M: Vem, Frankie! Quero te mostrar meu quarto!

Adentrou a casa correndo aquele garotinho loiro, com lentes espessas sobre os olhos e aparência delicada. Seguindo-o vinha outro garotinho, mais baixo, com os cabelos castanhos e lisos caindo sobre os olhos claros num corte cuneiforme perfeitamente simétrico. O primeiro era Mikey, 10 anos de idade, irmão mais novo de Gerard, três anos mais velho, outro típico garoto de Jersey com nada em especial senão seu talento para as artes e afins, o qual herdara de sua avó Elena assim como os cabelos negros e os olhos absurdamente claros, que o diferiam de Mikey. O segundo era Frankie, seu novo visinho, um ano mais novo, filho único de uma mãe solteira. Seu pai os abandonara cedo, deixando-o então para ser criado pelo seu avô, o que fora inconscientemente um imenso favor que o fizera.

G: Mikey eu já disse para não andar correndo pela casa! –Esbravejou o Way mais velho, sentado na mesa de costas para ambos, rabiscando algumas coisas em um imenso papel.

F: Quem é esse? –Perguntou aquela voz infantil de rosto ainda desconhecido arrancando um sorriso de Gerard que ainda se encontrava de costas.

M: É meu irmão. Ele é chato, mas sabe ser legal às vezes. Quer conhecê-lo?

F: Melhor não... Ele parece ocupado.

Dando de ombros Mikey segurou a mão de Frankie e ambos subiram para checar a “fantástica” coleção de bonequinhos dos quais ele tanto se gabava.

Pelos anos que se seguiram essa cena se repetiu, e do mesmo modo como da primeira vez Gerard estava sempre “ocupado demais” para conhecer o ainda desconhecido amigo de seu irmão. Só os via de relance, enquanto atravessavam a casa ou assistiam a algum filme. Se o visse na rua provavelmente não o reconheceria, senão pelo seu modo peculiar de se vestir, como um punk saído de um clipe do Misfits, só que de visual mais polido e felizmente limpo. Frankie tampouco fazia questão de conhecê-lo, visto que alguém que ainda não se dispusera a fazê-lo não podia ser nada além de um chato mesmo, como disse Mikey anos atrás. Além do quê ele e Gerard não pareciam ter absolutamente nada em comum. Frankie era super-ativo, gostava de sair, estar sempre em movimento, conhecer pessoas, diferente de Gerard que passava todos os dias de sua vida na casa de sua avó, ou sentado naquela mesa desenhando e escrevendo, e abominava qualquer resquício de socialização senão os obrigatórios como o colégio.