Equinócio escrita por Jules


Capítulo 29
Monstros




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Aquele maldito veneno tinha acabado comigo. Alice e Bella me carregaram inconsiente até em casa. O veneno partiu meus ossos e me deixou surda. A dor e a audição estão voltando aos poucos. Mas, pelo menos o Dr. Carlisle me medicou e quebrou todos os meus ossos que tinham se calcificado errado - graças ao meu poder de rápida cicatrização. Ele foi extremamente paciente comigo e disse que voltará daqui há algumas horas para ver meu progresso.

Nesse momento eu estou deitada na cama, ouvindo Seth e a namorada conversarem no sofá - ele exigiu que alguem ficasse tomando conta de mim -  imóvel na cama e morrendo de raiva do Jacob.

Eu era tão idiota! Quase morri salvando a vida dele e ele nem me agradece? Pior ainda, teve a coragem de chamar pela Renesmee quando sabia que ela estava sã e salva na casa da Leah! Eu estava tão arrependida!

Não. Não. Eu não me arrependo. Não consigo mais imaginar um mundo em que o Jacob não exista. Antes eu do que ele. Mas eu continuo com raiva.

- Oi garoto. Ela está acordada? - Jacob perguntou.

Ah pelo amor de Deus! O que ele faz aqui?! Vai me dizer que ele está preocupado comigo agora?!

- Acordou há meia hora - disse Seth - Coitada cara. Você não tem noção de como ela gritou.

Será que eles tinham consiencia de que eu ouvia tudo o que eles diziam daqui de cima?

- Gritou? - murmurou Jacob - Por que?

- Tiveram que quebrar todos os ossos dela. Imagino como deve ter doido. Foi a seco. Sem anestesia nem nada.

- Deus - Jacob sussurrou.

Fechei os olhos por alguns segundos. Devo ter perdido alguma parte da conversa pois ouvi Seth e Melanie indo embora.

A porta de meu quarto abriu-se um pouco e Jacob curvou-se para dentro, hesitante.

Ele olhava meu corpo, angustiado. Demorando-se mais nos hematomas e nos curativos. Alice tinha me posto uma blusa curta que deixava minha barriga exposta - ou melhor - a tala grossa que segurava minhas costelas.

- Oi Jules - ele murmurou.

De inicio eu não respondi. Olhei seu rosto por um longo tempo. Depois, com algum esforço, recompus a expressão num sorriso tristonho.

- Voce me parece bem - eu disse - voce está bem?

- Eu? - Ele me encarou - Por que?

- Hum, não sei - eu disse nervosa e sarcástica - Talvez porque um vampiro tenha tentado te matar? Não sei, talvez.

- Ah! Eu estou bem - ele me tranquilizou - Bem demais na verdade. E obrigado Jules.

- Obrigado?

- Voce sabe - ele disse sem jeito - Por ter se sacrificado por mim.

Toda minha raiva desfez-se em um mar de tristeza.

- Não precisa agradecer.

Ele revirou os olhos.

- Essa é a unica coisa que você sabe falar!

Ficamos em silêncio por alguns segundos, um encarando o outro.

Jacob se aproximou de mim e passou a mão pela tala em minha barriga, seguindo caminha pelos hematomas em meu braço.

- Sinto muito por isso - ele sussurrou - Você não imagina o quanto. Nunca mais vou conseguir me perdoar por isso.

- Não se culpe Jake. Eu sabia o que estava fazendo.

Comecei a me levantar e senti pontadas de dor nos braços e nas costelas. Foi impossivel reprimir um gemido.

- Olhe só - ele disse infeliz, balançando a mão em minha direção - ontem voce estava toda preocupada, temendo que alguem se ferisse e a única que está toda arrebentada é você.

- É - suspirei - Ironico não?

De repente, Jake sorriu radiante.

- Eu tenho que te pedir uma coisa - ele disse orgulhoso e alegre.

- Que foi?

- Seja minha dama de honra.

- Hã? Que isso?

- Dama de honra Jules - disse ele bobamente feliz, ainda sorrindo - casamento sabe?

Eu fiquei olhando para a cara dele, não querendo acreditar no que eu tinha acabado de ouvir.

- Eu vou me casar com a Nessie, Jules.

Estremeci e depois fiquei imóvel, com o olhar parado. Eu sentia meus olhos ficando vermelhos e enxendo de lágrimas.

- Jules - Jake perguntou, preocupado - voce está bem?

 Eu queria sair correndo dali, ir embora e jamais voltar. Eu queria dizer que não, eu não estava bem. Mas o que saiu de minha boca foi um triste e quase inaudivel " sim " .

Ele veio até minha cama e sentou-se de frente para mim, me observando. Eu tentava não olhar para ele, para que ele não visse meus olhos lacrimejantes.

- Eu não queria te fazer sofrer - ele disse, como se tivesse vasculhado  minha mente e descoberto todos os meus segredos.

- Essas coisas nós não escolhemos - sussurrei, deixando as lágrimas de tristeza e constrangimento cairem por meu rosto.

Jake segurou meu queixo e levantou minha cabeça. Segurou meu rosto com uma das mãos e com a outra enxugou minhas lágrimas.

- Nós tambem não escolhemos por quem se apaixonar não é?

Eu olhava confusa para ele.

- Eu te amo - ele disse para mim, quase sorrindo.

Por algum motivo que eu realmente não sei qual é eu não gostei de ouvir aquilo.

- Voce se engana demais Jake.

- O que?!

- Voce não me ama.

- Voce acha que eu não sei reconhecer minhas emoções? - Ele disse com raiva.

- Perto do que eu sinto por você, o que voce chama de amor eu chamo de um simples afeto.

Jake ficou triste de repente, e eu entrei em panico.

- Jake - tentei explicar - eu sei como é querer está com duas pessoas ao mesmo tempo, querer fazer todos felizes.

Jacob olhava para mim como se já soubesse o que eu ia dizer.

- Conhece a história do Rei Salomão? Então ele disse cortem a criança ao meio - eu disse olhando para cima, concentrada na respiração regular - mas era só um teste para ver quem abria mão do bebê para protege-lo.

Olhei-o no rosto.

- Eu não vou mais te cortar ao meio Jake.

Ele começou a chorar, eu me ajoelhei na cama e ignorando a dor, o abracei.

- Shh Jake, me desculpe se disse algo que o magoou. Shh, por favor não chore.

Ele olhou para mim e colocou a mão em meu rosto. Sua expressão era de partir o coração.

- Eu queria tanto ter te conhecido há dez anos atrás, antes de conhecer Nessie, mesmo que voce fosse apenas um bebê - ele disse parecendo se sentir culpado.

Eu não reagia, não acreditava que estava ouvindo aquilo.

- Eu não reclamaria, eu não lamentaria, mesmo se eu não soubesse a menina maravilhosa que você se tornaria.

" Voce não tem idéia do quanto eu queria " - ele sussurrou por fim.

Aquelas palavras foram como facas me matando. Uma morte lenta e dolorosa. As lágrimas corriam pela minha face enquanto eu contemplava o anjo que estava a minha frente, enquanto via ele chegando cada vez mais perto.

Quando ele estava há poucos centimetros de mim, segurei seus lábios grossos o advertindo.

- Não Jake, isso é errado.

- Por que?

- Voce está namo... praticamente casado, com a minha melhor amiga aliás, eu não posso permitir que voce faça isso.

- Juliet... - Ele começou a reclamar mas eu me levantei. Senti uma tontura e encostei as costas na parede, ficando por lá. Jacob se levantou e se colocou a minha frente.

- Não - minha voz ficou mais alta - não, não, não ,não, não.

 Ele segurou meus punhos em frente ao meu corpo, segurando-me.

Eu olhava para ele angustiada, sentindo-me a pior pessoa do universo. Pelo menos eu sabia que não tinha me entregado a ele. Uma tristeza enorme me invadiu enquanto via ele chegando mais perto, enquanto suas mãos apertavam meus punhos e seus lábios encontravam os meus com uma ansiedade que não distava muito da violência.

Pude sentir sua raiva enquanto a boca descobria minha resistência passiva. Seus lábios, desconcertantemente macios e quentes, tentaram forçar uma resposta dos meus. Jacob soltou lentamente meus pulsos e segurou meu rosto. Elas passaram lentamente por meus braços e seguraram minha cintura.

Por um momento seus lábios desistiram dos meus, mas eu sabia que ele não estava nem perto de terminar. A boca seguiu a linha de meu queixo, depois explorou meu pescoço, fazendo-me estremecer.

- Está pensando demais Jules - ele sussurrou com a voz rouca.

 Sacudi a cabeça mecanicamente até que as mãos de Jacob seguraram meus pulsos com força, de novo.

Com um ofegar intenso, ele voltou a colocar a boca na minha.

O choque de raiva desequilibrou meu tênue autocontrole; a reação inesperada de extase por parte dele venceu. Meu cérebro desconectou-se de meu corpo e eu estava retribuindo seu beijo. Minhas mãos - que agora estavam livres - percorriam seu peito e subiam para o seu pescoço, agarrando sua nuca e seu cabelo. Uma de suas mãos puxava meu rosto para mais perto enquanto a outra agarrava freneticamente a pele exposta de minha cintura.

Meus dedos agarraram seu cabelo, mas eu agora o puxava para mais perto.

Ele estava em toda parte. Era como o sol, era tudo para mim. O calor estava em tudo, eu não conseguia ver nem sentir nada que não fosse Jacob.

Eu não queria aceitar o motivo pelo qual eu não estava impedindo aquilo, pelo qual eu não conseguia encontrar em mim o desejo de parar. Significava que eu não queria que ele parasse. Que minhas mãos agarraram aos ombros dele e gostaram que eles fossem largos e fortes. Que as mãos dele me puxassem apertado demais em seu corpo, e no entanto não fosse apertado o bastante para mim.

Nesse momento, senti como se fossemos a mesma pessoa. A dor dele  sempre seria minha dor - agora a minha alegra seria a alegria dele. Eu também me senti alegre, mas de certo modo era dor. Quase tangível - ardia contra minha pele como ácido, uma tortura lenta pois só eu sabia o quanto ia doer quando ele fosse embora.

E então, com clareza, senti a fissura em meu coração se estilhaçar como a maior parte que se separava do todo.

Nossos lábios foram se afastando e ele encostou a testa na minha. Abri os olhos e ele me fitava, admirado e com dor.

As lágrimas corriam intensamente pelo seu rosto.

- Eu amo você - Ele sussurrou.

- Eu amo você tambem, Jake.

Nós ficamos olhando nos olhos do outro. Aquilo era torturante.

- Que dia é o casamento? - Perguntei

- Dez de novembro.

No meu aniversário.

Ele me beijou na testa.

- Eu te amo, Jules - ele disse indo para a porta.

Eu sorri levemente.

 - Eu te amo mais.

Vi ele saindo do quarto com os olhos cheios de lágrimas.

Jacob era tudo o que eu queria e tudo o que eu não podia ter.


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