A neve caia pesada sobre o antigo trem. As rodas de metal se debatendo contra os trilhos enferrujados, era torturante. Um barulho que se assemelhava a uma mistura de serra elétrica e arranhões.

Os passageiros eram sacolejados a medida que o trem virava ou simplesmente andava. Melhor dizendo, ele não andava. Parecia mais estar parado no mesmo lugar a horas. A velocidade, assim como o seu barulho, era torturante. Já passavam das dez da noite.

O vento, pelo jeito, continuava forte do lado de fora. As minúsculas janelas do trem davam a impressão de que fosse uma prisão; a neve continuava a cair, embaçando as janelas.

Tudo parecia ter saido de uma daquelas cenas de filme de terror.

Mas, ao contrário disso, aquilo era a mais pura - e infeliz - realidade.

Bella estava triste ultimamente. E sim, havia um motivo para isso.

Ela não era assim há muito tempo. A alegria, o sorriso estampado no rosto, as brincadeiras e palhaçadas... Nada disso pertencia mais a ela.

Dizem por ai que a vida não é justa. O ditado funciona muito bem com Bella.

Há três anos atrás, o motivo do desespero e da solidão aparecera.

Setembro de 2007 - Uma volta do Tempo

Não havia como dizer que aquele dia estava maravilhoso.

Eram apenas 06:30 da manhã e o sol já despontava, seus raios brilhando como nunca. Os pássaros cantavam em vários ritmos e melodias diferentes. Uma alegria incomum parecia enxer aquela casa.

Bella olhou pela janela. Um sorriso gigante tomou conta do seu rosto. Não entendia muito bem se havia algum motivo por se sentir assim. E o que era mais estranho: havia um frio na barriga incontrolável, como se um mar de borboletas tivesse resolvido se alojar na sua barriga.

Tirou o pijama. Tomou um banho quente. Saiu do banheiro, os cabelos avermelhados molhados. Colocou o uniforme. Não precisava exagerar na maquiagem, já era linda por natureza. Desceu a escada como um flash.

-Bom dia, pai!

-Bom dia, querida. - Charlie respondeu meio desconfiado. - Posso saber o motivo de tanta felicidade?

-Tá ai, pai! Também queria saber. Não sei o que aconteceu comigo hoje. Simplesmente, acordei feliz.

-Hum. - Charlie murmurou.

-Onde está minha mãe?

-No serviço.

-Mas já?

-Sabe como a sua mãe é. Pra ela, o trabalho é mais importante do que a família.

As palavras de Charlie foram como um soco no estômago de Bella. O que ele falara era verdade, não havia como Bella negar. Esmee, sua mãe, sempre deu mais atenção as coisas que não levassem em conta família. Talvez, seja por isso que Bella andava triste.

-Bella? O que foi? Já sei. Falei o que não devia, não é? Olha, filha, eu não queria...

-Pai, tá tudo bem - Bella interrompeu Charlie, colocando o dedo indicador na boca dele - Não precisa se desculpar. Você não tem culpa da minha mãe ser assim. Se foi isso que ela escolheu, a gente não é ninguém para mudar a situação. Um dia ela vai perceber o erro que cometeu. Não quero estragar meu dia discutindo, ok?

-Te amo, filha.

-Também.

Os dois - pai e filha - permaneceram em silêncio total, apenas trocando olhares.

Era incrível aquela relação entre os dois. As palavras não eram nada. Um simples olhar ou um gesto, eram tudo de que precisavam para entenderem o que o outro dizia.

-Acho que já está na hora de ir. Beijos, pai.

-Vai com Deus, minha querida.

Bella saiu saltitante da sala.

-Parece até a Alice. - Charlie sussurrou para si mesmo.

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------

São Francisco tinha um brilho incomum. Ou será que aquilo era só a imaginação de Bella?

-Bella, bom dia, princesa! - disse Billy.

É, realmente isso não era a imaginação de Bella. E haviam dois motivos para essa hipótese:

1º- Billy Black, o homem mais mal-humorado e irritante de toda São Francisco tinha dado ''Bom dia'' para Bella, a qual ele tanto odiava por causa das bagunças que ela aprontava com ele.

2º- Tinha alguma coisa muito errada acontecendo.

Enquanto dirigia, Bella apenas sorriu e acenou para Billy.

O celular de Bella tocou. Tocou mais uma vez, mais uma e mais uma.

-Que saco! Dá pra esperar?

Numa fração de segundos, o celular parou na sua mão, depois pousou em seu ouvido. Não era sinal de quem ligava, e sim de uma mensagem.

Não ligou para isso. Se fosse algo realmente importante, a pessoa que estivesse mandando a mensagem provavelmente ligaria ou falaria pessoalmente. Portanto, Bella não se preocupou com a mensagem.

Estacionou a ferrari vermelha no espaço de sempre do estacionamento. Já se passara muito tempo desde que os outros alunos deixaram de notar a imponência majestosa do veículo. Dinheiro era uma coisa de que ela nunca ia sentir falta.

-Olá, Bella.

-Olá, Emmet.

-Hey, Bella. E ai?

O celular vibrou no bolso da calça da garota, sua atenção se voltando para a tela do celular:

''Você recebeu três mensagens''.

-Hã? Ah, Oi, Bree. Desculpa.

-Você tá estranha. Parece que viu um fantasma. Aconteceu alguma coisa? - os olhos negros de Bree - que, na verdade estavam escarlate agora, uma súbita raiva (talvez fosse apenas curiosidade) fazendo seu rosto ficar vermelho.

Bella estranhou o olhar de Bree.

-Não. Comigo não tem nada acontecendo, ao contrário de você.

-C-comigo? C-claro que não. Eu tô bem. Não está vendo?

 -Aham. - Bella resmungou. Continuou a andar, Bree seguindo-a por todos os cantos.

 A aula foi como sempre, o mesmo tédio, as mesmas bagunças. Só havia uma coisa de anormal: Bree não tirava os olhos de Bella e toda vez que Bella retribuia o olhar, não conseguia. Sentia algo pesar no peito, uma dor inexplicável. Um raio de energia negativa vindo da garota.

No fim da aula, o celular tocou mais uma vez.

Dessa vez, Bella abriu e resolveu ler a mensagem.

'' Sua vida está por um fio. Isso não é nenhuma brincadeira. Eu falo sério. Se quiser continuar viva, saia já de São Francisco. É o melhor pra você. A não ser que queira morrer. Talvez a morte, no seu caso, não seja tão bom. Um pouco de dor te ensine a não mexer com a pessoa errada. Isso não é uma ameaça. É a verdade. Ah, e só mais um aviso: não conte nada para ninguém. Vá direto para Nova Iorque. Logo mais você terá outras informações. Pense bem. A vida não é só aquilo que desejamos que seja''.