-Feliz Natal, Mello! - Matt pulava na minha cama enquanto gritava essa frase repetidas vezes, e cantava músicas natalinas. Parecia uma criança de 4 anos, ele já devia ter maturidade pra esperar que eu acordasse. - Vamos, levanta! Vamos abrir os presentes! Será que o Near acordou? Acho que sim!

-Matt, você ainda está de pijama e meias... São 6 da manhã, volte a dormir! - Eu disse após olhar o relógio na parede. - Além do mais, se é que Near acordou, já sabemos que ele não deve estar interessado no Natal, porque, bem … Ele é anti social.

-Cadê seu espírito festivo, Mello? Todas as crianças do orfanato devem estar muito felizes, sorrindo, cantando, muitas viraram a noite, muitas dormiram e estão como você... Moscando. Aproveitem o dia de hoje antes que ele acabe! Amor, carinho e...

-Tá bom, Matt, cale a boca, seu ruivo idiota.

Matt deu de ombros, continuou pulando na minha cama e fechei meus olhos. Quando eu os abri, os olhos dele estavam próximos dos meus. E ele sorria. Sorria suavemente com olhar sonhador.

-Matt, me diz agora: Qual é o seu problema?

-Eu estou feliz. Os melhores presentes são ganhos no Natal! As doações do resto do ano são muito piores do que as natalinas.- Os olhos de Matt brilhavam mais do que nunca – Os presentes são separados mais ou menos de acordo com o interesse da criança. Com certeza eu vou ganhar um videogame! Vamos, Mello, se alegre!

Talvez ele tivesse razão. Me inspirei no espírito natalino e quis mostrar que eu também podia ser forte para me manter feliz nesse dia. Arrumei o cabelo, esfreguei os olhos e olhei para ele. Levantei e puxei Matt pela mão até o quarto da ovelha idiota que chamamos de Near. Chegando lá, bati na porta. Ele abriu sem sorrir, e eu disse:

-Oi... Feliz Natal.

Abracei Near na hora. Ele fez uma expressão de assustado, mas retribuiu o abraço meio sem jeito. Aí, Matt berrou:

-AAAHHH ! EU TAMBÉM QUERO ABRAÇO!!!

Abracei Matt e Near ao mesmo tempo. Podia sentir o calor da respiração do ruivo que estava suando após pular em minha cama. Ele respirava em meu pescoço e Near não sabia como reagir a tudo isso. Puxei os dois pela mão até a sala onde receberíamos os presentes. Roger disse que a sala seria aberta ás 5 horas da manhã para quem quisesse pegar os presentes. Cada um pegou o seu e sentamos no fundo da sala. Éramos os últimos a pegar nossos presentes, então, éramos os 3 únicos na sala.

-Eu não disse? Ganhei um jogo pro meu PSP! - disse Matt radiante.

-Ganhei um quebra-cabeça, como todos os anos.

Puxei o papel amarelo até ele se rasgar. Estava até ansioso para saber o que pensavam que eu gostava. Uma arma de pressão. Quando Matt viu meus olhos brilhando ao ver a arma, colocou os óculos que estavam no topo de sua cabeça, nos olhos, protegendo o rosto.

-Mas não veio munição – eu disse – como vou atirar?

-Já sei! Use sementes daquela planta perto do portão da frente, sabe?

-Boa ideia. - olhei para Near. Ele simplesmente não parecia feliz. - O que houve, Near?

-Esse quebra-cabeça é igual ao do ano passado. - ele olhava fixamente para o chão onde a caixa do presente dele estava.

Não sei o que houve comigo nessa hora. Não sei mesmo, mas sei que olhei para minha arma nova e estendi para ele.

-Você... Quer trocar? - os olhos de Matt até estavam úmidos. Sei porque ele os enxugou. Mas Near também estava demonstrando um pouco de surpresa, gratidão e emoção. Mesmo assim, usou sua mão para afastar a arma de si.

-Não precisa, Mello. Ainda prefiro um quebra-cabeça repetido do que um instrumento de causar ferimentos, ou brincadeiras que finjam ferimentos. Mas obrigado, mesmo assim.

E esse foi o Natal em que eu descobri que o espírito natalino existe e é o que todos deviam ter... Mas só no dia de Natal.

Bem, para mim, isso não era o bastante.

Se Near queria um desafio novo de Natal, ele teria. Eu só me recusava a ver uma criança triste nesse dia.

Voltamos para nossos quartos e eu não conseguia voltar a dormir. Matt já estava com o PSP desligado após conseguir um recorde no joguinho, mas eu simplesmente não conseguia pregar os olhos, porque Near não estava feliz. Se ele queria um desafio, era o que eu ia fazer.

Usando um grampo de cabelo que achei um dia embaixo da cama, abri o quarto de Near em silencio para não acordá-lo. Entrei e peguei a caixa do quebra-cabeça e saí do quarto, trancando de novo.

Chegando em meu quarto, abri ele e peguei um pote de tinta preta. Pintei peça por peça e quando terminei, o quebra-cabeça inteiro era preto. Era um quebra-cabeça de 100 peças, não era difícil, então montei e pintei nele, usando tinta branca o meu rosto, o rosto de Matt e o de Near. Pintei a caixa toda de preto também, essa seria a única figura de referência dele. Voltei ao quarto de Near e deixei a caixa ao lado da cabeceira da cama, bem na frente dos olhos dele.

Voltei ao meu quarto, satisfeito. Dormi muito bem.

Ás 11 horas, bateram no meu quarto. Matt abriu a porta e, em meio segundo, ele estava caído no chão sendo abraçado por Near. Quando Near me viu, veio correndo e me derrubou no chão me abraçando.

-O que foi, Near? Porque tanta alegria?

Ele mostrou a caixinha preta com muito entusiasmo. Matt deu um sorriso de orelha até orelha.

-Obrigado.

Foi Near que disse isso. Ele deu um pulo e saiu correndo deixando Matt e eu jogados no chão e a porta aberta. Matt levantou, fechou a porta e me olhou com uma cara de eu-sabia-que-você-tinha-espírito-natalino.

Sorri, me aproximei dele, nos abraçamos e dissemos juntos a frase que ecoou pela Wammy's House inteira: 'FELIZ NATAL!'