Durante uma quente e úmida noite de verão, em meio a um pobre bairro da periferia da cidade, um garoto, de não mais de 10 anos de idade, olha pela janela de sua casa e vê uma coisa inacreditável. Um trenó voava pelos céus da cidade, sendo guiado por um grupo de renas que pareciam prestes a desmaiar por desidratação devido à exposição ao calor intenso.

A primeira coisa que o menino pensou em fazer foi ligar para o IBAMA e reclamar dos maus tratos àqueles pobres animaizinhos que nada haviam feito para merecer tão maligno tratamento por parte de seu dono, que, por sinal, era um velho estranho que aparentava ter mais de 100 anos de idade. O velho com certeza tinha muitos problemas: pra começar, alguém deveria lhe presentear com um gilete, porque a barba chegava a metros de comprimento; em segundo lugar, ele com certeza precisava de uma dieta e de alguns exercícios, pois sua obesidade ultrapassava os limites normais ( o que fazia o menino imaginar como aquele velho levantava todo dia da cama); e, pra finalizar, ele precisava ficar mais atento à moda, porque aquela roupinha vermelha era simplesmente ridícula, além de ser quente demais para o verão carioca.

O Velho Louco e Problemático (como o menino resolveu apelidá-lo) parou seu trenó sobre a casa do menino com um som bem leve e discreto, o que o surpreendeu bastante e o fez pensar que as renas deveriam ter sofrido muito até aprender a fazer isso com tanta perfeição, ainda mais levando em conta o peso enorme da carga que elas carregavam.

Então, o garoto começou a ouvir passos sobre seu telhado e, assustado com a possibilidade de aquele velho doentio tentar invadir sua casa, correu para o quarto de seus pais e, sempre silenciosamente, abriu a porta, foi até o móvel ao lado da cama, abriu a terceira gaveta, tirou um caderno de dentro dela, pegou uma caixa de sapatos que estava embaixo do caderno, abriu-a e retirou o objeto que estava ali dentro. Um tanto quanto apressado, ele voltou até a sala e esperou, escondido na sombra da árvore de natal, com o objeto bem junto ao corpo, enquanto observava a janela com medo do que poderia acontecer.

Os passos foram se aproximando cada vez mais, até que ele viu a silhueta do Velho Louco e Problemático através da janela. O Papai Noel (verdadeira identidade do velho, que alguns talvez já tenham percebido), apontou seu dedo rechonchudo para a janela e a destrancou como num passe de mágica. Em seguida, ele saltou sobre ela e entrou na sala da casa do menino.

Com o coração batendo em um ritmo acelerado, o menino saiu de trás da árvore, apontou o objeto na direção do Papai Noel e pressionou o gatilho uma, duas, três, quatro vezes.

As balas do revólver atingiram o Bom Velhinho bem no meio da testa, fazendo com que ele morresse quase instantaneamente, sem lhe dar tempo pra dizer um "Hou" sequer.

O menino, ainda assustado, voltou para seu quarto com um leve sorriso por saber que havia salvado o Natal de sua família ao dar um fim àquele louco de roupas vermelhas.

E assim seria se o Papai Noel tentasse entrar em uma casa nos dias de hoje.