Não!Eu não tenho monstro algum dentro de mim. Fechei meus olhos desejando que tudo desaparecesse,que tudo fosse irreal,desejei com todas minhas forças,meu desejo,meu único desejo,oh céus!Por que todo esse pesadelo que ao menos sei se é real?Por favor,liberte-me dessa casa escura,já não posso mais suportar. Quem sou eu?

Estou com medo de abrir os olhos e ver toda uma maré de poças de sangue a minha frente,porventura,e para meu alivio quando os reabri novamente,tudo havia sumido.

A sala era a mesma,porém sem corpos caídos,sem poças de sangue e sem o terrível ferimento de Kyle.

Me ajoelhei ao chão,lágrimas de puro terror escorrendo,eu gritei,gritei. Céus como gritei pedindo,suplicando para que todo esse maldito ciclo se rompesse,se eu fechar os olhos temo acordar e não lembrar mais de nada e estar em outro pesadelo,e mais mortes causadas por mim. É o que eu temo.

-Céus...céus me ajudem!

Em um estralar de dedos uma luz surgiu diante de mim,tão forte era essa luz que tive que fechar os olhos.

-Lucy...Lucy

Quem me chamava não era nada menos do que um garoto de cabelos negros e olhos azuis...era idêntico ao Kyle!

-K...Kyle?!

Ele sorriu tristemente,mas que sorriso era aquele?!Não,não era triste,era apenas sarcástico,que bom que estou de volta e com minha memória intacta após uma sessão de tortura.

-Temo que eu não seja Kyle,jovem Lucy. Por gerações e gerações sua família cometeu atrocidades,você passou pela experiência vivida por sua mãe e sua avó,as guerreiras das trevas. Quando chegou aqui,nesse templo pediu para que eu lhe contasse todas as atrocidades geradas e não as compreendia,por isso criei essa ilusão para lhe ajudar,ainda está disposta a prosseguir com isso?

-Sim pule essa parte!

Eu era uma jovem nascida na família Rosefen,por gerações as mulheres dessa família cometeram mesmo essas tais atrocidades,mataram e roubaram por prazer,satisfizeram seus caprichos obscuros,derramaram sangue...

Até que todo povo de Arquemista se rebelou contra as bruxas...as bruxas malditas,as borboletas das trevas de Arquemista!Porém eu era “diferente”,e todos da minha família perceberam,sou especificamente a ovelha negra Rosefen. Me neguei a ajudá-las a destruir Arquemista e elas expulsaram-me daquele pântano imundo,digo expulsar para não dizer...tentaram me matar.

Ergui meus olhos,fitando ao jovem rapaz,sorri com sarcasmo.

-Quando eu era criança,meu maior sonho e minha maior aspiração era o de me tornar livre
Deixar aquela casa escura e ver a luz do mundo afora.
Diziam que eu era a borboleta da escuridão,e sou uma!
E minha antepassada a borboleta da luz que se mudou para o lado das trevas fora uma idiota,eu eu odeio os Rosefen apesar de ser uma!Não nego ser uma bruxa ou qualquer coisa maldita,sim eu sou mas não estou disposta a colaborar com aquelas cadelas imundas!

Repeti quase as mesmas palavras do pesadelo real vivido por eu mesma,aquele mago imbecil!Eu disse que queria saber o motivo delas e ele me mostrou tudo de uma forma tão real,lançando-me uma ilusão,deve ter rido muito com minhas súplicas.

-De fato você tem o mesmo linguajar que sua família

-Ahh claro,geneticamente herdado,permita-me dizer que seu linguajar é perfeito e totalmente culto. Então isso também te serviu como um teste não é mesmo?Em situações bizarras eu só soube chorar,você ficava me dizendo para soltar a besta a todo tempo e em nenhum momento eu o fiz!E isso ainda não é suficiente para confiar em mim,ou é.Senhor líder dos soldadinhos covardes!

De fato quando cheguei a Arquemista,todos os soldados levantaram suas lanças contra minha pessoa,uma mulher contra trinta,quarenta deles?Ha!Creio que eles não são melhores que as Rosefen,eles também matam,roubam porém digamos que as Rosefen saíram do padrão e querem matar todos de Arquemista,oportunidade ao qual não deixei escapar para enfim poder sair daquele nefasto e fétido lugar.

Pretexto número um:Eu realmente amo Arquemista,quando criança fui além do pântano e vi essa cidade,me apaixonei por ela,era tão bela e seus campos verdes e riachos eram totalmente distintos daquele local ao qual eu vivia e chamava de lar.

Pretexto número dois:Mataram meu pai,aquele que contava-me histórias sobre fadas e seres da luz,ele era um bom homem,apenas fora enganado pela minha suposta mãe.

E por isso estou aqui hoje,sofrendo maltrato e aguentando tais brincadeiras de mal gosto,quero me alistar a essa maldito exército,pois de uma maneira ou de outra,se as Rosefen ganharem a Guerra,digamos que serei estrangulada por traição e a cidade destruída.