Fazia um lindo dia, o céu azul, poucas nuvens e o Sol brilhante como sempre foi. Uma leve brisa corria pela Vila Oculta da Folha, aliviando a sensação de calor causada pela temperatura comum daquela época do ano. O verão em Konoha é conhecido por ser extremamente agradável, e normalmente a população aproveita a mais esperada estação para realizar alguns festivais. Só que naquele momento, não havia nada, era apenas mais um daqueles dias rotineiros para todos os habitantes, incluindo um rapaz loiro, que estava sentado num dos banquinhos de seu restaurante favorito.

Naruto permanecia imóvel, enquanto aguardava seu ramen ficar pronto. Os braços apoiados na bancada, o rosto pétreo, seus olhos denunciando a distância da realidade onde se encontrava. E pode-se dizer que estava bem distante mesmo de sua situação atual. A tigela imensa com o macarrão que mal permanecia muito tempo no lugar, já que era instantaneamente devorado, chegou, e o jovem apenas foi capaz de ficar remexendo em sua comida. Estava completamente perdido em seus pensamentos, e parecia não estar muito satisfeito com o que pensava. Ichiraku apenas fitava o loiro a sua frente, indagando-se sobre a razão do ramen ainda não ter sido sequer tocado. Até que outro cliente chegou e ele foi atendê-lo, enquanto sua filha, Ayame, ficava no balcão. Notou que havia algo errado com o rapaz que normalmente era tão alegre e comia tão depressa.

- Naruto-kun, algum problema? – indagou Ayame, confusa com a atitude do jovem.

- Sakura-chan... – disse num tom muito baixo, quase imperceptível, o jovem loiro.

- Naruto-kun? Acorda! – a jovem deu um pequeno tapa no ombro do garoto, que pareceu voltar ao mundo real – Tudo bem? Você não parece no seu humor normal, o que anda acontecendo?

- Ah... – seu rosto voltou ao tom apático de antes enquanto respondia – Não é nada...

- Nada? Impossível! Você nem tocou na comida! Tem algo errado, com certeza! – Ayame parecia ao mesmo tempo indignada com o fato de Naruto não ter comido o ramen que ela preparara e preocupada com o estado do loirinho. Ele era como se fosse de sua própria família, visto que ia comer lá todos os dias. Era sem a menor dúvida o cliente número um do Ichiraku Ramen.

- Algo errado é você estar aí de papo enquanto temos duas tigelas médias de ramen de porco aguardando a cozinheira! – ralhou Ichiraku com sua filha, que reclamando muito voltou para a cozinha para preparar os pedidos dos outros clientes – E quanto a você, Naruto... Ayame tem razão, há algo errado. Pode me contar, confie em mim! Quero apenas te ajudar.

- Puxa, obrigado tio, mas não é nada, sério! – infelizmente, Naruto não estava com o humor bom o suficiente para mentiras, logo, Ichiraku percebeu que ele não havia dito a verdade.

- Certo... Você pode não me contar se não quiser, mas acho que a partir de hoje os preços vão aumentar um pouco... Sabe como é, os ingredientes são tão caros! – Ichiraku atacou o jovem por onde mais doía: o bolso. E Naruto pareceu sentir o golpe, pois logo se endireitou no banco.

- Gah! Tudo bem! Eu conto! Mas por favor, não aumente os preços, gama-chan agradece! – e soltando um suspiro, o loiro continuou – É que tem dois meses que eu voltei pra cá. Mas antes eu vivia ocupado com as missões, sempre treinando com o Kakashi-sensei ou com Ero-Sennin, mas agora que nós voltamos dessa missão em Suna... Eu ando ficando mais tempo em casa, sozinho. E comecei a me sentir mais solitário com isso. Foi quando eu notei que o tempo passou e eu continuo o mesmo garotinho inexperiente em certos assuntos...

- Por exemplo? – o homem parecia se interessar pela história do jovem.

- Err... Eu nunca beijei, tio. Acredita? – Naruto corou levemente ao confessar.

- Sério? Naruto! Eu sei do que você precisa! – disse Ichiraku, erguendo seu indicador como se fosse algo óbvio.

- Mesmo? O que é? – a curiosidade do garoto foi atiçada, e aliada ao desejo de ter alguém para si, Naruto se debruçou no balcão para ouvir melhor o que Ichiraku tinha a dizer.

- Você precisa de um homem! – disse Ichiraku, sem a mínima noção do sentido que sua frase adquiriu.

- C-como? Desculpe, mas... Eu não curto muito sair com outros garotos, sabe? Pensei mais numa garota, entende? – Ichiraku se fez de desentendido, até notar que duplo sentido sua afirmativa teve.

- Ah! Você entendeu tudo errado! – e deu uma risada meio sem graça – Você precisa de um homem que te dê conselhos e te ajude a conseguir a garota que deseja.

- Ah sim! Agora entendi... – Naruto parou por um momento para pensar e em seguida – Você pode me ajudar?

- Eu? – Ichiraku fez uma cara triste – Infelizmente meus tempos já acabaram, desde que conheci a mãe de Ayame que nunca mais fui o garanhão que costumava ser...

- Isso é mentira! Você sempre foi um fracassado, a mamãe vive dizendo isso! – gritou Ayame lá do fundo, para profundo desgosto do homem atrás do balcão.

- Bom, entendi – disse Naruto rindo – Eu já vou indo então... Vou achar esse homem, nem que eu tenha que lutar para isso! – e saiu deixando a tigela de ramen vazia. Ichiraku se perguntou sobre quando o garoto havia comido, até que se lembrou de algo importante.

- Naruto! A conta! – gritou, mas o jovem já estava longe – Ah, esquece... Cobro dele quando voltar.

Ainda correndo, Naruto começou a se indagar sobre quem procurar. "Quem poderia me ajudar com isso? Vejamos... Ero-sennin?", agitou a cabeça em sinal de reprovação assim que o pensamento lhe ocorreu,"De jeito nenhum! A não ser que eu queira perder a minha virgindade antes mesmo de arranjar uma namorada. Kakashi-sensei?", o jovem adotou uma expressão pensativa ao lembrar de seu antigo sensei, "Ouvi dizer que ele também é um pervertido... e que flertou com metade das kunoichi da vila... Iruka-sensei?", ao lembrar de Iruka, decidiu-se na hora em procurá-lo, "Talvez... ele sempre me ajudou muito, pode ser que agora ele possa me dar uma mãozinha outra vez!", e, determinado, partiu em direção a academia shinobi de Konoha. Sentiu que talvez tivesse uma chance, se seu antigo professor pudesse ajudá-lo. Afinal, nos tempos de Academia ele sempre sabia o que dizer, não era agora que ele falharia.

Nesse mesmo momento, na Academia Shinobi de Konoha, um jovem professor aparentemente com seus vinte anos de idade, moreno de sol, com uma cicatriz horizontal em seu rosto, dava aula para mais uma de suas inúmeras turmas de aprendizes shinobi. Iruka era um dos mais jovens dentre os chuunin escalados para dar aulas para aqueles que pretendiam seguir o caminho ninja, e certamente o maior merecedor de destaque do corpo docente da Academia. Mesmo sendo um novo rapaz, já era considerado o melhor professor, inclusive pelos seus alunos.

Naruto se aproximava com muito ânimo de onde teve suas primeiras aulas que o levaram ao posto que ocupava. Sentiu uma onda de nostalgia invadindo seu corpo, ao lembrar de todas as brincadeiras que fizera com seu professor, de todas as vezes que fugira da aula, de quando se tornou um genin. O que o fez se dar conta de que talvez entrar pela porta fosse um tanto quanto perigoso, já que, assim como ele, em toda turma tem um engraçadinho que põe o apagador bem acima da porta para que o próximo desavisado que entrar seja recebido com um presentinho na cabeça. Parou no pátio, olhando para as janelas. Viu quando Iruka se aproximou de uma delas, e decidiu ir do jeito mais rápido até lá. Concentrou seu chakra nos pés.

Iruka dava uma aula sobre os princípios básicos de ocultação naquele momento. Falava para sua turma o quanto era importante saber se ocultar. Um ninja necessitava de três princípios básicos para sua sobrevivência no meio, e sucesso em missão. A primeira era saber se ocultar, sem deixar presença. A segunda, saber se movimentar enquanto oculto. E a última, e talvez mais importante das três, é manter-se alerta.

- Crianças, no dia em que estiverem aptos a serem ninjas, lembrem-se de sempre ficarem alertas. Mesmo estando dentro de Konoha ou qualquer outro lugar seguro, existem aqueles mais poderosos que o normal, e que têm a capacidade de passar por qualquer guarda facilmente, por isso nunca deixem sua guarda baixa – terminou categoricamente, quando Naruto entrou pulando pela janela, derrubando Iruka. Errou no cálculo da força do salto, indo um pouco mais forte do que deveria.

- O que você ia dizendo sobre ficar alerta, Iruka-sensei? – indagou um aluno um pouco mais engraçadinho, provocando risadas em todos os que estavam no ambiente. Iruka se levantou visivelmente irritado.

- Naruto! O que você pensa que está fazendo! – perguntou Iruka, a raiva transparecendo em seu rosto.

- Eu vim aqui para... – Naruto foi cortado pelo seu antigo professor logo depois de começar.

- Eu não quero saber o que você veio fazer aqui, se quiser falar comigo que seja depois da aula, daqui a três horas. Agora vai! – e chutou, literalmente, o jovem loiro para fora de sua sala de aula.

Após se esborrachar no chão do pátio da Academia, Naruto passou a andar, pensativo. "Vivem muitas garotas bem bonitas aqui em Konoha, além da Sakura-chan. Vejamos, a Hinata com certeza melhorou muito desde quando eu saí daqui a dois anos e meio, e além dela temos a Tenten, também. A Ino é outra que não seria nada mal. De resto acho que não tem muitas outras que eu me interesse...", pensou, "E pensando bem, talvez eu consiga uma namorada afinal. Sakura-chan anda me elogiando muito mais do que antes, e as outras garotas parecem me olhar diferente agora... ai... é difícil pensar nisso assim!". Ia andando sem olhar para frente, quando ouviu uma voz familiar.

- N-Naruto-kun... O p-poste! – o aviso veio muito tarde, já que o loiro bateu com o rosto no poste a sua frente e caiu no chão se contorcendo de dor.

- Gah! Meu nariz! – exclamou o garoto.

- N-Naruto-kun, você e-está b-bem?

- Ah, oi Hinata! Meu nariz dói um pouco, mas eu estou bem... – respondeu dando uma risada descontraída.

- Q-que b-bom... M-mas será q-que... – repentinamente Hinata começou a corar.

- Algo errado?

- É q-que eu f-fico imaginando n-no que v-você p-pensava para estar t-tão d-distraído... – Hinata gaguejava muito, mas o loiro conseguiu entender o que ela disse.

- Ah, é isso? Bom... É que eu realmente tava aqui pensando, preciso de uma namorada... – respondeu Naruto, meio sem jeito. Mal deu tempo de Hinata corar, já que ao ouvir as palavras do jovem, desmaiou na hora. O loiro fez de tudo para reanimá-la, sem sucesso.

Lentamente ela abria os olhos. Sua vista, ao entrar em foco, a fez perceber que não estava mais no meio da rua. Olhava para um teto branco, seu braço sentiu o toque suave de um tecido. Era um lençol. Quando se deu conta, estava em cima de uma cama. Levantou rapidamente, sem saber ainda sua localização. Foi quando viu Naruto adentrar o cômodo com um copo d'água em suas mãos.

- Ah, que bom, você acordou! – disse sorridente o jovem.

- N-Naruto-kun? Onde estamos? – indagou confusa a jovem Hyuuga.

- Na minha casa. Você desmaiou do nada, e como não queria acordar de jeito nenhum de trouxe para cá, já que estávamos aqui perto, e...

- N-Na sua casa? – Hinata parou por um momento, corando violentamente – D-Desculpe, mas tenho que ir, estou atrasada – e saiu correndo o mais rápido que suas pernas puderam.

- Esquisito... – Naruto começou a pensar – Estou com a sensação de que tem algo que eu esqueci... Ah sim! Iruka-sensei!

O loiro saiu de casa o mais rápido que pôde, pulando de telhado em telhado. Logo avistava a Academia Shinobi, e no pátio externo, seu antigo professor, Iruka. Seu semblante era de alguém que aguardava fazia algum tempo, e não estava muito satisfeito com isso. Logo que chegou, foi recebido com uma grande bronca, sobre pontualidade e assiduidade com seus compromissos.

- Mas, esquecendo sua completa falta de pontualidade, o que você queria hoje mais cedo, para entrar na minha sala tão repentinamente? – indagou Iruka, ainda irritado.

- Bom, é que eu preciso de ajuda num assunto que eu nunca fui muito experiente... – Naruto corou levemente ao começar, mas foi cortado pelo seu antigo professor.

- Querendo rever o básico?

- Na verdade, não tem nada com técnicas shinobi ou jutsus...

- Não? – Iruka parecia curioso.

- Bom, tem a ver com... Garotas. Eu preciso arrumar uma namorada, mas eu não sei muito sobre isso, entende?

- Ah, bem... É que na verdade... – Iruka começou a corar.

- Vai me dizer que Iruka-sensei nunca teve uma namorada? – o loiro parecia surpreso.

- Olha, se foi pra isso que você me chamou, deveria sentir vergonha de atrapalhara minha rotina com algo tão inútil, agora se me der licença, eu tenho muito que fazer! – e saiu o mais rápido que pôde, tentando evitar a conversa de Naruto.

O loiro voltou a caminhar cabisbaixo pensando. "To ficando sem nenhuma opção. Se não posso contar com Iruka-sensei, com quem posso contar? Ero-sennin, sem chances! Kakashi-sensei, também não é uma boa escolha, e agora?". Ia andando, passo após passo, novamente sem tomar cuidado com o que vinha pela frente, quando repentinamente trombou com algo macio.

- Naruto! Vê se olha por onde anda! – ralhou a garota loira.

- Ah, desculpe Ino... – ele continuou seguindo seu caminho até ser parado novamente por Ino, com um semblante preocupado.

- Tudo bem? Você não parece estar bem... – constatou a jovem.

- Tudo... O que te faz pensar que eu não estaria? – respondeu o loiro com um semblante entristecido.

- Bem, dá pra ver na sua cara, e além do mais... Você nunca se desculparia, normalmente diria algo do tipo "A culpa é sua por não olhar por onde anda". Anda, tem algo acontecendo contigo e você não quer contar – Naruto achou incrível a forma com que Ino leu sua expressão e atitude.

- Não é nada...

- Eu te pago um ramen, e você me conta! – Ino sempre sabia onde atacar os outros, Naruto não era exceção.

- Na verdade... Espera! Você disse ramen? Então vamos logo!

Chegando no Ichiraku, os dois se sentaram, e logo Naruto começou a contar sua história para a loira ao seu lado. Volta e meia Ino fazia algum comentário pertinente, até o momento em que ele finalmente terminou, e enfim ela poderia dar uma opinião sobre tudo aquilo.

- Então, tudo o que você quer é uma namorada? – indagou a jovem como se fosse algo simples.

- Você fala como se fosse fácil... – o aspecto do loiro era depressivo.

- Tudo bem, então acho que eu vou ter que te ajudar mesmo... – e loira apenas deu de ombros, com um sorriso brincalhão no rosto. Naruto fitou-a, incrédulo.

- Mesmo?

- Amanhã, esteja na minha casa as nove, e eu posso começar a te ajudar, mas não se atrase. As garotas detestam homens impontuais. – e saiu, deixando para Naruto esperança, alegria e... a conta.

- Naruto, a conta – disse Ichiraku.

- Como? Gah! Ela me passou a perna! – e após pagar o que devia pelo que comera naquela hora e no almoço, voltou para casa, com as esperanças renovadas. Talvez Ino pudesse ajudá-lo mesmo. Mas isso só saberia na manhã seguinte.

Enquanto isso, Ino voltava para casa, ainda impressionada com a mudança na personalidade de Naruto."Nunca pensei que ele pudesse ser tão fofo! Mas, realmente, ele tem sérios problemas em se relacionar com as garotas nesse sentido, mas eu acho que ele tem chances. Ele se tornou um garoto muito mais bonito desde que voltou, hehehe. E também ta bem mais forte, e mais maduro. Ei! O que eu to pensando? Ele continua sendo o Naruto", e pensando assim, ela entrou em casa para ter seu sono de beleza e preparar-se para ajudar seu colega em apuros sentimentais.