando.

Though my eyes could see I still was a blind man

(Embora meus olhos pudessem ver eu era ainda um homem cego)

Though my mind could think I still was a mad man

(Embora minha mente pudesse pensar eu era ainda um homem louco)

I hear the voices when I'm dreaming

(Eu ouço as vozes quando eu estou sonhando)

I can hear them say

(Eu posso ouvi-las dizer)

John perdeu a pose amigável e então levantou igualmente, para ficar de frente para o filho mais novo.

- Você perdeu a razão, moleque? Por acaso esqueceu que eu sou seu pai? Decidiu me desafiar mais uma vez? Eu sempre decido o que vocês vão fazer ou não. - John começava a se alterar e mudar o tom de voz.

Mas Sam já estava cansado das ordens do pai. Cansado de ser tratado como criança.

- Não pai, não mais, eu sou maior de idade. Eu tomo as minhas decisões, eu decido o que eu faço da minha vida. - O moreno frisou as últimas palavras, deixando o pai ainda mais revoltado.

- Você tem noção do que está dizendo? Da droga da escolha que está fazendo? Você é um caçador, é um Winchester, não um mauricinho estudante de uma figa! - O Winchester mais velho gritou as últimas palavras. Deixando o mais novo ainda mais alterado.

- Eu decido quem eu vou ser, eu decido o meu caminho. E eu não quero mais ser um caçador. Quero ter uma vida normal, longe dessa maluquice de caçadas. Longe dessa vida maldita, pai! - Sam gritou no mesmo tom de John.

Dean apenas observava, chocado com a audácia do irmão em desafiar o pai. Mas Sam sempre fora assim, porém, dessa vez, as coisas estavam sérias.

Carry on my wayward son

(Continue meu filho desobediente)

There'll be peace when you are done

(Haverá paz quando você estiver terminado)

Lay your weary head to rest

(Deite sua cabeça cansada para descansar)

Don't you cry no more

(Não chore mais)

- Papai tem razão, Sammy. Já pensou na merda que você quer fazer? Na besteira que você tá falando?

- Porquê, Dean? Por que eu não quero mais ser um maldito? Por que eu quero ter uma vida normal, uma vida segura?

- Sam! - John voltou a falar. - Você tem um compromisso com a sua família! Tem uma responsabilidade a cumprir! Honrar a memória da sua mãe! Por acaso já se esqueceu disso? - John cuspiu as palavras, deixando Sam mais irritado do que já estava.

- Responsabilidade? Com o quê? Com a sua cruzada maluca em achar o que matou a mamãe? Eu nem sequer a conheci, apenas por fotos. Porquê não podemos simplesmente deixá-la descansar em paz? - Sam falou sem pensar.

Dean disse um “SAM” como uma exclamação. E foi tudo o que o mais novo ouviu, antes de sentir o punho do pai no próprio rosto. John acertou um soco no mais novo, fazendo um filete de sangue escorrer da boca do moreno.

- Nunca mais fale assim da sua mãe, seu garoto estúpido! - John disse, cheio de uma raiva que o Winchester mais novo desconhecia.

Sam limpou o sangue da boca e olhou cheio de mágoa para o pai.

- Eu vou e nada do que o senhor faça vai me impedir.

Dizendo isso, Sam foi até a própria cama, pegou a mochila que estava em cima e colocou nas costas. Olhou para o irmão, que estava estático, olhando para ele e em seguida olhou para o pai pela última vez. Sam foi em direção a porta e a abriu, mas antes que pudesse sair John foi até ele e disse as palavras mais cruéis que Sam poderia escutar do próprio pai.

- Sam, se você sair por está porta não volte nunca mais.

Sam sentiu mais dor com as palavras do pai do que com o soco.

- Se é assim que você quer, pai. - O mais novo respondeu cheio de mágoa, para então sair definitivamente. Em seguida pode ouvir o barulho da porta batendo atrás de si.

Flash Back off

On a stormy sea of moving emotion

(Em um mar em tempestade de emoção movente)

Tossed around like a ship on the ocean

(Sou lançado como um navio no oceano)

I set a course for winds of fortune

(Eu ajustei um curso para ventos da fortuna)

But I hear the voices say

(Mas eu ouço as vozes dizerem)

No ponto de ônibus, Sam sentia lágrimas nos olhos. As palavras do pai ficaram gravadas na sua mente e ainda ficariam por um bom tempo.

Um ônibus estacionou a frente do moreno e ele entrou. Só queria poder sair dali e não olhar para trás. Caminhou cabisbaixo na condução e sentou em um dos bancos do fundo, o mais afastado de todos, já que era um dos únicos ainda disponíveis. Era noite e as pessoas dormiam.

Após um tempo, o ônibus ainda não havia se movido e Sam viu que uma mulher loira e não muito alta, entrava pela porta.

Ela andou e olhou por todos os bancos e finalmente chegou ao banco em que Sam estava. Olhou ternamente para ele, dizendo em seguida:

- Se importa se eu sentar aqui, todos os outros estão ocupados. - Falou apontando para lugar vago, ao lado de Sam.

- Não, capaz. Vá em frente.

A garota sentou-se, tinha uma mochila nas costas, que colocou no colo quando se acomodou.

- Vai pra onde?

- Stanford, a faculdade sabe, em Palo Alto.

- Ah que bom, também vou para Palo Alto.

O silêncio se fez dentro do ônibus, para depois de um tempo ser quebrado pela garota.

- Noite difícil? - A garota disse docemente, olhando para ele.

- Na verdade, sim. - Sam respondeu, olhando para ela, com os olhos tristes.

A garota então virou o rosto para o lado oposto, respondendo em seguida:

- É, sei como é. - Então os olhos da garota ficaram totalmente negros, para depois voltarem ao normal e ela olhar novamente para o moreno.

- A propósito, meu nome é Katie. - A garota disse com um sorriso, estendendo uma das mãos para Sam.

Carry on my wayward son

(Continue meu filho desobediente)

There'll be peace when you are done

(Haverá paz quando você estiver terminado)

Lay your weary head to rest

(Deite sua cabeça cansada para descansar)

Don't you cry

(Não chore)

Don't you cry no more!

(Não chore mais!)

No more!

(Não mais!)